OS 35 ANOS DE NO PRAYER FOR THE DYING - AMADO POR UNS, DEIXADO DE LADO POR OUTROS
Por William Ribas
O meu primeiro contato com No Prayer For The Dying não foi direto com o álbum. Cheguei a ele por atalhos: primeiro com A Real Live One (1993), que ouvi em 1994, onde “Tailgunner” e “Bring Your Daughter… To The Slaughter” já estavam lá me chamando atenção; depois com o clipe de “Holy Smoke” que passou no Fúria Metal do Gastão Moreira. Dessas três, “Holy Smoke” virou a minha favorita — sempre tive aquele sonho de vê-la ao vivo. Mas esse sonho foi sepultado de vez na atual turnê Run For Your Lives, onde a banda simplesmente “chutou o álbum para fora da sua discografia” e comemorações.
Quando finalmente ouvi o disco do início ao fim, confesso: foi estranho. Eu vinha de uma maratona da fase de ouro, de The Number of the Beast até Seventh Son of a Seventh Son, uma sequência impecável que parecia intocável. Então comprei o álbum e, mesmo que “Tailgunner” começasse forte, o único pensamento foi: “peraí, é a mesma banda?”. O som era cru, sujo, sem aquela atmosfera épica que eu já esperava do Maiden. Em alguns momentos, as partes marcantes estavam lá. As camadas épicas, os “solos gêmeos” cheios de melodias ainda faziam parte do DNA de uma banda que resolveu ser simples — a volta ao jeans e as jaquetas de couro. Como se o Maiden ainda pertencesse aos becos de Londres de Iron Maiden e Killers.
Na época, isso me soou quase como uma decepção. Ironicamente, hoje eu até gostaria que algumas músicas novas da banda tivessem essa mesma crueza e simplicidade — que não passassem dos seis minutos de duração (Como é em No Prayer For The Dying). Ainda assim, o disco guarda bons momentos: a melodia triste da faixa-título, o humor de “Hooks in You” e, claro, “Holy Smoke” e “Bring Your Daughter...”. Até as canções menos lembradas, como “Public Enema Number One”, “Fates Warning” e “Run Silent Run Deep”, carregam aquela marca registrada da Donzela de Ferro, a entrega visceral de Dickinson. “Mother Russia” consegue prender, com toda a sua ambição de ser o grande épico e, sim, é um excelente encerramento para o disco.
Curiosamente, na turnê de divulgação, a banda não deu bola para as críticas: foram nada menos que sete músicas do disco tocadas ao vivo — “Tailgunner”, “Public Enema Number One”, “Holy Smoke”, “The Assassin”, a faixa-título, “Hooks in You” e “Bring Your Daughter... To The Slaughter”. Ou seja, o Maiden acreditava no material na época.
Três décadas e meia depois, continuo vendo No Prayer For The Dying como um disco de contrastes. Tem gente que adora, tem gente que só deixa na estante para completar a coleção. Foi o primeiro sem Adrian Smith e, mesmo com Janick Gers dando seu melhor, a química ainda não existia (ou continua não existindo?). No Prayer For The Dying nunca vai estar no topo da lista dos maiores clássicos do Maiden. Mas também não merece ser jogado de lado. Ele mostra uma banda gigante tentando se reinventar sem saber exatamente o rumo. Para alguns, foi uma queda depois da fase dourada. Para outros, um álbum que, justamente por ser imperfeito, tem seu valor e merece ser revisitado.
No fim das contas, é parte da história. E é essa mistura de falhas, acertos e honestidade que faz de No Prayer For The Dying um disco tão curioso mesmo depois de 35 anos.
Up the Irons!


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