sexta-feira, 30 de junho de 2023

MARENNA / ELECTRIC MOB - 24/06/23 - GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS


MARENNA / ELECTRIC MOB
24/06/2023
GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS

Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Sergiomar Menezes/Mauro Antunes (Metal na Lata)

No sábado do dia 24 de junho de 2023, um dia bastante atípico para o inverno gaúcho, vez que a temperatura lembrava um dia de fim de verão/início de outono, duas das maiores bandas brasileiras da atualidade se reuniram para um show no Gravador Pub em Porto Alegre. Se o clima já era quente, o MARENNA e o ELECTRIC MOB decidiram que fariam todos suarem ainda mais, com performances técnicas, cheios de garra e energia, mas principalmente, com muita paixão pela música que fazem. E embora isso devesse ser uma regra, é preciso saudar esse sentimento que, muitas vezes, acaba sendo deixado de lado quando o assunto é música. Bandas mais do que competentes, com músicos brilhantes e um público que estava lá pra se divertir (afinal, esse é o principal motivo da música) garantiram uma noite memorável repleta de rock n' roll.

O Gravador Pub é um local excelente, com ótima infraestrutura e uma acústica de muito bom nível. Isso é um ponto mais que positivo pois sabemos das dificuldades desses locais em manter suas atividades (ainda mais depois da pandemia) e proporcionar aos seus frequentadores um ambiente bastante agradável.

Pontualmente às 20h, o MARENNA sobe ao palco (cabe lembrar que as duas bandas fizeram um show em conjunto, sem essa história de "opening act"), e logo de cara, mostram ao público presente que não estavam pra brincadeira. Rod Marenna (vocal), Edu Lersch (guitarra), BIFE (baixo), Luks Diesel (teclados) e Arthur Schavinski (bateria) tocam "Voyager", faixa que  dá nome ao mais recente trabalho do grupo. Banda afiada e um dos melhores (e mais injustiçados) vocalistas brasileiros nos mostram que se o Brasil fosse um país sério, artistas desse calibre teriam muito mais oportunidades. Entrosamento, coesão e muito feeling guiam a execução da faixa, que ao final, traz um dos tantos fatos que, apesar de corriqueiros, acabam "atrapalhando" o show: uma das cordas do baixo arrebentou! Por sorte, muitos instrumentos musicais estavam expostos nas paredes do Gravador Pub, entre eles, um baixo que serviu de auxílio para a execução da próxima faixa, "Never Surrender", com uma pegada mais Hard/Heavy, com refrão de fácil assimilação. Aliás, dentre os tantos destaques da banda, os refrãos estão entre os melhores. A pesada e melódica "Pieces of Tomorrow" vem na sequência, com destaque para o guitarrista Edu Lersch. Postura de guitar hero, o jovem músico carrega técnica e feeling em sua performance, sendo uma das peças fundamentais do grupo.


"Breaking the Chais", faixa que "Voyager", vem com sua pegada Hard Rock, com ótima performance de Rod, o que não é nenhuma novidade, afinal, quem acompanha de perto a cena rock/metal do Brasil sabe de sua qualidade, ainda que seja esquecido até mesmo pela mídia aqui da aldeia. Mas pouco importa, vez que quem conhece, sabe do que estou falando. "Getting Higher" vem em seguida, com uma pegada de baixo e bateria pesada e intensa. Bife e Arthur formam uma cozinha muito mais que entrosada, pois garantem o peso (dentro da sua proposta) que o grupo necessita. Outro refrão que gruda na cabeça que antecede "You Need to Believe", que, na opinião deste que vos escreve é uma música que deveria tocar em todas as rádios do país. Impossível escutá-la e não imaginar aquelas propagandas legais do Hollywood - O Sucesso" (sim, sou jovem há mais tempo, como diria meu amigo José Henrique Godoy), tamanha a capacidade de unir o rock, o clássico e o pop numa mesma composição. Mais uma vez Rod deixa evidente seu talento, em linhas vocais repletas de técnica e energia. "Life Goes On", mantém a adrenalina lá em cima, deixando Edu mais uma vez com o destaque, vez que as linhas de guitarra aqui ganham um destaque em determinados momentos.


Composta por Luks Diesel, "Wait" vem na sequência e traz uma linha Hard/AOR com uma pegada anos 80, mas com uma veia totalmente atual. E aqui, também é preciso dizer, Luks não é um músico que está ali para preencher uma lacuna, como muitas bandas que conhecemos que possuem tecladistas. Peça fundamental da engrenagem, suas linhas garantem as melodias e harmonias necessárias para que o grupo atinja seus objetivos. Assim como todos os 5 integrantes, formando uma banda única dentro do estilo. "Gotta be Strong", outra faixa com ótimo refrão e linha de baixo/bateria vem na sequência, mostrando que a banda vem priorizando a divulgação de "Voyager", o que fica evidente nas próximas músicas: "Outof Line" e na "balada que não pode faltar em um disco de Hard Rock" como dito por Rod antes de executar "I Ain't Stranger to Love", que a banda ainda não tinha tocado ao vivo. A pesada "Too Young to Die" antecede o final que vem com "Had Enough", um clássico que deveria ser tocado de hora em hora, pra mostrar a todos que no Brasil temos talento na música, assim como lá fora! Parabéns à banda pelo excelente show, personalidade e postura! 


Um curto intervalo, para pegar uma cerveja e dar uma respirada e somos agraciados com performance matadora da ELECTRIC MOB! Como disse lá no início do texto, as duas bandas deveriam ter uma exposição e reconhecimento muito Maiores! Renan Zonta (vocal), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e Mateus Cestaro (bateria - que acompanhou a banda, substituindo no show o baterista André Leister) surgem no palco com a poderosa "Will Shine" com sua linha com toques de música regional nordestina. Pesada, a faixa foi uma ótima opção para início, ainda que a guitarra de Ben Hur tenha apresentado problemas (no caso, desapareceu totalmente!), mas você acha que a banda se importou? Como se nada estivesse acontecendo, o grupo mostrou aquele despojamento tipicamente rock n' roll e se entregou de corpo e alma. Na sequência, "IT'S GONNA HURT" colocou todo mundo pra cantar o refrão com a banda. E, vale dizer, uma parte considerável do público foi para a frente do palco acompanhar a "insanidade" do quarteto. E tira da cabeça o tal do "ÔÔÔÔ-Ô" depois... "King's Ale", primeira faixa de "Discharge" tocada na noite e seu toque "country" veio em seguida, e mostrou o bom entrosamento entre Yuri e Mateus, pois o groove dessa faixa, além de acrescentar peso, mostra que a gama de influências do grupo é infinita!


E, para a alegria maior deste que vos escreve, "Far Off", aquela com uma pegada totalmente Hard Rock, veio para trazer diversão aos fãs do estilo. Lembro de conversar com Renan ainda em 2020 e ter questionado se o nome era um trocadilho com "farofa", tendo como resposta: Ah, você sacou a parada! hehehe... E se a galera queria soltar a voz de vez, "By the Name (nanana) veio e fez todo mundo cantar junto. O banda pra fazer refrão grudento também hein? Uma coisa que percebi durante o show do Electric Mob é que o som estava um pouco mais alto, não que isso tenha algum tipo de influência, sendo apenas uma percepção. Então era chegada a hora do "baile funk"... "Saddest Funk Ever" trouxe, groove, peso e aquela levada funk que só quem entende de música sabe diferenciar na hora de ouvir e compôr. Ao final, rolou da público um "Viva o Funk", ao qual Ben Hur respondeu: Yeah!! Esse despojamento e descontração fazem um diferencial na banda, além da performance totalmente rock n' roll! Que banda pra se ver ao vivo, meus amigos!


"Black Tide", primeira música do primeiro EP da banda, também se fez presente, com uma dose extra de peso e groove e antecedeu "your ghost", com aquele toque de blues, onde Ben Hur se destacou e Renan mais uma vez deu mostras que está entre os melhores vocalistas da atualidade. Ainda que aquele reality global não concorde comigo... Em seguida "4 letters", fez todo mundo cantar "ÔÔÔ" novamente! Mas um dos pontos altos do show (entre tantos) veio com a fantástica "Sun is Falling". Que música, meus amigos, que música! Pesada, climática, atmosfera densa... desculpem a expressão, mas puta que pariu! Essa faixa precisa ser vista ao vivo por todo mundo que se diz fã de rock! Pra "acalmar" um pouco os ânimos, "Higher Than Your Heels" veio nos lembrar novamente de "Discharge" assim como os ótimos riffs de "Need a Rush", do Ep "Leave a Scar", trouxeram o passado recente da banda à tona. A pedrada "Love Cage" encerrou a apresentação. Aí, tivemos aquele momento mais falso que nota de R$ 3,00, onde a banda se despede, diz que que o show acabou, a galera pede mais um e o grupo volta. Nosso saudoso Lemmy já nos dizia isso há muito tempo atrás... Brincadeiras à parte, o ELETRIC MOB não poderia deixar o palco sem tocar "Devil You Know". Se ainda restava alguma dúvida, ela acabou aqui: esse é um clássico do rock/metal nacional! como se o show estivesse apenas começando, a entrega da banda aqui beirou a insanidade (mais uma vez)! Um encerramento digno de uma noite fantástica, regada ao melhor da música feito nesse país que insiste em não olhar seus verdadeiros talentos!


Agradecimentos: ao Gabriel e Gravador Pub pelo excelente atendimento, ao Mauro Antunes e Metal na Lata pelas fotos e cervejas, ao Renan Zonta e ao Ben Hur que vieram trocar uma ideia comigo quando viram que eu cheguei no local (e rendeu boas risadas), à Bela, a pitbull do bar, que transitou pelos presentes com muita desenvoltura, e ao Rod Marenna que viabilizou o evento, apesar de todas as dificuldades e falta de apoio, inclusive por parte da mídia local. A coisa pode estar difícil meu amigo, mas como você mesmo diz "YOU NEED TO BELIEVE"!

quinta-feira, 29 de junho de 2023

STARMEN - STARMENIZED (2023)

 

STARMEN
STARMENIZED (2023)
Melodic Passion Records/Sound Pollution - Importado

"STARMEN": Uma banda posando com maquiagens e tocando Rock n' Roll dos anos 70 e 80. Esta frase está na abertura do site dos suecos do STARMEN. Lendo esta pequena apresentação, logo vem a mente bandas como KISS, ALICE COOPER e outros monstros sagrados do Hard Rock de outrora. Mas o que encontramos na sonoridade e estética do STARMEN é um pouco mais ampla.

Formada em 2018, o intuito da banda era prestar uma homenagem aos seus heróis do rock, mas com o passar do tempo, misturaram sua influências com um DNA próprio, cada integrante escolheu uma cor, se vestiu e pintou uma estrela no rosto com ela e o Starmen ganhou vida . Visualmente você deve estar imaginando que é um quarteto formado de "Starchilds", mas se você puder dar uma sacada nas fotos e vídeos da banda espalhadas pela internet, vai verificar que o "look" está mais para a finada banda paulista EXXÓTICA do que para o KISS.

"Starmenized" chega agora ao mercado, e é o quarto álbum da banda. Musicalmente ele é muito bem produzido, com excelentes arranjos e harmonias, bem como uma produção cristalina. Diferentemente dos trabalhos anteriores, onde o AOR dava as cartas na maior parte dos temas, em "Starmenized" temos uma variedade maior entre as faixas. As faixas de maior destaque são a abertura com "Liar", uma faixa Hard & Heavy , que lembra bastante o Rainbow fase Joe Lynn Turner. "Rock Star", totalmente no clima " Hair Metal 80s".

"Tears Never Dry", um AOR empolgante na linha do Night Ranger. Preste a atenção e não se assuste, o primeiro e único Starchild possível, Mr. Paul Stanley, não faz participação especial. E sim, o vocalista Red Starmen (lembram , cada um deles tem uma cor) fazendo a sua melhor emulação do Mr. Stanley. Sim, temos também como destaque uma "power ballad", "I d Die For You" capaz de fazer o Sr. David Coverdale pensar que ele poderia tê-la composto.

Red Starman (Vocais e guitarra), Gold Starman (Baixo e vocais) , Silver Starman (Bateria e vocais) e Purple Starman (Guitarra solo e vocais) não nos apresentam nada que já não tenha sido feito anteriormente, e como eles mesmos deixam explícito, nunca foi a intenção mesmo fazer algo original. Um bom trabalho para quem quer ouvir um Hard Rock descompromissado e sem muitas exigências.

José Henrique Godoy




quarta-feira, 28 de junho de 2023

ALTA TENSÃO - METALMORFOSE (1985/2022)

 

ALTA TENSÃO
METALMORFOSE (1985/2022) - RELANÇAMENTO
Dies Irae Records - Nacional

Vamos tocar na ferida de inúmeros fãs brasileiros de metal: não, vocês não valorizam ou sequer sabem o que é ou o que foi feito em nossas terras em nome do nosso gênero musical favorito em perversos tempos pregressos! Especialmente quando se trata daqueles guerreiros advindos de anos obscuros em plagas tupiniquins, épocas em que não havia praticamente nada – referências, imprensa, estrutura ou apoio – para se fazer heavy metal por aqui. Ainda que grandes centros moviam uma embrionária cena, o estilo servia menos que uma expressão de rejeito ou desgosto para a central opinião musical da época. Se era difícil para nomes como Centúrias, Harppia, Dorsal Atlântica, Sarcófago, ou ainda, para um pretenso Sepultura, consequentemente, nem sequer haveria espaço para outros observantes de fora.

Nesse espectro, imagine como deveria ser para quem vivia em áreas do país longe do eixo Rio-São Paulo. Tente vislumbrar, então, uma banda de heavy metal em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em pleno 1985. A estranheza desse exercício mental certamente poderia levar vários ao bloqueio imaginativo. Ainda assim, nessa exata época e local, um grupo chamado Alta Tensão resolveu fazer o que quase ninguém estava fazendo. Influenciados pelo os clássicos medalhões Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest e Iron Maiden, Adílson Fernandes (vocal/guitarra), Edson David (guitarra), Marcos Fernandes (baixo) e Bosco Melo (bateria) nadaram contra a maré e resolveram gravar o emblemático “Metalmorfose”, que, no ano de 2022, ressurge como relançamento.

Dessa forma, precisamos entender que o que se escuta nesta obra calca-se em um cenário precursor, em um âmbito ausente de muitas referências ou parâmetros. Por isso, “Metalmorfose” é um brado significativo a uma época pioneira e única em que qualquer possível fã de heavy metal deve prestar reverências ou, no mínimo, respeito.

Lançados pelo lendário selo “Baratos Afins” e produzido por Oswaldo Vecchione (do também lendário “Made in Brazil), e relançado agora pela Dies Irae Records em CD edição especial com slipcase, pôster, adesivo e booklet de 24 páginas com biografia em português e inglês, letras e fotos inéditas, a trupe esculpiu seu nome na história do metal nacional ao concretizar essa obra cantada em português, a qual, após uma “Intro” de preceitos macabros, acorda o ouvinte com “Submundo da Carne”, faixa em que a dupla de guitarras destila suas influências em Priest e Maiden para dizer aos brazucas para que vieram. A música seguinte, também título do álbum, “Metalmorfose”, é um distúrbio sonoro que lembra as loucuras do Sabbath em anos iniciais, mas com o adendo de um refrão marcante que brada repetitivamente o verso “nesse som de metal!”. Com a letra fazendo alusões a uma nova ordem política, imagino o quão significativa a faixa deve ter soado na época.

A próxima trilha, “Rock Batalha”, é um laboratório de Iron Maiden no vernáculo português. Guitarras em dobrado e solos estonteantes fazem desse som um dos melhores do disco, ainda que o refrão soe um tanto brega se entendido aos ouvidos modernos. Seguindo, temos a música “Paranoia”, que se caso evitasse uma alusão ao clássico do Black Sabbath, falhou nessa missão. Tudo bem que a trilha não é nem um pouco parecida com o hino dos ingleses, mas soa muito como o grupo de Birmingham. Até a letra remete ao pálido viés lírico de Ozzy e companhia. Há uma levada meio blues, refrão marcante e quebradas extremamente bem cadenciadas. Uma boa música, sem dúvidas.

Na conduta “Sabbathiana”, “Missão Impossível” segue incólume nessa intenção. A introdução armada pelo baterista Bosco até o riff incidental da faixa assumem a total e plena influência dos pais do heavy metal. No entanto, logo ganha ares de um speed metal, cadência avançada e guitarras em celeridade. Mais uma vez, percebemos o quão excelentes eram os trabalhos de cordas da banda, apurando solos intercalados e de escalas desafiantes.

E falando em excelente trabalho de guitarras, “O Pecador”, faixa seguinte do álbum, apresenta a virtuose aguçada de Edson David. Ainda que o som jogue mais do mesmo em uma levada clichê, algo entre o punk e o heavy, é impossível não ficar impressionado com o exímio talento da guitarra na faixa. A bateria também cria seus momentos, típicos e sugeríveis de serem ouvidos pelas baquetas de Ian Paice do Deep Purple. Apesar desses destaques, a música não é muito memorável.

“Não Dispare” encerra o álbum com velocidade e vocais afrontosos. Um speed metal com nuances de Judas Priest, talvez carecendo de um pouco mais de ousadia do vocalista, mas, conforme disse ao início do texto: tratava-se de uma época sem referências muito claras. A letra que rima “pare” com “não dispare” é bem divertida, fechando com um efeito sonoro de metralhadora bem figurativa à faixa.

Quase 40 anos depois de seu lançamento, “Metalmorfose” ainda é uma peça necessária e representativa do arcabouço do heavy metal brasileiro. Em uma era em que fazer metal no Brasil encorpava-se mais da audácia e da coragem do que propriamente da técnica, o Alta-Tensão condensa esses fatores e remarca para as futuras gerações uma verdadeira aula de como se criar e fazer música pesada no país. Em uma época em que a originalidade e a autenticidade frisavam limiares semelhantes, a banda deixou seu recado e identidade, orgulhando para sempre a história de nossa música. Valia ser ouvido em 1985 e, certamente, segue sendo valorosa a audição em 2023.

Gregory Weiss Costa




sexta-feira, 23 de junho de 2023

MACABRE - SINISTER SLAUGHTER - 30TH ANNIVERSARY EDITION

 

MACABRE
SINISTER SLAUGHTER - 30TH ANNIVERSARY EDITION (2023)
Shinigami Records - Nacional


Que belo relançamento comemorativo de 30 anos desse segundo álbum do Macabre, o Sinister Slaughter! Lançado em 1993, esse álbum firma a fama de “doentes” dos americanos no cenário da música extrema mundial.

Originalidade é a principal característica dessa banda que conta até os dias de hoje com a mesma formação trazendo Dennis the Menace na bateria, Corporate Death na guitarra e vocal agudo e Nefarious no baixo e vocal gutural. Talvez só não tivemos originalidade na capa, já que trata-se de uma paródia com a capa de Sgt Pepper’s dos Beatles, um pouco digamos... adaptada ao humor negro da banda trazendo os integrantes em meio aos mais famosos assassinos e serial killers do mundo! Definitivamente uma capa pra não ser levada a sério.

Totalmente fora dos padrões o Macabre flerta com death, grind, thrash, hardcore e afins num redemoinho de influências e mudanças de ritmo e andamentos em suas músicas, que aqui somam 21 faixas, temos o início do álbum com Night Stalker no melhor estilo de filme de terror com gritos e suspense falando do assassino Richard Ramirez. Essa fórmula se segue ao longo de todo o álbum com cada música “homenageando” um assassino diferente. 

O instrumental da banda é de uma técnica invejável, guitarra de 7 cordas, baixo de 6 cordas, e um baterista que na época do lançamento já era um dos mais rápidos no estilo tocando nos bumbos. Temas como The Ted Bundy Song, Sniper on the Sky, Zodiac, norteiam um álbum com humor negro, vocais doentis alternados entre o gutural e gritos esganiçados, e todas as letras falando de mortes. Em meio ao caos, temos a bela Mary Bell acústica, com um trabalho excepcional nos violões e que mais uma vez mostram a qualidade técnica desses caipiras, numa sequência de títulos sugestivos como White Hen Decapitator, The Boston Strangler, Montreal massacre e Vampire of Düsseldorf entre outros...

Esse Sinister Slaughter entrou pro hall dos álbuns mais clássicos do mundo originando inclusive o rótulo de Murder Metal para banda, e em meio a tantos temas Albert Was Then Any Fish in the Sea fecha esse trabalho de forma perfeita, e mantendo o status de ame ou odeie ao estilo do Macabre, sempre provocativo, pesado, engraçado, mas sempre rápido e brutal como deve ser. Escute-o!!!! Você definitivamente tem que ter uma opinião formada á respeito do clássico Sinister Slaughter.

Márcio Jameson




HOST - IX

 

HOST
IX
Shinigami Records/Nuclear Blast Records

Antes de você clicar no play para ouvir “IX”, projeto paralelo do vocalista e do guitarrista do lendário Paradise Lost, Nick Holmes e Greg Mackintosh, respectivamente, precisamos voltar no tempo, lá pelos idos de 1997, para enfim entender a gênese desse curioso trabalho que surge agora em pleno 2023.

Nessa viagem ao tempo, vamos encontrar no percurso a banda inglesa em seu auge, após o lançamento do icônico – e talvez melhor trabalho de sua história – Draconian Times, título o qual colocou o Paradise Lost em uma posição como um dos maiores, mais respeitados e mais celebrados grupos do estilo gothic/doom metal.

Por isso, quando em 1997, os mesmos caras resolveram mudar/inovar o estilo em uma vertente mais tecno, vocais menos crus e com efeitos, uso de sintetizadores e baterias eletrônicas, ideias experimentadas no inusitado One Second, a base de fãs e a crítica especializada ficaram divididas e indagadas com a súbita ousadia.

No entanto, é no trabalho seguinte, de 1999, intitulado Host, que a banda chuta o balde e simplesmente rompe abruptamente com a sonoridade metal e abraça, com ênfase, a sonoridade eletrônica. Considerado o álbum mais controverso da banda, Host, provocou a ira e a debandada de muitos fãs mais tradicionais do estilo, justamente por ser um disco atmosférico, eletrônico e até mesmo pop em algumas trilhas, nada parecido com aquela banda precursora do death doom das antigas.

Sabemos, no entanto, que a banda após isso ressignificou-se mais algumas vezes, retornando inclusive nos últimos álbuns ao estilo que os consagraram, e parecendo ter, enfim, abandonado aquela fase mais Depeche Mode ou New Order. Porém, se o Paradise Lost tivesse seguido nessa linha, como a banda estaria soando hoje? Talvez, a resposta venha nesse projeto de dois membros do Paradise, cujo nome Host faz clara menção à polêmica fase.

Finalmente, após esse passeio, vamos enfim falar sobre o “IX”. Vindo de duas mentes consolidadas em um estilo que praticamente fundaram, além do notório alto teor de conhecimento musical, era previsível que o trabalho não poderia soar ruim. Muito pelo contrário. O álbum condensa o lado sintético das experimentações tecnos com a pegada orgânica e sombria que a dupla carrega em suas essências. Esqueça o experimentalismo do final dos anos 90 que ambos fizeram com sua banda principal no homônimo álbum; “IX” é sim um álbum atmosférico e de viés eletrônico, mas profundamente mais maduro e bem produzido. Trata-se de um novo horizonte musical a ser explorado.

Ainda assim, não se engane. “IX” é um álbum eletrônico – ainda que obscuro e austero – que não vai remeter ao que o Paradise Lost faz na atualidade. Vá escutar Host com ouvidos a fim de uma nova experiência musical, com o gosto agridoce e nostálgico da sonoridade eletrônica e synthpop dos anos 80. Posso dizer – ainda usando o pano de fundo do Paradise Lost – que “IX” permanece como o elo perdido entre Host e Believe in Nothing. É um trabalho simplista, direto e, aparentemente, despretensioso. Acima de tudo, o álbum tem valor próprio e cria sua própria viagem. As músicas de abertura “Wretched Soul” e “Tomorrow’s Sky” deixam isso claro. Jogam com sentimentos futuristas e nostálgicos, quase que servindo de paleta para o que se espera do álbum como um todo. Você vaga por sons em sequência, como a fugaz “Divine Emotion e a cheia de adrenalina “Hiding From Tomorrow” sem sentir a transição. Há momentos contemplativos como “Inquisition” e dançantes (!) como “My Only Escape”.

Contudo, acredito que a intenção do Host seja exatamente essa. As faixas individuais se entrelaçam harmoniosamente para formar um todo perfeito. Holmes e Mackintosh equilibram perfeitamente a escuridão e a luz enquanto criam uma variedade de humores, música após música. “IX” consiste em uma espécie de experiência totalmente cinematográfica destinada a fluir ininterruptamente do início ao fim. Mesmo que exemplos como “A Troubled Mind” e “Instinct” sejam concorrentes aos destaques mais brilhantes do disco, a concepção de Host lida claramente com um fluxo contínuo que apenas endossa a atmosfera de um trabalho sólido e indivisível, a ponto de, caso você se permita ouvir a obra isoladamente, ignorando ressonâncias do Paradise Lost, você irá se surpreender positivamente – ainda mais se o estilo realmente agrada aos seus ouvidos.

Nessa premissa, mesmo que você ouça “IX” sem conhecer os detalhes de sua criação, a intuição lhe dirá que se trata da obra de dois geniais compositores, alinhados ao que é e ao que já foi tendência, dotados de extremo bom gosto. Como mencionei ao início desse texto, você percebe que está escutando algo extremamente bem pensado e bem produzido, sem arroubos experimentais. Coesão e consistência. Quantas vezes esperamos por isso em uma música? E sejamos sinceros: poderíamos esperar algo menos do que excelente vindo da música de Greg Mackintosh combinada com os vocais e letras de Nick Holmes? Conforme esperado, a química entre esses dois artistas faz toda a diferença para tornar o “IX” memorável.

O irônico aqui talvez seja crer que o vocal e o guitarrista do todo poderoso Paradise Lost gostem e façam música eletrônica com excelência. “IX” é um grande álbum e o projeto Host tem potencial suficiente para caminhar paralelamente pelas próprias pernas, entretanto, não é um trabalho que irá agradar a todos ouvidos. Porém, é capaz de causar um impacto significativo porque tem o poder de falar com todo tipo de ouvinte. A sonoridade e conteúdo tratados aqui sempre ressoará em alguma época ou espaço, o que já faz, por todo o contexto de “IX”, um álbum que já nasceu icônico.

Gregory Weiss Costa