quarta-feira, 29 de outubro de 2025

REBEL ROCK ENTREVISTA - EXKIL

 


Entre os nomes que vêm sacudindo o underground nacional, o Exkil surge como uma das bandas mais promissoras do thrash brasileiro. Formado em 2021, o grupo consolidou sua identidade com o EP Between Death and Chaos (2022) e deu um salto gigantesco com o novo álbum Violence Prevails, um trabalho visceral que equilibra agressividade moderna e essência old school. Com letras intensas, riffs certeiros e uma produção que traduz a energia do palco, o quarteto paulista prova que a violência pode — e deve — prevalecer na forma de arte. Nesta entrevista exclusiva à Rebel Rock, Daniel Ferrante e Gabriel Bunho falam sobre o início da trajetória, a construção do novo disco, a parceria com Marcello Pompeu (Korzus) e a força dos fãs — os Exkilers.

Por: William Ribas
Foto: Larissa Rodrigues


Rebel Rock: Primeiramente, parabéns pelo excelente Violence Prevails — um dos melhores álbuns de metal nacional que escutei nos últimos anos. Mas vamos começar pelo início: a banda foi formada em 2021, e já em 2022 lançou o EP Between Death and Chaos. Como foram esses primeiros passos?

Daniel Ferrante: Os primeiros passos foram um período muito importante de aprendizado — como escolher as músicas, como compor as letras, os ajustes que fomos fazendo em cada música para moldá-las da forma como foram gravadas. Esse tipo de coisa não era muito bem estabelecido no contexto da banda; a gente foi batendo cabeça e encontrando nosso caminho. Tínhamos uma ideia do som final que queríamos e, com a ajuda do nosso produtor, Franco Torrezan, conseguimos um resultado que, para um primeiro trabalho, foi primoroso. Começamos com um EP de quatro músicas por questões financeiras e, pensando em tempo de show, precisávamos de mais músicas para não precisar tocar covers. Esse era um ponto importante pra gente — apesar de, nos primeiros shows, ainda termos tocado alguns covers para preencher o repertório. Mas, pela gama de composições que tínhamos, logo já conseguimos deixar um set completamente autoral. E é muito bom ver que as quatro músicas do EP foram conquistando o público aos poucos. Desde o início conseguimos construir muita coisa e, além do universo da banda, acredito que o ponto-chave de tudo isso são os Exkilers — nossos fãs do grupo VIP do WhatsApp, que estão sempre nos acompanhando e dando opiniões. A gente entrega conteúdos exclusivos para eles, e vez ou outra chega um feedback interessante que muda um pouco nosso pensamento sobre certas coisas. Eles também fazem parte desse espectro de aprendizado, porque a gente vai aprendendo a fazer as coisas de uma maneira que seja coerente e interessante pra gente, mas também de acordo com os gostos e necessidades dos Exkilers.

Rebel Rock: No EP, o Exkil já mostra personalidade ao colocar o dedo na ferida — com instrumentais fortes e letras ácidas que refletem o cotidiano atual. Essa é uma ideia fixa da banda, de trabalhar dentro do caos que vivemos?

Daniel Ferrante: Sim, com certeza. Como toda banda de thrash, pra nós também é muito bom poder expor uma parte mais extrema da mente humana, falar sobre a podridão dela e da pior parte do mundo que ela criou, ou até expor nossos pensamentos mais maléficos, que obviamente nunca chegariam a se tornar realidade porém, é aquela raiva que só tem na sua cabeça, nunca é externalizada fisicamente, e já que nunca vamos externalizar dessa forma, a melhor forma de conter isso é falando sobre, então sim, sempre vamos falar de temas mais obscuros, sensíveis, ou até polêmicos.

Rebel Rock: Acho que é uma curiosidade geral: qual o significado por trás do nome da banda? 

Gabriel Bunho: Nós tínhamos outro nome antes, era Damage, porém quando fomos registrar, já estava registrado, e não era nem por uma banda de metal. Exkil significa incontável número de mortes. Sendo o "Ex" uma abrasileirada na escrita para seguir a pronúncia da letra X em inglês, e "Kil" de morte/matar, Kill. Com um L a menos, para fins de simetria e harmonia visual. É um nome que surgiu de uma lista enorme de sugestões no nosso grupo do whatsapp que traduz bem os temas que buscamos tratar.

Rebel Rock: Violence Prevails marca o primeiro capítulo completo da banda. Como foi o processo de transformar a energia de Between Death and Chaos em um álbum que realmente define quem vocês são?

Gabriel Bunho: Foi uma evolução natural, a banda é suspeita pra falar, mas se você não ama sua criação, tem algo de errado com você. Conseguimos colocar tudo que gostamos no álbum, riffs mais rápidos, outros mais cadenciados, refrões rápidos, médios ou mais arrastados. O álbum tem toda nossa personalidade, e cada um colocou o próprio coração, é o que somos, o que ouvimos e o que amamos. Na concepção do EP, nós tínhamos mais músicas que poderiam entrar mas que ficaram de fora e chegaram só nesse álbum, que são Drive You Nuts, Titans Rising e Violence Prevails. Elas não entraram no EP pq a linguagem que elas trazem é um pouco diferente. O EP era mais clássico, a Drive You Nuts até poderia encaixar mas tínhamos uma quantidade já definida, então ela ficou de fora. Como essas 3 poderiam trazer um pouco da cara do EP e também um novo direcionamento em questão de sonoridade, a gente colocou no álbum músicas que se comunicassem com esses dois lados, fazendo uma transição do thrash metal mais clássico do EP, para uma thrash mais moderno.

Rebel Rock: O nome do disco é forte, direto e provocador. O que exatamente significa “Violence Prevails” para vocês?

Gabriel Bunho: O título é uma síntese de todas as músicas, todas falam sobre a violência de alguma forma, seja física ou mental, seja causada injustamente ou como justiça no caso da Nothing Shall Remain, a mensagem do título é que a violência prevalecerá sempre de alguma forma enquanto o ser humano existir.

Rebel Rock: O som do Exkil mistura brutalidade moderna com uma alma old school — riffs diretos, groove pesado e produção densa. Como vocês encontraram esse equilíbrio entre esses “dois mundos”?

Daniel Ferrante: No início, as referências da banda eram mais puxadas para o thrash metal. O Metallica teve um papel muito importante nessa época. Hoje em dia, as referências estão mais amplas, abrangendo outros estilos como deathcore e death metal, e o álbum é um reflexo dessa nova fase, os guturais por exemplo, não conseguimos deixar de fora, faz parte da nossa personalidade musical agora especialmente do Daniel. Músicas como Drive You Nuts, Violence Prevails, Titans Rising, Mistreat e For The Frightened, são músicas baseadas apenas no thrash, por outro lado, Lies, Nothing Shall Remain, Intoxicate, Blood Fueled Desires e Reckoning são músicas que uniram outros estilos, e saber o propósito final das músicas é muito importante, porque é o que define nossa linha de raciocínio, o propósito da Exkil é thrash e vamos nos manter nele.

Rebel Rock: “Oblivion” abre o disco com uma pegada cinematográfica, quase como o prenúncio do caos se aproximando. Vocês pensaram no álbum como uma experiência completa, quase conceitual?

Daniel Ferrante: Sim, esse foi um ponto interessante, porque inicialmente a Oblivion não faria parte do álbum. Mas ela surgiu da ideia de termos uma intro para iniciar nossos shows. Até então, a gente abria os shows com a introdução da No Time, que é clean e mais calma e misteriosa. Por conta dessa renovação que a gente buscava, a Oblivion acabou surgindo e encaixando bem. Com ela, a gente quer aquecer o público, seja num show ou numa outra ocasião.

Rebel Rock: “Drive You Nuts” e a faixa-título mostram a banda em um estado bruto, puro palco. Essa energia vem das influências, da convivência entre vocês, ou é simplesmente: “Queremos que as músicas em estúdio passem a experiência do que é assistir ao Exkil ao vivo”?

Daniel Ferrante: É sempre um desafio tocar ao vivo o que foi feito em estúdio, e isso é o que a gente busca sempre. Tudo que a gente compõe é pensado no ao vivo, para executar o que foi gravado e não precisar usar VS ou adaptar nada. É o reflexo do que todo músico metaleiro quer que role no seu show, queremos gente pulando, berrando, com a adrenalina e emoção no ápice, faça o que quiser, mas viva o momento com o máximo de intensidade possível assim como quem está tocando as músicas, não sabemos se existe outra vida, então essa aqui é melhor valer a pena.

Rebel Rock: Em “Titans Rising”, com a participação de Marcello Pompeu (Korzus), há um peso extra — tanto na história contada quanto na execução. Como foi essa parceria e o que significa para vocês ter uma lenda do metal nacional no álbum?

Daniel Ferrante: Nós tivemos contato com o Pompeu em 2023 com a entrevista que tivemos com ele, através da CrashTV no programa Tour Metal Brasil. A gente foi procurado pela Kaká Schwartzmann que está em busca de entrevistar 1000 bandas do cenário independente, pelo projeto Tour Rock Brasil, e quando se trata de banda de metal quem faz o programa é o Pompeu. Ele é um cara gente finíssima, deu muita dica boa pra gente como banda independente e fizemos uma conexão legal com ele. Além de ser uma figura importante do cenário nacional, é uma pessoa que trata as novas bandas com muita atenção e interesse. Essa dupla Kaká e Pompeu com certeza é a melhor coisa que pode rolar pra uma banda de metal aqui no Brasil atualmente. Depois da gravação do álbum, a gente pensou em trazer algum nome do cenário nacional para adicionar uma importância maior ao nosso trabalho. Sabíamos da qualidade do material e buscamos uma parceria estratégica pra não só nos ajudar com a projeção da banda, mas também pra aprender com a caminhada deste artista. Nós firmamos com o Pompeu justamente por ser essa pessoa aberta a novos projetos, alguém que fosse agregar na nossa música é uma lenda do metal nacional. É unanimidade na banda sobre o impacto dele na Titans Rising, ele trouxe toda uma atmosfera diferente pra música, algo realmente cinematográfico nos trechos narrados, ambientados com muitas camadas de vozes e depois explodindo no refrão com gang vocals muito bem feito.

Rebel Rock: O álbum soa visceral e cheio de identidade. Diante do pouco tempo entre o lançamento de "Between Death and Chaos" e "Violence Prevails", como foi o processo de composição para o álbum?

Gabriel Bunho: Quando o EP estava sendo montado, havia muitas composições em paralelo. Acho que algo que nos ajuda muito nessa parte, é a quantidade de composições que o Daniel inicia e traz pra gente. São composições que variam do momento, do humor, e que às vezes podem ser rápidas e às vezes não. Depois vamos finalizando juntos conforme as direções que queremos tomar, e com o álbum não foi diferente. Tínhamos em mãos muitas composições, de 30 a 50 mais ou menos, e fomos votando nas que faziam mais sentido em conjunto até chegar nessa seleção final. Algumas músicas não estavam prontas, então trabalhamos em cima delas, outras já estavam finalizadas, e o ponto principal de tudo isso foi que buscamos fazer o gosto de todos, e dar uma participação significativa em cada música para cada um, proporcionando essa liberdade na composição e desenvolvimento da linguagem de cada um em cima das músicas.

Rebel Rock: O disco tem faixas que transitam entre agressividade e reflexão, como “Mistreat”, “Reckoning” e “Lies”. Existia uma intenção em fechar o álbum com esse tom simbólico, de confronto e verdade?

Gabriel Bunho: Tematicamente falando, não fomos por esse caminho. A gente tinha todas as ideias em jogo, e no que diz respeito à ordem das faixas, nós buscamos um equilíbrio entre o que a Exkil apresentou no EP e o que pode vir a ser o próximo álbum da banda. Como o EP trazia a veia mais clássica, buscamos iniciar o álbum com músicas nesse patamar, mas que já davam um gosto do que estava por vir. No meio do álbum entramos mais a fundo na pegada mais moderna, e vamos finalizando novamente com um thrash mais raíz. Um ponto de atenção, é a forma como uma música acaba e como a próxima começa. A gente tem uma costura muito coerente entre as músicas e vamos trabalhando isso até chegar ao encerramento da Lies, que finaliza com um bate cabeça poderoso em fade out.

Rebel Rock: O Exkil é uma banda nova, mas com uma maturidade sonora que impressiona. Qual é o próximo passo depois de um álbum tão completo e visceral como este? Aliás, sei que ainda é cedo, mas já existem planos para o segundo álbum?

Daniel Ferrante: Agora com um trabalho mais completo, podendo mostrar de fato qual a cara da banda, a ideia é buscar uma projeção regional e firmar nossa presença na cena. Isso pode ocorrer de diversas formas, seja com parcerias, entrevistas, shows, o nosso objetivo principal é mostrar que a Exkil existe, que somos uma peça nova no cenário musical e que estamos com sangue nos olhos pra crescer e ser referência. Pensamos sim em progredir para um próximo álbum, mas por enquanto não visamos uma próxima gravação.

Rebel Rock: Se tivessem que definir o Exkil com uma frase depois desse lançamento, qual seria?

Gabriel Bunho: A violência prevalece!

Rebel Rock: Obrigado pela entrevista. O espaço final é de vocês.

Gabriel Bunho: A gente agradece demais pela entrevista, pela oportunidade de apresentar nossas ideias e nosso trabalho. Fica um agradecimento especial a Johnny Z, Kaká Schwartzmann, Marcello Pompeu e mais especial ainda aos Exkilers, que são nossos fãs do grupo VIP do Whatsapp. Grupo gratuito em que falamos de música, não só da nossa banda. Lá buscamos um contato aproximado com as pessoas para desenvolver uma amizade e esse senso de comunidade. Sigam a banda nas redes sociais, escutem nossas músicas no streaming, bora colar nos nossos shows pra sentir a pressão desse álbum ao vivo, e quem buscar andar na moda da Exkil, acessa nossa loja online através da bio do nosso instagram, ou manda uma mensagem pra gente! Lá temos camisetas e moletons das nossas músicas, e para adquirir nosso CD em edição limitada (apenas 50 cópias) manda uma mensagem para agilizarmos pra você!

Exkil é:

Daniel Ferrante (Voz e Guitarra)
Gabriel Bunho (Guitarra)
Evandro Tapia (Baixo)
Evandro Kandalaft (Bateria)


Mais informações: 


Um comentário:

  1. Matéria muito top! Excelente para quem quer entender qual a mensagem a EXKIL que difundir através da sua musica! Parabéns a todos!

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