quinta-feira, 11 de abril de 2024

JETHRO TULL - RÖKFLUTE TOUR - 10/04/24 - AUDITÓRIO ARAÚJO VIANNA - PORTO ALEGRE/RS



JETHRO TULL
RÖKFLUTE TOUR
10/04/2024
Auditório Araújo Vianna - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora

Texto e Fotos: José Henrique Godoy


Shows no Auditório Araújo Vianna sempre tem um aspecto nostálgico especial aos que são “jovens há mais tempo” como este que escreve aqui. Sejam pelas lembranças dos shows ocorridos lá em tempos passados, seja por estar localizado no bairro Bom Fim, local de aglomerações de todas as tribos rockeiras nas noites portoalegrenses. E não foi diferente na noite de 10 de Abril de 2024, com mais uma visita do Jethro Tull.

Ao chegar no “Araújo”, como é carinhosamente conhecido por aqui, já podia constatar pela quantidade de pessoas com cabelos e barbas brancas, que seria uma noite para os veteranos, e que boa parte deles provavelmente estiveram presentes no primeiro show do Tull na cidade, em Outubro de 1988. Em meio a um que outro que aparentava ter menos idade, a totalidade do bom público presente aparentava ser fã da banda de Ian Anderson há muito tempo. Mas o que vale ressaltar é que todos presentes foram agraciados com um ótimo show.

O telão da casa e o serviço de som vez que outra transmitia um “pedido especial" do Sr. Anderson: durante a apresentação, não seriam permitidas fotos e nem filmagens, para não atrapalhar as performances dos músicos, devido a “complexidade das músicas” do Jethro. Tanto que não tínhamos nenhum fotógrafo profissional cobrindo o evento. Num primeiro momento pode parecer uma atitude antipática, mas Ian Anderson é bem conhecido por suas atitudes excêntricas e como dizia minha saudosa mãe: “maluquete a gente não contraria”.

Por volta das 20h45, sobe ao palco o violinista gaúcho Luciano Reis, com a missão de aquecer o público e fez uma apresentação curta, porém muito agradável, onde sobre bases pré-gravadas executou a clássica ‘O Fortuna”, “Kashmir” (Led Zepellin), “Nothing Else Matters”(Metallica) e “Highway To Hell” (AC/DC). Em apenas 15 minutos o músico demonstrou ser muito carismático trazendo versões muito boas e criativas para estes clássicos. Aguardar para apresentações completas deste ótimo músico.

Contrariando a tradicional pontualidade britânica, as 21h20, após mais um aviso sobre a proibição de fotos e filmagens, o telão ao fundo do palco que exibia uma imagem marítima com o nome Jethro Tull em azul começa a se movimentar e a projeção de um braço segurando um flauta surge das “profundezas”, e para delírio da platéia, um a um os músicos adentram ao palco e iniciam o show com “Sunshine Day” o single do álbum de estréia da banda de 1968. Ao final desta, as primeiras palavras de Anderson com o público, dizendo que era um prazer estar de volta à Porto Alegre para celebrar sete décadas de Jethro Tull. Na sequência vieram “We Used To Know” e a clássica “Heavy Horses”.


A esta altura, todos que possam por ventura ter se incomodado com a proibição de fotos e filmagens já tinham entendido o porque da exigência. A banda formada por John O´Hara (teclados), David Goodier (baixo), Scott Hammond (bateria) e o recém agregado à formação, o guitarrista Jack Clark, executam todas as músicas com maestria nota a nota. O telão é um show a parte, onde são projetadas imagens totalmente conectadas e que interagem com as músicas que são executadas. Ian Anderson, hoje um senhor de 76 anos, se não tem mais a mobilidade de outrora (por óbvio) e o vocal não tenha mais a mesma potência, ainda entrega muito bem no palco, enquanto desfila toda a sua habilidade na flauta.

Bastante falante, Ian pareceu mais a vontade do que nas últimas vezes que visitou Porto Alegre, enquanto desfilava músicas na sequência: “Weathercock”, “Roots To Branches”, “Holly Herald” , “ Wolf Unchained” e “Mine Is The Mountain”, todas elas com projeções fantásticas no telão. Para finalizar a primeira parte, a clássica instrumental “Bourrée”, de J.S. Bach. Ao final desta, Anderson faz sua tradicional pose se equilibrando em uma perna só, enquanto ao fundo aparece a reprodução da sua imagem na capa do álbum “Living In The Past”.


Então temos um intervalo de 20 minutos, tal qual uma ópera. Há aqui que se louvar a atitude da platéia, que atendeu o pedido de não fotografar/filmar e só aplaudiu e gritou ao final das músicas. Público educado é outra coisa...   Enquanto aguardávamos o retorno do Tull, uma projeção do Ian Anderson nos encarava. Ao final do período de intervalo, na projeção, Ian puxa um binóculo (tal qual na capa ao álbum Stormwatch) apenas para nos relembrar (mais uma vez) sobre a exigência do “no fotos”... A banda retorna e enfileira “Farm On The Freeway”, a mais recente “Navigators” , “Warm Sporran” , “Mrs. Tibbets” e “Dark Ages” .

A saída para o tradicional “bis” e então o retorno com as mais clássicas do setlist: “Aqualung”, aqui numa versão diferente com John O´Hara executando o reconhecidíssimo riff nos seus teclados, e andamento mais cadenciado. Prefiro o arranjo original, mas aqui a variação soou bem, e o fechamento com a incendiária “Locomotive Breath”, essa com a “autorização” para as fotos liberada, e dai foi um festival de flashes, todos presentes tentando fazer suas melhores fotos para recordação de uma excelente apresentação do Jethro Tull.


Ian Anderson não dá sinais de aposentadoria, então fica aos fãs uma esperança de que esta não seja a última vez que assistiremos o Jethro Tull em terras brasileiras. Que venha (m) a (s) próxima(s) vez(es) . Agradecimentos especiais à Opinião Produtora pelo credenciamento.



segunda-feira, 8 de abril de 2024

LYNCH MOB - BABYLON (2023)

 

LYNCH MOB
BABYLON
Shinigami Records/ Frontiers Music - Nacional

O nome de George Lynch não é nenhuma novidade para os fãs de Hard Rock espalhados pelo mundo. O guitar-hero foi a força principal da banda Dokken nos anos 80, e dentre tantos guitarristas virtuosos da época, Lynch se destacou por seus riffs vigorosos, solos criativos e melodias cativantes, que atendiam tanto ao público “Hard/Heavy” como aos ouvintes das Rádios FM e telespectadores da saudosa MTV na época.

Após a separação do Dokken em 1989, Lynch não perdeu tempo e formou o Lynch Mob com seu ex-parceiro de Dokken, o baterista Mick Brown, o baixista Anthony Esposito e o ótimo vocalista Oni Logan. A banda lançou “Wicked Sensation” em 1990 e o álbum foi muito bem recebido, sendo considerado até hoje uma obra-prima do estilo.

Três décadas depois, incontáveis mudanças de formação e aqui temos o lançamento de “Babylon”, o oitavo disco de estúdio do Lynch Mob. A formação da banda conta com o baterista Jimmy D´Anda (Bulletboys), o baixista Jaron Giulino (Heavens Edge) e o vocalista porto-riquenho Gabriel Colón (Culprit e Savage Grace).

Não é necessário falar novamente das habilidades de Lynch como guitarrista e é louvável que aqui neste trabalho, George parece querer voltar um pouco as raízes, e logo nas duas ou três primeiras faixas, é possível verificar que o vocalista Gabriel Colón casou perfeitamente as composições de Lynch. Seu timbre vocal é mais ríspido e agressivo que Oni Logan, mas faz uma boa parceria com as guitarras de Lynch.

O que me incomodou um pouco em “Babylon” é a similaridade entre as faixas, algumas parecendo inclusive interligadas, e se você não prestar bem a atenção, podem parecer que são continuações umas das outras. De qualquer forma temos destaques aqui, como a faixa de abertura “Erase”, um riff totalmente “George-Lynchiano”, “Caughts Up” cheia de groove, e enquanto “I'm Ready” é entregue com toda a sua influência do Van Halen, "Million Miles Away" é uma bonita balada. Já a faixa título , “Babylon”, fecha o álbum com seus (desnecessários) oito minutos de duração.

Enfim, seria quase impossível desejar que “Babylon” fosse um “Wicked Sensation 2”, porém ele poderia ser um trabalho mais forte e ao meu ver menos “preguiçoso”. De qualquer forma é um álbum que vai agradar os fãs do Lynch Mob e aos menos exigentes fãs de Hard Rock.

José Henrique Godoy




sexta-feira, 5 de abril de 2024

DISMEMBER - RELANÇAMENTOS (2023)

                                 


MASSIVE KILLING CAPACITY (1995)
DEATH METAL (1997)
HATE CAMPAIGN (2000)
WHERE IRONCROSSES GROW (2004)
COMPLETE DEMOS (COMPILATION) (2005)
THE GOD THAT NEVER WAS (2006)
DISMEMBER (2008)

Shinigami Records - Nacional

Quando se fala em DISMEMBER, estamos falando naquilo que de melhor o death metal sueco já produziu. Claro que existem muitas outras bandas que possuem relevância no cenário e também foram fundamentais para a sedimentação do estilo. No entanto, poucas tiveram (ou têm) uma discografia tão consistente quanto o quinteto, começando com um dos maiores clássicos do metal morte, "Like an Ever Flowing Stream" (1991) e encerrando com o autointitulado "Dismember" (2008). Não existe fã do death metal que não possua, pelo menos, uma obra do grupo em sua coleção. E para aqueles que ainda não guardam consigo esses petardos mortais, a Shinigami Records/Nuclear Blast relança a discografia do grupo de forma bem abrangente, sem deixar nenhum trabalho pra trás, incluindo até mesmo a compilação de demos lançada pelo grupo. Os primeiros álbuns já forma relançados anteriormente, e agora, faremos uma análise dos que vieram neste último pacote da gravadora.

MASSIVE KILLING CAPACITY (1995)


O terceiro álbum de estúdio do Dismember apresenta uma certa "evolução", em relação aos seus antecessores. Se o grupo apresentava uma maior capacidade técnica na s composições, isso acabou por refletir em alguns momentos mais "melódicos" durante a execução do trabalho. Claro que aqui não estou falando em nada relacionado ao death metal melódico que se popularizou com nomes como Children of Bodom, Soilwork, Dark Tranquility, entre outros. Aqui, a melodia se encaixa com a agressividade característica do grupo, mostrando que ambos podem trilhar o mesmo caminho sem que percam suas nuances. Uma prova cabal disso é "Casket Garden", um dos grandes "hits" do grupo, onde as influências do metal tradicional (que já apareciam antes) se tornam mais latentes. Outros ótimos momentos são "I Saw Them Die","On Frozen Fields", onde o mais puro e brutal death metal se mostra vivo e certeiro, a quase thrash "Crime Divine" e "Collection by Blood". Uma verdadeira aula de como ter uma capacidade mortal massiva!

DEATH METAL (1997)


DEATH METAL. Assim, nessa forma simples e direta, o grupo chamou seu quarto trabalho de estúdio, e o nome não poderia ser melhor escolhido. Se no álbum anterior tínhamos uma veia mais "melódica", aqui o quinteto faz uma espécie de volta às origens, trazendo toda a agressividade, brutalidade e sujeira do death metal tradicional. Isso fica nítido já na porradaria de "Of Fire", faixa que abre o álbum com toda a voracidade tão característica do estilo. Muito disso é culpa do baterista Fred Estby, que assumiu a produção do trabalho, o que leva a crer que a sonoridade saiu conforme o próprio grupo desejava. Momentos de pura violência são encontrados em "Misanthropic", "Let the Napalm Rain", "Live for the Fear (of Pain), um petardo death metal como há muito grupo não fazia (preste atenção nos riffs e na levada de bateria), "Killing Compassion", curta e direta, e "Bred for War". Essa nova versão inclui 5 FAIXAS BÔNUS: 'Pagan Saviour (Autopsy Cover)', 'Shadowlands', 'Afterimage' e 'Shapeshifter', todas elas lançadas anteriormente no EP "Misanthropic", e 'Hill 112', lançada anteriormente na coletânea "Death...is just the Beginning IV".

HATE CAMPAIGN (2000)


Último trabalho do Dismember lançado lá fora pela Nuclear Blast à época, "Hate Campaign" traz consigo a mesma atmosfera do álbum anterior, mas no entanto, ganha no quesito produção. Com uma pegada carregada de personalidade, o grupo mostra que este era o caminho a ser seguido, ainda que estivéssemos entrando em uma nova década que trazia incertezas sobre o futuro mercadológico do estilo. Sendo fiel aos seus princípios musicais, faixas como "Suicidal Revelations", que abre o CD de forma sublime, "Questionable Ethics", "beyond Good and Evil", puramente death, "Enslaved to Bitterness", com doses extras de melodias na s guitarras, trazendo à tona aquela pegada do metal tradicional (aliás, sempre presente nos álbuns do quinteto), "Patrol 17", "In Death's Cold Embrace", com riffs tipicamente death metal, mas com passagens que a aproximam do thrash (principalmente o alemão) e a faixa-título, que traz consigo um certa dose de groove, algo que também acabou sendo uma das características do Dismember.

WHERE THE IRONCROSSES GROW (2004)


Se no trabalho anterior o Dismember apresentou uma produção mais "refinada", o que de certa forma pode ter afastada uma parcela de fãs (uma grande bobagem, diga-se de passagem), em "Where the Ironcrosses Grow", houve um resgate daquela sonoridade mais suja, mas intensa e mais brutal. A própria faixa título entrega isso logo de cara: riffs nervosos, vocais mais rasgados e uma brutalidade de baixo/bateria beirando a insanidade. "Forged With Fire" tem aquela pegada thrash/death, com guitarras que soam ao mesmo tempo melódicas e agressivas, mostrando (ainda que todos já soubessem disso) a versatilidade do grupo na hora de compor. Outros bons momentos são "Me-God", com um excelente trabalho de bateria, "Tragedy of the Faithfull", o peso e a cadência de "Where Angels Fear to Tread" e a "épica" "Children of the Cross", com seu andamento arrastado e pesado. mais um trabalho com o "selo Dismember" de qualidade!

THE COMPLETE DEMOS (COMPILATION) (2005)


Como o próprio título entrega, temos também nestes relançamentos, a compilação "The Complete Demos", que traz de forma restaurada e completamente remasterizadas por Patrick w. Engel, as demos "Dismembered" (1988), "Last Blasphemies" (1989) e "Reborn in Blasphemy" (1990). E a curiosidade aqui é o fato desse trabalho ter sido realizado em parceria com Nicola Constantini, autor da "Enciclopedia do Death metal Sueco" e uma lenda do comércio de fitas no underground mundial. Com relação às músicas, temos entre a s três demos a evolução musical do grupo, que desde seu início, já mostrava que seu death metal era feito com personalidade, incorporando suas influências de forma sapiente. Destaques para "Deathvokation", Substantually Dead", "Deranged From Blood" (apesar da produção totalmente tosca), "Intro/Dismebered" e "Defecation Decay" (presente duas vezes, na primeira e na terceira demo). Um registro histórico para os fãs!

THE GOD THAT NEVER WAS (2006)


Considerado por muitos como um dos melhores trabalhos dos suecos, "The God That Never Was" dá sequência á seu antecessor, trazendo uma dinâmica mais agressiva, razão pela qual tenha figurado muito bem nos charts do estilo. O álbum nos apresentas faixas curtas e diretas, como a faixa título que abre o CD como se fosse um soco na boca do estômago, mas também traz momentos mais mais melódicos, ressaltando o que já havia sido citado anteriormente: a versatilidade do quinteto na hora de compor e executar suas composições! "Shadows of Mutilated", por exemplo vai do death metal mais típico, à momentos que beiram o death melódico e o metal tradicional, isso tudo sem deixar de ser o Dismember! Já "Never Forget, Never Forgive" é outro coice avassalador, curta e mortal, contrastando de forma sublime com "Time Heals Nothing" e seu refrão melódico. Outro garnde moemnto é "Phantoms (of the Oath), instrumental e com passagens bem interessantes, com variações dentro do próprio death metal metal tradicional. É uma espécie de "Transylvania" do Iron Maiden, guardadas a s devidas proporções...

DISMEMBER (2008)


O derradeiro trabalho do Dismeber, auto-intulado, é o único álbum a não contar com a participação do baterista e produtor Fred Estby. Ainda assim, o grupo manteve suas características e podemos dizer que, mesmo de forma precoce, o canto do cisne veio de forma digna! Buscando manter sua personalidade, os suecos nos trouxeram faixas que não deixam nada a desejar aos momentos áureos do grupo, como por exemplo "Death Conquers All", "Under a Blood red Sky", "Legion" entre outras. Em  outubro de 2011, o baixista Tobias Cristiansson revelou em um comunicado que Dismember havia se separado. Desde então, rumores a todo momento surgem de uma possível reunião. Em 2018, isso se tornou mais forte, vez que o grupo completaria 30 anos. Mas apenas em 2019, em um festival na Escandinávia, o grupo se reunião para um show. Em 2021, o baterista Fred Estby disse que a banda poderia se reuniar e gravar um novo álbum. Se é verdade ou apenas especulação, não sei dizer. Só posso afirmar que o grupo tá fazendo muito falta!

Sergiomar Menezes




terça-feira, 2 de abril de 2024

AMORPHIS - QUEEN OF TIME - LIVE AT TAVASTIA (2024)

 


AMORPHIS
QUEEN OF TIME - LIVE AT TAVASTIA
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Um dos períodos mais sombrios da humanidade, a pandemia, fechou o mundo por dois anos e ficamos praticamente sem apresentações artísticas de qualquer espécie por um bom tempo. No mundo do Rock e Metal obviamente não foi diferente e então, as bandas e artistas buscaram alternativas para manter-se de alguma forma ativos. Foram criadas “colabs”, “lives” e até apresentações ao vivo com “portas fechadas” e público zero.

Algumas bandas aproveitaram esse tipo apresentação para gravar álbuns “ao vivo”. Como bons exemplos, temos o Candlemass, o Behemoth, e este álbum do Amorphis. Impossibilitado de apresentar o álbum “Queen Of Time”, recém lançado à época, a banda pegou seus instrumentos, equipamentos e equipe, e se trancou no famosíssimo Club Tavastia, em Helsinque, capital da Finlândia, e executou o álbum de ponta a ponta, para uma plateia inexistente.

A impressão de monotonia que pode passar ao se ter conhecimento do formato do trabalho, desaparece nos primeiros segundos de audição. Com uma produção mais do que caprichada, todo o repertório de “Queen Of Time é executado com excelência, e em nenhum momento é possível se ter idéia que o local está vazio, ao menos quando do silêncio ao final das faixas. Inclusive músicas como "The Golden Elk”, “Daughter Of Hate”, “We Accursed” e “Amongst Stars” - esta com a participação de Anneke Van Giersbergen - parecem ter uma energia ligeiramente superior aos seus registros de estúdio.

Enfim, um ótimo e interessante trabalho dos finlandeses. O álbum foi lançado nacionalmente pela Shinigami Records e vale a conferida, seja você já fã do Amorphis ou apreciador de boa música pesada. Com certeza “Queen Of Time – Live At Tavastia” é um excelente aquecimento para quem for assistir o Amorphis nas apresentações que a banda fará no Brasil agora em abril de 2024.

José Henrique Godoy




AMARANTHE - THE CATALYST (2024)

 


AMARANTHE
THE CATALYST
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Um dos nomes mais proeminentes do metal sueco dos últimos anos, o Amaranthe é uma banda que assume mesclar gêneros - sendo inclusive rotulado por vertentes da imprensa especializada como “Massive Metal”. Trazendo em seu arcabouço de seu roll sonoro estilos como power, alternative, metalcore e o eletrônico, o grupo lança ao mundo no presente ano seu novo trabalho, intitulado “The Catalyst”.

Sétimo álbum da trupe desde o antecessor “Manifest”, registrado em 2020, eles retornam à cena com um de seus mais energéticos e poderosos trabalhos. Entretanto, um adendo: enunciar tal afirmação é condicionada à concepção de que há o entendimento de que o trabalho do grupo se firma em um recorte extremamente próprio dentro do estilo, especialmente na obra em questão. Há uma sobrecarga eletrônica que pode não agradar a todos, especialmente aos não apreciadores das variantes do gênero. Fãs dos primórdios da banda também podem ressaltar (ou ressabiar!) esse exacerbo. Ainda assim, mesmo com tais notificações, afirmativamente, é distinta a qualidade do disco.

Talvez para que essas considerações sejam fundamentadas, é válida uma rememorada na forma de como esses suecos incidentaram seu caminho. Emersos de uma era em que bandas de power metal melódico com vocais femininos dominavam a cena – na conhecida leva inaugurada pela epítome desse marco , o fenômeno finlandês Nightwish -, o Amaranthe assumiu particularidades a sua sonoridade e expressividade que seus congêneres - nomes como Epica, Within Temptation, Lacuna Coil, After Forever ou The Gathering - talvez não compactuaram da mesma forma, apresentando um trio de vocalistas de características distintas para pontear o grupo, o que, certamente, trouxe um óbvio diferencial da banda para a cena que, apesar da borbulhante efervescência, também já virava um lugar-comum do “mais do mesmo”. Liderada pela poderosa vocalista Elize Ryd, por Nils Molin (o cara das vozes “limpas”) e por Mikael Sehlin (o cara das vozes “sujas” e agressivas), além de contar com Olaf Mörck nas guitarras, teclados e sintetizadores, Morten Løwe Sørensen na bateria e, Johan Andreassen no baixo, “The Catalyst” é uma obra que consegue entregar a essência e coerência do Amaranthe com toda a excelência e identidade do grupo, sendo um encontro do que os suecos fizeram no passado e como eles intencionam ir para o futuro.

A faixa de abertura do álbum a qual dá nome ao álbum, “The Catalyst”, é um petardo que resume o poder de fogo do grupo. Vocais de diferentes essências tomando a cena, introito calcado e inspirado no synth pop, progressão melódica, guitarras e bateria em fúria, ritmo empolgante – tudo que há de mais puro e significativo no que o Amaranthe sabe fazer está ali; justificando o porquê a música merece estampar a capa do álbum. A seguir, “Insatiable” mantém-se em consonância com a música anterior, trazendo um dos refrões mais grudentos do álbum – aliás, essa é uma das características mais marcantes dos suecos, seus chorus chicletes e grudentos! Ainda que a faixa exacerbe-se em um viés constante e eletronicamente repetitivo, o som, mesmo sem grandes arroubos de inspiração, imprime o estilo do grupo como previsto.

Porém, em “Damnation Flame”, a inclinação mais gótica da faixa registra uma mudança ambiental. Trilha mais pesada e com a agressividade vocal de Nils Molin traçando a trilha, temos aqui uma amostra de como o estilo do heavy melódico pode unir tendências – do clássico ao moderno – sintetizando instrumentos como o cravo e a batida eletrônica. A próxima música, “Liberated”, reduz a cadência veloz dos sons anteriores e investe em teclados, samples eletrônicos e na versatilidade de Elize Ryd, condensando tonalidades e harmonias vocais que ganham o ouvinte aos primeiros instantes. O refrão também segue a métrica “chiclete” e “dançante” de outrora, ainda jogando no “mais do mesmo” que já era imaginado desde o primeiro play do álbum. Aliás, se a batuta da sonoridade eletrônica acompanhava as faixas anteriores, em “Re-Vision” ela torna-se protagonista. E haja symph-pop no mundo que consiga cobrir esse som! Uma mescla de industrial e melódico, a faixa é muito específica no seu estilo e só irá agradar ao nicho mente aberta da banda, pois parece que ela saiu direta de um computador. O solo de Olaf rasga a faixa, mas não adianta: são as vozes robóticas e os sintetizadores eletrônicos que dominam a cena.

E a coisa não muda muito na sequência em “Interference”. A ambientação eletrônica pesa mais ao industrial nessa faixa. A batida análoga a uma máquina combina com o clima denso e tenso que a letra imprime (I'm gonna ride into the future like a loaded machine/Fill my tank and tear down all the inhumanity/Now is now), concentrada na relação tecnicista que as relações humanas assumem. Uma boa faixa, todavia, ainda extremamente nichada. Contudo, essa perspectiva do Amaranthe muda em “Stay a Little While”, trilha que se enquadra na esteira de balada de heavy melódico típica do estilo. Da impostação vocal de Elize ao solo emocional de Olaf, a peça é uma composição de excelente bom gosto ao que se espera. “Ecstasy” retorna ao construto tecno-melódico de antes, com refrões marcantes e guitarras em alta eletricidade. Mais uma vez, não empolga em inspiração ou criatividade, mas mediante ao conjunto de “The Catalyst”, o ouvinte certamente assimilará o resultado.

Na sucessão, “Breaking The Waves” já desponta para uma heavy melódico de linhagem mais moderna e alternativa. Temos no entremeio da cadência pesada, momentos ambientais e de solos melodiosos, complementados pelos vocais guturais de Mikael e líricos de Elize. Certamente, um das músicas mais destacáveis do registro. A próxima faixa chamada de “Outer Dimensions” começa com a climática épica e grandiosa típica do estilo. O refrão, ainda que eu tente evitar comparações, parece ter sido recortado do Nightwish e colocado em um liquidificador com bases eletrônicas. Destaque ao solo de guitarra em que Mörck apresenta sua qualidade técnica em um exímio nível. “Resistence”, a penúltima música, é uma trilha veloz e furiosa, que a despeito da composição, peca, mais uma vez, na repetitividade e previsibilidade. Francamente, a ansiedade impressa aqui não prepara devidamente o ouvinte para o desfecho devido. Até mesmo porque, “Find Life”, o momento de encerramento, é uma música que sabe dosar o sintetizadores eletrônicos, os exageros vocais dos três responsáveis por segurar os microfones, assim como os outros elementos. Mais uma vez, Olaf emociona em seu solo. Há aqui uma faixa em que o “menos é mais”, apesar da ostentação técnica e estilística do grupo.

Após o percurso auditivo de “The Catalyst”, não existe outro veredicto senão o de que o grupo segue coerente e tecnicamente excelente na linhagem ao qual já se consagram como um dos maiores nomes do gênero. Mais uma vez, é crucial endossar que ter a “mente aberta” não é apenas uma prerrogativa para ouvir o álbum em questão – é um requisito necessário para ouvir o próprio Amaranthe! O heavy metal é um estilo dinâmico e, em sua essência, a proliferação de estilos faz parte do âmago desta arte. Assim, o Amaranthe não mais arrisca mesclar estilos – ele assume o que quer fazer! Em mãos temos um dos trabalhos mais astutos do grupo. Ainda que esteja no propósito formulado e paradigmático dos suecos, eles respondem de forma clara o que o futuro da música pesada pode esperar deles.

Gregory Weiss Costa