sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

JAVALI - LIFE IS A SONG (EP) (2019)


Muitas vezes nos deparamos, seja nas redes sociais, seja na mídia impressa, ou até mesmo em um bate papo com amigos, com declarações de que o rock feito no Brasil está mal, que não existem boas bandas, que o mercado está saturado e etc... Mas eu posso afirmar com a mais absoluta convicção que, se você compartilha dessa opinião, ou você não sabe o que é rock, ou está ouvindo as bandas erradas. Pois é impossível concordar com tal afirmação ao ouvir o trabalho do JAVALI, e por consequência, seu mais recente trabalho. Músicos extremamente técnicos e de raro talento, músicas compostas com conhecimento de causa e ótima produção fazem do EP "LIFE IS A SONG" um belo exemplo de como o rock praticado no Brasil é de excelente nível, mas não obtém o merecido reconhecimento...

Marcelo Frizzo (vocal e baixo), Jaeder Menossi (guitarra) e Loks Rasmussen (bateria) definem com perfeição a denominação "power trio". O grupo, que anteriormente chamava-se POP JAVALI, decidiu retirar o POP do nome e gravou este novo trabalho no Atmosphera Studios sob o comando de Ed Junior. A produção, no entanto, ficou sob a responsabilidade do próprio grupo, de André Costa e Thiago Bianchi, vocalista do Noturnall, este último, também responsável pela masterização e mixagem do EP. E podemos afirmar que tudo ficou no seu lugar, com o grupo mostrando uma maior personalidade, fugindo daquele estigma (errôneo, diga-se) de que sua sonoridade era muito próxima do Dr. Sin. Muito disso por causa das produções anteriores que foram realizadas pelos irmãos Busic. Acontece que o JAVALI sempre teve identidade própria, e isso restou claro neste ótimo CD que conta com 06 faixas regulares e mais uma bônus track.

"Runaway" abre o trabalho com uma pegada mais próxima do Hard, sem esquecer do peso (dentro da proposta do grupo). Bem estruturada, a composição traz um refrão de fácil assimilação, mostrando que não é necessário abusar da técnica para obter um resultado de ótimo nível. Falar da excelência dos músicos é chover no molhado, mas o que o guitarrista Jaeder está tocando, não é brincadeira... Preste atenção no solo e me diga se estou errado. Na sequência, "Empty Promises" traz um pouco mais de peso, muito dele proporcionado pela cozinha de Loks e Marcelo, que demonstram um entrosamento perfeito. Com uma levada mais moderna e um tanto quanto alternativa, a faixa se destaca também pelos riffs de Jaeder. "Singing Along" é uma "quase" balada, onde a guitarra segue como guia, deixando a bela melodia da composição totalmente livre para mostrar o lado mais "pop" do grupo.

"Child's Frustration" é outro momento pesado do trabalho. Por falar em peso, isso já era claro quando o grupo lançou o ao vivo "Live in Amsterdam" e isso acaba por refletir na hora das composições. Acredito que ao vivo o grupo deve soar ainda mais pesado. Um ponto que merece citação é o vocal de Marcelo que apesar de manter uma linha bastante melódica, em alguns momentos da faixa arrisca um gutural sem fazer feio! Em seguida "Cruel Past" é um mistura entre o Hard e o Heavy, onde o trio esbanja categoria, ainda mais na parte heavy da composição, onde o peso ganha doses maiores, destacando a performance da dupla Marcelo e Loks. "Dancing in the Fire" encerra a parte regular do EP, em outro momento Hard/Heavy de extremo bom gosto. Como bônus, temos a faixa "Read My Mind", que havia sido lançada em 2018. Mais "suja", a composição é um dos grandes destaques do ótimo trabalho.

LIFE IS A SONG é um trabalho que tem apenas um defeito a s er considerado: tratar-se  de um EP. O grupo merece muito mais destaque no cenário nacional. Não á toa, o JAVALI já possui reconhecimento lá fora, principalmente na Europa. Sendo assim, corra atrás e descubra os trabalhos anteriores da banda. Ou você vai continuar com aquela opinião furada lá do início do texto...

SERGIOMAR MENEZES 



segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

UGANGA - SERVUS (2019)


Com mais de 25 anos de carreira, um dos mais expressivos e relevantes grupos do rock pesado brasileiro lança seu 5º trabalho de estúdio. Após o excelente "Opressor" de 2014 e do DVD "Manifesto Cerrado" de 2017, o UGANGA lança o excepcional SERVUS, um trabalho carregado de peso e intensidade. A maturidade da banda fica visível, o que não é nada de extraordinário, visto que o grupo conta com músicos experientes, além de já ter tocado por quase todas as regiões do país, participando de importantes festivais e realizado duas turnês européias, somando 28 shows em 13 países. Turnês que deram origem ao ótimo "Eurocaos ao vivo", lançado em 2013.

Manu Henriques Joker (vocal), Christian Franco (guitarra), Thiago Soraggi (guitarra), Maurício "Murcego" Pergentino (guitarra), Raphael "Ras" Franco (baixo e vocal) e Marcos Henriques (bateria  e vocal) tiveram o financiamento para lançar o trabalho através de dois relevantes prêmios: o Wacken Foundation, organização alemã sem fins lucrativos idealizada em 2008 pelos produtores do Wacken Open Air - o maior festival de Heavy Metal do planeta - e também pelo Programa Municipal de Incentivo à Cultura (PMIC) de Uberlândia (MG) de onde o grupo é originário. Gravado no mesmo local que o álbum anterior, no estúdio Rock Lab em Goiânia/GO, o trabalho foi produzido por Gustavo Vazquez e pelo próprio Manu Joker, moldando de forma certeira a identidade do grupo que veio sendo construída nos dois trabalhos anteriores ("Vol.3: Caos Carma conceito - 2009 - e "Opressor" de 2014). A verdade é que SERVUS é um trabalho muito mais à frente que seus antecessores, pois buscou o ponto perfeito entre o Thrash e o Hardcore que permeiam a sonoridade básica da banda.

Repleto de participações especiais, SERVUS inicia com "Anno Domini", uma pequena intro, que nos prepara para a faixa título, um ótimo exemplo de como soar Thrashcore com identidade própria. Pesada e intensa, a faixa possui um andamento tipicamente Hardcore que ganha o peso das guitarras criando uma junção perfeita com o Thrash. Quanto às guitarras, cabe lembrar que Maurício gravou o álbum , mas foi substituído por Lucas "Carcaça". Na sequência, "Medo" traz um ´timo trabalho da cozinha composta por Raphael e Marcos, e mantém aquele híbrido Thrashcore, onde as guitarras pendem mais para o lado metal enquanto a cozinha se encarrega de encaixar a velocidade HC na composição. Manu Henriques entrega sua voz de forma segura e firme, ríspido em alguns momentos, mas perfeitamente dentro da proposta musical do sexteto. "O Abismo" conta com a participação do vocalista Casito Luz, da lendária banda WitchHammer, conterrânea da banda. Mais cadenciada, a faixa mantém uma maior proximidade como Thrash Metal. A produção soube valorizar muito bem o peso das guitarras, fugindo do lugar comum onde muitas bandas do estilo caem. "Dawn" é uma faixa mais lenta, uma espécie de balada, dentro dos parâmetros do grupo, enquanto as guitarras voltam a ditar o ritmo em "Hienas", que conta com a participação do grupo chileno de rap Lexico. A faixa, pesada, e que ganha velocidade em determinados momentos, é um dos grandes destaques do trabalho, que se mantém bastante homogêneo.

O Punk/HC assume o protagonismo em "7 Dedos (Seu Fim)", que conta com a participação do vocalista Renato BT, da banda John No Arms. Outro ótimo momento, onde a versatilidade dos músicos é o grande destaque. "Couro Cru" começa com o baixo na cara, e ganha velocidade, juntamente com os riffs tipicamente HC do trio de guitarristas do grupo. Com uma mudança de andamento durante sua execução, a composição apresenta características um pouco fora das usuais da banda, mas nem por isso, deixa de lado sua personalidade. E tome riffs metálicos em "Imerso", mais uma faixa que traz a influência mais pesada da banda, em especial de Black Sabbath. Prestem atenção nos riffs que surgem durante o desenrolar da composição e entenderam o que quero dizer. A porradaria volta à tona em "Lobotomia", e não teria como ser diferente, vide a letra extremamente crítica e sincera sobre um dos tantos momentos que vive o nosso país. Já "Fim de Festa" possui um acento mais "acessível", se é que dá pra dizer dessa forma. Destaque para as guitarras. Cabe destacar também a passagem quase atmosfera no meio da música, que nos deixa respirar um pouco. A cantora e dançarina pernambucana Flaira Ferro participa de "E.L.A." que também conta com a participação especial do vocalista Luiz Salgado. A faixa é totalmente voltada à brasilidade, com ênfase total na música regional. O encerramento vem com "depois de Hoje", uma faixa estranha, misteriosa e cercada de elementos espirituais, vide a participação especial do espiritualista Dr. Waldir.

SERVUS traz também uma belíssima capa, obra do artista Wendell Araújo, que já trabalhou com o ratos de Porão e Cólera. Segundo o próprio Manu Joker "A arte da capa e contracapa têm a ver com o atual momento pelo qual passa a humanidade". De forma geral, o trabalho todo em si traz essa forte reflexão. E o UGANGA soube transformar isso num trabalho de valor inquestionável!

SERGIOMAR MENEZES






  


GUILHERME COSTA - LIGHT OF REVELATIONS (2019)



Como é bom ouvir um álbum de guitarrista que, apesar da técnica apurada, decide usá-la a favor da música, deixando seu talento falar mais alto. E, diga-se de passagem, hoje em dia, isso é algo bastante raro. Felizmente, LIGHT OF REVELATIONS, primeiro full lenght do guitarrista mineiro GUILHERME COSTA enquadra-se nessa categoria. Amparado por composições fortes e bem estruturadas, o trabalho mostra que aquilo que o guitarrista havia apresentado em seu EP "The King's Last Speech" (2017) era apenas uma amostra da capacidade técnica e criativa do músico. Com uma produção que soube valorizar as composições em suas estruturas, o álbum vai agradar em cheio os fãs da boa música, seja no Hard Rock, Heavy Metal, Power Metal, ou em qualquer outra vertente do estilo.

O trabalho foi produzido pela dupla Gus Monsanto (ex-Adagio, Human Fortress) e Celo Oliveira. Gus também participou do álbum emprestando sua voz à algumas faixas, dando um brilho extra, vez que o vocalista possui um timbre bem peculiar, que passeia com sucesso entre o Hard e o Heavy,. enquanto Celo gravou os baixos do álbum. LIGHT OF REVELATIONS não se prende à limites durante sua execução, uma vez que GUILHERME COSTA apresenta versatilidade em sua maneira de tocar guitarra, o que faz do disco um trabalho agradável de se ouvir. Até mesmo as faixas instrumentais, que na maioria das vezes, servem para que os músicos tenham delírios ególatras, se deixam levar unicamente pela musicalidade, provando mais uma vez que a música fala mais alto!

"Fight Against Myself" abre o CD e conta com os vocais de Gus Monsanto, e posso afirmar sem medo de errar, que é o grande momento do álbum. com uma sonoridade baseada no grunge, a música é muito mas que isso, pois temos uma levada hard/heavy em sua execução, ainda mais acentuada pelos vocais de Gus. Pesada na medida certa, a composição baseia-se em uma pessoa que trata de um conflito interno devido as suas próprias cobranças. O belo solo de Guilherme complementa a música de forma precisa. "Bloody Wars" é uma faixa instrumental que traz consigo um lado mais power metal, lembrando um pouco os trabalhos de Joe Satriani. Lembrando que Guilherme  diz ter como influência nomes como David Gilmour, Marty Friedman e Steve Lukather. A balada "Inside My Mind" traz elementos do blues e do fusion, remetendo ao trabalho solo de Ritchie Kotzen, o que é algo digno de elogios. "Rising Star" traz os vocais de Jeferson Gonçalves nos versos e de Gus Monsanto nas pontes e refrãos. Com uma pegada poprock anos 90, a faixa traz uma letra inspirada no que aconteceu com o cachorro que foi espancado pelo segurança de um supermercado e nos leva à reflexão de como está nossa convivência com os animais. 

"The Sound of Hope" é influenciada pelo hard rock dos anos 70 e 80 e traz como fonte de inspiração nomes como Paul Gilbert, Slash, Joe Perry, John Sykes e Marty Friedman, enquanto que "An Invitation to the Soul" é um belo tema acústico tocado ao violão. A faixa título também conta com a participação de Gus Monsanto nos vocais e traz uma linha totalmente Power Metal, voltada ao melódico, muito próxima daquilo que bandas como Stratovarius, Angra (fase Edu Falaschi) e Sonata Arctica têm feito. Gus esbanja categoria, mostrando-se um excelente vocalista, enquanto Guilherme, novamente, apresenta versatilidade, viajando por diversos estilos sem precisar de muito esforço. "Homeland" encerra o álbum mostrando uma faceta totalmente inesperada, pois traz inspiração na música brasileira, em especial o baião (do mestre Luiz Gonzaga) e incorpora em determinadas passagens uma pegada mais pesada, quase Thrash.

O álbum traz ainda, como bônus, as três faixas presentes em "The King's Last Speech": "Come Out and Play", com aquela boa e velha influência de Satriani, "The Beggining of a Journey", uma balada bem estruturada e a faixa-título, mais voltada ao hard/power metal. Nessas três faixas, a produção fica um pouco aquém da que é apresentada nas faixas regulares do trabalho, algo normal, visto que se trata de trabalhos independentes.

LIGHT OF REVELATIONS é um belo trabalho, mostrando que GUILHERME COSTA, muito antes de ser um guitarrista, é um músico, no sentido literal da palavra, vez que coloca sempre a música e o sentimento à frente da técnica. Se prosseguir nessa direção, sua guitarra será muito conhecida mundo à fora...

SERGIOMAR MENEZES



quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

DARK TOWER - OBEDIENTIA (2019)


Eu, por mais incrível que isso possa parecer, ainda me impressiono como algumas bandas brasileiras apresentam qualidade muito superior a muitas bandas estrangeiras e, mesmo assim, continuam preteridas por grande parte do público. Isso fica ainda mais explícito ao ouvirmos um trabalho de extrema qualidade como OBEDIENTIA, mais recente trabalho do grupo carioca DARK TOWER. Uma banda altamente profissional, seja pela música que apresenta, seja pela forma como vem a divulgar seu trabalho. Se você acha que isso deveria ser a regra, não sabe o nível de alguns trabalhos que recebo... Mas, voltando ao que realmente interessa, a mistura de Black e Death Metal, aliados ao Heavy Metal Tradicional, fazem deste trabalho um álbum para ser ouvido diversas vezes para ser completamente compreendido. Quero dizer que se trata de um trabalho difícil? Não, muito pelo contrário! Logo na primeira audição já é possível assimilarmos todo o poderio do quinteto. Mas a verdade é que a cada nova audição, novos detalhes surgem, o que torna tudo ainda mais espetacular!

Formado por Flávio Gonçalves (vocal), Raphael Casotto (guitarra), Rafael Morais (guitarra), Rodolfo Pereira (baixo e vocais) e Rômulo Grilo (bateria), o grupo traz em OBEDIENTIA uma mistura perfeita entre a ...Of Chaos and Ascension (álbum de estréia de 2013) e a brutalidade e peso do espetacular Eight Spears (segundo álbum, de 2016). Produzido pela própria banda e por Rômulo Pirozzi, que também gravou algumas guitarras adicionais, o trabalho foi mixado pelo próprio Rômulo no PYROZ (RJ) e masterizado por George Bokos na Grécia. E o resultado final é primoroso, pois todo peso e agressividade da banda permaneceram intactos dentro de uma produção cristalina, que soube deixar tudo em seu devido lugar. Duvida? escute com atenção para entender o que quero dizer... O trabalho, segundo a própria banda, é um manifesto contra a onda de obediência cega que assola a sociedade nos dias atuais, falando de todo tipo de libertação e rebeldia, sejam elas espirituais, culturais, sexuais e filosóficas.

"Punishment" é uma bela introdução, um dedilhado com uma atmosfera de suspense, que nos prepara para o primeiro petardo, a espetacular "Downfall". Uma composição carregada de peso e brutalidade, com destaque para o trabalho de guitarras da dupla Raphael e Rafael, que trazem em sua musicalidade não apenas o lado mais brutal e denso do Heavy Metal, mas também, aquela aura tradicional tão cara aos músicos do estilo. Os vocais de Flávio e Rodolfo, também baixista, primam pela agressividade, criando um contraste entre as duas vozes. "God Above Nothing" (título sintomático, não), é outro belo exemplo de como uma banda pode ser brutal sem que deixe de lado a técnica e melodia. Impressiona o nível de excelência nos riffs criados pelos guitarristas, pois como citado anteriormente, percebe-se que buscam fugir do lugar comum, sem se prender as amarras impostas pelo estilo. "Highland Ceremony" é outra intro que antecede "Winged Snake's Communion", uma faixa mais cadenciada, trazendo uma aproximação com o Thrash Metal, o que traduz de forma convincente a versatilidade da banda na hora de compôr e executar suas faixas.

"Praxis Against Ignorance" carrega os elementos do Black Metal de forma discreta, evidenciando a melodia, de forma bastante instigante, forçando o ouvinte a viajar na sonoridade apresentada aqui pelo quinteto. Muito mais próxima do metal tradicional, a composição é um dos destaques do trabalho. Mas a faixa título... Ah, que baita música! Seu início remete ao metal tradicional, mas logo em seguida o death/black tomam conta da composição, transformando esse no melhor momento do trabalho (que é de altíssimo nível). As guitarras pesadas e ríspídas ganham o auxílio primordial da cozinha, que agregou ainda mais peso á faixa, enquanto Flávio vocifera como se estivesse numa guerra verbal contra as atrocidades do mundo. Repito: que música sensacional! Uma pegada mais thrash é o que temos em "Rites of Conscience", com seu andamento mais cadenciado e carregado de agressividade, onde o destaque é o baterista Rômulo. "The Carnal Splendour" é outra faixa grandiosa, com orquestrações muito bem arranjadas e executadas, essas realizadas pelo produtor Rômulo e pelo baixista Rodolfo. O encerramento se dá com "... As the Obedients Marches to the Abyss", que é muito mais do que uma simples outro, visto que possui mais de 2 minutos de belas passagens, que fecham esse trabalho de forma magistral.

OBEDIENTIA é um álbum complexo, mas ao mesmo tempo, fácil de ser ouvido. E digo isso porque é um trabalho que pode, e deve, ser apreciado por todo fã de Heavy Metal. Por mais que uma declaração dessas possa soar piegas, dá orgulho dizer que uma banda como o DARK TOWER é brasileira. Só falta um maior reconhecimento por parte do público...

SERGIOMAR MENEZES




DESTRUCTION - "BORN TO PERISH" (2019)


Quando se fala em THRASH METAL, é impossível não lembrar da lenda DESTRUCTION, uma das maiores bandas do estilo em todos os tempos. E, mais uma vez, a máquina alemã de moer ossos está de volta com um álbum violento, pesado e agressivo, como todo bom disco de Thrash Metal deve ser. "BORN TO PERISH" traz dez faias regulares, mais uma bônus track, onde o agora quarteto destila toda sua fúria, mostrando que a idade parece não pesar pra quem traz o estilo nas veias. Lançado por aqui pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast, o CD apresenta aquilo tudo que sempre esperamos do grupo: músicas velozes, intensas e aressivas!

Schmier (baixo e vocal), Mike Sifringer (guitarra), Damir Eskic (guitarra) e o monstro Randy Black (bateria, ex- Primal Fear, ex- Annihilator, entre outros), gravaram o álbum de janeiro a março de 2019 no Little Creek Studio, na Suíça, país natal do guitarrista Damir, sob a responsabilidade de VO Pulver (guitarrista da banda PANZER, da qual Schmier também faz parte). E o que já se mostra perceptível logo de cara é o trabalho de guitarras, vez que agora, o grupo faz uso de duas, e estas estão devidamente bem delineadas no álbum. Segundo o próprio Schmier, a intenção da banda era criar uma parede maçiça de guitarras. E o intento atingiu seu objetivo!

A faixa título já deixa essa intenção bem nítida com um peso absurdo, como poucas vezes o grupo já havia demonstrado. Para abrilhantar ainda mais, a técnica apurada de Randy Black conseguiu se adaptar perfeitamente ao estilo mais direto e ríspido do grupo. E o que dizer dos riffs insanos de Mike, um dos maiores riffmakers da história do Thrash? Em "Inspired by Death", Damir mostra serviço, ao dividir com Mike as palhetadas certeiras que a faixa impõe. Com pequenas doses de metal tradicional, a faixa carrega uma aura mais voltada ao Thrash básico, mesmo que Schmier siga rasgando tudo que vier pela frente com sua voz. Já "Betrayal" é mais uma aula de Thrash Metal germânico, com riffs agressivos, uma coisa coesa e entrosada (e não teria como ser diferente, afinal estamos falando de músicos experientes na cena), e uma linha vocal à moda antiga. E haja pescoço para acompanhar "Rotten", uma faixa repleta de paradinhas, mas com um andamento mais cadenciado, perfeita para o headbanging. "Filthy Wealth" traz a velocidade e brutalidade de volta, numa perfeita junção do thrash 80's com o atual, mostrando mais uma vez que a banda sempre foi e continua sendo relevante dentro do cenário.

"Butchered for Life" começa suave, de forma melódica, beirando aquilo que poderíamos chamar de balada, mas que na sequência, ganha peso e intensidade, trazendo um dos melhores momentos do disco! E mais uma vez, Mike se destaca! É incrível a capacidade de criar riffs sensacionais desse senhor! E o Thrash segue imperando como se fosse um soco na boca do estômago em "Tyrants of the Netherworld"! O mesmo deve ser dito de "We Breed Evil"! Que belo petardo THRASH! Já "Fatal Flight 17", Schmier conta uma história pessoal, além de fazer uma homenagem á um de seus heróis, o grande Gary Moore. "Ratcher" traz uma verdadeira aula de bateria, onde Randy Balck mostra como peso, técnica, velocidade e entrega À música devem ser empregados dentro de uma composição. O encerramento vem com a faixa bônus "Hellbound" cover do Tygers of Pan Tang, um dos grandes expoentes da NWOBHM e que ficou, apesar de manter a essência da composição, com a cara do Destruction!

BORN TO PERISH é o 14° álbum de estúdio do grupo e mostra que por mais que as modas ditem as tendências do mercado, o verdadeiro THRASH METAL segue seu caminho, firme e forte, sem se render aos preceitos impostos pelo mercado. E muito disso se deve ao DESTRUCTION! THRASH RULES!

SERGIOMAR MENEZES