quarta-feira, 22 de outubro de 2025

SOULFLY - CHAMA (2025)

 


SOULFLY
CHAMA
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O 13º capítulo do Soulfly é o som do fogo vivo do metal — e Max, mais uma vez, prova que ainda é ele quem mantém a chama acesa. É indiscutível sua importância para a música pesada brasileira. Pra mim? O maior nome — e o tempo, junto de cada novo momento de sua vida, só prova mais e mais isso.

Há discos que queimam como brasas… e há aqueles que incendeiam tudo ao redor. “CHAMA” é exatamente isso: um trabalho em combustão constante, caos em estado puro. Um disco que retorna ao coração do vulcão criativo que move Cavalera desde o início. O resultado é uma obra feroz, vibrante e ancestral — um grito que vem das entranhas da Terra, das favelas e das florestas, ecoando até os palcos do mundo.

O som do disco é uma mistura perfeita entre os primórdios do Sepultura (cru, ríspido e old school) e o lado tribal, percussivo e místico dos primeiros passos do Soulfly. Temos o groove tribal dos primeiros anos, algo entre “Prophecy”. O peso direto de “Conquer”, “Enslaved” e “Totem” e a sujeira industrial de “Nailbomb”. Tudo junto, em uma produção viva e orgânica. Max revisitou o punk e o caos com o Go Ahead and Die, regravou clássicos do Sepultura e reafirmou o vínculo quase espiritual que tem com sua própria história. O novo álbum do Soulfly não é uma volta ao início — é um reencontro entre dois passados.

Max sempre teve esse “lance família” e a presença constante de amigos no Soulfly. Essa camaradagem, que transformou dor em energia e música em rito desde o pontapé inicial, continua sendo um dos mandamentos sagrados da banda. Produzido por Zyon Cavalera, dá pra sentir a conexão entre pai e filho em cada batida, em cada riff. O som é cru, quente, vivo — uma chama que consome durante as 10 faixas.

Zyon, que já está há alguns anos na banda, mostra aqui um crescimento impressionante. Quando precisa sentar a mão, com viradas precisas e linhas cheias de pegada, o garoto tem todas as cartas na manga e imprime uma criatividade surreal — entregando, sem dúvida, o melhor trabalho de bateria da discografia do Soulfly.

Desde a abertura com “Indigenous Inquisition”, o ouvinte é lançado num cenário de percussões tribais e ruídos industriais que lembram os tempos de “Primitive”, mas com uma fúria mais espiritualizada. Max invoca nomes de tribos extintas e transforma o lamento em resistência. É o início perfeito para o que vem a seguir.
“Storm The Gates” chega como um soco na “fuça” — uma avalanche de groove, thrash e energia primitiva. É o Soulfly em sua forma mais pura, com riffs colossais, batidas hipnóticas e aquela sensação de que a selva está viva dentro do som.

A mixagem suja e analógica é como um golpe certeiro, trazendo ainda mais impacto e brutalidade às músicas. Um detalhe importante: os batuques estão lá para completar o todo, não para dominar as faixas. Se o ritmo tribal combina, ele entra — se não, não há necessidade. É equilíbrio, não vício.

Em “Nihilist”, com participação de Todd Jones (Nails), o caos toma o controle. A música começa rápida e brutal, mas depois desacelera, tornando-se ainda mais pesada — como um tanque passando por cima de tudo.
Logo vem “No Pain = No Power”, com Dino Cazares (Fear Factory), que adiciona uma pegada industrial e mecânica grudenta. Os vocais alternam entre gritos e melodia, e o refrão é hipnotizante, um mantra a ser repetido.
Na sequência, “Ghenna” traz Michael Amott (Arch Enemy) em um solo espetacular, transformando a faixa em um redemoinho técnico e melódico que equilibra destruição e beleza em doses perfeitas.

“Black Hole Scum” é pura agressividade — distorções, ruídos e compressores no limite. É o som de um colapso controlado, uma muralha de peso que arrasta tudo. E quando parece que não há mais fôlego, surge “Favela – Dystopia”, escrita com Igor Amadeus Cavalera: um tributo furioso à vida dura das ruas brasileiras. É como se Nailbomb e Slayer se “trombassem” na quebrada — e o resultado é uma destruição devastadora.

“Always Was, Always Will Be” mergulha num clima sombrio e psicodélico, cheio de sussurros e transições imprevisíveis, preparando o terreno para “Soulfly XIII”, o tradicional momento instrumental da banda. Introspectiva e ritualística, a faixa é como um breve respiro antes do fim — a alma livre de Max Cavalera, com fé e propósito.

E então vem a faixa-título — um encerramento poderoso, que começa com pura brutalidade, uma overdose de riffs, e termina em clima quase transcendental. Zyon dá show nos minutos finais.
É o fogo virando luz. É a essência de Max — profeta do caos.

O disco não tenta reinventar a roda; ele reafirma o que o Soulfly sempre foi: um elo entre o sagrado e o brutal, entre a terra e o aço. “CHAMA” é um lembrete de que o fogo de Max Cavalera ainda queima com a mesma intensidade de quando ele mudou o metal nos anos 80. É música como arma, como cura e como espírito.

Ardente. Instintivo. Espiritual. Brutal.

William Ribas




EXKIL - VIOLENCE PREVAILS (2025)

 


EXKIL
VIOLENCE PREVAILS
Independente - Nacional

Quando uma banda jovem decide lançar o primeiro álbum completo, o risco é grande: cair na repetição ou se perder entre a nostalgia. O Exkil, de Piracicaba/SP, não apenas evita essas armadilhas — ela as destrói.
Com “Violence Prevails”, o grupo entrega um trabalho que é mais do que um pontapé poderoso e certeiro: é uma voadora escancarando a porta, um soco na mesa e uma prova de que o metal pesado brasileiro ainda pode surpreender com identidade.

Formado em 2021 por Daniel Ferrante (vocal e guitarra), Gabriel Bunho (guitarra), Evandro Tapia (baixo) e Evandro Kandalaft (bateria), o Exkil consolida seu som — coeso, robusto e moderno — sem abrir mão da essência old school que molda a alma da banda.
A produção é densa e agressiva na medida certa, sustentando o caos com precisão cirúrgica.

A jornada começa de forma cinematográfica, com “Oblivion”, uma abertura instrumental que mergulha o ouvinte em um clima sombrio. E então, “Drive You Nuts” explode como um tiro — energia crua, pura adrenalina, perfeita para detonar em cima do palco.
A faixa-título chega como um grande hino: groove destrutivo, refrão poderoso e uma crítica direta à manipulação e às fake news que alimentam nossa realidade atual.
Em “Titans Rising”, a participação de Marcello Pompeu (Korzus) amplifica o impacto — e a bateria de Kandalaft soa como uma metralhadora. O relato de um soldado enlouquecido pela guerra, narrado com peso e fúria, carrega uma intensidade ímpar.

“Blood Fueled Desires” e “Intoxicate” expandem o território, misturando brutalidade moderna, blast beats e variações rítmicas que remetem a nomes como Havok e Evile, mas com um DNA inconfundivelmente brasileiro — quente, direto e impiedoso.
“Nothing Shall Remain” traz maturidade: riffs frenéticos e uma linha instrumental implacável que remete à fúria de World Painted Blood e Repentless, do Slayer.
“For The Frightened” mergulha o som da banda em um caos absoluto, guiado pelas cicatrizes psicológicas deixadas pela guerra.

O trio final é surpreendente. “Mistreat” revela o narcisismo autodestrutivo; “Reckoning” marca o ponto de virada — o confronto do indivíduo com seu arrependimento; e o encerramento com “Lies” é simbólico e cortante — mentiras repetidas até virarem verdades.
É o fecho perfeito para um álbum que não foge da crítica nem do desconforto — e que mostra o lado mais surpreendente de uma banda que “acabou de nascer”.

Enquanto o início, para a maioria, seria de homenagens aos heróis que estão nos pôsteres, o Exkil pisa fundo no acelerador, imprimindo personalidade em um disco que não apenas impressiona — ele mostra que a violência prevalece em seus 52 minutos de duração.

Como diria o saudoso narrador Silvio Luiz:
“É mais um gol brasileiro, meu povo!”

William Ribas




VOLÚPIA - DEJA-VÚ (2025)

 


VOLÚPIA
DEJA-VÚ
Independente - Nacional

Imagine-se no ano de 1984, no meio do “boom” do Heavy Metal, e aqui no Brasil, mais especificamente na cidade Porto Alegre – RS, você montar uma banda com alguns amigos, criar músicas próprias e inclusive conseguir gravar uma faixa em LP numa coletânea de bandas locais. Mas daí, pelas responsabilidades da “vida adulta” e não poder viver do “sonho metálico”, a banda se desfaz em 1989.

Mas às vezes o destino prepara uma segunda chance e o Volúpia retornou às atividades em 2016, com a mesma vontade de décadas atrás. A formação contando com três membros originais: Cesar “Five” Louis (bateria), Ricardo Lampert (baixo) e Marco Canto (vocal). Completa o time o guitarrista Luciano Reis. Após uma série de shows muito bem recebidos, inclusive com uma nova geração de fãs, chegou a hora de produzir o tão sonhado álbum

Déjà-vu” , lançado agora em Outubro de 2025, é um álbum feito sob medida para quem gosta de Heavy Metal /Hard Rock de qualidade e na sua forma mais pura. O que logo salta aos olhos é a qualidade da produção, onde a parte das cordas e vozes ficaram à cargo do guitarrista Luciano Reis, no estúdio Casa dos Gatos, enquanto as baterias foram gravadas no estúdio Green e a mixagem final no LST Records com Lucas Santorum, resultando um trabalho cristalino onde se destacam todos os instrumentos.

As letras em português, tratam de temas do cotidiano, e mesmo tendo mais de trinta e cinco anos a maioria delas, ainda soam atuais, como é o exemplo de “Poderes e Forças”. O álbum abre com uma introdução que leva o nome do álbum, uma bela faixa de teclados, aqui gravados por Gabriel Cardoso, que também participa das faixas “Noite” e “Brilho de Luz”. “Rebelião” é aquela faixa de Heavy Metal clássico, com um contagiante riff de guitarra que nos remete ao Iron Maiden. A já citada “Poderes e Forças” algo de Dio solo, enquanto “Brilho de Luz” mais melódica e com um grande trabalho vocal de Marco Canto, se aproxima das melhores faixas do Dokken.

“Louca Juventude” mostra muita influência do Black Sabbath fase Dio. "A Noite” vem também numa pegada bem Hard Rock oitentista, com um solo espetacular de Luciano Reis. Já “Lembranças” tem uma levada meio KISS anos 80, uma excelente faixa. “Adrenalina” é a faixa que fecha o trabalho, e é a música mais recente, que foi composta especialmente para o álbum. Nela temos a participação do guitarrista Carlos Panzenhagem (ex-Barata Oriental).

O pacote completo fecha com a excelente arte da capa, criada por Rômulo Dias. Nela vemos um cara com aspecto já “senhoril”, se olhando no espelho e enxergando o seu eu do passado, jovem e ainda cabeludo. Retratando muito o sentimento da banda Volúpia e do seu “Déjà-Vu” . Um álbum excelente que deve ser apreciado por todos que apreciam o Heavy Metal/Hard Rock feito com alma e coração. Procure os perfis da banda no Instagram e Facebook e solicite a sua cópia. Garanto que vale muito!

José Henrique Godoy






EXODUS - "BONDED BY BLOOD - 40th ANNIVERSARY" - 09/10/2025 - CARIOCA CLUB - SÃO PAULO/SP


 

EXODUS
"BONDED BY BLOOD - 40TH ANNIVERSARY"
Abertura: THROW ME TO THE WOLVES
CARIOCA CLUB
09/20/2025
SÃO PAULO/SP

Texto e fotos: William Ribas


Muitas vezes escrevi em resenhas de shows a expressão “A Night to Remember”. E, de fato, há momentos em que estar diante de bandas que marcaram a nossa adolescência faz tudo se tornar inesquecível. Na fria noite de quinta-feira, 9 de outubro de 2025, o Carioca Club encarnou um pouco da essência do excelente filme Rock Star — aquele toque de "dreams come true" que faz o impossível parecer real.

Um show do Exodus, seja comemorando o aniversário de um álbum, seja apenas “passando” pelo Brasil, já é motivo suficiente para deixar qualquer fã sorrindo de orelha a orelha. Mas o anúncio de que Bonded by Blood seria executado na íntegra transformou tudo em um verdadeiro dever cívico para todos. Ainda mais com Rob Dukes de volta aos vocais — um velho chapa de todos, que, inclusive, detonou na regravação do álbum em 2008.

Resultado: casa lotada — ou melhor dizendo, abarrotada.

Bares cheios, metal rolando nos alto-falantes — o lado de fora já transbordava magia. Pouco antes das 19h50, era hora de entrar e prestigiar a banda de abertura. Confesso que, na minha mente, o Throw Me to the Wolves tinha uma tarefa árdua pela frente. Mas bastaram cinco segundos da banda no palco para que eles já tivessem o campo completamente dominado.

Diogo Nunes (vocal), Gui Calegari (guitarra), Fabrício Fernandes (guitarra), Fábio Fulini (baixo) e Maycon Avelino (bateria) desfilaram um death metal melódico com algumas pitadas de metalcore por pouco mais de 30 minutos. O quinteto possui uma massa sonora impressionante — a abertura com “Chaos” (não existe palavra mais apropriada para esta noite, diga-se de passagem) já mostrou a que vieram.

O primeiro impacto é ver Maycon destruindo o kit de bateria com precisão e fúria — o cara simplesmente não tem dó. O segundo é perceber como, ao vivo, o equilíbrio entre a brutalidade do death metal e as passagens melódicas é fascinante. A sequência com “Tartarus”, “Days of Retribution” e “Fragments” prendeu o público, que, mesmo diante de uma nova descoberta (acredito que para a maioria presente), batia cabeça e aplaudia com entusiasmo a cada final de música, mostrando total apoio.

Diogo é um vocalista inquieto, um frontman completo — berra, domina o palco e sabe como trazer os fãs para perto. O encerramento com “An Hour of Wolves” e “Gaia” deixou um saldo mais que positivo, consolidando o nome do Throw Me to the Wolves como uma das grandes revelações do metal nacional.


Hora dos roadies, dos backdrops sendo trocados e da ansiedade tomando conta — afinal, estávamos prestes a ter mais uma lição de violência. Quando o pano com os gêmeos ao fundo se ergueu, foi inevitável não voltar no tempo. E, junto disso, o pensamento em um grande amigo que não pôde estar no show — e nossa eterna discussão: “Bonded by Blood ou Let There Be Blood?” Qual é o melhor? Fico sempre com a segunda opção (risos).

Para amplificar ainda mais a nostalgia, a intro veio com os discursos de Paul Baloff — o eterno grito de guerra contra os falsos: “Death to posers!” Toda a incitação ao thrash metal e ao caos ecoava como um chamado ancestral. Uma tempestade de riffs chegou com a agressividade da faixa-título, e acredito que o refrão deve ter sido escutado a quilômetros de distância.

O Exodus vinha desfalcado — o baixista Jack Gibson teve que retornar aos Estados Unidos por problemas familiares. E, como deve ser, família em primeiro lugar. As primeiras cinco músicas do set foram tocadas por Steve Brogden, cuja presença de palco combinou perfeitamente com a linha de frente da banda. Aliás, Lee Altus, Gary Holt e Dukes são verdadeiros maníacos no palco. Não há um único segundo em que o trio não provoque os fãs a abrirem rodas. “Exodus”, “And Then There Were None”, “A Lesson in Violence” e “Metal Command” foram tocadas com uma agressividade pura.


Tom Hunting, a cada ano que passa, fica mais velho — e mais absurdo também. Carismático e brutal. A turnê se chama 40 Years of Blood, mas nem por isso outros momentos seriam ignorados. “Iconoclasm” chegou como uma grata surpresa — e, junto dela, um dos momentos mais incríveis da noite.

Na falta de Gibson, o Exodus resolveu chamar, além de Steve, o baixista Gerson Polo — integrante do cover oficial da banda no Brasil, o Funeral Blood — e o cara detonou!

A clássica “Blacklist” manteve o ambiente hostil: rodas, pessoas passando por cima, braços erguidos — inclusive, a música trouxe um momento descontraído, enquanto Gary tomava sua cerveja (sem álcool), Dukes mantinha as palhetadas e Steve surgia para conduzir as notas no braço da guitarra. Depois de subir algumas décadas, veio novamente o lado jurássico: “Fabulous Disaster” (que surpresa maravilhosa, hein!). O lado mais melódico e calmo dos dedilhados iniciais de Holt em “No Love”, em certa parte, trouxe alguns minutos de “paz” — obviamente, não durou muito. “Deliver Us to Evil” mostrou que Dukes e Lee não queriam ver a adrenalina baixar; muito pelo contrário — a cada pedido de rodas, mais próximos do inferno nos encontrávamos.


A energia estava tão alta que foi preciso chamar seguranças à frente do palco para evitar problemas. A noite era de clássicos, certo? Então “Piranha” veio com mais surpresas: o vocalista Fábio Seterval, também do Funeral Blood, dividiu os vocais com Rob Dukes. Nos aproximávamos do final com “Brain Dead”, “Impaler” (essa levantou até defunto) e a “valsa tóxica”.

Quem já presenciou os americanos outras vezes sabe que “The Toxic Waltz” traz consigo leves brincadeiras — como “Raining Blood” (Slayer) e “Motorbreath” (Metallica). Ela é perfeita para ser o pontapé do momento que todos ali ansiavam: “Strike of the Beast”.

E então, o caos se instaurou de vez. O refrão ecoava como uma sentença:

Time to run or fight
Off the strike of the beast
If you fail you'll be
The hellish demon's feast

A catarse final de uma noite que beirou a insanidade. O Exodus entregou o que todos esperavam: velocidade, brutalidade e uma conexão quase tribal com seus fãs.

Ao fim, o cansaço e as dores pelo corpo mostravam o que todos sabíamos: havíamos testemunhado mais do que um show. Foi um ritual. Uma celebração ao thrash metal, a Paul Baloff, Zetro Souza e a todo o legado do Exodus — em seu estado mais puro.


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

MICHAEL SCHENKER GROUP - DON'T SELL YOUR SOUL (2025)

 


MICHAEL SCHENKER GROUP
DON'T SELL YOUR SOUL
earMusic - Importado

SCHENKER IS GOD! A resenha poderia acabar por aqui e não teríamos nenhum problema pois a verdade já estaria escrita. No entanto, o mestre Michael Schenker decidiu, após o espetacular "My Years with UFO", gravar mais um trabalho e dessa vez com o seu MSG (MICHAEL SCHENKER GROUP) e nos traz 11 composições onde a classe e o talento se encontram de forma sublime. Mas isso não é novidade, pois estamos falando daquele que talvez seja (na opinião desse que vos escreve, é) o maior guitarrista alemão de todos os tempos. DON'T SELL YOU SOUL é o título do álbum e a faixa que dá nome ao trabalho foi apresentada pela primeira vez no último Wacken Open Air. Schenker parece incansável, e mais uma vez cercado por excelentes instrumentistas, com destaque para o excepcional Erik Grönwall (ex-Skid Row), nos brinda com um álbum que promete ser a segunda parte de uma trilogia iniciada no trabalho anterior. E parece que resgatar seus principais momento com seu antigo grupo, o alemão conseguiu resgatar nesse trabalho aquela aura 70's que tão poucos artistas conseguem reproduzir sem soar forçado.

Schenker está acompanhado pelo já citado Erik, Steve Mann (guitarra e teclados), Barend Courbois (baixo) e Bodo Schopf (bateria). Mas temos também participações especiais dos vocalistas Robin McAuley (companheiro de longa data de Schenker), Roberto Dimitri "Lia" Liapakis e Michael Voss, sendo que este último, dividiu também a produção com o guitarrista. Não é preciso dizer que tudo está no lugar, que todos instrumentos estão impecáveis e que tudo soa limpo e cristalino. Só que se isso causa a impressão de que a produção está limpa, pasteurizada demais... pode esquecer. As guitarras soam como devem soar, pesadas, intensas e cheias de felling, algo que é marca registrada de Schenker, que obviamente, desfila sua classe e elegância ao longo das onze faixas que compõem o trabalho.

A faixa título abre o álbum e logo de cara podemos sentir aquela atmosfera tipicamente anos 70, com riffs e baixo galopantes e uma melodia simples e eficiente, enquanto a cozinha composta por Barend e Bodo mostram que experiência faz a diferença. Erik, por sua vez, navega por ondas diferentes, com vocais mais introspectivos, numa ótima performance. Já a segunda faixa, "Danger Zone", resgata as características comuns ao Hard/Heavy dos anos 80: levada marcada, guitarras com riffs certeiros e vocais bem encaixados. Schenker detona um solo muito bonito aqui, com toda personalidade que só um gênio poderia: simples, eficiente e melódico. "Eye of the Storm" traz a participação de RobinMcAuley é uma composição mais pesada, conduzida pelo baixo/bateria de forma consistente, enquanto McAuley empresta toda sua classe à faixa, que carrega consigo aquela clima "Into the Arena" (guardadas as devidas proporções). Um dos destaques do álbum! Baixo e guitarra iniciam num clima intimista "Janey the Fox", que se transforme em uma faixa simples e discreta, destoando um pouco das demais, ainda que os riffs sejam precisos e consistentes. Então temos "I Can't Stand Waiting", um classic rock típico, bem ao "way of play" de Schenker. Clima meio anos 80, melódica e passagens bem diversas mostram a classe e versatilidade do grupo de forma coesa.

"Sign of Times" é aquele "rockão classudo", que sempre está presente nos trabalhos do guitarrista. MichaelVoss assume os vocais que se encaixaram perfeitamente no andamento da faixa, em outro momento que Schenker nos lembra (como se fosse preciso) que no dream team das guitarras, é ele e mais dez! Na sequência, "The Chosen" traz uma atmosfera meio Rainbow dos anos 70, de forma mais sombria e até mesmo densa, ela ganha mais intensidade e velocidade do meio pro fim, com um solo eletrizante. E temos mais um "rockão" em "It's You", recheada de ótimos riffs, e que provavelmente é cantada por Liapakis, pois o timbre difere muito do de Erik e McAuley. Independente disso, a faixa transborda inspiração e é outro momento de destaque. Aliás, McAuley volta em "Sixtrings Shotgun", faixa que me lembrou um pouco Scorpions, seja pelo vocal, seja pelo andamento característico. E acredito que não seja preciso lembrar, mas vá lá: Schenker também empunhou as seis cordãs dos escorpiões, então... "Flesh and Bone" vem em seguida e nos mostra que o rock n' roll quando está no sangue, não há vacina, antídoto ou veneno que o tire! Que faixa sensacional! Um quê de AC/DC nos riffs, mas solos carregados de energia mostram que estamos diante de uma faixa que não pode ficar de fora dos próximos show! O encerramento vem com "Surrender", uma faixa veloz, intensa, quase um power metal! Mas segue a linha Hard/Heavy que sempre permeou a carreira do MSG. Um final digno de álbum de excelente nível.

DON'T SELL YOUR SOUL é a prova viva de MICHAEL SCHENKER tem ainda, muita, mas muita lenha pra queimar. Talento, classe e feeling não se compram em qualquer esquina ou farmácia. E o próprio título do álbum entrega: Não venda sua alma! Sim, não é necessário isso quando se tem o tal do Rock no sangue! Longa vida a MICHAEL SCHENKER!

Sergiomar Menezes