terça-feira, 15 de agosto de 2023

THE VINTAGE CARAVAN - 12/08/2023 - GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS

 

THE VINTAGE CARAVAN
Abertura: WOLFTRUCKER
12/08/2023
Gravador Pub - Porto Alegre RS

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Wolftrucker (José Henrique Godoy)
           The Vintage Caravan (Uillian Vargas)

Já não é de hoje que o movimento “Retrô-Rock” invadiu o cenário musical mundial, em vários estilos e o cenário da música pesada não ficou de fora dessa invasão. Dentro deste nicho, uma das melhores bandas sem dúvida nenhuma é o The Vintage Caravan, trio da Islândia formado por Óskar Logi Ágústsson (guitarra e vocal), Alexander Örn Númason (baixo) e Stefán Ari Stefánsson (bateria). E nesta segunda visita dos islandeses à capital gaúcha, o local escolhido foi o já tradicional Gravador Pub.

Abrindo a noite, o quarteto gaúcho Wolftrucker tomou o palco as 19h10, com seu som pesado e direto, mostrando um misto de Hard e Stoner Rock, com muito peso e qualidade. A banda, que está para completar 10 anos de estrada, demonstra total domínio do palco, e músicas como “Rock 'Till You Die”, “Faith In Hell”, “Let Them Burn” e a novíssima “Thunderbolt”, cantadas pelos presentes fãs da banda.  Agradaram totalmente os presentes que estavam tendo contado pela primeira vez com a Wolftrucker. Sem dúvida uma excelente banda do underground que merece muita atenção e um futuro próspero.



Pontualmente as 20h30, o power trio islandês subia ao palco para desfilar, por aproximadamente 90 minutos, seu hard rock baseado nos anos 70. Seja na sonoridade como no visual, o The Vintage Caravan evoca a época que os dinossauros (do rock) caminhavam pela Terra. Logo nos primeiros instantes do show, fica visível o sensacional entrosamento e a técnica intrincada dos 3 músicos.

“Whispers “ e “ Crystallized” iniciaram o espetacular setlist, e desde o inicio, o guitarrista Óskar nos faz reviver os melhores momentos de monstros do instrumento, como David Gilmour em momentos mais calmos, ou Paul Kossof e Uli Jon Roth (este uma influência que salta aos olhos do espectador) nos momentos mais rápidos e virtuosos. O baixista Alexander é um monstro no seu instrumento, se dando ao luxo de solos inspirados, sem perder a consistência. O baterista Stefán é praticamente um clone do mestre Bill Ward, seja na forma de tocar, seja no visual. Se quiser tirar a dúvida, dê uma checada nas fotos da matéria, inclusive a camisa com estrelas, que Ward usava no início dos anos 70.




Além da técnica e energia, o The Vintage Caravan demonstra incrível entusiasmo no palco e simpatia com o público, seja ao convidar a plateia para dançar, seja ao brincar com “All Star” do Smash Mouth (a música do Shrek) ou quando Óskar perguntou se gostávamos de Cannibal Corpse. Ao ouvir boa parte do excelente público presente (casa lotada) responder afirmativamente, eles executaram a introdução da clássica “Hammer Smashed Face” com total intimidade com a música.

Retornando ao setlist próprio do grupo, podemos destacar as poderosas “Innerverse”, “Forgotten”, “Reset”, “Babylon” e “Crazy Horses” que não estava programada, e foi executada a pedidos e especialmente para Porto Alegre, como anunciado por Óskar. A já clássica “On The Run” teve no seu transcorrer o solo de “The Final Countdown” do Europe, bem como um solo de bateria preciso de Stefán. “Expand Your Mind” e “Midnight Meditation” finalizaram o excelente show do The Vintage Caravan. Após o show os 3 músicos desceram do palco para socializar com os presentes, esbanjando simpatia e atendendo a todos que quiseram fotos e autógrafos.




O saldo final foi uma excelente noite de rock. E quem ainda insiste em dizer que o Rock N' Roll está morto, não deve ainda ter presenciado um show do The Vintage Caravan. Agradecimento especial a Ablaze Produções pelo credenciamento e ao Gravador Pub pela recepção de sempre.

segunda-feira, 7 de agosto de 2023

U.D.O. - TOUCHDOWN (2023)

 

U.D.O.
TOUCHDOWN
Atomic Fire Records - Importado

Após a chegada do lendário baixista Peter Baltes na banda U.D.O, criou-se uma grande expectativa acerca de um novo trabalho do grupo. Em 2023 é lançado o “Touchdown”, 18º álbum de estúdio da carreira solo do vocalista Udo Dirkschneider. O disco possui mesma formação da turnê do ano passado que os trouxe aqui para o Brasil. Sven Dirkschneider na bateria, Andrey Smirnov e Dee Dammers nas guitarras, Peter Baltes no baixo e Udo no vocal.

Touchdown” é um álbum de heavy metal tradicional com influência de hard rock em algumas faixas. O álbum possui 13 músicas. A primeira consideração que eu tenho a fazer é que ele está bem produzido e muito bem tocado. Um dos pontos altos é a excelente performance do Sven na bateria, que pode ser notada em faixas como a abertura “Isolation Man” e na “Touchdown”. É o seu terceiro trabalho no U.D.O, após os excelentes Steelfactory e Game Over. A sonoridade do álbum não foge nada daquilo que estamos acostumados com a carreira solo do Udo. Músicas rápidas, refrãos marcantes e ricos em coros, vocal bem rasgado, agudo e único e algumas músicas bem melódicas. E, claro, muita influência de sua antiga banda Accept. Este trabalho possui refrãos muito parecidos entre si, com coros cantando-os de maneira bem melódica e, muitas vezes, alegres. Pode parecer um pouco repetitivo, mas cada um tem sua qualidade.

“Isolation Man” abre o disco com bastante peso. Logo no início já ouvimos os bumbos da excelente bateria do Sven seguido por um riff bem tradicional. O refrão me lembra um pouco o Accept atual. Em seguida temos “The Flood”, uma faixa levemente mais arrastada que a anterior, mas com muito peso. Não se destaca no disco. “The Double Dealer’s Club” se destaca pelo seu belo refrão. A quarta faixa, “Fight For the Right” é totalmente inspirada no Accept. Um riff bem simples, porém muito bom. Seu refrão é forte, cheio de backing vocals que repetem o título da música. Assim como em vários clássicos do Accept, o solo desta música apresenta uma peça erudita. A obra da vez foi do gênio (o qual sou muito fã) Wolfgang Amadeus Mozart, com a clássica “Rondo Alla Turca”. Acredito que muitos possam não apreciar a inserção dessa melodia ao solo, porém eu achei maravilhosa e, à primeira audição, surpreendente. Excelente faixa.

“Forever Free” foi o primeiro single lançado. Uma boa música que possui muitos elementos de hard rock, destacando seu refrão “emocionante”. “Punchline” é um dos destaques do álbum. Uma música mais arrastada com um riff inicial do mesmo nível. O Udo nesta faixa dá uma contida no vocal, usando-o um pouco mais grave. Seu refrão é belíssimo, seguido por um coro melódico que o completa. Há também um bom solo. “Sad Man’s Show” volta ao Udo mais energético. Outra música que vejo como herança de sua antiga banda. Destaco o refrão e o solo. “The Betrayer” é uma faixa muito pesada e “malvadona”. O início tem um riff rápido acompanhado pela bateria (me relembrando algo do Death Row). Aqui o Udo alterna sua voz de um pouco grave para aguda e rasgada. A primeira parte do refrão é maravilhosa sendo bastante corrida, com um excelente trabalho de guitarra ao fundo de sua voz. Bem diferente das outras faixas do álbum. Outro destaque do disco.

“Heroes Of Freedom” regressa ao refrão clichê, mas desta vez me lembrando algo do Rhapsody de Fabio Lione. Isso não é demérito, visto que ao meu gosto são todos excelentes. Outra música em que destaco o solo. “Better Start To Run” é outra faixa em evidência no disco. Aqui eu destaco tudo. Riff belíssimo voltado ao hard rock (que volta a ser tocado no meio da música), verso bem agradável de se ouvir. O refrão, mesmo seguindo a linha dos outros, é excelente. As frases cantadas logo após ele dão uma emoção maior à música. Os trabalhos de guitarra e bateria aqui estão impecáveis, além de, claro, o baixo. “The Battle Understood” já começa com o refrão sendo cantado e só depois vem o riff. Da mesma forma a música se encerra com o refrão. Boa faixa que segue a linha da faixa anterior. “Living Hell” possui um riff pesado, uma versão mais arrastada de “The Betrayer”. Talvez a sua ordem no disco não seja a melhor por ser um pouco menos alegre que as anteriores e a seguinte. Mas isso acaba sendo irrelevante. A faixa é ótima e tem um dos melhores solos do disco.

O segundo single lançado é a música de encerramento do álbum. A faixa título “Touchdown” é a melhor do disco. Para mim já nasceu como clássico do U.D.O. Uma música altamente alegre, com todos os elementos se destacando: a bateria, guitarras e refrão. Aqui podemos dizer que o início lembra um pouco thrash metal, o solo remete a power metal e o refrão bem hard rock. Tudo combinado de uma maneira incrível e harmônica. Tem tudo para entrar no repertório da banda para o público cantar “touchdown” junto ao Udo. Vale destacar os sons de cordas (violinos) durante o excelente solo. Como eu havia dito antes, para mim é a melhor faixa do disco.

“Touchdown” é um excelente álbum de heavy metal, superando seu antecessor “Game Over” e ficando no mesmo nível do “Steelfactory”. Boa estreia do Peter Baltes na banda. Minhas faixas de destaques são: "Punchline", "The Betrayer", "Better Start to Run" e 'Touchdown'.

Thiago Rodrigues




sexta-feira, 4 de agosto de 2023

COGUMELO 40 ANOS - CATÁLOGO (2023)

 


COGUMELO 40 ANOS
CATÁLOGO
João Eduardo e Pat Pereira

São 40 anos dedicados à música. 40 anos dedicados ao Heavy Metal em todos seus subgêneros. 40 anos mostrando ao mundo que o Brasil foi, é e sempre será um dos mais importantes países criadores do estilo que tanto amamos. Mas muito mais que isso, são 40 anos de uma vida dedicada à divulgação da cultura e da arte. Essa é a COGUMELO RECORDS, uma loja, uma gravadora e além de tudo, um marco na história do metal brasileiro. Fale a verdade: é difícil alguém que se diz headbanger nesse país não ter em sua coleção, no mínimo, umas cinco obras lançadas por ela. Sepultura, Overdose, Sarcófago, Mutilator, Chakal, Witchhammer, Holocausto, The Mist... A lista é grande. E para comemorar essa data tão marcante e significativa, chega ao mercado o CATÁLOGO COGUMELO 40 ANOS, um livro que resgata a história da mais importante gravadora do Brasil!

Foi em Minas Gerais, mais precisamente em Belo Horizonte, que tudo começou. João Eduardo e Pat Pereira (numa analogia minha, o John e Marsha Zazula Brasileiros), criaram a loja de discos que pouco tempo depois se transformou em gravadora. De lá pra cá, muita coisa mudou, seja em termos sociais, econômicos, musicais... mas a chama e a paixão pela música continuam firmes. E todas essas mudanças e transformações podem ser acompanhadas pelo livro que traz depoimentos do João e da Pat fazendo referência a cada momento vivido pelos dois à frente da Cogumelo.

Iniciando pelos anos 80 e todas as dificuldades existentes no Brasil, tanto para compra e venda de discos, mas principalmente, para gravar (lembre-se que estamos falando de um período em que comprar um instrumento de qualidade era algo raro, bem como conseguir material das bandas de fora), onde muitas vezes (ou quase todas), os produtores não conheciam a banda ou o tipo de som que cada uma delas fazia. Ainda assim, um período rico e fértil, que mostrou ao mundo que o nosso país, ainda que sem grande repercussão midiática, era capaz de produzir bandas de grande qualidade. Segundo o próprio João, os anos 80 foram anos de glória, pois o Heavy Metal estava em alta, fazendo com que as bandas e a própria Cogumelo se estabelecessem no cenário com força e destaque.

Nos anos 90, houve uma queda considerável na venda de discos e também uma, digamos assim, abertura da gravadora com relação a outros estilos, lançando e produzindo bandas como Pato Fu, Chemako, De Falla, entre outras, mas sem perder sua aura de independência e vanguarda. Ainda que o leque da gravadora tenha se expandido, foi um período em que bandas clássicas lançaram álbuns que entraram para a história. O que dizer de "Circus of Death" do Overdose? Ou então "Sexual Carnage" do Sextrash? "Disturbing the Noise" do Attomica? "Mirror My Mirror" do Witchhamer? "The Laws of Scourge" do Sarcófago? "The Hangman Tree" do The Mist? E tem gente que diz que os anos 90 foram a década perdida...

O início do novo milênio veio cercado de incertezas mercadológicas. Se por um lado o aceso às banda s e seus trabalhos ficaram mais fáceis, por outro, a chegada da internet trouxe preocupação, tendo em vista a rapidez e facilidade com que se conseguia material pelas net. No entanto, a Cogumelo seguiu firme, mostrando postura e mantendo-se como baluarte do pioneirismo e dedicação, continuando a lançar grupos novos e clássicos, continuando seu incessante trabalho. E tudo isso pode ser visto com detalhes neste catálogo, rico em imagens e que se torna um item ainda mais obrigatório por trazer um DVD com o show de lançamento do Split "Bestial Devastation/Século XX" do Sepultura e Overdose, ocorrido no Esporte Clube Ginático no dia 19 de abril de 1984, tendo a abertura do Mutilator. Ainda que as imagens sejam precárias, sem muitos recursos, é um show que mostra toda a paixão e garra das bandas naquele período e, muito mais do que isso, do público presente, levando em consideração todo o contexto do momento vivido á época.

Só posso deixar aqui, em meu nome e de toda a equipe do REBEL ROCK, meus parabéns à COGUMELO RECORDS, nas figuras do João e da Pat por nunca terem desistido, apesar de todas as dificuldades e perrengues por quais passaram, de levantar a bandeira do metal e da cultura, sem esmorecer. Longa vida à Cogumelo. E nunca esqueçam: ENQUANTO AQUELA ESTRELA BRILHAR NO AZUL DO CÉU, O HEAVY NUNCA VAI PARAR DE ROLAR!

Sergiomar Menezes






terça-feira, 1 de agosto de 2023

CAVALERA - MORBID VISIONS (RE-RECORDED 2023)

 

CAVALERA
MORBID VISIONS (RE-RECORDED 2023)
Nuclear Blast - Importado

Quem sempre acompanhou a carreira do Sepultura sabe que após seus clássicos, digamos mais conhecidos foram criados, os lançamentos iniciais da carreira da então jovem banda foram deixados meio que de lado. Álbuns como “Beneath the Remais” (1989), Arise (1991) e Chaos AD (1993) foram tão bons e tão bem recebidos por fãs e críticos, que o primeiro trabalho completo, “Morbid Visions” (1986) acabou meio que sendo deixado de lado pela própria banda ficando quase como um item perdido em sua imensa discografia.

Por que isso? Difícil responder; talvez pela crueza da gravação original, o que não deixa de ser verdade, talvez porque a banda ainda estivesse aprendendo a tocar e mesmo em “Schizophrenia” (1987) ficou evidente a evolução técnica dos integrantes em termos instrumentais, enfim creio que não deve haver um consenso sobre isso, mas fato é que na longeva carreira do Sepultura, “Morbid Visions” quase nunca teve a devida atenção por parte de todos.

O grande trunfo seja o mega clássico “Troops of Doom”, que ganhou uma repaginação de muito respeito no álbum seguinte, o já citado “Schizophrenia”, sendo o ponto de maior atenção e um vislumbre da época adolescente dos fundadores Max e Iggor Cavalera.

Outro ponto curioso é que as regravações foram lançadas apenas com o nome “Cavalera”, ou seja, sem o complemento ‘Conspiracy’, uma pergunta que certamente será feita à exaustão para ambos. As novas capas ficaram excelentes dando aqui também, uma modernizada na arte original.

Ao apertar o play de cara já senti a falta da intro original Carmina Burana de Carl Orff que fez parte da versão original do disco, porém nos relançamentos posteriores ela foi deixada de lado. O lado bom da história é iniciar diretamente na pancadaria, algo que os irmãos sabem muito bem fazer.

A abertura com a faixa título foi amplamente divulgada com um caprichado lyric vídeo, bem como nervosa e rápida “Mayhem” que ficou infinitamente melhor que a original. Aí chegou a vez de “Troops of Doom” um verdadeiro hino atemporal. Com um andamento um pouco mais lento que a versão do “Schizophrenia” ficou muito interessante de se ouvir. “War” pra mim é a melhor de todas com seu andamento caótico e cheio de variações de ritmo, um grandioso e insano petardo. Iggor dá show em todas as faixas mas aqui, o faz ainda mais. Aí vem “Crucifixion” e também acho que é a melhor até agora, ainda preciso me decidir.

Os riffs de abertura de “Show Me the Wrath” e “Funeral Rites” dão a perfeita dimensão do bem que essas regravações fizeram para a humanidade metálica. A diferença em termos de qualidade de áudio e potência é tão gritante que chega a ser risível. O restante das faixas nem é preciso comentar. “Empire of the Damned” soa como um moderno Thrash Metal mas a voz com ares de desespero de Max Cavalera a transformam num Death Metal cru e visceral em várias passagens.

Ah, e não dá pra não citar a faixa adicional “Burn the Dead” que com seus poucos mais de 2 minutos redefinem aquilo que costumamos chamar de ‘desgraceira” sendo a mais rápida e agressiva de todas. Que forma de fechar essa obra prima! De se lamentar apenas a ausência do grande guitarrista e ser humano Jairo Guedz, peça fundamental na concepção e criação das obras originais dos anos 80.

Que essas regravações deem aos irmãos um novo fôlego em suas carreiras e que sigam fazendo aquilo que fazem de melhor, aquilo que os transformaram em ícones do Heavy Metal brasileiro e mundial. A comunidade agradece!

Mauro Antunes



CAVALERA - BESTIAL DEVASTATION (RE-RECORDED 2023)

 

CAVALERA
BESTIAL DEVASTATION (RE-RECORDED 2023)
Nuclear Blast - Importado

Antes de mais nada, é preciso deixar registrado aqui: eu, Sergiomar Menezes, sou viúva dos Cavalera. O que não é novidade pra ninguém. Sendo mais preciso, acredito que desde a saída de Max do Sepultura, a banda andou perdida vindo a se encontrar novamente mais recentemente. Mas isso não importa. Porque Max e Iggor decidiram (e o motivo aqui pouco importa) regravar os dois primeiros trabalhos da banda, "Bestial Devastation", EP lançado pelo Sepultura originalmente em 1985 num split com o Overdose, e "Morbid Visions", primeiro full lenght do grupo, lançado em 1986, ambos pela Cogumelo. Dessa vez, os irmão deram o "sugestivo" nome de CAVALERA ao "grupo" e lançaram os trabalhos via Nuclear Blast, e que infelizmente, não tem previsão de lançamento no Brasil. Mas recebemos da própria gravadora o material para resenha e a mim coube analisar BESTIAL DEVASTATION. E é sobre isso que falaremos a seguir.

E falar sobre esse EP é fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque se trata de um dos pilares da história do metal extremo nacional (e porque não dizer, mundial) e que serviu de base para tudo que o Sepultura veio a se tornar tempos depois. Difícil porque estamos falando da regravação de um trabalho clássico, que para muitos fãs, são "imexíveis", não devem ser tocados, ficando apenas com o toque mágico do tempo. Mas, sinceramente, quem de nós não gostaria de ouvir esses dois álbuns com uma qualidade de gravação melhor? com uma produção mais trabalhada? Se você faz parte da turma que não gostaria, por favor, pode parar de ler a resenha aqui. Porque o que temos nas seis faixas que compõem o EP (sim, seis faixas pois temos uma música inédita) são as mesmas faixas gravadas em 1985, mas com uma ótima produção, melhor tocadas e me arrisco a dizer, com mais raiva do que antes. Vou lembrar novamente, aqui falarei apenas sobre o trabalho em si, deixando de lado os motivos ou qualquer outro assunto que possa envolver a "família Sepultura"

Se em 1985 "The Curse" já causava impacto, podemos dizer que nos dias de hoje, a famosa introdução se mantém intacta, forte e maligna, nos preparando para "Bestial Devastation". Impressiona a brutalidade que a faixa emana, passados quase 40 anos de seu lançamento. Me pergunto se a dupla quis provar ao mundo o poderio destas composições nos dias de hoje, vez que o Sepultura atual renega seu passado, limando dos seus sets faixas presentes nestes trabalhos. "Antichrist", na sequência, primeira faixa composta pelo grupo, recebeu uma dose extra de agressividade. Uma pena que no release não tenha nenhuma informação sobre quem gravou os demais instrumentos, pois as guitarras aqui despejam uma fúria incrível (se eu não soubesse que Jairo Guedz não participou, diria que ele está presente aqui). Então, a preferida deste que vos escreve, "Necromancer" chega para colocar tudo abaixo! Que música, meus amigos. Que MÚSICA! não tenho dúvidas que um show com esses dois álbuns será um dos acontecimentos mais esperados pelos fãs de metal ao redor do mundo. A destruição que Iggor imprime em seu kit é algo surreal. Impossível ficar indiferente a tamanha capacidade de violência e agressividade. "Warriors of Death" mais um momento de sujeira, peso e velocidade. Ainda que a produção tenha sido um milhão de vezes melhor, soube manter aquela aura dos anos 80, numa atmosfera totalmente crua e underground.

E pra fechar de forma ainda mais brutal, "Sexta Feira 13", faixa inédita, resgata aqueles dias de underground do grupo, onde as letras em português eram a regra, ainda que num lirismo até mesmo pobre. Essa música merecia ver a luz do dia, tamanha capacidade de mosh pit que ela contém. Isso aqui num show tem a potencialidade d e causar perda total no local. Duvida? Escute isso com o fone no volume dez, mas certifique-se que não há ninguém por perto. O risco de uma agressão física é inevitável...

Sem muito mais a dizer: BESTIAL DEVASTATION, regravado pelos CAVALERA, não substituiu o trabalho lançado pelo Sepultura em 1985. Até mesmo, porque Max e Iggor estavam lá. Mas que dá pra colocar ele do lado, sem nenhum tipo de constrangimento... pode ter certeza que dá!

Sergiomar Menezes