MARKY RAMONE'S BLITZKRIEG
Abertura: Punkzilla
Bar Opinião - Porto Alegre/RS
10/10/2023
Produção: Opinião Produtora
Texto: Sergiomar Menezes
Fotos: Uillian Vargas
"Marky não é um Ramone. Ele é só um baterista que substituiu Tommy". Essas frases ditas por Johnny Ramone em uma entrevista na saudosa Rock Brigade ecoaram na minha mente durante muito tempo. Mas porquê cargas d'água Johnny teria dito isso e com tanta ênfase? Lembro que à época fiquei perplexo, pois nem imagina todas as tretas internas que existiam na banda internamente (o que acabou fazendo dela uma das mais importantes de todos os tempos). No entanto, por algum tempo, eu meio que aceitava isso, até mesmo porque o próprio Marky, tempos depois, disse que Richie e CJ não eram "um Ramone". Na verdade, todos que estiveram ali foram SIM, um RAMONE. Ainda que os originais tenham sido Joey (a alma), Johnny (o cérebro), Dee Dee (o coração) e Tommy (o espírito) e que fizeram com que os estilo criado por eles tenha se tornado referência para muitas bandas que vieram depois. E uma das provas cabais disso tudo foi o show proporcionado por Marc Bell, ou melhor, MARKY RAMONE e sua BLITZKRIEG em Porto Alegre no dia 10 de outubro de 2023, em mais uma produção da Opinião Produtora. Um set recheado de clássicos, surpresas e homenagens, fizeram da pouco mais de 01h20 de show, um dos momentos mais sublimes e mágicos do rock n' roll na capital dos gaúchos.
Por motivos de trânsito, ou melhor, tentando encontrar algum local pra estacionar, já que o estacionamento próximo ao Opinião estava lotado, acabei perdendo o show da banda de abertura, a PUNKZILLA. Por sorte, ainda consegui pegar as duas últimas músicas do grupo, que apesar de já ter ouvido falar, nunca tinha assistido ao vivo. Deu pra perceber que o quarteto faz um punk/HC repleto de energia e garra. influenciado por Cólera, Replicantes, Black Flag, Dead Kennedys, entre outros. Peço desculpas à banda e à produção, mas sei que não faltaram oportunidades para reparar esse erro.
Após o encerramento da banda de abertura, levou cerca de 01h até que o grande momento chegasse. Enquanto isso, clipes e mais clipes nos telões do Opinião serviam para amenizar a ansiedade dos presentes que lotaram as dependências do local, como há muito eu não via. Isso só comprova minha teoria de que enquanto muitos outros gêneros e sub estilos do rock/metal sofrem para ter uma renovação, o punk rock parece ter isso de uma forma natural, praticamente espontânea. Prova maior disso é muitos dos que se fizeram presentes, nem eram nascidos quando o Ramones lançou seu último álbum.
Era chegado então, o momento mais aguardado: a banda adentra o palco, tendo Marky a frente. Simpático, cumprimentando á todos, ele se dirige ao seu kit, no auto de seus 71 anos, e dá início ao show com a clássica introdução de "Rock n' Roll High School". Não é preciso dizer que o público presente foi à loucura, não é mesmo? o espanhol Iñaki "Pela" Urbizu (um misto de Joey e Richard Ashcroft) é um vocalista bastante digno desse posto, vez que sua voz lembra a do saudoso mestre Joey, com a diferença que o espanhol não pára quieto um segundo sequer no palco. Já o guitarrista Marcelo Gallo e o baixista Martín Sauan são argentinos, ambos ex-membros da punk Expulsados. Enquanto o primeiro guardou uma postura mais tranquila no palco (e lembrando muito visualmente Noel Gallagher do Oasis), o segundo é um verdadeiro showman, mostrando carisma, além de ser o responsável pelo "one, two, three, four" (ou seja lá o que for que ele gritava) antes de cada música.
E por falar em músicas... Foram 38 clássicos que trouxeram algumas surpresas mais do que agradáveis. Obviamente que aquelas "obrigatórias" se fizeram presentes: "Teenage Lobotomy" (impossível não lembrar daquela versão livre e poética "roubaram a mãe"), "Havana Affair", "Beat on the Breat", uma das que mais empolgou o público, com seu refrão sendo cantado por todos, inclusive o pessoal que cuidava da segurança, que diga-se de passagem, trabalhou bastante durante o show. "I Don't Care", "Sheena is a Punk Rocker", "Now I Wanna Sniff Some Glue" e "We're a Happy Family", rlembrando a primeira fase do quarteto que fez do mundo um lugar melhor pra se viver, foram a parte inicial. Cabe ressalatr que todas eleas, incluindo as que vieram na sequência, tocadas na velocidade "normal" sem aquela velocidade insana do "Loco Live". Apesar de adorar esse álbum, eu confesso que prefiro as músicas assim, numa pegada mais "It's Alive". "You Sound Like You're Sick", foi uma das boas surpresas da noite. Presente em "Pleasant Dreams (1981), a música, por si só, já valeria o show, como disse meu amigo Victor Carvalho. E é perfeitamente entendível, vez que não consigo lembrar do grupo tocando essa faixa ao vivo. Um presente e tanto para os mais de 1200 fãs presentes no Opinão.
E tome mais clássico atrás de clássico: "Rockaway Beach", "Gimme Gimme Shock Treatment", "Let's Dance" (aquele cover que ganhou vida própria com o Ramones), "Surfin' Bird" (outro cover que me fez lembrar e muito minha adolescência), "Judy is a Punk", a romântica "I Wanna Be Your Boyfriend", "She's A Sensation" (um dos momento que se eu pudesse, enquadraria na minha memória), "The KKK Took my Baby Away" (aquela composta por Joey quando perdeu Linda para Johnny), "Pet Sematary", "I Wanna Be Sedated", "Oh Oh I Love Her So" e "California Sun", outro cover que ficou totalmente "ramonizado", mostraram que o senhor Marky continua em relógio, preciso, seguro e firme no seu propósito de manter o legado do Ramones vivo e relevante.
A parte final do show se aproximava e com isso vieram "I Don't Wanna Walk Aroun With You", "Pinhead" (e seu famoso "Gabba Gabba Hey"), "Cretin Hop", "Tomorrow She Goes Away", "Sitting in my Room", outra surpresa, "Chain Saw", "She's the One", "Listen to My Heart", "Anxiety" e "R.A.M.O.N.E.S." (um dos momentos mais emocionantes do show) encerram a primeira parte, aquela que a banda se despede, fingi que não volta mais e parárá. Durante esse intervalo surgiram vários gritos como "Hey Ho! Let's Go!", até mesmo um adaptado "Olê, Olê, Olê, Olê... Markê, Markê..."
A BLITZKRIEG "decide" voltar e nos presentear com mais clássicos: "Pela" pergunta se todos querem dançar e tome "Do You Wanna Dance?", seguida por uma das melhores músicas do quarteto, "You're Gonna Kill That Girl". "Glad to See You Go", uma das antigas contrasta com "Have You Ever Seen the Rain", cover do Creedence Clearwater Revival, numa mistura de passado e "presente". A seguir, como um encerramento mais do que especial, "What a Wonderful World", uma linda homenagem ao mestre Joey Ramone. Confesso que apesar de toda a atmosfera alegre e entusiasmada, segurei as lágrimas, lembrando do vocalista e de toda sua batalha contra a porcaria do câncer que o levou em 2001. Se nunca mais teremos um Joey Ramone, seu legado continua vivo entre nós. E pra fechar de vez, "Blitzkrieg Bop", que fez as estruturas da casa e seus ar condicionados irem ao limite, tamanha a energia despendida por todos, como se fosse apenas o início do show...
Mais uma vez, eu tive a certeza de que enquanto existir uma música do Ramones "perdida" por aí, o Rock n' Roll nunca vai morrer. Sempre vai ter aquele moleque que não se enquadra nos padrões, que se revolta contra o sistema, que apenas quer ser politicamente incorreto, entre tantas outras definições. Se teve algum ponto negativo nessa celebração punk? Apenas o fato de não constar nenhuma música da fase Richie Ramone no show. Não sei se é pela treta entre os dois (no mais recente álbum de Richie temos a faixa "Who Stole my Wig?", mas não sei se faz referência a Marky....), ou se são questões contratuais mesmo. Uma pena, pois clássicos de várias gerações acabaram ficando de fora. Mas na soma dos fatores, todos saíram muito mais do que satisfeitos, pois assistiram, SIM, o show de um RAMONE, que segue sua luta para manter vivo o legado do grupo. E pode ter certeza, Marky. Esse legado jamais se extinguirá!
O Rebel Rock agradece à Opinião Produtora e ao Paulo Finatto pelo credenciamento e cordialidade no atendimento à nossa equipe! Hey Ho! Let's Go!