quarta-feira, 1 de outubro de 2025

MICHAEL SCHENKER GROUP - DON'T SELL YOUR SOUL (2025)

 


MICHAEL SCHENKER GROUP
DON'T SELL YOUR SOUL
earMusic - Importado

SCHENKER IS GOD! A resenha poderia acabar por aqui e não teríamos nenhum problema pois a verdade já estaria escrita. No entanto, o mestre Michael Schenker decidiu, após o espetacular "My Years with UFO", gravar mais um trabalho e dessa vez com o seu MSG (MICHAEL SCHENKER GROUP) e nos traz 11 composições onde a classe e o talento se encontram de forma sublime. Mas isso não é novidade, pois estamos falando daquele que talvez seja (na opinião desse que vos escreve, é) o maior guitarrista alemão de todos os tempos. DON'T SELL YOU SOUL é o título do álbum e a faixa que dá nome ao trabalho foi apresentada pela primeira vez no último Wacken Open Air. Schenker parece incansável, e mais uma vez cercado por excelentes instrumentistas, com destaque para o excepcional Erik Grönwall (ex-Skid Row), nos brinda com um álbum que promete ser a segunda parte de uma trilogia iniciada no trabalho anterior. E parece que resgatar seus principais momento com seu antigo grupo, o alemão conseguiu resgatar nesse trabalho aquela aura 70's que tão poucos artistas conseguem reproduzir sem soar forçado.

Schenker está acompanhado pelo já citado Erik, Steve Mann (guitarra e teclados), Barend Courbois (baixo) e Bodo Schopf (bateria). Mas temos também participações especiais dos vocalistas Robin McAuley (companheiro de longa data de Schenker), Roberto Dimitri "Lia" Liapakis e Michael Voss, sendo que este último, dividiu também a produção com o guitarrista. Não é preciso dizer que tudo está no lugar, que todos instrumentos estão impecáveis e que tudo soa limpo e cristalino. Só que se isso causa a impressão de que a produção está limpa, pasteurizada demais... pode esquecer. As guitarras soam como devem soar, pesadas, intensas e cheias de felling, algo que é marca registrada de Schenker, que obviamente, desfila sua classe e elegância ao longo das onze faixas que compõem o trabalho.

A faixa título abre o álbum e logo de cara podemos sentir aquela atmosfera tipicamente anos 70, com riffs e baixo galopantes e uma melodia simples e eficiente, enquanto a cozinha composta por Barend e Bodo mostram que experiência faz a diferença. Erik, por sua vez, navega por ondas diferentes, com vocais mais introspectivos, numa ótima performance. Já a segunda faixa, "Danger Zone", resgata as características comuns ao Hard/Heavy dos anos 80: levada marcada, guitarras com riffs certeiros e vocais bem encaixados. Schenker detona um solo muito bonito aqui, com toda personalidade que só um gênio poderia: simples, eficiente e melódico. "Eye of the Storm" traz a participação de RobinMcAuley é uma composição mais pesada, conduzida pelo baixo/bateria de forma consistente, enquanto McAuley empresta toda sua classe à faixa, que carrega consigo aquela clima "Into the Arena" (guardadas as devidas proporções). Um dos destaques do álbum! Baixo e guitarra iniciam num clima intimista "Janey the Fox", que se transforme em uma faixa simples e discreta, destoando um pouco das demais, ainda que os riffs sejam precisos e consistentes. Então temos "I Can't Stand Waiting", um classic rock típico, bem ao "way of play" de Schenker. Clima meio anos 80, melódica e passagens bem diversas mostram a classe e versatilidade do grupo de forma coesa.

"Sign of Times" é aquele "rockão classudo", que sempre está presente nos trabalhos do guitarrista. MichaelVoss assume os vocais que se encaixaram perfeitamente no andamento da faixa, em outro momento que Schenker nos lembra (como se fosse preciso) que no dream team das guitarras, é ele e mais dez! Na sequência, "The Chosen" traz uma atmosfera meio Rainbow dos anos 70, de forma mais sombria e até mesmo densa, ela ganha mais intensidade e velocidade do meio pro fim, com um solo eletrizante. E temos mais um "rockão" em "It's You", recheada de ótimos riffs, e que provavelmente é cantada por Liapakis, pois o timbre difere muito do de Erik e McAuley. Independente disso, a faixa transborda inspiração e é outro momento de destaque. Aliás, McAuley volta em "Sixtrings Shotgun", faixa que me lembrou um pouco Scorpions, seja pelo vocal, seja pelo andamento característico. E acredito que não seja preciso lembrar, mas vá lá: Schenker também empunhou as seis cordãs dos escorpiões, então... "Flesh and Bone" vem em seguida e nos mostra que o rock n' roll quando está no sangue, não há vacina, antídoto ou veneno que o tire! Que faixa sensacional! Um quê de AC/DC nos riffs, mas solos carregados de energia mostram que estamos diante de uma faixa que não pode ficar de fora dos próximos show! O encerramento vem com "Surrender", uma faixa veloz, intensa, quase um power metal! Mas segue a linha Hard/Heavy que sempre permeou a carreira do MSG. Um final digno de álbum de excelente nível.

DON'T SELL YOUR SOUL é a prova viva de MICHAEL SCHENKER tem ainda, muita, mas muita lenha pra queimar. Talento, classe e feeling não se compram em qualquer esquina ou farmácia. E o próprio título do álbum entrega: Não venda sua alma! Sim, não é necessário isso quando se tem o tal do Rock no sangue! Longa vida a MICHAEL SCHENKER!

Sergiomar Menezes






NO PRAYER FOR THE DYING - 35 ANOS

 


OS 35 ANOS DE NO PRAYER FOR THE DYING - AMADO POR UNS, DEIXADO DE LADO POR OUTROS

Por William Ribas

O meu primeiro contato com No Prayer For The Dying não foi direto com o álbum. Cheguei a ele por atalhos: primeiro com A Real Live One (1993), que ouvi em 1994, onde “Tailgunner” e “Bring Your Daughter… To The Slaughter” já estavam lá me chamando atenção; depois com o clipe de “Holy Smoke” que passou no Fúria Metal do Gastão Moreira. Dessas três, “Holy Smoke” virou a minha favorita — sempre tive aquele sonho de vê-la ao vivo. Mas esse sonho foi sepultado de vez na atual turnê Run For Your Lives, onde a banda simplesmente “chutou o álbum para fora da sua discografia” e comemorações.

Quando finalmente ouvi o disco do início ao fim, confesso: foi estranho. Eu vinha de uma maratona da fase de ouro, de The Number of the Beast até Seventh Son of a Seventh Son, uma sequência impecável que parecia intocável. Então comprei o álbum e, mesmo que “Tailgunner” começasse forte, o único pensamento foi: “peraí, é a mesma banda?”. O som era cru, sujo, sem aquela atmosfera épica que eu já esperava do Maiden. Em alguns momentos, as partes marcantes estavam lá. As camadas épicas, os “solos gêmeos” cheios de melodias ainda faziam parte do DNA de uma banda que resolveu ser simples — a volta ao jeans e as jaquetas de couro. Como se o Maiden ainda pertencesse aos becos de Londres de Iron Maiden e Killers.

Na época, isso me soou quase como uma decepção. Ironicamente, hoje eu até gostaria que algumas músicas novas da banda tivessem essa mesma crueza e simplicidade — que não passassem dos seis minutos de duração (Como é em No Prayer For The Dying). Ainda assim, o disco guarda bons momentos: a melodia triste da faixa-título, o humor de “Hooks in You” e, claro, “Holy Smoke” e “Bring Your Daughter...”. Até as canções menos lembradas, como “Public Enema Number One”, “Fates Warning” e “Run Silent Run Deep”, carregam aquela marca registrada da Donzela de Ferro, a entrega visceral de Dickinson. “Mother Russia” consegue prender, com toda a sua ambição de ser o grande épico e, sim, é um excelente encerramento para o disco.

Curiosamente, na turnê de divulgação, a banda não deu bola para as críticas: foram nada menos que sete músicas do disco tocadas ao vivo — “Tailgunner”, “Public Enema Number One”, “Holy Smoke”, “The Assassin”, a faixa-título, “Hooks in You” e “Bring Your Daughter... To The Slaughter”. Ou seja, o Maiden acreditava no material na época.

Três décadas e meia depois, continuo vendo No Prayer For The Dying como um disco de contrastes. Tem gente que adora, tem gente que só deixa na estante para completar a coleção. Foi o primeiro sem Adrian Smith e, mesmo com Janick Gers dando seu melhor, a química ainda não existia (ou continua não existindo?). No Prayer For The Dying nunca vai estar no topo da lista dos maiores clássicos do Maiden. Mas também não merece ser jogado de lado. Ele mostra uma banda gigante tentando se reinventar sem saber exatamente o rumo. Para alguns, foi uma queda depois da fase dourada. Para outros, um álbum que, justamente por ser imperfeito, tem seu valor e merece ser revisitado.

No fim das contas, é parte da história. E é essa mistura de falhas, acertos e honestidade que faz de No Prayer For The Dying um disco tão curioso mesmo depois de 35 anos.

Up the Irons!