quarta-feira, 18 de junho de 2025

HAMMERFALL - MASTERPIECES (2008/2025) - RELANÇAMENTO

 


HAMMERFALL
MASTERPIECES - RELANÇAMENTO
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2008, MASTERPIECES é um álbum especial do HAMMERFALL que se destaca por reunir versões cover de músicas que influenciaram diretamente a formação musical da banda. Longe de ser apenas um apanhado de regravações, o disco é uma homenagem ao heavy metal clássico, funcionando como um tributo sincero aos heróis do passado — ao mesmo tempo em que revela as raízes do som poderoso e melódico do quinteto sueco. E a Shinigami Records em parceria com a Nuclear Blast, disponibiliza esse belo trabalho aqui no Brasil.

Apenas Joacim Cans (vocal) e Oscar Dronjak (guitarra) participam de todas as faixas, uma vez que as músicas presentes aqui, navegam por todas as formações do grupo, incluindo os guitarristas Glenn Ljüngstron, Stefan Elmgreen e Pontus Norgren, os baixistas Fredrik Larsson e Magnus RÓsen e os bateristas Patrick Räfling e Anders Johansson. A seleção de faixas é abrangente e cuidadosamente escolhida, variando entre ícones consagrados e nomes mais underground, sempre com uma pegada que casa perfeitamente com o estilo power metal do grupo. A maioria das faixas estavam presentes como bõnus em álbuns anteriores. A produção do disco é cristalina, com todos os instrumentos bem definidos, mas sem tirar o ar oitentista das músicas originais. HammerFall consegue a proeza de soar nostálgico sem parecer datado, provando que os clássicos ainda soam relevantes quando interpretados com paixão e técnica.

A abertura com “Child of the Damned”, do Warlord, já mostra a intenção do álbum: reviver canções marcantes com a energia típica da banda, sem perder o respeito pelas versões originais. A faixa ganha vida nova com a produção mais moderna e o vocal potente de Joacim Cans, além da precisão instrumental de Oscar Dronjak. Outros destaques incluem a ótima versão de “Ravenlord” (Stormwitch), uma escolha menos óbvia, mas que mostra o carinho da banda por pérolas do metal europeu dos anos 1980, assim como "Eternal dark" do Picture. “Breaking the Law”, do Judas Priest, aparece com arranjos fiéis mas com a peculiaridade da troca de posição entre os membros do grupo à época: Dronjak assumiu os vocais, Cans e Rósen foram para as guitarras, Patrick Räfling assumiu o baixo enquanto Stefan Elmgreen foi pra bateria. Ainda, “Angel of Mercy” (Chastain) traz um clima mais dramático, valorizando a interpretação vocal e o feeling das guitarras.

O álbum ainda inclui covers de bandas como Helloween ("I Want Out") que contou com a partricipação de Kai Hansen e Udo Dirkscheneider nos backing vocals, Pretty Maids ("Back to Back") e até mesmo uma cover fiel de “Youth Gone Wild” do Skid Row, demonstrando a diversidade das influências da banda — desde o metal tradicional até o hard rock.

Resumindo, MASTERPIECES é mais do que uma simples coletânea de covers: é uma declaração aberta de amor ao heavy metal. Para os fãs do HAMMERFALL, é uma chance de ver a banda explorando suas raízes em um único local; para os novos ouvintes, é uma porta de entrada para bandas e músicas que ajudaram a moldar o gênero. Um disco que respira o puro metal!

Sergiomar Menezes






THE DEAD DAISIES - LOOKIN' FOR TROUBLE (2025)

 


THE DEAD DAISIES
LOOKIN' FOR TROUBLE
SPV GmbH/Spitfire Music - Importado

The Dead Daisies seguiu os passos do Slash, e resolveu produzir e lançar também seu álbum de covers de Blues. Se por um lado, um trabalho nesse formato não é nenhuma novidade, por outro vai agradar em cheio os fãs da banda. Em contrapartida, os fãs de Blues mais ortodoxos deverão torcer o nariz, já que a banda converte todas as faixas para a sua tradicional sonoridade Hard Rock.

Mas é bem sabido que a maioria doas bandas de Hard Rock tem sua influência principal no Blues. Quem conhece o vocalista John Corabi (um dos meus vocalistas favoritos), sabe das suas influências e raízes no estilo, e sua voz soa fantástica (como sempre) nestas versões. Os guitarristas Doug Aldrich e David Lovy também são familiarizados com a blueseira, e recriam bem os riffs e solos, sem se ater muito aos originais. Obviamente, você vai reconhecer todos os clássicos contidos no pacote.

“Going Down” (Fredy King), “Boom Boom” (John Lee Hooker), Black Betty (Lead Belly) e as amplamente coverizadas “Crossroads”, “Sweet Home Chicago” e “Little Red Rooster” ,todas do homem que trocou uma ideia como capeta na encruzilhada, Robert Johson, ficaram com versões muito boas, porém o maior destaque fica com “Thrill Is Gone” do mestre B.B. King. Aqui este clássico absoluto ficou com uma versão mais Soul, quase uma balada, e obviamente John Corabi brilha demais.

Enfim, mais um trabalho de alto nível do The Dead Daisies, e que deverá estar na prateleira de todos os
fãs da banda e daqueles que apreciam um bom Rock ´n` Blues. Altamente recomendado.

José Henrique Godoy




CIRCUS OF ROCK - HELLFIRE (2025)

 


CIRCUS OF ROCK
HELLFIRE
Lions Pride Music - Importado

Mirka "Leka" Rantanen é um nome de peso no hard rock e no heavy metal da Finlândia, conhecido por sua carreira como baterista e por ser um artista multi-platina. Com mais de 35 anos de estrada, ele já tocou em mais de 40 álbuns e fez parte de bandas importantes como Thunderstone, King Company, Raskasta Joulua, Kotipelto, Warmen, Northern Kings e Revolution Renaissance. Mas o seu projeto mais audacioso foi o CIRCUS OF ROCK — que começou como algo de estúdio, cheio de convidados famosos e agora virou uma banda completa, forte e com identidade própria e que lançou seu primeiro álbum, "Come One, Come All", em 2021, seguido por "Lost Behind the Mask" em 2023. Os dois discos chamaram atenção pela quantidade de vocalistas de peso que participaram, como Jeff Scott Soto, Johnny Gioeli, Marko Hietala, Danny Vaughn, Bernie Shaw, Rick Altzi, entre outros. Depois da boa repercussão, Mirka Rantanen resolveu transformar o projeto numa banda de verdade, com formação fixa, o que ajudou a dar uma cara mais definida pro som e também facilitou pra cair na estrada e fazer shows ao vivo. Agora, vem a solidificação de seu nome com o terceiro álbum, o coeso e equilibrado HELLFIRE.

Mark Boals, conhecido por tocar com nomes como Yngwie Malmsteen, Dokken e Ted Nugent, é o vocalista, (lembrando que ele já havia participado do Lost Behind the Mask). Compleytam o time os guitarristas Samuli Federley e Vesa Virtanen, o tecladista Jari Pailamo e o baixista JJ Hjelt (Kenziner). Após assinar com a Lions Pride, o grupo lança seu terceiro trabalho, um álbum muito bem produzido e que traz músicas fortes e intensas, mas mergulhadas no melodic hard rock, ainda que em muitas passagens, o peso das guitarras ganhe certo destaque. O trabalho traz ainda a participação especial de Alessandro Del Vecchio nos vocais da faixa "Broken Pieces". Vale destacar a bela capa, que traz o palhaço novamente, sendo ele o "mascote" do grupo.

O álbum abre com "The Great Evil", que traz bons riffs, aliados a uma cama de teclados bem interessante. Mark Boals, dispensa apresentações, pois seus trabalhos prestados ao hard/heavy mundial falam por si só. Destaque para o refrão pegajoso e pesado ao mesmo tempo. Mirka conseguiu realmente dar uma cara de banda ao grupo, o que se verifica com mais precisão na faixa título, uma composição repleta de intensidade. As guitarras são o grande destaque, não só aqui, mas no trabalho como um todo, pois tanto os riffs como os solos são bem estruturados e técnicos, sem esquecer do feeling. na sequência, "On the Lips of Fate", vem para corroborar a linha melódica do grupo. Boals mostra mais uma vez sua técnica, sem exageros e correta, o que só faz abrilhantar ainda mais sua performance. Outro belo refrão, com uma pegada 80's. "Broken Pieces traz os vocais de Alessandro Del Vecchio, mas sem que isso faça com a composição soe genérica, se é que me faço entender. Já "Heat of the Moment" é uma composição mais introspectiva, um tanto quanto densa, mas com melodias que a tornam mais dinâmica. 

"Die Another Day" traz, mais uma vez, as guitarras se sobressaindo, mas dividindo os louros com Boals. Uma das melhores faixas, mostrando que a cozinha composta por Mirka e JJ Hjelt, além de bom entrosamento, tem também uma pegada pesada e certeira, o que podemos perceber na metade da execução da faixa. Enquanto isso, "Lead Tears" tem uma veia pop/comercial que nos remete à época em que as bandas melodic rock/AOR dominavam as "paradas" de sucesso. Boas linhas de baixo/bateria, enquanto a dupla Samuli e Vesa, mais uma vez dão seu recado com precisão. O tecladista Jari Pailamo possui uma característica que merece ser citada: ele sabe inserir suas passagens sem que isso interfira no peso das guitarras, fazendo uma boa diferença. Já "Back for Good" é uma faixa bastante genérica, mesmo com sua boa melodia, não acrescentando muito ao álbum. O que não acontece com "Kill the Lights", um rock de respeito com grande performance de Boals. Próxima do final, "All or Nothing" é outro bom momento, com destaque para as linhas criadas por Jari Pailamo. O encerramento vem com "Tough Pill to Swallow", pesada, mas sem muito a acrescentar.

HELLFIRE é um bom álbum, pois apesar de não reinventar a roda, mantém qualidade e bom gosto em suas composições. Ao término, percebi que não temos nenhuma balada no trabalho, algo raro quando falamos nesse estilo. Mirka acertou em transformar seu projeto CIRCUS OF ROCK em banda e ficamos na espera de que novos álbuns possam alegrar os fãs de melodic rock, bem como os amantes da música em geral. 

Sergiomar Menezes




REBEL ROCK NOSTALGIA - TESTAMENT - LIVE AT THE FILLMORE (1995)

 


TESTAMENT
LIVE AT THE FILLMORE
Nuclear Blast - Nacional

Todo fã de heavy metal, mais cedo ou mais tarde, faz suas listas. Os 10 melhores álbuns da vida, os 10 discos que levaria para uma ilha deserta. Os 10 melhores disto, os 10 melhores daquilo, os 10 melhores ao vivo — Isso é quase um ritual. E em todas essas listas, “Live at the Fillmore”, do Testament, está sempre ali entre os meus preferidos. Sempre beirando o top 5 dos discos ao vivo que eu mais ouvi na vida — e provavelmente sempre vai estar.

Os gritos de “Testament, Testament, Testament...”, Chuck Billy anunciando “The Preacher” continuam arrepiando mesmo após tantos anos escutando o álbum. Mas é a próxima faixa que foi a amor à primeira “ouvida” — "Alone in the Dark", o solo inicial, o riff, e quando você vê... já foi. É como se a banda invadisse sua casa, sua mente e dissesse: "Agora você está sozinho no escuro”, e a sua única saída é o “bate-cabeça”.

Mal dá pra se recuperar e temos “Burnt Offering”, “A Dirige”, “The New Order” e “Low”. Chuck Billy está no auge. E digo com toda certeza: pra mim, ele é o melhor vocalista do gênero. Consegue cantar rasgado, fazer guturais, dominando o palco como poucos.Não é só técnica, é alma. Quando ele solta os urros graves, aquele LOW! LOW! LOW!, arrepia!

O desfile de clássicos é surreal. Você anda, tropeça, "Into the Pit". Anda de novo, cai em, "Souls of Black", se levanta e...“Ptactice What You Preach”. O Testament tem o thrash sujo, urgente, direto, mas carrega técnica e uma boa dose de virtuosidade e o maior exemplo é na quase jam session “Urotsukidoji”. A banda inteira agitadíssima — Greg Christian (baixo) e Jon Dette (bateria) mantendo tudo no lugar, enquanto os riffs e solos são um verdadeiro vindo da dupla Eric Peterson e James Murphy, o melhor de tudo é que tudo percorre por todo o tracklist.

Mas o que me marca de verdade nesse álbum é como ele consegue ser completo. Porque no final, depois de toda a destruição e energia de “Apocalyptic City”, “Hail Mary” e “Dog Faced Gods”, vêm três faixas em estúdio. Três momentos onde o disco te convida a desacelerar — onde o Testament mostra sua outra face. “Return to Serenity”, "The Legacy"e “Trail to Tears”. É como voltar a respirar depois da tempestade — um final perfeito para um álbum que foi, do começo ao fim, uma viagem cheia de energia.

Live at the Filmore” é atemporal, um trabalho ao vivo que pode ser comparado aos tais famosos “best of” que as bandas lançam — é clássico atrás de clássico. Merece ser revistado de tempos em tempos, e, muito provavelmente, você ouvirá como se fosse sempre a primeira vez.

William Ribas




O POP É PUNK ANOS 90 - VÁRIOS ARTISTAS (2025)

 


O POP É PUNK - ANOS 90
VÁRIOS ARTISTAS
Grudda Records - Nacional

A 4ª edição da coletânea "O POP É PUNK", chega agora aos anos 90. Para quem não está familiarizado, o projeto da Grudda Records é resgatar músicas das décadas de 60, 70, 80 e transformá-las em faixas punk/hc. Se nas primeiras edições o resultado foi além do satisfatório, aqui a coisa ganhou status de "sensacional"! Para deixar bem explicado: o projeto reúne 25 bandas da cena independente de diversas regiões do país. O repertório, além do rock nacional, passeia com irreverência entre gêneros populares como pagode, sertanejo e axé. Músicas conhecidas na voz de Los Hermanos, Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii e Cássia Eller, dividem espaço com Roupa Nova, Raça Negra e Banda Cheiro de Amor, em versões aceleradas.

Como já citado, são 25 faixas que nos trazem à memória várias músicas que fizeram sucesso durante os anos 90. Todas elas receberam, devidamente, versão que as deixaram mais divertidas e em alguns casos, muito melhores. Já a capa, por sua vez, é uma homenagem a "Dookie" do Green Day, icônico álbum da banda norte americana que se tornou um clássico da referida década. 

Dentre todas as gravações, todas com um ótimo nível de gravação (algo a se destacar quando falamos em coletâneas, ainda mais por estarmos diante de um trabalho underground), podemos citar a abertura com um "Globo Medley" da banda Os Torto, que nos traz uma levada punk/hc para a trilha de abertura da Escolinha do Professor Raimundo! E ficou muito legal! Mas o que Julio Igrejas fez com "Arerê" é de cinema... Simplesmente, o grupo transformou um dos "clássicos" do Axé numa versão que deixaria o Rancid orgulhoso. "Paparico", um dos pagodes mais conhecidos do Molejo também ganhou uma ótima releitura pelas guitarras do Estragonoff", assim como "Tempo Perdido" do Raça Negra, que virou um punk rock de respeito com o FSnipes. Bruno e Marrone não poderiam faltar com "Dormi na Praça", devidamente "hardcorizada" por Tiago Horácio e Rafa Heck. "Entre a Serpente e a Estrela", um dos maiores sucessos de Zé Ramalho nos anos 90, ganhou nova vida com Emerson Ramone numa versão que lembra... adivinhem? A abertura da novela Corpo Dourado, gravada originalmente por Paulo Ricardo, virou outra música com o Atox, que deu uma cara bem mais rocker à composição.

Ainda podemos destacar "Eu que Não Amo Você", que ganhou as rádios com os Engenheiros do Hawaii, também virou um punk rock de respeito com o Rosa Tigre, assim como "Vai Sacudir, Vai Abalar", hit do Axé, que ganhou peso e consistência com o Fajuto e os Imprestáveis. Agora deu algumas coisas que só acontecem com o punk rock: quem mais poderia regravar "Xô Satanás"? Cristhian Satã & Seus Demônios! Até "Ana Júlia", da banda mais chata de todos os tempos, conseguiu ficar bem melhor do que a original ( e olha que, apesar de não gostar do Los Hermanos, acho a música boa sim, mas o exagero das rádios e TV's a transformou em algo quase intragável). Pra encerrar alguns outros destaques: Os Ildefonsos com o pagode "Ela é Demais", que ficou próximo daquilo que o mestre Wander Wildner faz em sua carreira solo, e Bramones com "Lua e Flor", outro grande momento de Zé Ramalho.

O álbum encontra-se disponível no Spotify (link no final do texto), e vale muito a pena ser ouvido! Se você viveu os anos 90, vai curtir, independente do seu estilo preferido. A Grudda Records já avisou que teremos também uma 5ª edição, dessa vez focada nos anos 2000. Ficamos no aguardo e com a certeza que coisa boa vem por aí!

Sergiomar Menezes

Link do álbum:

terça-feira, 17 de junho de 2025

ALICE COOPER - BEST OF BLUES AND ROCK 2025 - 14/06/2025 - PARQUE DO IBIRAPUERA - SÃO PAULO/SP

 


ALICE COOPER
BEST OF BLUES AND ROCK 2025
14/06/2025
PARQUE DO IBIRAPUERA 
SÃO PAULO/SP

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Leandro Almeida (Rock Brigade)

Sou “sócio-torcedor” de Vincent Damon Furnier, mais conhecido há quase 60 anos como Alice Cooper, e assim sendo, tentarei não fazer uma resenha “tendenciosa” sobre o que este senhor e seus companheiros de banda entregaram na noite de sábado, 14 de Junho, no Auditório do Parque Ibirapuera. Verdade seja dita: impossível não afirmar que o que presenciei não foi apenas um show, foi na realidade um espetáculo que apenas justifica o título de uma das maiores lendas da história, não apenas do Rock, mas da música universal.

Passavam alguns instantes das 20h30, quando no palco vemos dois espectros sombrios, com máscaras de corvo, representando os médicos da época da Peste Negra, tocando sinos enquanto uma cortina em formato de jornal, com uma manchete que noticia sobre o julgamento de Alice Cooper, que está sendo acusado de crimes contra a humanidade, e que ele está “banido” no Brasil!!! A sombra no nosso “Malvado Favorito” surge por trás da cortina, e Alice atravessa a mesma, rasgando-a , e dando início ao espetáculo, com um trecho de “Lock Me Up” faixa do pesadíssimo “Raise Your Fist and Yell” (1988), e na sequência “Welcome to The Show”, faixa do seu álbum mais recente , “Road” (2023).

A partir de então, uma sequência de clássicos toma de assalto o palco e deixa qualquer fã-nático por Alice Cooper (este que tecla, incluso) com todos os pelos do corpo arrepiados: “No More Mr. Nice Guy”, “I m Eighteen” e “Under My Wheels”, uma trinca de alguns dos maiores clássicos de Alice.



Não posso deixar de destacar a classe “rocker” e a qualidade da banda de Alice Cooper: Nita Strauss, talentosa e carismática, é o maior destaque da banda, e sem dúvida um fenômeno no seu instrumento. Tommy Henriksen é o guitarrista que toma mais destaque nas bases das músicas, mas também brilha muito quando chamado a fazer seus solos, e Ryan Roxie é o que tem mais o estilo “Classic Rock” dos três. Sua aura mais “setentista” relembra um pouco o saudoso guitarrista Glenn Buxton, guitarrista original do Alice Cooper Group, que infelizmente nos deixou em 1997. OS três guitarristas são fantásticos, cada um ao seu estilo, e é incrível a forma como um complementa o outro, fazendo um trio perfeito.

Chuck Garrick é o baixista e está com Alice há mais de 20 anos, e é aquele tipo de “baixista mesmo”, que dá peso e uma base sólida ao som da banda, e também fica com boa parte dos backing vocals. Glen Slobel é um “senhor” baterista, um monstro, cheio de técnica e peso. Não é à toa que quando Alice o apresentou, se referiu à ele como o “ Number One Drummer!”.

Dando sequência ao show, “Bed OfNails” clássica faixa de um dos álbuns favoritos aqui da casa, “Trash” (1989) tem os holofotes sobre Nita Strauss, mostrando que a moça destrói nas seis cordas, e “Billion Dolar Babies”, faixa título do álbum de 1973 apresenta Alice Cooper “esgrimando” uma espada. “Snakebite” , faixa hard Rock do ótimo álbum “Hey Stoopid” (1991) é a próxima, e nos últimos tempos era a música que Alice se apresentava com as suas inseparáveis cobras, porém, desta vez o “animalzinho” não compareceu.



“Be My Lover” e “Lost In America” dão sequência, duas faixas de fases distintas e com a peculiaridade de terem ótimas letras. È então, que a hora mais teatral do espetáculo se inicia, com a faixa “He`s Back! (The Man Behind The Mask), faixa da trilha sonora do filme “Sexta-Feira 13, parte 6” (1986), e que marcou o retorno de Alice ao mainstream, após seu tratamento e cura definitiva do alcoolismo que o atormentava desde o meio da década de 1970. E durante esta, quem adentra o palco? Jason Voorhees em pessoa, pra dar um “jeitinho” numa “fã histérica” que resolveu infernizar o Alice para uma “selfie”. O mesmo ocorre com um “fotógrafo credenciado”, durante “Hey Stoopid”, mas dessa vez quem se livra do sujeito é o próprio Cooper, transpassando o infeliz desavisado com o pedestal do microfone.

Chega a vez de Glen Slobel mostrar sua imensa habilidade nos tambores, com um ótimo e curto solo, que abre caminho para a sinistra “Welcome To My Nightmare”, com mais um show à parte dos três guitarristas. “Cold Ethyl” é uma excelente surpresa, com Alice dançando com a boneca Ethyl, supostamente fria e morta, como a letra sempre deu a entender. Em “Go To Hell”, Alice ataca com um par de maracas, enquanto sua esposa Sheryll Cooper faz a sua primeira aparição, dançando com um chicote, antes de ser “escurraçada” do palco por Alice. “Poison” então é executada para o delírio dos presentes, uma faixa que lá na década de 1980 recolocou Alice no topo das paradas, e se tornou uma faixa clássica que não pode faltar nos shows.

Após todas as “acusações” e “ crimes” cometidos no palco, Alice é finalmente preso e colocado em uma camisa de força, e então chega a vez da belíssima “Ballad Of Dwigh Fry”. Antes dela, um solo maravilhoso de Nita Strauss. Vincent Price, o saudoso mestre do cinema de terror aparece no telão e, tal qual como a gravação original de 1975, narra a descrição de uma “Black Widow”, e a faixa de mesmo título é executada no formato instrumental, enquanto novamente Sheryll Cooper adentra o palco, num misto de Pirata (por conta de seu tapa-olho) e dama da nobreza da idade média, posiciona Alice na guilhotina e o carrasco o executa ao som de uma versão também instrumental de “Killer”. Pra completar o clássico momento “terrir”, a “Dama” desfila pelo palco, com a cabeça de Alice pelo palco ao som de “I Love The Dead” e ao final do desfile, ela taca um apaixonado beijo na boca da cabeça decapitada de Alice. Como diria aquele outro cantor: “é o amor...que mexe com a minha cabeça...”  bom, chega disso.





Alice retorna vivo e triunfal, vestido de professor, para nos felicitar com a mais que clássica “School´s Out”. Balões gigantes são jogados para a nossa diversão, e entre um pequeno trecho de “Another Brick in The Wall” (Pink Floyd) e a apresentação da banda, o show vai se direcionando para (infelizmente ) o seu final. No bis, “Feed My Frankenstein”, pesadona e divertida, enquanto no palco, entra um ser de alta estatura, e com a maquiagem do Alice. Basicamente nosso vilão em uma versão gigante e frankesteinizada. Final de festa, final de show.

Alice Cooper não tem mais nada o que provar. Seu carisma sem falar uma única palavra com a plateia durante todo o show encanta até hoje. Sua voz segue a mesma, inalterada, muito pelos hábitos saudáveis e quase de atleta que ele segue. Sua performance, é de artista hollywoodiano. Alice é o cara, simples assim, ele é o patrão da coisa toda! Longa vida ao Alice, e obrigado por existir. A sua existência faz a minha vida e de todos os fãs muito mais feliz. Volte sempre!







TIM "RIPPER" OWENS - 13/06/2025 - SESC SANTO ANDRÉ - SANTO ANDRÉ/SP


 

TIM "RIPPER" OWENS
13/06/2025 
SESC SANTO ANDRÉ
SANTO ANDRÉ/SP

Texto e fotos: William Ribas

Sexta-feira 13.

Um dia cercado de superstições: azar, má sorte, gato preto, não passar debaixo da escada, espelho quebrado… e, claro, figuras do terror como Jason e Freddy Krueger rondando o imaginário coletivo.
Mas, no ABC Paulista, nem essas lendas teriam força suficiente para atrapalhar o show de um ex-Judas Priest.

Naquela noite, só havia um vilão à espreita: o bicho-papão do frio cortante (risos). Impiedoso, dominou o dia inteiro e, confesso, fiquei preocupado se isso poderia atrapalhar a presença do público nas instalações do Sesc Santo André.

No início da tarde, porém, veio a boa notícia: todos os ingressos para a apresentação de Tim “Ripper” Owens estavam esgotados. O vocalista americano está nos acréscimos de uma tour sul-americana que já dura quase dois meses, com diversas datas pelo Brasil. Acompanhado por um verdadeiro dream team — Bruno Luiz e Wander Cunha nas guitarras, Fabio Carito no baixo e Marcus Dotta nas baquetas —, a promessa era de uma noite perfeita de heavy metal na veia.

A rede Sesc, ano após ano, vem abrindo espaço para a música pesada. Com suas excelentes instalações e horários pontuais (shows que começam e terminam cedo), tornou-se uma opção ideal para bandas, produtores e para o público que já não é mais tão jovem assim. O local estava cheio. Meu temor — por graças a "Dio" — passou longe de se concretizar. O frio ficou do lado de fora, porque, dentro do anfiteatro, o clima era quente e de pura diversão, com um maestro no palco conduzindo tudo de forma primorosa.

Um dos meus DVDs favoritos de todos os tempos chama-se “Live in London”, do Judas Priest. Decorei cada cena daquele show na minha retina. Adoro o disco “Jugulator”, e foi justamente com a faixa-título do álbum de estreia de Owens na lendária banda inglesa que ele deu o pontapé inicial. A música carrega peso, agressividade — e, logo de cara, os agudos característicos que marcaram sua carreira apareceram com força total.

E a gente já percebe que os cinco músicos em cima do palco não estavam ali pra brincadeira quando colocam, como segunda música do setlist, nada menos que “The Green Manalishi (With the Two Pronged Crown)”. Ripper estava bastante comunicativo. A cada pausa, fazia questão de conversar e brincar com os fãs — especialmente com o fato de quase todos estarem comportados (mas barulhentos) em seus devidos lugares, como mandam as normas da casa… normas que, felizmente, em algum momento foram pro “ralo”.


Seguindo o show, vieram “Burn in Hell” (Judas Priest), a brutal “Scream Machine” (do Beyond Fear, banda que Ripper fundou na metade dos anos 2000), além de duas faixas do seu projeto KK’s Priest, com K.K. Downing (ex-guitarrista e fundador do Judas Priest): “Hellfire Thunderbolt” e “One More Shot at Glory” — ambas soaram excelentes ao vivo, com aquele sabor do Priest clássico misturado à pegada mais agressiva da era Jugulator e Demolition.

Aliás, falando no último trabalho de Ripper pelo Judas, tivemos também “Hell Is Home” — e é impressionante como essa música funciona maravilhosamente bem no palco. Sua letra, sua levada introspectiva, sua construção crescente… tudo contribui para um momento quase hipnótico. No meio desse turbilhão sonoro, o que mais se via era gente tentando — em vão — imitar os gritos insanos que Owens solta ao final de cada frase.

Um dos momentos mais altos da noite foi “Beyond the Realms of Death”. A música foi dedicada ao ex-baterista do Judas Priest, Les Binks, falecido em abril deste ano. Clássico absoluto, ela mostrou, de forma impressionante, a versatilidade e o alcance vocal de Ripper, mesmo já beirando os 60 anos.
Dizem por aí que regras foram feitas para serem quebradas, certo? Pois então: mais uma homenagem, mais uma salva de palmas… e “Wrathchild”, do Iron Maiden, dedicada ao eterno Paul Di'Anno, fez com que todos se levantassem para não mais se sentar. O refrão foi cantado com tanta paixão e vontade que, onde quer que esteja, Di'Anno certamente sentiu que será sempre eterno.


“When the Eagle Cries”, do Iced Earth, trouxe uma leve sensação de calmaria. Leve, pois “Electric Eye” e “Living After Midnight” entraram no jogo. Ripper mostrou o seu respeito pela história que ele ajudou a carregar por um tempo. Com uma entrega gigantesca, ele mostrou que não se trata de substituir ninguém — mas de honrar um legado com paixão, técnica e carisma. O fechamento dos shows vinha sendo com “One On One”, mas, não aqui. Aqui tivemos prorrogação, tivemos o “golden goal”.

Santo André e o ABC Paulista tiveram o que tanto se gritou no decorrer do show — PAINKILLER!

O público, nesse momento, estava completamente rendido. Uma catarse coletiva, não era mais só ficar em pé, o negócio era ir pra frente do palco. A sinergia entre banda e plateia se intensificou a cada acorde, a cada agudo ou a cada “He is the Painkiller”, “This is the Painkiller” — e, a essa altura, já não havia mais cadeiras, regras ou frio que importassem. O Sesc virou um templo do heavy metal — e Tim Owens, seu sacerdote.

Uma noite que, por mim, ainda estaria lá. Afinal, na manga ficaram guardadas “Death Row”, “Bullet Train”, “Cathedral Spires”, “Bloodsuckers”, “Metal Messiah”, “Lost and Found”, “Declaration Day”, “Greenface”, “Waterloo”, “Ten Thousand Strong”, tantas e tantas outras...

KIKO LOUREIRO - THEORY OF MIND TOUR 2025 - CONVIDADO ESPECIAL MARTY FRIEDMAN - 05/06/2025 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 


KIKO LOUREIRO
THEORY OF MIND TOUR 2025
CONVIDADO ESPECIAL: MARTY FRIEDMAN
ABERTURA: 
PHORNAX
ANDY ADDAMS
05/06/2025
BAR OPINIÃO
PORTO ALEGRE/RS
Produção: TOP LINK Music/ ABLAZE Productions

Texto e fotos: José Henrique Godoy

Um público “dividido” entre camisetas do Megadeth e camisetas do Angra. Era assim o público presente no Bar Opinião, na quinta-feira dia 05 de junho, e não necessita muito para identificarmos que a atração em cartaz seriam os guitarristas Kiko Loureiro e Marty Friedman, ambos ex-guitarristas do Megadeth, e Kiko anteriormente sendo membro fundador do Angra.

Abertura da noite, ficou por conta da banda gaúcha Phornax. Formada em 2009, a banda retornou em 2024, com uma nova formação, contando com duas lendas do underground gaúcho, o baixista Sfinge Lima (Crossfire) e o guitarrista Eduardo Martinez (ex-Panic, ex-Hangar). E fizeram bonito, com músicas pesadas, técnicas e intrincadas, na sua maioria composições presentes no seu EP “Silent War”(2024). Destaco também o excelente vocalista Cristiano Poschi, um ótimo frontman que conseguiu agitar o público já numeroso no Opinião.



Por volta das 20h30, a segunda atração da noite sobe ao palco: o guitarrista Colombiano/americano Andy Addams. Com sua jaqueta cheia de luzes piscando intermitentemente, lembrando algum herói “lado B” da Marvel, Andy demonstrou muita técnica, com muitas notas a velocidade da luz e “arpeggios” a vontade. Me remeteu ao meio da década de oitenta, quando a cada semana, a gravadora Shrapnel lançava meia dúzia de guitarristas nesse estilo. Muita velocidade e técnica, mas que, para meu gosto, não chega a lugar nenhum. A apresentação animou um pouco, quando Andy tocou trechos de “Separate Ways” do Journey, “Eruption” e “Ain t Talk About Love” do Van Halen e “Pegasus Fantasy” – trilha dos Cavaleiros do Zodíaco, todas em versões instrumentais. Com certeza esse tipo de som tem seus fãs, mas para mim, foi uma apresentação monótona, que agrada apenas a guitarristas shredders.


Passava um pouco das 22h, quando Kiko Loureiro e banda invadem o palco do Opinião. Felipe Andreoli (baixo) e Bruno Valverde (bateria), ambos do Angra, e o guitarrista Luiz Rodriguez escoltam Kiko Loureiro através das suas composições solo, sendo “Blindfolded” do seu mais recente trabalho, “Theory Of Mind”, e na sequência “Reflective” e “Overflow”, respectivamente dos álbuns solo de 2012 e 2020. Kiko Loureiro demonstra desde o início não apenas técnica, mas bom gosto nas composições, sem exageros, mas também com muita técnica, mesclando sentimento e categoria. Sem contar na sua presença de palco, onde aparenta estar mais a vontade e mais solto.

Em seguida ele anuncia que a próxima música ele executou muitas vezes nos últimos anos, e era a hora de Megadeth e “Dystopia” do álbum de mesmo nome, e Kiko não faz feio nos vocais, para delírio dos fãs da banda de Dave Mustaine. Kiko relembra que há 20 anos, lançava seu primeiro disco solo, e executa a faixa título do mesmo: “No Gravity”. A seguir, um dos momentos mais esperados pelo público, o Angra-Medley: "Carry On", "Spread Your Fire", "Nova Era", 'Morning Star", "Evil Warning" e "Speed', tocadas de forma instrumental levam os presentes que lotavam o Opinião ao delírio. Um pouco mais de Megadeth, com “Conquer Or Die!”, também do álbum Dystopia (2016) e mais uma de “Theory Of Mind”, a faixa “Mind Rise”.

Kiko então convida o vocalista Alírio Neto para vir ao palco, e então executam “Nothin To Say”, um dos maiores clássicos do Angra. "Angels And Demons”, do álbum “Temple of Shadows” dá sequência ao show, e esse bloco finaliza com a acústica “Late Redemption” do mesmo trabalho, e dessa vez Kiko divide os vocais com Alirio, fazendo “as vezes” do Milton Nascimento, o que convenhamos, é uma baita responsabilidade, mas ficou bom.


E então chegamos ao momento mais aguardado da noite: Kiko chama ao palco Marty Friedman! Carismático, assume seu lugar de lenda da guitarra e começa uma jam session de tirar o fôlego. ”Hyper Doom” do seu álbum solo “Inferno” (2014) é executada com pura maestria, e o que se segue é a mais que clássica “Tornado Of Souls” do Megadeth, faixa daqueles que consideram o melhor álbum da banda “Rust In Peace” o primeiro trabalho de Marty na banda. Todos parecem se divertir muito e Friedman demonstra muita alegria por estar ali tocando. Demonstrando mais uma vez o talento gigantesco de ambos, Kiko e Marty executam dois clássicos da música brasileira: “Asa Branca” de Luiz Gonzaga e “Brasileirinho” de Waldir Azevedo. Estas duas músicas são símbolos da musicalidade brasileira, e Kiko e Marty as executaram com maestria, não apenas demonstrando todo o talento de ambos, mas também versatilidade e sentimento.


Marty Friedman apresenta então “Tearful Confessions” faixa do seu mais recente trabalho, “Drama” (2024) e na sequência, Kiko vai ao violão, Alírio Neto volta ao palco e juntos todos executam “Rebirth”, mais um clássico do Angra. O Opinião veio abaixo! Após os agradecimentos e o “final falso”, Kiko e banda voltam ao palco e fecham o show com a pesadíssima “Enfermo” do primeiro álbum solo de Kiko, lançado em 2004. Uma noite memorável para fãs do Angra, do Megadeth e desses dois gênios da guitarra mundial. 


Agradecimentos especiais a Ablaze Productions pelo credenciamento.



terça-feira, 10 de junho de 2025

REBEL ROCK ENTREVISTA - INCITE

 


O Incite está de volta com Savage New Times, um dos discos mais intensos e inspirados de sua trajetória. Combinando peso, groove e honestidade crua, o álbum representa não apenas uma evolução sonora, mas também uma catarse emocional para a banda — especialmente para o vocalista Richie Cavalera, que lidera a jornada com garra, convicção e alma.

Nesta entrevista exclusiva ao Rebel Rock, Richie fala abertamente sobre o processo criativo por trás do novo trabalho, a perseverança da banda frente às dificuldades, os ensinamentos herdados de seu pai Max Cavalera, e o que vem pela frente nas turnês mundiais — incluindo os planos de retorno ao Brasil. Com respostas sinceras e intensas, ele mostra por que o Incite é uma das bandas mais autênticas da cena contemporânea do metal. 

Por William Ribas

Rebel Rock: O título do álbum parece refletir o estado caótico atual do mundo. Qual é o significado por trás de “Savage New Times”?

Richie Cavalera: Obrigado por me receber. Sim, o álbum pode ser interpretado como um reflexo do estado atual do mundo, mas, para mim, ele representa as batalhas, lutas e conquistas de cada um de nós nos últimos anos desde o nosso último disco. Acho que cada álbum é uma retrospectiva da vida da banda. Sempre levamos a música como uma forma de expressão pessoal. Nossas letras e som permitem que o ouvinte crie sua própria interpretação e conexão com as músicas.

Rebel Rock: Como foi o processo de composição e gravação desse novo disco? Foi diferente dos álbuns anteriores?

Richie: Essa foi, na verdade, a gravação mais divertida que já fiz. Nos trabalhos anteriores, fazíamos tudo por e-mail e Dropbox. Este foi o primeiro em que conseguimos reunir o Lennon e o Layne durante a composição. Isso nos deixou mais preparados para entrar no estúdio do que nunca. As músicas estavam mais completas, o que nos permitiu focar em cada faixa e dar a atenção que ela merecia.

Rebel Rock: O release descreve “Savage New Times” como a encarnação mais feroz do Incite até agora. O que mudou em vocês — como músicos e como pessoas — para chegarem a esse ponto?

Richie: Finalmente chegamos a um momento em que tudo se encaixou. Desde o modo como escrevemos, até as pessoas envolvidas na composição, a gravação e todos os outros aspectos. Sentimos que cada disco foi uma evolução, e é isso que continuamos buscando. Não tivemos um "disco de sucesso" logo no começo. Isso nos permitiu criar cada álbum como uma obra própria, sem ficar tentando repetir um sucesso do passado.

Rebel Rock: Desde “The Slaughter” (2009), vocês vêm superando limites criativos. Olhando para trás, quais foram as maiores lições dessa jornada?

Richie: A parte do negócio da música. Aprendi muito com o Incite — encontrar as pessoas certas, confiar nas pessoas certas. Para alguns, isso acontece rápido ou com facilidade. No nosso caso, foi mais tentativa e erro. Isso também vale para membros da banda: alguns esperavam mais glória ou uma jornada mais fácil. Levou tempo para entender essas partes de estar em uma banda, especialmente com a nossa longevidade. Quanto mais tempo se está na estrada, mais se aprende.


Rebel Rock: O groove sempre foi uma marca registrada da banda, e neste álbum parece ainda mais presente. Como vocês equilibram peso e ritmo?

Richie: Groove sempre veio naturalmente para a banda desde o início. Nunca fomos do tipo que só quer tocar a 100 por hora. Sempre curtimos bandas com groove — aquelas que fazem você balançar a cabeça. Isso sempre pareceu mais envolvente para o público. Também conseguimos adaptar o que fizemos no passado para o que somos hoje, nossas influências atuais e o que queremos entregar ao mundo do metal.

Rebel Rock: Faixas como “Used and Abused” e “Never Die Once” mostram um lado mais extremo do Incite. Houve uma intenção de flertar com death metal ou grindcore?

Richie: Não, esse é um estilo que já usamos antes. Se você olhar nosso catálogo — músicas como “Savior-Self”, “Silenced” e “Poisoned by Power” — sempre incorporamos esses elementos. Não precisamos nos limitar a um único estilo. Somos heavy metal, o que pode englobar todos os subgêneros. Podemos flertar com diferentes estilos e ainda manter uma sonoridade coesa que desafia e empolga o ouvinte.

Rebel Rock: Como vocês buscam variedade sonora dentro da agressividade que define o Incite?

Richie: Isso vem de quem somos como pessoas e como banda. É o que fazemos, é a nossa essência, e é isso que usamos para compor. Não há nada forçado ou desconectado da realidade. Quando criamos agressividade, ela flui naturalmente das nossas experiências de vida e do que nos move naquele momento.

Rebel Rock: “Dolores” é um dos momentos mais emocionais e marcantes do disco. Qual é a história por trás da faixa?

Richie: É uma música sobre um sonho que tive na infância — um sonho recorrente que eu sempre quis transformar em algo, mas não sabia como. Quando essa música surgiu, pareceu o encaixe perfeito. Todos nós temos experiências sombrias na infância, e essa sempre ficou comigo.


Rebel Rock: O título “No Mercy No Forgiveness” já diz tudo — é um ataque direto, sem piedade. Como essa música surgiu e qual mensagem você quis passar?

Richie: Essa música é destruidora. Quando ouvi o demo, amei o trecho de introdução, mas o resto estava meio bagunçado. Durante a pré-produção e gravação, conseguimos moldá-la até chegar ao resultado final. Liricamente, é como uma declaração minha para o mundo da música. Houve um momento em que senti que a banda poderia estar perto do fim, ou que não conseguiríamos mais um contrato. Essa música capturou esse turbilhão emocional que vivi.

Rebel Rock: O press release menciona o espírito batalhador da banda — como dirigir 800 km em uma nevasca para não perder um show. De onde vem essa mentalidade incansável?

Richie: Sempre senti que, sendo quem eu sou, de onde vim, e minha personalidade em geral — eu teria que provar meu valor o tempo todo. Sou uma pessoa extremamente determinada, e isso se reflete muito na música. Desistir é algo muito difícil pra mim, e acho que isso define a banda. Todos os caras têm essa intensidade — de não querer perder shows, de não querer folgar. Somos uma banda do povo, que ama o que faz e não desperdiça um único momento dessa jornada.

Rebel Rock: O nome Cavalera tem um peso gigantesco na história do metal, e aqui no Brasil, o Max é visto por muitos — inclusive por mim — como a maior figura da nossa cena. Quais foram as maiores lições que o Max te passou ao longo dos anos?

Richie: É realmente uma honra carregar o nome Cavalera e fazer parte desse legado. Cresci nesse meio, e continuar envolvido é incrível. As maiores lições foram mais visuais do que verbais. Eu o observava ao vivo, totalmente entregue à música, apaixonado pelo que fazia. Isso foi impactante. Também aprendi com o respeito que ele tem pela música — ele nunca fez isso só por dinheiro ou fama. Ele ama a música acima de tudo.

Rebel Rock: Você leva essa experiência para sua música e sua postura como frontman? Há alguma faixa ou momento em Savage New Times que carrega diretamente esse legado — seja na atitude, nas letras ou no som?

Richie: Com certeza. Em muitos aspectos, carrego essas lições e vivências de crescer nesse universo. Todos nós somos moldados pelas influências dos nossos pais e pelo que vemos na infância. Não diria que há uma faixa específica que represente isso, mas sim toda a minha obra. Cada álbum é uma extensão desse legado — e, ao mesmo tempo, a criação de um novo. Sou minha própria banda, meu próprio som, influenciado por muitas coisas diferentes.


Rebel Rock: Ainda sobre Max e seu legado: a musicalidade brasileira sempre teve forte presença no trabalho dele — especialmente em “Roots” e nos primeiros discos do Soulfly — com elementos tribais, percussões, ritmos e até instrumentos tradicionais. Você vê espaço para esse tipo de influência na música do Incite? Já pensou em incorporar esses sabores brasileiros, mesmo que de forma sutil ou pontual?

Richie: Não, pra mim isso é o estilo dele — o que ele criou a partir do amor dele pela música e das influências que teve. Todos nós somos fãs disso, claro, mas não é muito a nossa vibe musical, por assim dizer.

Rebel Rock: Voltando ao “Savage New Times”. Após o lançamento do álbum, como está a turnê? Há planos de trazer o novo show ao Brasil?

Richie: Sim — muitas e muitas datas de turnê, e com certeza uma jornada de volta à América do Sul, América Central e o resto do mundo. Muito obrigado novamente, e agradeço por divulgar o trabalho e dedicar seu tempo.

Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista — a palavra final é toda sua.

Richie: Obrigado pelo apoio, e a todos os metalheads: espalhem a palavra e vamos botar pra quebrar!



Incite:

Vocal: Richie Cavalera
Guitarra: Layne Richardson 
Baixo: EL
Bateria: Lennon Lopez




Spotify:


Clipes:

“No Mercy No Forgiveness”



“Just A Rat” 



segunda-feira, 9 de junho de 2025

FALSE GODS - LOST IN DARKNESS AND DISTANCE (2025)


 

FALSE GODS
LOST IN DARKNESS AND DISTANCE
BRC30 Productions - Importado

Com “Lost in Darkness and Distance”, o FALSE GODS entrega um disco intenso e denso do rock/metal alternativo. Não é um álbum que agrada em um primeiro impacto. Pelo contrário: ele exige entrega e persistência. É um disco que se impõe como um quadro negro, sombrio, carregado, onde cada faixa é um traço é um borrão de dor, confissão e brutalidade emocional. Mas também é nesse breu que, aos poucos, pequenas frestas de luz surgem, afinal , sem escuridão, não há luz.

Essa densidade é, talvez, a característica mais marcante. Tudo aqui é pesado, mas não apenas no sentido sonoro: é emocionalmente carregado. As guitarras têm peso, sim, mas não há riffs cavalgados típicos de um metal mais tradicional. Há sim uma lama sonora que remete ao stoner metal, ao sludge, ao metalcore mais atmosférico.

Faixas como "Straw' Dog" e "Enemy That Never Was" marcam bem o território nessa estética. A primeira alterna dedilhados e explosões como quem respira entre crises. A segunda começa suave e afunda o ouvinte em uma avalanche de guitarras abertas, até que os gritos rompem tudo como a expulsão dos demônios internos — vocais que não apenas expulsam, lavam a alma de traumas.

E é essa honestidade que torna o disco tão interessante. “Worldless” e “Death is Listening” demonstram que esse “diário” foi escrito à beira do colapso.

“Ainda não consigo decidir se estou ansiosamente esperando pela morte ou mortalmente com medo dela. Depende do segundo.”

Musicalmente, o FALSE GODS soa como um monstro de várias cabeças: há ecos de Crowbar, Nirvana, Incubus, algo de Doom metal ( as passagens carregadas), linhas psicodélicas e até Killing Joke.

E é justamente por isso que, ao longo da audição, você vai se acostumando com aquele peso, mergulhando naquele universo sombrio até entender que ele também guarda beleza. O disco começa como um lamento e termina como uma espécie de libertação. É uma descida ao inferno pessoal que, ao fim, revela alguma forma de salvação.

Lost in Darkness and Distance” não é um disco fácil, é um processo. E no fim desse processo, talvez você também veja a luz.

William Ribas






VADER - BLACK TO THE BLIND (1997/2025) - RELANÇAMENTO

 


VADER
BLACK TO THE BLIND (1997/2025)
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Em um cenário onde muitos álbuns de death metal dos anos 90 ainda disputam espaço entre os clássicos indiscutíveis e os cults esquecidos, “Black To The Blind”, do Vader, ocupa uma posição curiosa: é brutal o suficiente para ser reverenciado por quem conhece, mas muitas vezes esquecido. Em 2025, com o relançamento remasterizado via Shinigami Records, desse verdadeiro míssel de destruição em massa, novos e velhos fãs têm uma nova chance de revistar o mais alto possível esse trabalho dos polonês.

Originalmente lançado em 1997, Black To The Blind é o terceiro álbum do Vader e marca um momento decisivo em sua discografia. Não há espaço para enfeites ou experimentalismos aqui. O álbum entrega 11 faixas em pouco menos de 28 minutos, em uma sequência de death metal no estado mais puro: riff atrás de riff, blast beats em profusão e uma aura de urgência que atravessa por todo tracklist.

A nova remasterização eleva os detalhes sem comprometer a “sujeira” do som original. As guitarras continuam afiadas como lâminas, mas com mais definição. A bateria já impressionante na mixagem original – ganha ainda mais força e clareza, com uma pegada que continua sendo referência em técnica e agressividade dentro do gênero.

Faixas como “Carnal”, “Fractal Light” e “True Names” revelam a capacidade do grupo de alternar agressividade absurda com passagens mais cadenciadas. A voz de Piotr Wiwczarek, como sempre, é uma âncora para o caos — grave, articulada e imponente. “Beast Rapping”, “Foetus God” e ”Distant Dream” parecem rajadas cirurgicamente posicionadas para atingir o ouvinte sem aviso prévio, sendo assim, “Black To The Blind” é direto, acertando em cheio ao mostrar uma banda no auge da precisão, dominando completamente a brutalidade.

Com a chegada desta edição remasterizada, você tem o dever de colocar o disco lado a lado com os maiores lançamentos do gênero.

Compre!

William Ribas