domingo, 1 de março de 2020

OZZY OSBOURNE - ORDINARY MAN (2020)


O que falar sobre OZZY OSBOURNE que ainda não tenha sido falado? A não ser que você tenha passado os últimos 50 anos longe da Terra, você sabe muito bem que estamos falando de um dos maiores nomes do Heavy Metal mundial! No auge dos seus 71 anos, Mr. Osbourne anunciou ao mundo algo que todos nós, fãs do Madman ou apenas ligados ao mundo da música já sabiam há muito tempo: que desde o início dos anos 2000 ele vem sofrendo do Mal de Parkinson e que essa praga de doença se agravou nos últimos meses, causando apreensão em todos, visto que Ozzy cancelou a turnê de divulgação deste novo trabalho, além de cancelar a entrevista que daria no dia do lançamento mundial de ORDINARY MAN, seu décimo segundo trabalho de estúdio. Um álbum que, se for o derradeiro na carreira vitoriosa do Madman, encerrará de forma não menos que sublime a trajetória desse senho que, como poucos, fez a alegria de milhões de headbangers durante toda sua carreira, seja com o Black Sabbath, seja de forma solo...

Sempre cercado por músicos do mais alto gabarito, dessa vez OZZY contou com o guitarrista Andrew Watt, que tocou com Glenn Hughes no California Breed, e que também produziu o trabalho. E, se ainda existiam viúvas dos harmônicos irritantes de Zakk Wylde, Andrew Watt soube imprimir sua personalidade, não deixando a mínima saudade do ex-guitarrista. No baixo, Ozzy recrutou Duff McKagan, do Guns n' Roses e na bateria, Chad Smith do Red Hot Chili Peppers. Ou seja, uma banda totalmente nova, que soube executar ao lado do Madman, o seu melhor álbum desde o longínquo "No More Tears" (1991). recheado de ótimas participações como Elton John, Slash e Tom Morello, ORDINARY MAN é, sem sombras de dúvida, o disco mais BLACK SABBATH da carreira solo do vocalista. Um álbum para ser ouvido inúmeras vezes, não apenas como forma de reverência, mas também por toda a qualidade musical á ele emprestada.

"Straight to Hell" abre o disco e a lembrança do Black Sabbath vem á memória logo no primeiro "ALLRIGHT NOW" que Ozzy solta no início da faixa. Pesada como poucas faixas lançadas nos seus trabalhos anteriores, a composição adota uma linha totalmente BS, seja no riff (cortesia de Slash), seja no baixo "gordo" de Duff (que nunca soou tão Geezer Butler anteriormente), ou ainda na pegada técnica, precisa e pesada de Chad Smith. Se a idéia era entrar com os dois pés na porta, o objetivo foi atingido. Ah... e não há como ficar indiferente quando Ozzy canta: "I'll make you scream, I'll make you defecate"... Já "All My Life" resgata momentos mais próximos do que vocalista vinha fazendo anteriormente, mas com um toque mais próximo da sonoridade dos anos 70, sem fugir daquilo que sempre esteve presente ao longo desses anos, qual seja, músicas com andamentos mais calmos e com momentos mais intensos e pesados no refrão. Sem dúvida, um dos grandes destaques do CD. "Goodbye" tem início que nos remete à "Iron Man" do... Vocês sabem quem... e se o início nos traz o Sabbath à memória, o que dizer do andamento com riffs totalmente inspirados no mestre Tony Iommi. E o que dizer da faia título? Autobiográfica, a faixa traz a participação mais do que especial de Elton John dividindo os vocais com Ozzy. "Ordinary Man" é uma música espetacular, sendo impossível não se emocionar durante sua execução. Com uma letra simplesmente perfeita, a faixa é sem dúvida, uma das mais belas já gravadas pelo Madman ao longo de sua carreira. Parafraseando meu grande amigo Tarcísio Chagas, "se você não se emocionou com o dueto dessas duas lendas guiadas pelo inconfundível piano de Elton, você sequer existe.". Não consigo achar melhor definição!

Outra faixa autobiográfica (como quase todas do álbum, que fique claro), "Under the Graveyard" ganhou um vídeo retratando a fase difícil que Ozzy vivia quando foi "resgatado" por Sharon Osbourne e veio a ser tornar um dos maiores nomes do Heavy Metal. Trazendo uma junção de sua carreira solo e com o Black Sabbath, a faixa é outro momento brilhante registrada no álbum. "Eat Me" inicia com uma gaita de boca, tocada pelo próprio Ozzy (outra referência ao BS, não é mesmo?) e ganha a guitarra cheia de riffs, mas Duff e Chad se mostram mais do que entrosados, relembrando os bons tempos de Butler e Ward. Essa faixa pode ser definida como se o BS resolvesse dar uma "modernizada" no seu som e o trouxesse para os dias atuais. Nada que o velho Ozzy já não tenha feito. Logo em seguida, "Today is the End" (mais um título sintomático), que na minha opinião, é um dos poucos momentos mais inspirados do álbum. Longe de ser ruim, a composição fica um pouco aquém das demais, remetendo aos últimos trabalhos de Ozzy. "Scary Little Green Men"... Que puta música! Difícil dizer se esta é a melhor faixa do trabalho, mas é, sem dúvidas, uma daquelas faixas que virarão presença obrigatória nas turnês(?!) que venham a acontecer. Aqui, a guitarra ficou por conta de Tom Morello, do RATM, e digamos, ficou bem diferente daquilo que ele faz em sua banda...

"Holy for Tonight" é uma balada, como sempre existe nos trabalhos de Ozzy. Simples e singela, a canção mostra aquela faceta mais Pop do vocalista, algo que se tornou bastante recorrente a partir dos anos 90. E tome rock n' roll em "It's a Raid" que traz a participação do rapper Post Malone. E isso não faz a menor diferença, vez que a faixa é daqueles petardos dignos de figurar nos shows e abrir as famosas rodas. Apesar do Post Malone. Pra fechar, "Take What You Want", que na realidade é uma faixa do rapper que contou com a participação de Ozzy. A mesma faixa está no último álbum de Malone e sabe-se lá porquê, entrou aqui... 

Longe, mas muito longe de ser um cara qualquer, OZZY OSBOURNE pode estar se despedindo do mundo do Heavy Metal com ORDINARY MAN. Um álbum grandioso, recheado de ótimas participações e que se realmente for o canto do cisne, terá sido um trabalho para ficar na história, não apenas por ser o último, mas por tudo aquilo que traz consigo. Rumores dão conta que o Madman entrará me estúdio para gravar um novo álbum com essa mesma banda. Tenho pra min que se isso for realmente verdade, esse disco já está gravado. A saúde do vocalista, infelizmente, não permite que ele se empenhe tanto para isso. Mas independente do que venha a acontecer, nada nem ninguém irá tirar ORDINARY MAN das listas de melhores álbuns de 2020! Como o próprio Ozzy dizia; ALL ABOARD!!!!

SERGIOMAR MENEZES







DOGMA BLUE - QUIETUS (EP - 2019)


É muito gratificante quando a gente, que faz esse trabalho porque realmente gosta e não recebe um mísero centavo por isso, recebe um trabalho de uma banda que toca um estilo difícil de classificar, mas que sabe de seu potencial e investe em seu objetivo. E um desses exemplos é QUIETUS, trabalho de estréia do grupo DOGMA BLUE de Curitiba (PR). Navegando entre o peso e a melodia, é possível encontrar no som da banda, desde passagens totalmente Heavy Metal á momentos próximos do Hard e, ainda, passagens bem pesadas com certo acento Thrash. Se essa "mistureba" pode soar confusa num primeiro momento, ao ouvirmos com atenção as cinco faixas presentes aqui,podemos perceber que, mesmo que este seja seu primeiro trabalho e existam arestas a serem aparadas, o grupo tem qualidade. Além disso, cabe lembrar que a banda foi formada em 2018, e logo, possui pouco tempo de carreira.

Marcelo Paes (vocal), Tales Ribeiro (guitarra), Rodrigo Kolb (guitarra), Roberto Greboggy (baixo) e André Prevedello (bateria) produziram por conta própria o EP, que foi gravado pela dupla de guitarristas. Já a mixagem e masterização foram feitas por Paulo Bueno. E esses quesitos garantiram a QUIETUS uma aura pesada e densa, lembrando em alguns momentos o que o Sentenced fez nos álbuns "Crimson" (200) e "The Cold White Light" (2002). Mas que fique claro, falo isso principalmente em relação a sonoridade das guitarras, vez que a sonoridade do grupo difere de forma bastante significativa daquela praticada pelo saudoso grupo finlandês. Ainda, dentro dessas particularidades, o vocalista Marcelo, que tem um timbre bastante peculiar, precisa definir com mais precisão que linha seguir, pois apesar de se mostrar bastante versátil, parece que em determinados momentos, sua voz acaba por se perder dentro da composição. Algo que a estrada se encarregará de ensinar...

"Disorder" abre o trabalho com um riff pesado, enquanto a cozinha segue pela mesma trilha. Carregada de energia, a faixa traz uma interessante mistura de thrash, heavy e hard, com destaque para a dupla de guitarristas Tales e Rodrigo. Da mesma forma, baixo e bateria mostram coesão e entrosamento. Já o vocalista Marcelo, em determinados momentos me trouxe a mente a voz de Deus, a saber Ian Fraser Kilmister, conhecidos por nós, simples mortais como Lemmy. Só que durante a execução da faixa, sua voz ganha ares mais agressivos, o que acaba sendo positivo, vez que a composição não te absolutamente nada de Motorhead em sua sonoridade. A faixa título também inicia carregada de peso, onde as guitarras se destacam. Aqui, Marcelo demonstra maior personalidade, mantendo linearidade em sua voz de forma mais concisa. "No Garden" mantém similaridade com a faixa título, e traz um bom trabalho da dupla Roberto e  André (baixo e bateria, respectivamente). Aliás, percebe-se que o baixo ficou bem à frente nas faixas, pois pode ser ouvido com bastante "nitidez" em muitos momentos. Se foi proposital, não posso afirmar, mas se Roberto não tivesse competência, poderia ser bem arriscada essa situação. Por sorte, o músico se mostra bem acima da média.

Na sequência, "Dissolution" mostra uma outra faceta de Marcelo, que usa sua voz de forma diversa, trazendo um lado mais Hard para a composição. Por se tratar de uma "balada", a faixa ganha peso e aqui sim, a lado Sentenced do grupo aparece de forma mais direta. Isso na primeira parte da música, pois depois o Heavy Metal vem requerer seu lugar, da forma mais tradicional, onde os riffs nos remetem de forma simples, mas direta, ao Iron Maiden. Pra encerrar, "Mucamba", a melhor faixa do EP, sem sombras de dúvidas! Um Hard/Heavy pegado, com ótimo trabalho das guitarras, mostrando que esse deve ser o caminho a ser trilhado pelo grupo. Uma música com personalidade, vocal encaixado e melodia que contrata com o peso. Baita faixa!

Como dito no início da resenha, é muito bom receber um trabalho como QUIETUS. Mesmo que existam pontos a serem melhorados (pequenos ajustes na voz de Marcelo, um cuidado maior na mixagem pra deixar os instrumentos mais nivelados), o quinteto mostra muita garra e vontade de conquistar seu espaço. Tendo o devido cuidado com esses pequenos ajustes, o DOGMA BLUE será mais um nome de respeito dentro do cenário do metal nacional.

SERGIOMAR MENEZES










sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

JAVALI - LIFE IS A SONG (EP) (2019)


Muitas vezes nos deparamos, seja nas redes sociais, seja na mídia impressa, ou até mesmo em um bate papo com amigos, com declarações de que o rock feito no Brasil está mal, que não existem boas bandas, que o mercado está saturado e etc... Mas eu posso afirmar com a mais absoluta convicção que, se você compartilha dessa opinião, ou você não sabe o que é rock, ou está ouvindo as bandas erradas. Pois é impossível concordar com tal afirmação ao ouvir o trabalho do JAVALI, e por consequência, seu mais recente trabalho. Músicos extremamente técnicos e de raro talento, músicas compostas com conhecimento de causa e ótima produção fazem do EP "LIFE IS A SONG" um belo exemplo de como o rock praticado no Brasil é de excelente nível, mas não obtém o merecido reconhecimento...

Marcelo Frizzo (vocal e baixo), Jaeder Menossi (guitarra) e Loks Rasmussen (bateria) definem com perfeição a denominação "power trio". O grupo, que anteriormente chamava-se POP JAVALI, decidiu retirar o POP do nome e gravou este novo trabalho no Atmosphera Studios sob o comando de Ed Junior. A produção, no entanto, ficou sob a responsabilidade do próprio grupo, de André Costa e Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, este último, também responsável pela masterização e mixagem do EP. E podemos afirmar que tudo ficou no seu lugar, com o grupo mostrando uma maior personalidade, fugindo daquele estigma (errôneo, diga-se) de que sua sonoridade era muito próxima do Dr. Sin. Muito disso por causa das produções anteriores que foram realizadas pelos irmãos Busic. Acontece que o JAVALI sempre teve identidade própria, e isso restou claro neste ótimo CD que conta com 06 faixas regulares e mais uma bônus track.

"Runaway" abre o trabalho com uma pegada mais próxima do Hard, sem esquecer do peso (dentro da proposta do grupo). Bem estruturada, a composição traz um refrão de fácil assimilação, mostrando que não é necessário abusar da técnica para obter um resultado de ótimo nível. Falar da excelência dos músicos é chover no molhado, mas o que o guitarrista Jaeder está tocando, não é brincadeira... Preste atenção no solo e me diga se estou errado. Na sequência, "Empty Promises" traz um pouco mais de peso, muito dele proporcionado pela cozinha de Loks e Marcelo, que demonstram um entrosamento perfeito. Com uma levada mais moderna e um tanto quanto alternativa, a faixa se destaca também pelos riffs de Jaeder. "Singing Along" é uma "quase" balada, onde a guitarra segue como guia, deixando a bela melodia da composição totalmente livre para mostrar o lado mais "pop" do grupo.

"Child's Frustration" é outro momento pesado do trabalho. Por falar em peso, isso já era claro quando o grupo lançou o ao vivo "Live in Amsterdam" e isso acaba por refletir na hora das composições. Acredito que ao vivo o grupo deve soar ainda mais pesado. Um ponto que merece citação é o vocal de Marcelo que apesar de manter uma linha bastante melódica, em alguns momentos da faixa arrisca um gutural sem fazer feio! Em seguida "Cruel Past" é um mistura entre o Hard e o Heavy, onde o trio esbanja categoria, ainda mais na parte heavy da composição, onde o peso ganha doses maiores, destacando a performance da dupla Marcelo e Loks. "Dancing in the Fire" encerra a parte regular do EP, em outro momento Hard/Heavy de extremo bom gosto. Como bônus, temos a faixa "Read My Mind", que havia sido lançada em 2018. Mais "suja", a composição é um dos grandes destaques do ótimo trabalho.

LIFE IS A SONG é um trabalho que tem apenas um defeito a s er considerado: tratar-se  de um EP. O grupo merece muito mais destaque no cenário nacional. Não á toa, o JAVALI já possui reconhecimento lá fora, principalmente na Europa. Sendo assim, corra atrás e descubra os trabalhos anteriores da banda. Ou você vai continuar com aquela opinião furada lá do início do texto...

SERGIOMAR MENEZES 



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

UGANGA - SERVUS (2019)


Com mais de 25 anos de carreira, um dos mais expressivos e relevantes grupos do rock pesado brasileiro lança seu 5º trabalho de estúdio. Após o excelente "Opressor" de 2014 e do DVD "Manifesto Cerrado" de 2017, o UGANGA lança o excepcional SERVUS, um trabalho carregado de peso e intensidade. A maturidade da banda fica visível, o que não é nada de extraordinário, visto que o grupo conta com músicos experientes, além de já ter tocado por quase todas as regiões do país, participando de importantes festivais e realizado duas turnês européias, somando 28 shows em 13 países. Turnês que deram origem ao ótimo "Eurocaos ao vivo", lançado em 2013.

Manu Henriques Joker (vocal), Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Maurício "Murcego" Pergentino (guitarra), Raphael "Ras" Franco (baixo e vocal) e Marcos Henriques (bateria  e vocal) tiveram o financiamento para lançar o trabalho através de dois relevantes prêmios: o Wacken Foundation, organização alemã sem fins lucrativos idealizada em 2008 pelos produtores do Wacken Open Air - o maior festival de Heavy Metal do planeta - e também pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Uberlândia (MG) de onde o grupo é originário. Gravado no mesmo local que o álbum anterior, no estúdio Rock Lab em Goiânia/GO, o trabalho foi produzido por Gustavo Vazquez e pelo próprio Manu Joker, moldando de forma certeira a identidade do grupo que veio sendo construída nos dois trabalhos anteriores ("Vol.3: Caos Carma conceito - 2009 - e "Opressor" de 2014). A verdade é que SERVUS é um trabalho muito mais à frente que seus antecessores, pois buscou o ponto perfeito entre o Thrash e o Hardcore que permeiam a sonoridade básica da banda.

Repleto de participações especiais, SERVUS inicia com "Anno Domini", uma pequena intro, que nos prepara para a faixa título, um ótimo exemplo de como soar Thrashcore com identidade própria. Pesada e intensa, a faixa possui um andamento tipicamente Hardcore que ganha o peso das guitarras criando uma junção perfeita com o Thrash. Quanto às guitarras, cabe lembrar que Maurício gravou o álbum , mas foi substituído por Lucas "Carcaça". Na sequência, "Medo" traz um ´timo trabalho da cozinha composta por Raphael e Marcos, e mantém aquele híbrido Thrashcore, onde as guitarras pendem mais para o lado metal enquanto a cozinha se encarrega de encaixar a velocidade HC na composição. Manu Henriques entrega sua voz de forma segura e firme, ríspido em alguns momentos, mas perfeitamente dentro da proposta musical do sexteto. "O Abismo" conta com a participação do vocalista Casito Luz, da lendária banda WitchHammer, conterrânea da banda. Mais cadenciada, a faixa mantém uma maior proximidade como Thrash Metal. A produção soube valorizar muito bem o peso das guitarras, fugindo do lugar comum onde muitas bandas do estilo caem. "Dawn" é uma faixa mais lenta, uma espécie de balada, dentro dos parâmetros do grupo, enquanto as guitarras voltam a ditar o ritmo em "Hienas", que conta com a participação do grupo chileno de rap Lexico. A faixa, pesada, e que ganha velocidade em determinados momentos, é um dos grandes destaques do trabalho, que se mantém bastante homogêneo.

O Punk/HC assume o protagonismo em "7 Dedos (Seu Fim)", que conta com a participação do vocalista Renato BT, da banda John No Arms. Outro ótimo momento, onde a versatilidade dos músicos é o grande destaque. "Couro Cru" começa com o baixo na cara, e ganha velocidade, juntamente com os riffs tipicamente HC do trio de guitarristas do grupo. Com uma mudança de andamento durante sua execução, a composição apresenta características um pouco fora das usuais da banda, mas nem por isso, deixa de lado sua personalidade. E tome riffs metálicos em "Imerso", mais uma faixa que traz a influência mais pesada da banda, em especial de Black Sabbath. Prestem atenção nos riffs que surgem durante o desenrolar da composição e entenderam o que quero dizer. A porradaria volta à tona em "Lobotomia", e não teria como ser diferente, vide a letra extremamente crítica e sincera sobre um dos tantos momentos que vive o nosso país. Já "Fim de Festa" possui um acento mais "acessível", se é que dá pra dizer dessa forma. Destaque para as guitarras. Cabe destacar também a passagem quase atmosfera no meio da música, que nos deixa respirar um pouco. A cantora e dançarina pernambucana Flaira Ferro participa de "E.L.A." que também conta com a participação especial do vocalista Luiz Salgado. A faixa é totalmente voltada à brasilidade, com ênfase total na música regional. O encerramento vem com "depois de Hoje", uma faixa estranha, misteriosa e cercada de elementos espirituais, vide a participação especial do espiritualista Dr. Waldir.

SERVUS traz também uma belíssima capa, obra do artista Wendell Araújo, que já trabalhou com o ratos de Porão e Cólera. Segundo o próprio Manu Joker "A arte da capa e contracapa têm a ver com o atual momento pelo qual passa a humanidade". De forma geral, o trabalho todo em si traz essa forte reflexão. E o UGANGA soube transformar isso num trabalho de valor inquestionável!

SERGIOMAR MENEZES






  


GUILHERME COSTA - LIGHT OF REVELATIONS (2019)



Como é bom ouvir um álbum de guitarrista que, apesar da técnica apurada, decide usá-la a favor da música, deixando seu talento falar mais alto. E, diga-se de passagem, hoje em dia, isso é algo bastante raro. Felizmente, LIGHT OF REVELATIONS, primeiro full lenght do guitarrista mineiro GUILHERME COSTA enquadra-se nessa categoria. Amparado por composições fortes e bem estruturadas, o trabalho mostra que aquilo que o guitarrista havia apresentado em seu EP "The King's Last Speech" (2017) era apenas uma amostra da capacidade técnica e criativa do músico. Com uma produção que soube valorizar as composições em suas estruturas, o álbum vai agradar em cheio os fãs da boa música, seja no Hard Rock, Heavy Metal, Power Metal, ou em qualquer outra vertente do estilo.

O trabalho foi produzido pela dupla Gus Monsanto (ex-Adagio, Human Fortress) e Celo Oliveira. Gus também participou do álbum emprestando sua voz à algumas faixas, dando um brilho extra, vez que o vocalista possui um timbre bem peculiar, que passeia com sucesso entre o Hard e o Heavy,. enquanto Celo gravou os baixos do álbum. LIGHT OF REVELATIONS não se prende à limites durante sua execução, uma vez que GUILHERME COSTA apresenta versatilidade em sua maneira de tocar guitarra, o que faz do disco um trabalho agradável de se ouvir. Até mesmo as faixas instrumentais, que na maioria das vezes, servem para que os músicos tenham delírios ególatras, se deixam levar unicamente pela musicalidade, provando mais uma vez que a música fala mais alto!

"Fight Against Myself" abre o CD e conta com os vocais de Gus Monsanto, e posso afirmar sem medo de errar, que é o grande momento do álbum. com uma sonoridade baseada no grunge, a música é muito mas que isso, pois temos uma levada hard/heavy em sua execução, ainda mais acentuada pelos vocais de Gus. Pesada na medida certa, a composição baseia-se em uma pessoa que trata de um conflito interno devido as suas próprias cobranças. O belo solo de Guilherme complementa a música de forma precisa. "Bloody Wars" é uma faixa instrumental que traz consigo um lado mais power metal, lembrando um pouco os trabalhos de Joe Satriani. Lembrando que Guilherme  diz ter como influência nomes como David Gilmour, Marty Friedman e Steve Lukather. A balada "Inside My Mind" traz elementos do blues e do fusion, remetendo ao trabalho solo de Ritchie Kotzen, o que é algo digno de elogios. "Rising Star" traz os vocais de Jeferson Gonçalves nos versos e de Gus Monsanto nas pontes e refrãos. Com uma pegada poprock anos 90, a faixa traz uma letra inspirada no que aconteceu com o cachorro que foi espancado pelo segurança de um supermercado e nos leva à reflexão de como está nossa convivência com os animais. 

"The Sound of Hope" é influenciada pelo hard rock dos anos 70 e 80 e traz como fonte de inspiração nomes como Paul Gilbert, Slash, Joe Perry, John Sykes e Marty Friedman, enquanto que "An Invitation to the Soul" é um belo tema acústico tocado ao violão. A faixa título também conta com a participação de Gus Monsanto nos vocais e traz uma linha totalmente Power Metal, voltada ao melódico, muito próxima daquilo que bandas como Stratovarius, Angra (fase Edu Falaschi) e Sonata Arctica têm feito. Gus esbanja categoria, mostrando-se um excelente vocalista, enquanto Guilherme, novamente, apresenta versatilidade, viajando por diversos estilos sem precisar de muito esforço. "Homeland" encerra o álbum mostrando uma faceta totalmente inesperada, pois traz inspiração na música brasileira, em especial o baião (do mestre Luiz Gonzaga) e incorpora em determinadas passagens uma pegada mais pesada, quase Thrash.

O álbum traz ainda, como bônus, as três faixas presentes em "The King's Last Speech": "Come Out and Play", com aquela boa e velha influência de Satriani, "The Beggining of a Journey", uma balada bem estruturada e a faixa-título, mais voltada ao hard/power metal. Nessas três faixas, a produção fica um pouco aquém da que é apresentada nas faixas regulares do trabalho, algo normal, visto que se trata de trabalhos independentes.

LIGHT OF REVELATIONS é um belo trabalho, mostrando que GUILHERME COSTA, muito antes de ser um guitarrista, é um músico, no sentido literal da palavra, vez que coloca sempre a música e o sentimento à frente da técnica. Se prosseguir nessa direção, sua guitarra será muito conhecida mundo à fora...

SERGIOMAR MENEZES