segunda-feira, 2 de junho de 2025

EPICA - ASPIRAL (2025)

 


EPICA
ASPIRAL
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Quando a última nota da faixa título ecoa e se desfaz no silêncio, não voltamos ao ponto de partida sem ser sugado para dentro de uma experiência única. Em seu novo álbum, o Epica não brinda os fãs, apenas com um disco para ser ouvido — eles dão uma sinfonia para almas em busca de sentido. Lançado em abril, o nono álbum da banda holandesa soa como uma verdadeira odisseia musical, um convite para atravessar portais onde o metal sinfônico não é só gênero, mas linguagem espiritual, um renascimento.

Desde os primeiros acordes de “Arcana”, sente-se o peso do destino, como se estivéssemos sendo levados pelas mãos de divindades antigas através de florestas mitológicas e desertos interiores. É um Epica que continua imenso, mas agora com mais nuances, mais sombras e silêncios significativos entre os trovões. Simone, em uma das melhores fases de sua carreira, canta não só com técnica impecável, mas com uma alma dilacerada e iluminada ao mesmo tempo — algo que poucas vozes no metal conseguem transmitir com tanta elegância. O maior exemplo está na maravilhosa “Obsidian Heart”, calma ao mesmo tempo que carrega densidade emocional.

Aspiral” é também o ponto de equilíbrio entre passado e futuro. As três partes que dão sequência à saga “A New Age Dawns” funcionam como espelhos narrativos: refletem o que já foi dito em discos como “Consign to Oblivion” e “Design Your Universe”, mas sob a luz de novos questionamentos. “Darkness Dies in Light”, por exemplo, é quase um ritual de purificação, algo entre dança da dor e do perdão; enquanto “The Grand Saga of Existence” encerra o ciclo com ares de tragédia shakespeariana — grandiosa, mas sem perder a intimidade.

Musicalmente, a produção de Joost van den Broek é cinematográfica, colocando cordas, corais e riffs em harmonia quase alquímica. A orquestra de Praga não soa como uma simples “cama” para o instrumental, mas, sim, como um coração que pulsa ao lado da bateria de Ariën van Weesenbeek e dos riffs de Mark Jansen e Isaac Delahaye, ouça “Fight to Survive -The Overview Effect” e diga se não estou certo. O álbum, ao mesmo tempo em que esbanja técnica, também respira — uma certa contemplação atmosfera, para transições que não temem a beleza e nem a escuridão.

Mas o trabalho não é apenas uma experiência estética. É uma transformação — uma viagem interior como é sugerido por "T.I.M.E.". Como se cada faixa fosse um passo dentro de um labirinto temos “Apparition” e “Eyes of the Storm” e cujo. De certa forma, Aspiram, e o Epica soam mais filosóficos nesse momento, mais maduro, e talvez mais humano.

Em um tempo onde muitos buscam apenas repetir fórmulas de sucesso, o Epica ousa olhar para dentro e para frente ao mesmo tempo. E é justamente aí que reside a força de “Aspiral”: em sua capacidade de unir o sagrado e caos — e fazer disso tudo uma obra que eleva cada vez mais o nome do grupo. Os 71 minutos passam como piscar de olhos, e logo você está ali, mais uma vez impactado ouvindo de novo, de novo e de novo...

William Ribas




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