sexta-feira, 30 de junho de 2023

MARENNA / ELECTRIC MOB - 24/06/23 - GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS


MARENNA / ELECTRIC MOB
24/06/2023
GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS

Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Sergiomar Menezes/Mauro Antunes (Metal na Lata)

No sábado do dia 24 de junho de 2023, um dia bastante atípico para o inverno gaúcho, vez que a temperatura lembrava um dia de fim de verão/início de outono, duas das maiores bandas brasileiras da atualidade se reuniram para um show no Gravador Pub em Porto Alegre. Se o clima já era quente, o MARENNA e o ELECTRIC MOB decidiram que fariam todos suarem ainda mais, com performances técnicas, cheios de garra e energia, mas principalmente, com muita paixão pela música que fazem. E embora isso devesse ser uma regra, é preciso saudar esse sentimento que, muitas vezes, acaba sendo deixado de lado quando o assunto é música. Bandas mais do que competentes, com músicos brilhantes e um público que estava lá pra se divertir (afinal, esse é o principal motivo da música) garantiram uma noite memorável repleta de rock n' roll.

O Gravador Pub é um local excelente, com ótima infraestrutura e uma acústica de muito bom nível. Isso é um ponto mais que positivo pois sabemos das dificuldades desses locais em manter suas atividades (ainda mais depois da pandemia) e proporcionar aos seus frequentadores um ambiente bastante agradável.

Pontualmente às 20h, o MARENNA sobe ao palco (cabe lembrar que as duas bandas fizeram um show em conjunto, sem essa história de "opening act"), e logo de cara, mostram ao público presente que não estavam pra brincadeira. Rod Marenna (vocal), Edu Lersch (guitarra), BIFE (baixo), Luks Diesel (teclados) e Arthur Schavinski (bateria) tocam "Voyager", faixa que  dá nome ao mais recente trabalho do grupo. Banda afiada e um dos melhores (e mais injustiçados) vocalistas brasileiros nos mostram que se o Brasil fosse um país sério, artistas desse calibre teriam muito mais oportunidades. Entrosamento, coesão e muito feeling guiam a execução da faixa, que ao final, traz um dos tantos fatos que, apesar de corriqueiros, acabam "atrapalhando" o show: uma das cordas do baixo arrebentou! Por sorte, muitos instrumentos musicais estavam expostos nas paredes do Gravador Pub, entre eles, um baixo que serviu de auxílio para a execução da próxima faixa, "Never Surrender", com uma pegada mais Hard/Heavy, com refrão de fácil assimilação. Aliás, dentre os tantos destaques da banda, os refrãos estão entre os melhores. A pesada e melódica "Pieces of Tomorrow" vem na sequência, com destaque para o guitarrista Edu Lersch. Postura de guitar hero, o jovem músico carrega técnica e feeling em sua performance, sendo uma das peças fundamentais do grupo.


"Breaking the Chais", faixa que "Voyager", vem com sua pegada Hard Rock, com ótima performance de Rod, o que não é nenhuma novidade, afinal, quem acompanha de perto a cena rock/metal do Brasil sabe de sua qualidade, ainda que seja esquecido até mesmo pela mídia aqui da aldeia. Mas pouco importa, vez que quem conhece, sabe do que estou falando. "Getting Higher" vem em seguida, com uma pegada de baixo e bateria pesada e intensa. Bife e Arthur formam uma cozinha muito mais que entrosada, pois garantem o peso (dentro da sua proposta) que o grupo necessita. Outro refrão que gruda na cabeça que antecede "You Need to Believe", que, na opinião deste que vos escreve é uma música que deveria tocar em todas as rádios do país. Impossível escutá-la e não imaginar aquelas propagandas legais do Hollywood - O Sucesso" (sim, sou jovem há mais tempo, como diria meu amigo José Henrique Godoy), tamanha a capacidade de unir o rock, o clássico e o pop numa mesma composição. Mais uma vez Rod deixa evidente seu talento, em linhas vocais repletas de técnica e energia. "Life Goes On", mantém a adrenalina lá em cima, deixando Edu mais uma vez com o destaque, vez que as linhas de guitarra aqui ganham um destaque em determinados momentos.


Composta por Luks Diesel, "Wait" vem na sequência e traz uma linha Hard/AOR com uma pegada anos 80, mas com uma veia totalmente atual. E aqui, também é preciso dizer, Luks não é um músico que está ali para preencher uma lacuna, como muitas bandas que conhecemos que possuem tecladistas. Peça fundamental da engrenagem, suas linhas garantem as melodias e harmonias necessárias para que o grupo atinja seus objetivos. Assim como todos os 5 integrantes, formando uma banda única dentro do estilo. "Gotta be Strong", outra faixa com ótimo refrão e linha de baixo/bateria vem na sequência, mostrando que a banda vem priorizando a divulgação de "Voyager", o que fica evidente nas próximas músicas: "Outof Line" e na "balada que não pode faltar em um disco de Hard Rock" como dito por Rod antes de executar "I Ain't Stranger to Love", que a banda ainda não tinha tocado ao vivo. A pesada "Too Young to Die" antecede o final que vem com "Had Enough", um clássico que deveria ser tocado de hora em hora, pra mostrar a todos que no Brasil temos talento na música, assim como lá fora! Parabéns à banda pelo excelente show, personalidade e postura! 


Um curto intervalo, para pegar uma cerveja e dar uma respirada e somos agraciados com performance matadora da ELECTRIC MOB! Como disse lá no início do texto, as duas bandas deveriam ter uma exposição e reconhecimento muito Maiores! Renan Zonta (vocal), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e Mateus Cestaro (bateria - que acompanhou a banda, substituindo no show o baterista André Leister) surgem no palco com a poderosa "Will Shine" com sua linha com toques de música regional nordestina. Pesada, a faixa foi uma ótima opção para início, ainda que a guitarra de Ben Hur tenha apresentado problemas (no caso, desapareceu totalmente!), mas você acha que a banda se importou? Como se nada estivesse acontecendo, o grupo mostrou aquele despojamento tipicamente rock n' roll e se entregou de corpo e alma. Na sequência, "IT'S GONNA HURT" colocou todo mundo pra cantar o refrão com a banda. E, vale dizer, uma parte considerável do público foi para a frente do palco acompanhar a "insanidade" do quarteto. E tira da cabeça o tal do "ÔÔÔÔ-Ô" depois... "King's Ale", primeira faixa de "Discharge" tocada na noite e seu toque "country" veio em seguida, e mostrou o bom entrosamento entre Yuri e Mateus, pois o groove dessa faixa, além de acrescentar peso, mostra que a gama de influências do grupo é infinita!


E, para a alegria maior deste que vos escreve, "Far Off", aquela com uma pegada totalmente Hard Rock, veio para trazer diversão aos fãs do estilo. Lembro de conversar com Renan ainda em 2020 e ter questionado se o nome era um trocadilho com "farofa", tendo como resposta: Ah, você sacou a parada! hehehe... E se a galera queria soltar a voz de vez, "By the Name (nanana) veio e fez todo mundo cantar junto. O banda pra fazer refrão grudento também hein? Uma coisa que percebi durante o show do Electric Mob é que o som estava um pouco mais alto, não que isso tenha algum tipo de influência, sendo apenas uma percepção. Então era chegada a hora do "baile funk"... "Saddest Funk Ever" trouxe, groove, peso e aquela levada funk que só quem entende de música sabe diferenciar na hora de ouvir e compôr. Ao final, rolou da público um "Viva o Funk", ao qual Ben Hur respondeu: Yeah!! Esse despojamento e descontração fazem um diferencial na banda, além da performance totalmente rock n' roll! Que banda pra se ver ao vivo, meus amigos!


"Black Tide", primeira música do primeiro EP da banda, também se fez presente, com uma dose extra de peso e groove e antecedeu "your ghost", com aquele toque de blues, onde Ben Hur se destacou e Renan mais uma vez deu mostras que está entre os melhores vocalistas da atualidade. Ainda que aquele reality global não concorde comigo... Em seguida "4 letters", fez todo mundo cantar "ÔÔÔ" novamente! Mas um dos pontos altos do show (entre tantos) veio com a fantástica "Sun is Falling". Que música, meus amigos, que música! Pesada, climática, atmosfera densa... desculpem a expressão, mas puta que pariu! Essa faixa precisa ser vista ao vivo por todo mundo que se diz fã de rock! Pra "acalmar" um pouco os ânimos, "Higher Than Your Heels" veio nos lembrar novamente de "Discharge" assim como os ótimos riffs de "Need a Rush", do Ep "Leave a Scar", trouxeram o passado recente da banda à tona. A pedrada "Love Cage" encerrou a apresentação. Aí, tivemos aquele momento mais falso que nota de R$ 3,00, onde a banda se despede, diz que que o show acabou, a galera pede mais um e o grupo volta. Nosso saudoso Lemmy já nos dizia isso há muito tempo atrás... Brincadeiras à parte, o ELETRIC MOB não poderia deixar o palco sem tocar "Devil You Know". Se ainda restava alguma dúvida, ela acabou aqui: esse é um clássico do rock/metal nacional! como se o show estivesse apenas começando, a entrega da banda aqui beirou a insanidade (mais uma vez)! Um encerramento digno de uma noite fantástica, regada ao melhor da música feito nesse país que insiste em não olhar seus verdadeiros talentos!


Agradecimentos: ao Gabriel e Gravador Pub pelo excelente atendimento, ao Mauro Antunes e Metal na Lata pelas fotos e cervejas, ao Renan Zonta e ao Ben Hur que vieram trocar uma ideia comigo quando viram que eu cheguei no local (e rendeu boas risadas), à Bela, a pitbull do bar, que transitou pelos presentes com muita desenvoltura, e ao Rod Marenna que viabilizou o evento, apesar de todas as dificuldades e falta de apoio, inclusive por parte da mídia local. A coisa pode estar difícil meu amigo, mas como você mesmo diz "YOU NEED TO BELIEVE"!

quinta-feira, 29 de junho de 2023

STARMEN - STARMENIZED (2023)

 

STARMEN
STARMENIZED (2023)
Melodic Passion Records/Sound Pollution - Importado

"STARMEN": Uma banda posando com maquiagens e tocando Rock n' Roll dos anos 70 e 80. Esta frase está na abertura do site dos suecos do STARMEN. Lendo esta pequena apresentação, logo vem a mente bandas como KISS, ALICE COOPER e outros monstros sagrados do Hard Rock de outrora. Mas o que encontramos na sonoridade e estética do STARMEN é um pouco mais ampla.

Formada em 2018, o intuito da banda era prestar uma homenagem aos seus heróis do rock, mas com o passar do tempo, misturaram sua influências com um DNA próprio, cada integrante escolheu uma cor, se vestiu e pintou uma estrela no rosto com ela e o Starmen ganhou vida . Visualmente você deve estar imaginando que é um quarteto formado de "Starchilds", mas se você puder dar uma sacada nas fotos e vídeos da banda espalhadas pela internet, vai verificar que o "look" está mais para a finada banda paulista EXXÓTICA do que para o KISS.

"Starmenized" chega agora ao mercado, e é o quarto álbum da banda. Musicalmente ele é muito bem produzido, com excelentes arranjos e harmonias, bem como uma produção cristalina. Diferentemente dos trabalhos anteriores, onde o AOR dava as cartas na maior parte dos temas, em "Starmenized" temos uma variedade maior entre as faixas. As faixas de maior destaque são a abertura com "Liar", uma faixa Hard & Heavy , que lembra bastante o Rainbow fase Joe Lynn Turner. "Rock Star", totalmente no clima " Hair Metal 80s".

"Tears Never Dry", um AOR empolgante na linha do Night Ranger. Preste a atenção e não se assuste, o primeiro e único Starchild possível, Mr. Paul Stanley, não faz participação especial. E sim, o vocalista Red Starmen (lembram , cada um deles tem uma cor) fazendo a sua melhor emulação do Mr. Stanley. Sim, temos também como destaque uma "power ballad", "I d Die For You" capaz de fazer o Sr. David Coverdale pensar que ele poderia tê-la composto.

Red Starman (Vocais e guitarra), Gold Starman (Baixo e vocais) , Silver Starman (Bateria e vocais) e Purple Starman (Guitarra solo e vocais) não nos apresentam nada que já não tenha sido feito anteriormente, e como eles mesmos deixam explícito, nunca foi a intenção mesmo fazer algo original. Um bom trabalho para quem quer ouvir um Hard Rock descompromissado e sem muitas exigências.

José Henrique Godoy




quarta-feira, 28 de junho de 2023

ALTA TENSÃO - METALMORFOSE (1985/2022)

 

ALTA TENSÃO
METALMORFOSE (1985/2022) - RELANÇAMENTO
Dies Irae Records - Nacional

Vamos tocar na ferida de inúmeros fãs brasileiros de metal: não, vocês não valorizam ou sequer sabem o que é ou o que foi feito em nossas terras em nome do nosso gênero musical favorito em perversos tempos pregressos! Especialmente quando se trata daqueles guerreiros advindos de anos obscuros em plagas tupiniquins, épocas em que não havia praticamente nada – referências, imprensa, estrutura ou apoio – para se fazer heavy metal por aqui. Ainda que grandes centros moviam uma embrionária cena, o estilo servia menos que uma expressão de rejeito ou desgosto para a central opinião musical da época. Se era difícil para nomes como Centúrias, Harppia, Dorsal Atlântica, Sarcófago, ou ainda, para um pretenso Sepultura, consequentemente, nem sequer haveria espaço para outros observantes de fora.

Nesse espectro, imagine como deveria ser para quem vivia em áreas do país longe do eixo Rio-São Paulo. Tente vislumbrar, então, uma banda de heavy metal em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, em pleno 1985. A estranheza desse exercício mental certamente poderia levar vários ao bloqueio imaginativo. Ainda assim, nessa exata época e local, um grupo chamado Alta Tensão resolveu fazer o que quase ninguém estava fazendo. Influenciados pelo os clássicos medalhões Black Sabbath, Deep Purple, Judas Priest e Iron Maiden, Adílson Fernandes (vocal/guitarra), Edson David (guitarra), Marcos Fernandes (baixo) e Bosco Melo (bateria) nadaram contra a maré e resolveram gravar o emblemático “Metalmorfose”, que, no ano de 2022, ressurge como relançamento.

Dessa forma, precisamos entender que o que se escuta nesta obra calca-se em um cenário precursor, em um âmbito ausente de muitas referências ou parâmetros. Por isso, “Metalmorfose” é um brado significativo a uma época pioneira e única em que qualquer possível fã de heavy metal deve prestar reverências ou, no mínimo, respeito.

Lançados pelo lendário selo “Baratos Afins” e produzido por Oswaldo Vecchione (do também lendário “Made in Brazil), e relançado agora pela Dies Irae Records em CD edição especial com slipcase, pôster, adesivo e booklet de 24 páginas com biografia em português e inglês, letras e fotos inéditas, a trupe esculpiu seu nome na história do metal nacional ao concretizar essa obra cantada em português, a qual, após uma “Intro” de preceitos macabros, acorda o ouvinte com “Submundo da Carne”, faixa em que a dupla de guitarras destila suas influências em Priest e Maiden para dizer aos brazucas para que vieram. A música seguinte, também título do álbum, “Metalmorfose”, é um distúrbio sonoro que lembra as loucuras do Sabbath em anos iniciais, mas com o adendo de um refrão marcante que brada repetitivamente o verso “nesse som de metal!”. Com a letra fazendo alusões a uma nova ordem política, imagino o quão significativa a faixa deve ter soado na época.

A próxima trilha, “Rock Batalha”, é um laboratório de Iron Maiden no vernáculo português. Guitarras em dobrado e solos estonteantes fazem desse som um dos melhores do disco, ainda que o refrão soe um tanto brega se entendido aos ouvidos modernos. Seguindo, temos a música “Paranoia”, que se caso evitasse uma alusão ao clássico do Black Sabbath, falhou nessa missão. Tudo bem que a trilha não é nem um pouco parecida com o hino dos ingleses, mas soa muito como o grupo de Birmingham. Até a letra remete ao pálido viés lírico de Ozzy e companhia. Há uma levada meio blues, refrão marcante e quebradas extremamente bem cadenciadas. Uma boa música, sem dúvidas.

Na conduta “Sabbathiana”, “Missão Impossível” segue incólume nessa intenção. A introdução armada pelo baterista Bosco até o riff incidental da faixa assumem a total e plena influência dos pais do heavy metal. No entanto, logo ganha ares de um speed metal, cadência avançada e guitarras em celeridade. Mais uma vez, percebemos o quão excelentes eram os trabalhos de cordas da banda, apurando solos intercalados e de escalas desafiantes.

E falando em excelente trabalho de guitarras, “O Pecador”, faixa seguinte do álbum, apresenta a virtuose aguçada de Edson David. Ainda que o som jogue mais do mesmo em uma levada clichê, algo entre o punk e o heavy, é impossível não ficar impressionado com o exímio talento da guitarra na faixa. A bateria também cria seus momentos, típicos e sugeríveis de serem ouvidos pelas baquetas de Ian Paice do Deep Purple. Apesar desses destaques, a música não é muito memorável.

“Não Dispare” encerra o álbum com velocidade e vocais afrontosos. Um speed metal com nuances de Judas Priest, talvez carecendo de um pouco mais de ousadia do vocalista, mas, conforme disse ao início do texto: tratava-se de uma época sem referências muito claras. A letra que rima “pare” com “não dispare” é bem divertida, fechando com um efeito sonoro de metralhadora bem figurativa à faixa.

Quase 40 anos depois de seu lançamento, “Metalmorfose” ainda é uma peça necessária e representativa do arcabouço do heavy metal brasileiro. Em uma era em que fazer metal no Brasil encorpava-se mais da audácia e da coragem do que propriamente da técnica, o Alta-Tensão condensa esses fatores e remarca para as futuras gerações uma verdadeira aula de como se criar e fazer música pesada no país. Em uma época em que a originalidade e a autenticidade frisavam limiares semelhantes, a banda deixou seu recado e identidade, orgulhando para sempre a história de nossa música. Valia ser ouvido em 1985 e, certamente, segue sendo valorosa a audição em 2023.

Gregory Weiss Costa




sexta-feira, 23 de junho de 2023

MACABRE - SINISTER SLAUGHTER - 30TH ANNIVERSARY EDITION

 

MACABRE
SINISTER SLAUGHTER - 30TH ANNIVERSARY EDITION (2023)
Shinigami Records - Nacional


Que belo relançamento comemorativo de 30 anos desse segundo álbum do Macabre, o Sinister Slaughter! Lançado em 1993, esse álbum firma a fama de “doentes” dos americanos no cenário da música extrema mundial.

Originalidade é a principal característica dessa banda que conta até os dias de hoje com a mesma formação trazendo Dennis the Menace na bateria, Corporate Death na guitarra e vocal agudo e Nefarious no baixo e vocal gutural. Talvez só não tivemos originalidade na capa, já que trata-se de uma paródia com a capa de Sgt Pepper’s dos Beatles, um pouco digamos... adaptada ao humor negro da banda trazendo os integrantes em meio aos mais famosos assassinos e serial killers do mundo! Definitivamente uma capa pra não ser levada a sério.

Totalmente fora dos padrões o Macabre flerta com death, grind, thrash, hardcore e afins num redemoinho de influências e mudanças de ritmo e andamentos em suas músicas, que aqui somam 21 faixas, temos o início do álbum com Night Stalker no melhor estilo de filme de terror com gritos e suspense falando do assassino Richard Ramirez. Essa fórmula se segue ao longo de todo o álbum com cada música “homenageando” um assassino diferente. 

O instrumental da banda é de uma técnica invejável, guitarra de 7 cordas, baixo de 6 cordas, e um baterista que na época do lançamento já era um dos mais rápidos no estilo tocando nos bumbos. Temas como The Ted Bundy Song, Sniper on the Sky, Zodiac, norteiam um álbum com humor negro, vocais doentis alternados entre o gutural e gritos esganiçados, e todas as letras falando de mortes. Em meio ao caos, temos a bela Mary Bell acústica, com um trabalho excepcional nos violões e que mais uma vez mostram a qualidade técnica desses caipiras, numa sequência de títulos sugestivos como White Hen Decapitator, The Boston Strangler, Montreal massacre e Vampire of Düsseldorf entre outros...

Esse Sinister Slaughter entrou pro hall dos álbuns mais clássicos do mundo originando inclusive o rótulo de Murder Metal para banda, e em meio a tantos temas Albert Was Then Any Fish in the Sea fecha esse trabalho de forma perfeita, e mantendo o status de ame ou odeie ao estilo do Macabre, sempre provocativo, pesado, engraçado, mas sempre rápido e brutal como deve ser. Escute-o!!!! Você definitivamente tem que ter uma opinião formada á respeito do clássico Sinister Slaughter.

Márcio Jameson




HOST - IX

 

HOST
IX
Shinigami Records/Nuclear Blast Records

Antes de você clicar no play para ouvir “IX”, projeto paralelo do vocalista e do guitarrista do lendário Paradise Lost, Nick Holmes e Greg Mackintosh, respectivamente, precisamos voltar no tempo, lá pelos idos de 1997, para enfim entender a gênese desse curioso trabalho que surge agora em pleno 2023.

Nessa viagem ao tempo, vamos encontrar no percurso a banda inglesa em seu auge, após o lançamento do icônico – e talvez melhor trabalho de sua história – Draconian Times, título o qual colocou o Paradise Lost em uma posição como um dos maiores, mais respeitados e mais celebrados grupos do estilo gothic/doom metal.

Por isso, quando em 1997, os mesmos caras resolveram mudar/inovar o estilo em uma vertente mais tecno, vocais menos crus e com efeitos, uso de sintetizadores e baterias eletrônicas, ideias experimentadas no inusitado One Second, a base de fãs e a crítica especializada ficaram divididas e indagadas com a súbita ousadia.

No entanto, é no trabalho seguinte, de 1999, intitulado Host, que a banda chuta o balde e simplesmente rompe abruptamente com a sonoridade metal e abraça, com ênfase, a sonoridade eletrônica. Considerado o álbum mais controverso da banda, Host, provocou a ira e a debandada de muitos fãs mais tradicionais do estilo, justamente por ser um disco atmosférico, eletrônico e até mesmo pop em algumas trilhas, nada parecido com aquela banda precursora do death doom das antigas.

Sabemos, no entanto, que a banda após isso ressignificou-se mais algumas vezes, retornando inclusive nos últimos álbuns ao estilo que os consagraram, e parecendo ter, enfim, abandonado aquela fase mais Depeche Mode ou New Order. Porém, se o Paradise Lost tivesse seguido nessa linha, como a banda estaria soando hoje? Talvez, a resposta venha nesse projeto de dois membros do Paradise, cujo nome Host faz clara menção à polêmica fase.

Finalmente, após esse passeio, vamos enfim falar sobre o “IX”. Vindo de duas mentes consolidadas em um estilo que praticamente fundaram, além do notório alto teor de conhecimento musical, era previsível que o trabalho não poderia soar ruim. Muito pelo contrário. O álbum condensa o lado sintético das experimentações tecnos com a pegada orgânica e sombria que a dupla carrega em suas essências. Esqueça o experimentalismo do final dos anos 90 que ambos fizeram com sua banda principal no homônimo álbum; “IX” é sim um álbum atmosférico e de viés eletrônico, mas profundamente mais maduro e bem produzido. Trata-se de um novo horizonte musical a ser explorado.

Ainda assim, não se engane. “IX” é um álbum eletrônico – ainda que obscuro e austero – que não vai remeter ao que o Paradise Lost faz na atualidade. Vá escutar Host com ouvidos a fim de uma nova experiência musical, com o gosto agridoce e nostálgico da sonoridade eletrônica e synthpop dos anos 80. Posso dizer – ainda usando o pano de fundo do Paradise Lost – que “IX” permanece como o elo perdido entre Host e Believe in Nothing. É um trabalho simplista, direto e, aparentemente, despretensioso. Acima de tudo, o álbum tem valor próprio e cria sua própria viagem. As músicas de abertura “Wretched Soul” e “Tomorrow’s Sky” deixam isso claro. Jogam com sentimentos futuristas e nostálgicos, quase que servindo de paleta para o que se espera do álbum como um todo. Você vaga por sons em sequência, como a fugaz “Divine Emotion e a cheia de adrenalina “Hiding From Tomorrow” sem sentir a transição. Há momentos contemplativos como “Inquisition” e dançantes (!) como “My Only Escape”.

Contudo, acredito que a intenção do Host seja exatamente essa. As faixas individuais se entrelaçam harmoniosamente para formar um todo perfeito. Holmes e Mackintosh equilibram perfeitamente a escuridão e a luz enquanto criam uma variedade de humores, música após música. “IX” consiste em uma espécie de experiência totalmente cinematográfica destinada a fluir ininterruptamente do início ao fim. Mesmo que exemplos como “A Troubled Mind” e “Instinct” sejam concorrentes aos destaques mais brilhantes do disco, a concepção de Host lida claramente com um fluxo contínuo que apenas endossa a atmosfera de um trabalho sólido e indivisível, a ponto de, caso você se permita ouvir a obra isoladamente, ignorando ressonâncias do Paradise Lost, você irá se surpreender positivamente – ainda mais se o estilo realmente agrada aos seus ouvidos.

Nessa premissa, mesmo que você ouça “IX” sem conhecer os detalhes de sua criação, a intuição lhe dirá que se trata da obra de dois geniais compositores, alinhados ao que é e ao que já foi tendência, dotados de extremo bom gosto. Como mencionei ao início desse texto, você percebe que está escutando algo extremamente bem pensado e bem produzido, sem arroubos experimentais. Coesão e consistência. Quantas vezes esperamos por isso em uma música? E sejamos sinceros: poderíamos esperar algo menos do que excelente vindo da música de Greg Mackintosh combinada com os vocais e letras de Nick Holmes? Conforme esperado, a química entre esses dois artistas faz toda a diferença para tornar o “IX” memorável.

O irônico aqui talvez seja crer que o vocal e o guitarrista do todo poderoso Paradise Lost gostem e façam música eletrônica com excelência. “IX” é um grande álbum e o projeto Host tem potencial suficiente para caminhar paralelamente pelas próprias pernas, entretanto, não é um trabalho que irá agradar a todos ouvidos. Porém, é capaz de causar um impacto significativo porque tem o poder de falar com todo tipo de ouvinte. A sonoridade e conteúdo tratados aqui sempre ressoará em alguma época ou espaço, o que já faz, por todo o contexto de “IX”, um álbum que já nasceu icônico.

Gregory Weiss Costa




quinta-feira, 22 de junho de 2023

NOTHING SACRED - DEATHWISH (CD/DVD - BOX TRIPLO)

 

NOTHING SACRED
DEATHWISH (CD/DVD - BOX TRIPLO) (2021)
Dies Irae Records - Nacional

A abanda australiana NOTHING SACRED surgiu no início dos anos 80 e podem ser considerados parte importante da cena daquele distante país. Em 1985, gravaram o EP DEATHWISH que se tornou item obrigatório para os fãs da cena por sua qualidade e dedicação ao Heavy Metal. Mas agora, a Dies Irae Records coloca no mercado nacional, não apenas o EP, mas um Box triplo, contendo 2 CDs e 1 DVD, trazendo o já citado EP na íntegra, além de versões demos, outtakes de músicas da banda quando ainda não se chamavam Nothing Sacred, além de um show gravado no Japão em 2015, mostrando que a banda continua levantando a bandeira do metal de forma consistente.

Esse belo lançamento traz em versão slipcase, poster, adesivo, um booklet com 16 páginas contando a história da banda, notas em inglês e português, letras, fotos e imagens de arquivos inéditas. Ou seja, um prato cheio para os fãs do metal praticado nos anos 80. O grupo é formado por Chris Stark (vocal), George Larin (guitarra), Ross Percy (guitarra), Karl Lean (baixo) e Sham (bateria). O quinteto mostra garra e desenvoltura na execução de suas composições, ainda que estejamos falando de um trabalho que foi lançado há quase 40 anos!

O primeiro CD traz o EP "Deathwish" na íntegra, além de versões diferentes das faixas. "No Rest" abre o trabalho num ótimo mix de metal tradicional e speed metal, uma característica bastante peculiar ao período em que foi composta/gravada. Influências nítidas da NWOBHM, mas personalidade, principalmente nos vocais que soam um tanto quanto diversos dos praticados pelas bandas da época. "Old Man" carrega uma atmosfera mais densa, pesada. Seu andamento cadenciado é prova da capacidade criativa do grupo, pois durante sua execução, a faixa ganha velocidade e solos bem criativos. Por sua vez, a faixa título apresenta uma levada tradicional/thrash, com riffs inspirados e uma boa dose de peso. "The Curse" fecha o EP, e tem uma levada que traz consigo influências do mestre Iommi, uma das referências legítimas da dupla George e Ross, ainda que o metal tradicional seja o motor da sonoridade do grupo. As versões alternativas pouco acrescentam, mas apresentam características que divergem das versões originais.

O segundo CD, intitulado "Unknown", traz seis faixas do Nothing Sacred, com versões gravadas em 2020 para as músicas "Deathwish", "Final Crime" e "Oracle". As duas últimas, são músicas que entraram no álbum "No Gods" lançado em 2021 pelo quinteto e trazem uma banda apostando na velocidade  e peso, muito mais próximas do Thrash Metal. Ainda, sob o nome Nothing Sacred, "Deathwish", "Ride the Storm" e "The Curse", gravadas originalmente em 1984. Na sequência, cinco faixas daquela que viria a se tornar o NS, chamada NCM. "Ballad of Phil Gresik", "Kidney Punches", "NCM", The Excreter" e "Habius Corpus", todas gravadas em 1984, mostram os caminhos que o grupo iria seguir, ainda que carentes de maior personalidade. As duas últimas faixas, "Dig Your Own Grave" e "Life", gravadas em 1980, trazem aquele que foi o embrião do grupo, à época chamo "SATANS CHILD".

O DVD, como relatado anteriormente, traz a apresentação do quinteto em 22 de agosto de 2015 no Live House Pangea, na cidade de Shinsaibashi. Uma banda experiente e cheia de gerar, mostrando que o tempo passa mas a chama do metal continua firme e forte. Destaque para "Deathwish", "Guardian" (faixa totalmente NWOBHM, presente em "Let Us Prey" de 1988), a já citada "Oracle", a veloz e certeira "Dogs of War" (também presente me "Let Us Prey"), assim como "The DArk", essa mais cadenciada e intensa.

Esse lançamento da Dies Irae Records nos ostra duas constatações: a primeira que existiam (e existem) muitas bandas boas como a NOTHING SACRED que acabaram sendo relegadas pela história. A segunda, que gravadoras como a própria Dies Irae tem feito esse resgate histórico de forma qualitativa, com trabalhos muito bem editados e apresentados. Dessa forma, os fãs e o próprio Heavy Metal só tem a agradecer.

Sergiomar Menezes






quarta-feira, 21 de junho de 2023

TRISKELYON - DOWNFALL

 

TRISKELYON
DOWNFALL (2022)
Moribund Records - Importado

Confesso que fiquei pensando, imaginando como poderia começar está resenha, e não achei palavras ou jeito. Então, vamos pular o protocolo de apresentação e vamos direto falar sobre o Triskelyon, e sobre o “CARA” que jogou tudo a perder.

Eu ouvi “Downfall” insistentemente, foram 1,2,3 e 4 vezes para ter certeza que não seria “má vontade ”, mau humor ou qualquer coisa, mas, não. O grupo canadense realmente lançou um álbum com um papagaio de gogó desafinado, Não consigo acreditar que resolveram “conquistar o mundo ” com um caricato do Detonator, Tobias Sammet e Edu Falaschi, sim, as desafinadas viraram um 3 em 1 aqui.

Enquanto escrevo essas linhas, eu fico pensando que a banda é um repúdio ao Massacration, uma piada internacional de mau gosto. O instrumental é pesado indo bastante na linha Iced Earth, Annihilator e Nevermore ( em dose menores), um Thrash/Power Metal vigoroso, bem acima da média, mas falta um verdadeiro porta-voz.

Você olha a capa e pensa: Pô, isso remete a Black Metal, nos primeiros segundos vem Jon Schaffer na mente, mas, os próximos minutos são como o relógio que marcava meia noite que resolveu retroceder para o horário dos ursinhos carinhosos. Faixas como “Balance of Terror” , e principalmente, “Nobody Business”, são uma verdadeira vergonha alheia do dono do microfone, como beber cerveja sem álcool e olhar sóbrio para os pôsters do Manowar e trincar os bracinhos de “frango”.

Existem bons momentos, as estruturas das músicas são ótimas, trincadas e rápidas, mas não conseguem se salvar em meio ao desastre produzido pelo vocalista. Por diversas vezes desejei que o disco fosse instrumental, infelizmente não é.

Se, no caro amigo leitor, existir um lado masoquista, ouça a citada “Nobody Business”.

P.S: O Rebel Rock não se responsabiliza por danos causados pela sua curiosidade.

William Ribas




MESHUGGAH - OBZEN

 


MESHUGGAH
OBZEN (2008/2023) (Relançamento)
Shinigami Records - Nacional

Primeiramente lançado em 2008, ObZen também foi fator de um impacto na carreira do Meshuggah. A banda que já tinha ditado seu ritmo em Destroy, Erase, Improve (1995), também havia implementado sua identidade sonora em Nothing (2002) e sedimentou uma nova subdivisão, no metal, em Catch Thirtythree (2005), havia deixado algo “cair pelo caminho” nessa construção. Pois bem, para os que estavam curtindo os breakdowns e viradas, mas estavam com saudade da velha velocidade do Meshuggah, o ObZen foi um analgésico.

É interessante acompanhar o dinamismo progressivo da banda e o quanto exploraram seus limites musicais. Mas não se engane, ObZen pode não proporcionar uma audição muito prazerosa, num primeiro momento. Pense em toda aquela complexidade que a banda já carregava na bagagem, porém com um pouco mais de peso e velocidade. Claro, pra quem já está acostumado com o estilo do Meshuggah, não vai encontrar tanta resistência assim ao escutar. Mas o aviso de “estranheza”, se faz necessário. Ao partir pra audição, vais perceber que em ObZen a banda voltou a focar suas composições “nas músicas” e não com propósito de massificar o nome da banda. Ou seja, construções mais secas.

Bem, o ano de 2023 marca então o ano de décimo quinto aniversário da bolachinha. E como tem sido com outros trabalhos do grupo, o ObZen ganhou nova prensagem e relançamento. Que no Brasil, chegam pelas mãos da Shinigami Records, para comemorar seu 15º aniversário. O relançamento é uma sobrevida da obra. Não vai encontrar nada novo ou especial na nova remessa, mas é uma excelente oportunidade de poder ter o disco nas mãos, já que estava fora de catálogo. Ao dizer que não encontrará nada de novo no disco, afirmo que aquela mesma raiva contida no original, portanto, estará presente nesta nova leva. Quem ainda lembra (ou quem ainda não ouviu), vai encontrar uma produção mais pesada, dura, e com andamento cadenciadamente rápido. O interessante é que o timbre das guitarras não muda em relação aos discos passados, mas o baixo denota peso diferenciado em relação aos trabalhos anteriores. Pontos para o Dick Lövgren (baixo) que seguiu as orientações do Fredrik Thordendal (guitarra, letras e produção) e Björn Engelmann (produção) que coordenaram os processos produtivos do disco. Esses elementos reforçaram (na época - e continuam no fronte da informação) o quanto o Meshuggah exerce esse papel vanguardista dentre o estilo. 

ObZen é um disco com composições repletas de raiva, acidez que escorrem pelas cordas enquanto a guitarra dispara uma sequência de riffs estrondosos. Apesar da banda ter abandonado a conceitualidade na composição do disco, as faixas não deixam de dialogar entre si, quando se trata de protesto. Outra percepção muito clara é o quanto ObZen flerta com estilos que compuseram a velha escola, como o Thrash Metal em alguns momentos, enquanto na sua grande maioria, os dois pés estão cravados na modernidade sonora, já característica da banda. Então é uma audição que se aproxima da experiência de ter que atravessar um campo de batalha composto por lasers e naves espaciais, enquanto cai uma fina garoa de serrotes, do céu. Peso, agressividade, futurismo e velha escola, num único material. Quem sabe não será essa a ideia que a banda quis, também, abordar no Zen Obsceno, o Zen sem nenhum pudor de flertar abertamente com a violência. A leitura assim, parece trazer um misto de sentimentos não agradáveis, mas eu garanto que as ondas sonoras revelarão muito mais do que estas linhas entregam.

Desafie-se a ter ObZen na sua prateleira. Ele não fará nenhuma vergonha para sua coleção. E quem está lendo esse texto, aprecia o estilo e conhece a obra, sabe que não há inverdade na afirmação. Senhoras e senhores, da Suécia para o mundo, Meshuggah com o relançamento do ObZen, no Brasil pelas mãos da Shinigami Records. Aprecie sem nenhuma moderação. Mas antes, remova a mesa de centro, da sala. Só por precaução!

Uillian Vargas




L.A. GUNS - BLACK DIAMONDS

 

L.A. GUNS
Black Diamonds (2023)
Shinigami Records/Frontiers - Nacional

O L.A. GUNS nos últimos anos tem se mostrando bastante prolífico, tanto em lançamentos como em turnês. No campo da sua discografia, desde a re-reunião (pois já aconteceram algumas) dos dois membros fundadores Tracii Guns e Phil Lewis em 2016 , o L.A. Guns já lançou 4 álbuns de estúdio e 2 “lives”.

Este novo “Black Diamonds” é uma álbum típico da banda e agradará obviamente aos fãs e quem já é habituado com seu som, pois temos todos os elementos característicos das “Armas de Los Angeles”. E ainda bem, pois a vez que o Sr. Tracii Guns quis inventar, deu um “cruzamento por trás do gol” dos mais terríveis, com o inaudível álbum de 1996, “American Hardcore”, disparado o pior álbum da banda.

A abertura com as faixas “You Betray” e “Wrong About You” tem aquela levada “Sleazy” e empoeirada, clássico da banda, com um vocal singular de Lewis, que parece ficar melhor a cada álbum. “Diamonds” inicia acústica e tem uns toques “Zeppelinianos” enquanto “Babylon” revisita as influências punk de Guns. Faixa rápida, com um riff simples mas cativante.

“Shame” vem mais cheia de feeling e groove, algo que lembra o Aerosmith, enquanto “Shattered Glass” retorna com mais peso e mais veloz, lembrando algo que foi feito no “Cocked em Loaded” de 1989. Virou de cara a minha preferida do álbum. “Gonna Loose” novamente, com seu início com violões, mais uma vez nos encaminha ao Led Zeppelin, com sua levada suave e variações do acústico para o pesado sem medo de mostrar a nítida influência da banda de Jimmy Page.

“Gotta me Wrong “ e “Low life” são L.A.Guns puro, sleazy-hard-punk, festeiras e viciantes. "Crying" e "Like a Drug”, com sua atmosfera de rock setentista fecham este “Black Diamonds” que, se por um lado não cumpre a velha promessa de ser o “melhor álbum do L.A. Guns desde Hollywood Vampires”, por outro lado entrega um ótimo trabalho que agradará aos simpatizantes fãs da banda.

José Henrique Godoy




FIFTH ANGEL - WHEN ANGELS KILL (2023)

 


FIFTH ANGEL
When Angels Kill (2023)
Shinigami Records - Nacional

Quem teve o primeiro contato com os americanos do Fifth Angel, através do lançamento em solo brasileiro, no longínquo ano de 1989, do seu segundo álbum “Time Will Tell”, tem a tendência a estranhar o som da banda de Washington nos seus demais trabalhos. Se no citado álbum a banda queria chegar perto do som praticado pelo maravilhoso Dokken, no restante da sua curta discografia (4 álbuns no total) o que temos é o Heavy Metal tradicional, beirando o Power Metal - o termo e estilo “Power” é muito amplo, então prefiro até usar “US Metal”, um som que chega mais próximo ao Sanctuary, Vicious Rumors e assemelhados.

Contando com o guitarrista Ed Archer e o renomado baterista Ken Mary (Alice Cooper, House of Lords, Flotsam and Jetsam, etc) como membros originais e o baixista de longa data John Macko, e a adição do guitarrista Steven Conley e o vocalista Steven Carlson (que está na banda desde 2019) o Fifth Angel lança “When Angels Kills” e entrega um ótimo álbum, com uma atmosfera oitentista, porém sem cheiro de mofo e totalmente renovado e atualizado.

Na parte literal, o álbum é conceitual e conta a história de Phoenix, um personagem que enfrenta uma dura batalha contra forças malévolas, para salvar o mundo. Musicalmente é recheado de riffs fortes, solos fantásticos cheios de melodia e força, um vocal muito bem colocado em todas as faixas, onde às vezes lembra Dio, às vezes lembra Rob Halford, que guardadas as devidas proporções, é um indicativo de máxima qualidade. E não podemos deixar de citar aqui mais uma vez o marcante trabalho de Ken Mary nos tambores e pratos.

“When Angels Kills”, “On Wings Of Steel”, “We Are Immortal”, “Empire Of Hate”, “Resist the Tyrant” e “The End Of Everything” são apenas algumas das faixas que com certeza elevam este trabalho a um dos melhores lançamentos do ano no seu estilo. Um grande álbum produzido por grandes músicos. O Fifth Angel provou que apesar do tempo e das severas alterações em sua formação, segue relevante e digno de respeito e maior reconhecimento dentro do cenário metálico.

José Henrique Godoy





INNER EYE - VISUALIZE (EP)

 


INNER EYE
Visualize (EP) (2023)
Independente - Nacional

Os curitibanos do Inner Eye chegam a cena com 4 músicas no EP “Visualize”, e, felizmente ou infelizmente (depende do freguês) com muitas influências nas mangas.

O primeiro impacto é o timbre do vocalista colocando Dave Mustaine a todo instante no radar, mesmo que por poucas vezes o instrumental remeta de fato ao Megadeth. Inclusive, eu não consegui rotular o grupo, por existirem diversas nomenclaturas nostálgicas no som.

Não que seja um pecado capital ser diversificado, mas, “atirar para todos os lados” deixou a banda sem identidade. Por vezes tive a impressão de estar com uma banda mais Rock N Roll, em outras Alice Cooper, Great White, Grim Reaper, entre tantos outros, podendo variar de ouvinte para ouvinte as influências presentes. As quatro faixas do trabalho de estréia: “Run”, “The Other Side”, “Don’t Be Afraid” e “What They Say Is a Lie” conseguem te deixar interessado por conter ótimos riffs e um balanço pulsante e criativo entre a “cozinha” (leia-se baixo e bateria), mostrando um enorme talento nas composições.

Os refrãos são a cereja do bolo, grudentos daqueles que você sai cantando de primeira, resgatando fielmente o que os grandes nomes fizeram no passado. Os dias atuais fizeram muita gente se acostumar com discos cada vez mais robóticos, com diversas camadas limpas e bonitinhas, fazendo com que as músicas soem cada vez mais artificiais, o que nem de longe é o caso aqui.

Por sorte, o Inner Eye é sujo, orgânico e humano, com falhas e acertos. Fica a expectativa para os próximos capítulos, onde espero uma banda largando os heróis nos pôsteres e construindo o seu próprio nome.

William Ribas




terça-feira, 20 de junho de 2023

BEHEMOTH - I LOVE YOU AT YOUR DARKEST (2018/2023)

 


BEHEMOTH
I LOVE YOU AT YOUR DARKEST (2018/2023)
Shinigami Records/Nuclear Blast Records

O Behemoth é, até para quem não é apreciador do seu estilo ou trabalho, inegavelmente um dos maiores nomes do metal mundial. Surgido no início da década de 1990, em meio a tantas bandas iguais que desenvolviam o Black metal puro e sem firulas, o Behemoth seguiu uma escalada de evolução que, se para uns desagrada (os que optam pela “involução"), para os demais não tão “puristas”, é um júbilo cheio de expectativa a cada novo lançamento da banda.

Originalmente “I Love You At Your Darkest” foi lançado no ano de 2018, mas a Shinigami Records recoloca o álbum novamente no mercado nacional, em novo formato slipcase, com obi e um uma ilustração extra da capa inclusa no pacote. Musicalmente contém o mesmo tracklist do lançamento original.

A abertura com a intro “Solve” e seu coro com vozes infantis, surge herege e soturna, abrindo caminho para “Wolves Ov Siberia”, que não deixa pedra sobre pedra e nos mostra a impecável produção que permeia o álbum como um todo. “God = Dog” inicia lenta e estranha, com um andamento cadenciado que logo é abandonado, para mais uma explosão de violência anti-cristã.

“Ecclesia Diabolica Catholica”, um dos destaques deste trabalho, mais trabalhada, cheia de nuances que se aproximam mais do metal mais tradicional, os coros infantis, os riffs e solos fantásticos e incluindo passagens acústicas dão um clima quase épico para esta faixa. Outro destaque é “Bartzabel”, que inicia lenta e segue um andamento mais “leve”, se é que podemos chamar algo de “leve” neste trabalho. Mais uma grande faixa, que a banda tem e também executa desde o seu lançamento, e seu impacto ao vivo é tão grande quanto neste álbum.

“If Crucifixion its Not Enough” tem uma levada mais “Black Metal Old School”, enquanto “Angelus XIII” segue as mesmas pegadas da anterior, porém inclui mais passagens acústicas. “Sabbath Mater” segue o clima da velha escola, nesta inclusive com um estética sonora meio punk. “Havojev Pantocrator” se apresenta lenta, sombria e lúgubre, e ao mesmo tempo majestosa. “Rom 5:8” soa quase como uma continuação de “Havojev”, porém nesta alterna partes rápidas, cheias de "Blast Beats”, para o deleite dos fãs “das antigas”.

“We Are The Next 1000 Years” e “Coagvla” fecham o trabalho em grande estilo, novamente cheias de alterações de andamentos, sendo a última com ares de hino. “I Love At Your Darkest” é sequência lógica do clássico e aclamado “Satanist” (2014) e também a mesma linha seguida pelos poloneses no trabalho seguinte, “Opvs Contra Natvran” (2022). Enfim, Nergal e asseclas seguem marcando o seu nome cada vez mais no mundo do Metal, cada vez mais com trabalhos cheios de classe, competência e qualidade.

José Henrique Godoy




BLACKMORE'S NIGHT - SHADOW OF THE MOON (25TH ANNIVERSARY EDITION)


BLACKMORE'S NIGHT
SHADOW OF THE MOON (25th ANNIVERSARY EDITION) (2023)
Shinigami Records/EDEL/e.a.r. Music/Sound City Records

Em 1997, Ritchie Blackmore decidiu, juntamente com sua esposa, a bela Candice Night, dar voz a um projeto que há muito andava em sua cabeça: Expôr ao mundo sua paixão pela música renascentista, algo que o próprio mantinha desde seus 09 anos de idade. E o primeiro trabalho desse projeto, que se transformou em uma banda de renome internacional (convenhamos que algo capitaneado por um gênio como Blackmore sempre o terá), SHADOW OF THE MOON, completou 25 anos em 2022 e ganhou sua edição de aniversário por aqui através da Shinigami Records em parceria com a EDEL/e.a.r Music/Sound city Records, em uma bela versão slipcase. Ainda que fosse o primeiro trabalho da dupla (sempre acompanhada por excelentes músicos), já era mais do que perceptível a classe e bom gosto dispensado por ambos nas faixas que compõem o CD.

Com uma pequena releitura da capa original (colorida e com Blackmore tocando de pé), o álbum traz em seu encarte a história por trás da banda, além de uma bela e extensa entrevista com o genial guitarrista e Candice, falando sobre tudo que aconteceu durante todo esse período. Algo que a Shinigami vem se tornando referência, pois os trabalhos lançados ou relançados pela gravadora apresentam sempre qualidade acima da média (até mesmo se comparados com lançamentos gringos). O lançamento vem em um bonito slipcase e traz no encarte, a capa original. e nunca é demais lembrar que o mestre Ian Anderson (precisa fazer referência) é convidado especial na faixa "Play Minstrel Play", abrilhantando ainda mais a composição.

Totalmente remixado, o álbum é mais uma prova da classe, técnica, categoria e genialidade de Blackmore. E Candice se mostra uma vocalista de bom gosto e belas melodias vocais. O que fica claro logo na faixa título, que abre o trabalho de uma forma singela e suave. Acompanhados por Pat Reagan nos teclados e pelo The Minstrel Hall Consort (Gerald Flashman, Tom Brown e Lady Green), a dupla nos faz viajar no tempo e nos sentirmos presentes na atmosfera da capa do CD. Como não se emocionar com "The Clock Ticks On"? Que composição bela e cativante! E como dito anteriormente, a participação do mestre Ian Anderson tocando flauta em "Play Minstrel Play" engrandece ainda mais as linhas melódicas e harmônicas da faixa, num andamento climático como as caminhadas medievais. As influências clássicas de Blackmore se mostram ainda mais evidentes em "Ocean Gypsy". Influências essas que sempre estiveram presentes na música do Deep Purple, algo que mesmo que a banda tenha se mantido firme em sua carreira, perdeu e muito com a saída do guitarrista. 

Outros momentos mágicos presentes aqui são composições belas e melódicas como "Magical World", onde a  suavidade  da voz de Candice cria um ambiente de pura tranquilidade e paz, assim como "Renaissance Faire". "No Second Chance" é a faixa mais "diferente" do trabalho, trazendo uma maior proximidade com os dias atuais. "Mond Tanz", a bela "Spirit of the Sea" e Wish You Were Here" também merecem destaque pelas harmonias que trazem consigo. Essa reedição traz duas faixas extras: "Shadow of The Moon"  e "Spirit of the Sea", com apenas Blackmore e Candice em versões "home office", sozinhos no estúdio e ganharam uma atmosfera mais singela, mas nem por isso menos encantadoras.

SHADOW OF THE MOON completa 25 anos e continua atemporal. Mesmo que aqueles detratores não curtam o trabalho de Blackmore após sua saída do Purple, é impossível o fã de música de qualidade não curtir algo tão profundo e verdadeiro como o Blackmore's Night. Parabéns a Shinigami por trazer novamente a grandiosidade do mestre da guitarra (agora em uma outra vertente) a nós brasileiros. Se você não tem a versão original, Essa edição de aniversário é imperdível!

Sergiomar Menezes




quarta-feira, 14 de junho de 2023

SCAR SYMMETRY - THE SINGULARITY (PHASE II - XENOTAPH) (2023)


SCAR SYMMETRY - THE SINGULARITY (PHASE II - XENOTAPH)
Nuclear Blast/Shinigami Records - Nacional

O Scar Symmetry teve um início meteórico. Uma banda que viveu seus primeiros nove anos entre estúdios e turnês. Por exemplo, de 2005 a 2014, o grupo lançou 6 álbuns estúdios, era comum ler resenhas ou entrevistas deles nas revistas especializadas naquele período.

Em 2014, inclusive, foi lançado “The Singularity (Phase 1 – Neohumanity)”, a primeira parte de uma trilogia de um mundo tomado de tecnologia, inteligência artificial, digamos, um “apocalipse tecnológico”. O álbum foi aclamado pelo público e mídia, um conceito realista da era moderna, cérebros cibernéticos se tornando vidas. Humanos cada vez mais derrotados pelas máquinas e tudo alinhado a um instrumental duelando entre agressividade, melodias, viagens progressivas e vocais (ora urrados, ora limpos).

O tempo passou, o nome que ganhava notoriedade na cena e em festivais grandes já não era mais visto, era comum pensar que entraram num buraco e de lá o grupo possivelmente não sairia. O guitarrista Per Nilsson, um dos únicos membros originais que continua na banda, resolveu passear por novos lugares. Por alguns anos, Per foi guitarrista integral do Meshuggah nos shows e assumiu também as 6 cordas do grupo Nocturnal Rites, mas, os fãs clamavam pelo ressurgimento de um dos mais brilhantes grupos do Melodic Death Metal, Scar Symmetry.

O hiato durou quase uma década, mas assim como a tempestade que não dura para sempre, inesperadamente a felicidade deu as caras com a chegada de “The Singularity (Phase II — Xenotaph)”. No release para o lançamento do single “Scorched Quadrant”, a banda declarou: “Vimos o surgimento da IA diante de nossos olhos e, embora todos olhemos maravilhados para o que pode criar, é fácil pensar em alguns cenários muito perturbadores. Neste novo álbum exploramos mais uma vez esses temas de neo-humanidade, da inteligência artificial e da singularidade tecnológica de um ponto de vista distópico”.

O disco será um deleite para os fiéis do Scar Symmetry ao mesmo tempo que poderá fazer a felicidade de fãs aleatórios, não há necessidade de já conhecer a discografia dos suecos, por mais que conceito do novo álbum seja sequência do anterior, o mesmo possui elegância e sonoridade própria. Mostrando que humanidade pode, em breve, não ser mais dominante neste mundo. O trabalho começa com a bombástica “Chrononautilus”. Urros logo de início dão o impacto ameaçador com o instrumental agressivo, com o contraste de um vocal limpo nos refrãos duelando com gritos. Sim, algo como uma versão masculina daquele modismo “bela e a fera” das bandas de Gothic Metal no final dos anos 90 e início dos anos 2000.

Por muitas vezes, eu senti como se o grupo fosse uma mistura entre Stratovarius, Soilwork, Children of Bodom, Dimmu Borgir e Dream Theater. As camadas de teclado, os recursos sinfônico, as passagens milimetricamente trabalhadas — cheias de notas e viagens progressivas somam-se a elementos sombrios e densos, resultando numa musicalidade inteligente, exposta em faixas como: “Altergeist”, “Digiphrenia Dawn”, “Hyperborean Plains” e “Gridworm”. O disco prende de vez o ouvinte na sua curva final, com “A Voyage With Tailed Meteors”, “Soulscanner” e “Xenotaph”. Uma trinca repleta de suspense, ornamentada com corais suntuosos e equilibrando-se entre brutalidade e virtuose — euforia e alegria.

Resumindo, quando uma banda desaparece por um tempo, a volta é árdua, o disco precisa preencher as lacunas deixadas. Por sorte, o Scar Symmetry com “The Singularity (Phase II — Xenotaph)” fez o trabalho certo, recolocando o grupo não apenas de volta nos trilhos, mas avançando inúmeras milhas com o mesmo.

William Ribas




terça-feira, 13 de junho de 2023

FEAR FACTORY - THE MACHINE WILL RISE TOUR 2023 (06/06/2023) - FABRIQUE - SÃO PAULO/SP


FEAR FACTORY - THE MACHINE WILL RISE TOUR 2023
Abertura: Skin Culture
                Korzus
Fabrique - São Paulo/SP
06/06/2023
Produção: Powerline Music & Sounds
Assessoria: Tedesco Mídia

Texto: Mauro Antunes
Fotos: André Tedim (Metal na Lata)

Quem mora em São Paulo ou ao menos conhece a vida cotidiana da cidade, sabe que em dias de semana há o famoso e malfadado rodízio veicular, e o show em referência aconteceu bem no dia do meu rodízio, ou seja, ou chegaria no local as 17hs ou só por volta das 20h30. Para mim, não haveria um plano C. Ou seja, acabei chegando as 17hs no Fabrique Club, o bom disso foi a facilidade que encontrei para achar uma boa vaga de estacionamento sem ter que pagar os super exagerados R$50,00 que o estacionamento ao lado da casa custava. Um absurdo!

Sorte que bem em frente ao Fabrique há vários bares e lá pude passar o tempo sem grandes sacrifícios e esperar as 19h30 para assistir o show do Skin Culture, que abriria a noite de pancadaria que estávamos esperando.

Pontualmente no horário marcado, a banda iniciou a noite. Com quase 20 anos de estrada, o grupo liderado pelo carismático Shucky Miranda desfilou seu som com muito groove e riffs ultra pesados, sendo um ótimo aquecimento feito por uma banda com uma pegada sonora bem similar à banda principal. Pena que o público não respondeu a altura até porque a casa ainda não estava cheia. Em certo momento (antes de “Bring Me Back to Life”), Shucky se emocionou ao falar do colega baixista Gabriel Morata falecido durante a pandemia. Destaque também para o baterista Chris Oliveira, filho de Rodrigo Oliveira (Korzus) que substituiu brilhantemente Rafael Ferreira. Não há como não ter curtido o show, foi ótimo do início ao fim.




Por volta das 20:30hs chegou a vez do Korzus, uma das maiores lendas do nosso Heavy Metal, uma banda acima de qualquer suspeita. Antes do show, tive a oportunidade de encontrar com o vocalista Pompeu do lado de fora, nas famosas barraquinhas de bebidas e comidas diversas e ele como sempre, foi super solícito e educado com os fãs que o abordaram. Na plateia, um dos ícones do Korzus, o ex-guitarrista Silvio Golfetti também marcou presença, além de uma caprichada barraquinha de merchan. No setlist, clássicos “Guilty Silence”, “Raise Your Soul”, “What Are You Looking For” e “Correria” que fechou o show com a tradicional pancadaria que o Korzus faz como poucos. Me impressionou a insana performance do guitarrista Antonio Araújo que mesmo em um pequeno pedaço de palco, agitou muito. Como não poderia deixar de ser, um ‘showzaço’ que já valeu o preço do ingresso!





Mas a banda principal ainda estava por vir. O Fear Factory tem uma considerável legião de fãs em nosso país e quando o show começou por volta das 21h30, a casa estava completamente lotada. A banda iniciou o show com o tema clássico da franquia “O Exterminador do Futuro” e de cara, a pergunta que ficava era: “Será que Milo Silvestro conseguirá substituir a altura o grande Burton C. Bell?”. Confesso que esse era um ponto que me preocupava, mas logo percebi que o cara é muito bom e tem uma presença de palco bem característica. Dino Cazares foi o mais saudado da noite, impressionante seu carisma. Um dos ex-fiéis escudeiros de Max Cavalera, Tony Campos é daquelas figuras ímpares, sempre com cara fechada, nula interação com o público, mas muito bom como baixista.

O setlist foi repleto de clássicos como “Shock” e “Edgecrusher”, ambos vindos de “Obsolete” (1998) já deram o recado que a noite seria de muito agito. Outros hinos dos anos 90 deram as caras como “Martyr”, “Demanufacture”, “Zero Signal”, “Replica”, “Descent” e o encerramento com “Ressurection” foram determinantes para fazer a plateia suar horrores e sair exausta do show. Um momento marcante do show foi quando Dino se referiu a Milo como “O Garanhão Italiano” fazendo referência ao personagem Rocky Balboa, interpretado por Sylvester Stallone, um minuto de descontração e gargalhadas da plateia que valeu a pena.





Eram quase 23h30 quando o show acabou e mesmo com a maratona, tenho a sensação que se a banda ficasse no palco por mais tempo, ninguém arredaria pé e a desgraceira continuaria até a madrugada na cidade que não para nunca. Foi uma grande noite, casa super agradável, ótima para shows desse porte. Agora é esperar o próximo!

Agradecemos ao Erick Tedesco e à Tedesco Mídia pela parceria e credenciamento, ao André Tedim e ao Metal na Lata pelas fotos. In Unin We Stand!