terça-feira, 17 de junho de 2025

TIM "RIPPER" OWENS - 13/06/2025 - SESC SANTO ANDRÉ - SANTO ANDRÉ/SP


 

TIM "RIPPER" OWENS
13/06/2025 
SESC SANTO ANDRÉ
SANTO ANDRÉ/SP

Texto e fotos: William Ribas

Sexta-feira 13.

Um dia cercado de superstições: azar, má sorte, gato preto, não passar debaixo da escada, espelho quebrado… e, claro, figuras do terror como Jason e Freddy Krueger rondando o imaginário coletivo.
Mas, no ABC Paulista, nem essas lendas teriam força suficiente para atrapalhar o show de um ex-Judas Priest.

Naquela noite, só havia um vilão à espreita: o bicho-papão do frio cortante (risos). Impiedoso, dominou o dia inteiro e, confesso, fiquei preocupado se isso poderia atrapalhar a presença do público nas instalações do Sesc Santo André.

No início da tarde, porém, veio a boa notícia: todos os ingressos para a apresentação de Tim “Ripper” Owens estavam esgotados. O vocalista americano está nos acréscimos de uma tour sul-americana que já dura quase dois meses, com diversas datas pelo Brasil. Acompanhado por um verdadeiro dream team — Bruno Luiz e Wander Cunha nas guitarras, Fabio Carito no baixo e Marcus Dotta nas baquetas —, a promessa era de uma noite perfeita de heavy metal na veia.

A rede Sesc, ano após ano, vem abrindo espaço para a música pesada. Com suas excelentes instalações e horários pontuais (shows que começam e terminam cedo), tornou-se uma opção ideal para bandas, produtores e para o público que já não é mais tão jovem assim. O local estava cheio. Meu temor — por graças a "Dio" — passou longe de se concretizar. O frio ficou do lado de fora, porque, dentro do anfiteatro, o clima era quente e de pura diversão, com um maestro no palco conduzindo tudo de forma primorosa.

Um dos meus DVDs favoritos de todos os tempos chama-se “Live in London”, do Judas Priest. Decorei cada cena daquele show na minha retina. Adoro o disco “Jugulator”, e foi justamente com a faixa-título do álbum de estreia de Owens na lendária banda inglesa que ele deu o pontapé inicial. A música carrega peso, agressividade — e, logo de cara, os agudos característicos que marcaram sua carreira apareceram com força total.

E a gente já percebe que os cinco músicos em cima do palco não estavam ali pra brincadeira quando colocam, como segunda música do setlist, nada menos que “The Green Manalishi (With the Two Pronged Crown)”. Ripper estava bastante comunicativo. A cada pausa, fazia questão de conversar e brincar com os fãs — especialmente com o fato de quase todos estarem comportados (mas barulhentos) em seus devidos lugares, como mandam as normas da casa… normas que, felizmente, em algum momento foram pro “ralo”.


Seguindo o show, vieram “Burn in Hell” (Judas Priest), a brutal “Scream Machine” (do Beyond Fear, banda que Ripper fundou na metade dos anos 2000), além de duas faixas do seu projeto KK’s Priest, com K.K. Downing (ex-guitarrista e fundador do Judas Priest): “Hellfire Thunderbolt” e “One More Shot at Glory” — ambas soaram excelentes ao vivo, com aquele sabor do Priest clássico misturado à pegada mais agressiva da era Jugulator e Demolition.

Aliás, falando no último trabalho de Ripper pelo Judas, tivemos também “Hell Is Home” — e é impressionante como essa música funciona maravilhosamente bem no palco. Sua letra, sua levada introspectiva, sua construção crescente… tudo contribui para um momento quase hipnótico. No meio desse turbilhão sonoro, o que mais se via era gente tentando — em vão — imitar os gritos insanos que Owens solta ao final de cada frase.

Um dos momentos mais altos da noite foi “Beyond the Realms of Death”. A música foi dedicada ao ex-baterista do Judas Priest, Les Binks, falecido em abril deste ano. Clássico absoluto, ela mostrou, de forma impressionante, a versatilidade e o alcance vocal de Ripper, mesmo já beirando os 60 anos.
Dizem por aí que regras foram feitas para serem quebradas, certo? Pois então: mais uma homenagem, mais uma salva de palmas… e “Wrathchild”, do Iron Maiden, dedicada ao eterno Paul Di'Anno, fez com que todos se levantassem para não mais se sentar. O refrão foi cantado com tanta paixão e vontade que, onde quer que esteja, Di'Anno certamente sentiu que será sempre eterno.


“When the Eagle Cries”, do Iced Earth, trouxe uma leve sensação de calmaria. Leve, pois “Electric Eye” e “Living After Midnight” entraram no jogo. Ripper mostrou o seu respeito pela história que ele ajudou a carregar por um tempo. Com uma entrega gigantesca, ele mostrou que não se trata de substituir ninguém — mas de honrar um legado com paixão, técnica e carisma. O fechamento dos shows vinha sendo com “One On One”, mas, não aqui. Aqui tivemos prorrogação, tivemos o “golden goal”.

Santo André e o ABC Paulista tiveram o que tanto se gritou no decorrer do show — PAINKILLER!

O público, nesse momento, estava completamente rendido. Uma catarse coletiva, não era mais só ficar em pé, o negócio era ir pra frente do palco. A sinergia entre banda e plateia se intensificou a cada acorde, a cada agudo ou a cada “He is the Painkiller”, “This is the Painkiller” — e, a essa altura, já não havia mais cadeiras, regras ou frio que importassem. O Sesc virou um templo do heavy metal — e Tim Owens, seu sacerdote.

Uma noite que, por mim, ainda estaria lá. Afinal, na manga ficaram guardadas “Death Row”, “Bullet Train”, “Cathedral Spires”, “Bloodsuckers”, “Metal Messiah”, “Lost and Found”, “Declaration Day”, “Greenface”, “Waterloo”, “Ten Thousand Strong”, tantas e tantas outras...

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