O Incite está de volta com Savage New Times, um dos discos mais intensos e inspirados de sua trajetória. Combinando peso, groove e honestidade crua, o álbum representa não apenas uma evolução sonora, mas também uma catarse emocional para a banda — especialmente para o vocalista Richie Cavalera, que lidera a jornada com garra, convicção e alma.
Nesta entrevista exclusiva ao Rebel Rock, Richie fala abertamente sobre o processo criativo por trás do novo trabalho, a perseverança da banda frente às dificuldades, os ensinamentos herdados de seu pai Max Cavalera, e o que vem pela frente nas turnês mundiais — incluindo os planos de retorno ao Brasil. Com respostas sinceras e intensas, ele mostra por que o Incite é uma das bandas mais autênticas da cena contemporânea do metal.
Por William Ribas
Rebel Rock: O título do álbum parece refletir o estado caótico atual do mundo. Qual é o significado por trás de “Savage New Times”?
Richie Cavalera: Obrigado por me receber. Sim, o álbum pode ser interpretado como um reflexo do estado atual do mundo, mas, para mim, ele representa as batalhas, lutas e conquistas de cada um de nós nos últimos anos desde o nosso último disco. Acho que cada álbum é uma retrospectiva da vida da banda. Sempre levamos a música como uma forma de expressão pessoal. Nossas letras e som permitem que o ouvinte crie sua própria interpretação e conexão com as músicas.
Rebel Rock: Como foi o processo de composição e gravação desse novo disco? Foi diferente dos álbuns anteriores?
Richie: Essa foi, na verdade, a gravação mais divertida que já fiz. Nos trabalhos anteriores, fazíamos tudo por e-mail e Dropbox. Este foi o primeiro em que conseguimos reunir o Lennon e o Layne durante a composição. Isso nos deixou mais preparados para entrar no estúdio do que nunca. As músicas estavam mais completas, o que nos permitiu focar em cada faixa e dar a atenção que ela merecia.
Rebel Rock: O release descreve “Savage New Times” como a encarnação mais feroz do Incite até agora. O que mudou em vocês — como músicos e como pessoas — para chegarem a esse ponto?
Richie: Finalmente chegamos a um momento em que tudo se encaixou. Desde o modo como escrevemos, até as pessoas envolvidas na composição, a gravação e todos os outros aspectos. Sentimos que cada disco foi uma evolução, e é isso que continuamos buscando. Não tivemos um "disco de sucesso" logo no começo. Isso nos permitiu criar cada álbum como uma obra própria, sem ficar tentando repetir um sucesso do passado.
Rebel Rock: Desde “The Slaughter” (2009), vocês vêm superando limites criativos. Olhando para trás, quais foram as maiores lições dessa jornada?
Richie: A parte do negócio da música. Aprendi muito com o Incite — encontrar as pessoas certas, confiar nas pessoas certas. Para alguns, isso acontece rápido ou com facilidade. No nosso caso, foi mais tentativa e erro. Isso também vale para membros da banda: alguns esperavam mais glória ou uma jornada mais fácil. Levou tempo para entender essas partes de estar em uma banda, especialmente com a nossa longevidade. Quanto mais tempo se está na estrada, mais se aprende.
Rebel Rock: O groove sempre foi uma marca registrada da banda, e neste álbum parece ainda mais presente. Como vocês equilibram peso e ritmo?
Richie: Groove sempre veio naturalmente para a banda desde o início. Nunca fomos do tipo que só quer tocar a 100 por hora. Sempre curtimos bandas com groove — aquelas que fazem você balançar a cabeça. Isso sempre pareceu mais envolvente para o público. Também conseguimos adaptar o que fizemos no passado para o que somos hoje, nossas influências atuais e o que queremos entregar ao mundo do metal.
Rebel Rock: Faixas como “Used and Abused” e “Never Die Once” mostram um lado mais extremo do Incite. Houve uma intenção de flertar com death metal ou grindcore?
Richie: Não, esse é um estilo que já usamos antes. Se você olhar nosso catálogo — músicas como “Savior-Self”, “Silenced” e “Poisoned by Power” — sempre incorporamos esses elementos. Não precisamos nos limitar a um único estilo. Somos heavy metal, o que pode englobar todos os subgêneros. Podemos flertar com diferentes estilos e ainda manter uma sonoridade coesa que desafia e empolga o ouvinte.
Rebel Rock: Como vocês buscam variedade sonora dentro da agressividade que define o Incite?
Richie: Isso vem de quem somos como pessoas e como banda. É o que fazemos, é a nossa essência, e é isso que usamos para compor. Não há nada forçado ou desconectado da realidade. Quando criamos agressividade, ela flui naturalmente das nossas experiências de vida e do que nos move naquele momento.
Rebel Rock: “Dolores” é um dos momentos mais emocionais e marcantes do disco. Qual é a história por trás da faixa?
Richie: É uma música sobre um sonho que tive na infância — um sonho recorrente que eu sempre quis transformar em algo, mas não sabia como. Quando essa música surgiu, pareceu o encaixe perfeito. Todos nós temos experiências sombrias na infância, e essa sempre ficou comigo.
Rebel Rock: O título “No Mercy No Forgiveness” já diz tudo — é um ataque direto, sem piedade. Como essa música surgiu e qual mensagem você quis passar?
Richie: Essa música é destruidora. Quando ouvi o demo, amei o trecho de introdução, mas o resto estava meio bagunçado. Durante a pré-produção e gravação, conseguimos moldá-la até chegar ao resultado final. Liricamente, é como uma declaração minha para o mundo da música. Houve um momento em que senti que a banda poderia estar perto do fim, ou que não conseguiríamos mais um contrato. Essa música capturou esse turbilhão emocional que vivi.
Rebel Rock: O press release menciona o espírito batalhador da banda — como dirigir 800 km em uma nevasca para não perder um show. De onde vem essa mentalidade incansável?
Richie: Sempre senti que, sendo quem eu sou, de onde vim, e minha personalidade em geral — eu teria que provar meu valor o tempo todo. Sou uma pessoa extremamente determinada, e isso se reflete muito na música. Desistir é algo muito difícil pra mim, e acho que isso define a banda. Todos os caras têm essa intensidade — de não querer perder shows, de não querer folgar. Somos uma banda do povo, que ama o que faz e não desperdiça um único momento dessa jornada.
Rebel Rock: O nome Cavalera tem um peso gigantesco na história do metal, e aqui no Brasil, o Max é visto por muitos — inclusive por mim — como a maior figura da nossa cena. Quais foram as maiores lições que o Max te passou ao longo dos anos?
Richie: É realmente uma honra carregar o nome Cavalera e fazer parte desse legado. Cresci nesse meio, e continuar envolvido é incrível. As maiores lições foram mais visuais do que verbais. Eu o observava ao vivo, totalmente entregue à música, apaixonado pelo que fazia. Isso foi impactante. Também aprendi com o respeito que ele tem pela música — ele nunca fez isso só por dinheiro ou fama. Ele ama a música acima de tudo.
Rebel Rock: Você leva essa experiência para sua música e sua postura como frontman? Há alguma faixa ou momento em Savage New Times que carrega diretamente esse legado — seja na atitude, nas letras ou no som?
Richie: Com certeza. Em muitos aspectos, carrego essas lições e vivências de crescer nesse universo. Todos nós somos moldados pelas influências dos nossos pais e pelo que vemos na infância. Não diria que há uma faixa específica que represente isso, mas sim toda a minha obra. Cada álbum é uma extensão desse legado — e, ao mesmo tempo, a criação de um novo. Sou minha própria banda, meu próprio som, influenciado por muitas coisas diferentes.
Rebel Rock: Ainda sobre Max e seu legado: a musicalidade brasileira sempre teve forte presença no trabalho dele — especialmente em “Roots” e nos primeiros discos do Soulfly — com elementos tribais, percussões, ritmos e até instrumentos tradicionais. Você vê espaço para esse tipo de influência na música do Incite? Já pensou em incorporar esses sabores brasileiros, mesmo que de forma sutil ou pontual?
Richie: Não, pra mim isso é o estilo dele — o que ele criou a partir do amor dele pela música e das influências que teve. Todos nós somos fãs disso, claro, mas não é muito a nossa vibe musical, por assim dizer.
Rebel Rock: Voltando ao “Savage New Times”. Após o lançamento do álbum, como está a turnê? Há planos de trazer o novo show ao Brasil?
Richie: Sim — muitas e muitas datas de turnê, e com certeza uma jornada de volta à América do Sul, América Central e o resto do mundo. Muito obrigado novamente, e agradeço por divulgar o trabalho e dedicar seu tempo.
Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista — a palavra final é toda sua.
Richie: Obrigado pelo apoio, e a todos os metalheads: espalhem a palavra e vamos botar pra quebrar!
Incite:
Vocal: Richie Cavalera
Guitarra: Layne Richardson
Baixo: EL
Bateria: Lennon Lopez
Spotify:
Clipes:
“No Mercy No Forgiveness”
“Just A Rat”