MARENNA / ELECTRIC MOB
24/06/2023
GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS
24/06/2023
GRAVADOR PUB - PORTO ALEGRE/RS
Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Sergiomar Menezes/Mauro Antunes (Metal na Lata)
No sábado do dia 24 de junho de 2023, um dia bastante atípico para o inverno gaúcho, vez que a temperatura lembrava um dia de fim de verão/início de outono, duas das maiores bandas brasileiras da atualidade se reuniram para um show no Gravador Pub em Porto Alegre. Se o clima já era quente, o MARENNA e o ELECTRIC MOB decidiram que fariam todos suarem ainda mais, com performances técnicas, cheios de garra e energia, mas principalmente, com muita paixão pela música que fazem. E embora isso devesse ser uma regra, é preciso saudar esse sentimento que, muitas vezes, acaba sendo deixado de lado quando o assunto é música. Bandas mais do que competentes, com músicos brilhantes e um público que estava lá pra se divertir (afinal, esse é o principal motivo da música) garantiram uma noite memorável repleta de rock n' roll.
O Gravador Pub é um local excelente, com ótima infraestrutura e uma acústica de muito bom nível. Isso é um ponto mais que positivo pois sabemos das dificuldades desses locais em manter suas atividades (ainda mais depois da pandemia) e proporcionar aos seus frequentadores um ambiente bastante agradável.
Pontualmente às 20h, o MARENNA sobe ao palco (cabe lembrar que as duas bandas fizeram um show em conjunto, sem essa história de "opening act"), e logo de cara, mostram ao público presente que não estavam pra brincadeira. Rod Marenna (vocal), Edu Lersch (guitarra), BIFE (baixo), Luks Diesel (teclados) e Arthur Schavinski (bateria) tocam "Voyager", faixa que dá nome ao mais recente trabalho do grupo. Banda afiada e um dos melhores (e mais injustiçados) vocalistas brasileiros nos mostram que se o Brasil fosse um país sério, artistas desse calibre teriam muito mais oportunidades. Entrosamento, coesão e muito feeling guiam a execução da faixa, que ao final, traz um dos tantos fatos que, apesar de corriqueiros, acabam "atrapalhando" o show: uma das cordas do baixo arrebentou! Por sorte, muitos instrumentos musicais estavam expostos nas paredes do Gravador Pub, entre eles, um baixo que serviu de auxílio para a execução da próxima faixa, "Never Surrender", com uma pegada mais Hard/Heavy, com refrão de fácil assimilação. Aliás, dentre os tantos destaques da banda, os refrãos estão entre os melhores. A pesada e melódica "Pieces of Tomorrow" vem na sequência, com destaque para o guitarrista Edu Lersch. Postura de guitar hero, o jovem músico carrega técnica e feeling em sua performance, sendo uma das peças fundamentais do grupo.
"Breaking the Chais", faixa que "Voyager", vem com sua pegada Hard Rock, com ótima performance de Rod, o que não é nenhuma novidade, afinal, quem acompanha de perto a cena rock/metal do Brasil sabe de sua qualidade, ainda que seja esquecido até mesmo pela mídia aqui da aldeia. Mas pouco importa, vez que quem conhece, sabe do que estou falando. "Getting Higher" vem em seguida, com uma pegada de baixo e bateria pesada e intensa. Bife e Arthur formam uma cozinha muito mais que entrosada, pois garantem o peso (dentro da sua proposta) que o grupo necessita. Outro refrão que gruda na cabeça que antecede "You Need to Believe", que, na opinião deste que vos escreve é uma música que deveria tocar em todas as rádios do país. Impossível escutá-la e não imaginar aquelas propagandas legais do Hollywood - O Sucesso" (sim, sou jovem há mais tempo, como diria meu amigo José Henrique Godoy), tamanha a capacidade de unir o rock, o clássico e o pop numa mesma composição. Mais uma vez Rod deixa evidente seu talento, em linhas vocais repletas de técnica e energia. "Life Goes On", mantém a adrenalina lá em cima, deixando Edu mais uma vez com o destaque, vez que as linhas de guitarra aqui ganham um destaque em determinados momentos.
Composta por Luks Diesel, "Wait" vem na sequência e traz uma linha Hard/AOR com uma pegada anos 80, mas com uma veia totalmente atual. E aqui, também é preciso dizer, Luks não é um músico que está ali para preencher uma lacuna, como muitas bandas que conhecemos que possuem tecladistas. Peça fundamental da engrenagem, suas linhas garantem as melodias e harmonias necessárias para que o grupo atinja seus objetivos. Assim como todos os 5 integrantes, formando uma banda única dentro do estilo. "Gotta be Strong", outra faixa com ótimo refrão e linha de baixo/bateria vem na sequência, mostrando que a banda vem priorizando a divulgação de "Voyager", o que fica evidente nas próximas músicas: "Outof Line" e na "balada que não pode faltar em um disco de Hard Rock" como dito por Rod antes de executar "I Ain't Stranger to Love", que a banda ainda não tinha tocado ao vivo. A pesada "Too Young to Die" antecede o final que vem com "Had Enough", um clássico que deveria ser tocado de hora em hora, pra mostrar a todos que no Brasil temos talento na música, assim como lá fora! Parabéns à banda pelo excelente show, personalidade e postura!
Um curto intervalo, para pegar uma cerveja e dar uma respirada e somos agraciados com performance matadora da ELECTRIC MOB! Como disse lá no início do texto, as duas bandas deveriam ter uma exposição e reconhecimento muito Maiores! Renan Zonta (vocal), Ben Hur Auwarter (guitarra), Yuri Elero (baixo) e Mateus Cestaro (bateria - que acompanhou a banda, substituindo no show o baterista André Leister) surgem no palco com a poderosa "Will Shine" com sua linha com toques de música regional nordestina. Pesada, a faixa foi uma ótima opção para início, ainda que a guitarra de Ben Hur tenha apresentado problemas (no caso, desapareceu totalmente!), mas você acha que a banda se importou? Como se nada estivesse acontecendo, o grupo mostrou aquele despojamento tipicamente rock n' roll e se entregou de corpo e alma. Na sequência, "IT'S GONNA HURT" colocou todo mundo pra cantar o refrão com a banda. E, vale dizer, uma parte considerável do público foi para a frente do palco acompanhar a "insanidade" do quarteto. E tira da cabeça o tal do "ÔÔÔÔ-Ô" depois... "King's Ale", primeira faixa de "Discharge" tocada na noite e seu toque "country" veio em seguida, e mostrou o bom entrosamento entre Yuri e Mateus, pois o groove dessa faixa, além de acrescentar peso, mostra que a gama de influências do grupo é infinita!
E, para a alegria maior deste que vos escreve, "Far Off", aquela com uma pegada totalmente Hard Rock, veio para trazer diversão aos fãs do estilo. Lembro de conversar com Renan ainda em 2020 e ter questionado se o nome era um trocadilho com "farofa", tendo como resposta: Ah, você sacou a parada! hehehe... E se a galera queria soltar a voz de vez, "By the Name (nanana) veio e fez todo mundo cantar junto. O banda pra fazer refrão grudento também hein? Uma coisa que percebi durante o show do Electric Mob é que o som estava um pouco mais alto, não que isso tenha algum tipo de influência, sendo apenas uma percepção. Então era chegada a hora do "baile funk"... "Saddest Funk Ever" trouxe, groove, peso e aquela levada funk que só quem entende de música sabe diferenciar na hora de ouvir e compôr. Ao final, rolou da público um "Viva o Funk", ao qual Ben Hur respondeu: Yeah!! Esse despojamento e descontração fazem um diferencial na banda, além da performance totalmente rock n' roll! Que banda pra se ver ao vivo, meus amigos!
"Black Tide", primeira música do primeiro EP da banda, também se fez presente, com uma dose extra de peso e groove e antecedeu "your ghost", com aquele toque de blues, onde Ben Hur se destacou e Renan mais uma vez deu mostras que está entre os melhores vocalistas da atualidade. Ainda que aquele reality global não concorde comigo... Em seguida "4 letters", fez todo mundo cantar "ÔÔÔ" novamente! Mas um dos pontos altos do show (entre tantos) veio com a fantástica "Sun is Falling". Que música, meus amigos, que música! Pesada, climática, atmosfera densa... desculpem a expressão, mas puta que pariu! Essa faixa precisa ser vista ao vivo por todo mundo que se diz fã de rock! Pra "acalmar" um pouco os ânimos, "Higher Than Your Heels" veio nos lembrar novamente de "Discharge" assim como os ótimos riffs de "Need a Rush", do Ep "Leave a Scar", trouxeram o passado recente da banda à tona. A pedrada "Love Cage" encerrou a apresentação. Aí, tivemos aquele momento mais falso que nota de R$ 3,00, onde a banda se despede, diz que que o show acabou, a galera pede mais um e o grupo volta. Nosso saudoso Lemmy já nos dizia isso há muito tempo atrás... Brincadeiras à parte, o ELETRIC MOB não poderia deixar o palco sem tocar "Devil You Know". Se ainda restava alguma dúvida, ela acabou aqui: esse é um clássico do rock/metal nacional! como se o show estivesse apenas começando, a entrega da banda aqui beirou a insanidade (mais uma vez)! Um encerramento digno de uma noite fantástica, regada ao melhor da música feito nesse país que insiste em não olhar seus verdadeiros talentos!
Agradecimentos: ao Gabriel e Gravador Pub pelo excelente atendimento, ao Mauro Antunes e Metal na Lata pelas fotos e cervejas, ao Renan Zonta e ao Ben Hur que vieram trocar uma ideia comigo quando viram que eu cheguei no local (e rendeu boas risadas), à Bela, a pitbull do bar, que transitou pelos presentes com muita desenvoltura, e ao Rod Marenna que viabilizou o evento, apesar de todas as dificuldades e falta de apoio, inclusive por parte da mídia local. A coisa pode estar difícil meu amigo, mas como você mesmo diz "YOU NEED TO BELIEVE"!