NASTY N' LOADED
DAY IS GONE
Independente - Nacional
Fazer Hard Rock/Heavy Metal no Brasil não é uma tarefa fácil. Quem vive isso no dia a dia sabe do que estou falando. Imagina fazer isso no Rio Grande do Sul, um Estado esquecido pelos governos que se sucedem, escanteado pelos próprios governantes e assolado por inúmeras catástrofes naturais. Complicado né? Agora, e se fosse dedicar sua vida e música a fazer isso no sul do RS, mais precisamente na cidade de Rio Grande, uma cidade histórica, mas ao mesmo tempo, abandonado por aqueles que deveriam zelar por ela? dá pra dizer que seria quase impossível, não é mesmo? Mas, felizmente, a NASTY N' LOADED surgiu em 2018 pra mostrar que quando o negócio tá no sangue, não tem dificuldade que impeça de mostrar serviço. E diga-se de passagem, que belo serviço! O segundo álbum do quinteto gaúcho, o ótimo DAY IS GONE, lançado mais uma vez de forma independente, é prova irrefutável de que a garra e o talento superam qualquer dificuldade imposta.
A banda hoje é formada por Miro Cheyenne (vocal), Maikão (guitarra solo), Primu Wills (guitarra - que entrou depois que o álbum já estava gravado), Vitor Pedrotti (baixo) e Leandro Sabbath (bateria) e mostra que seu Hard/Heavy só vem evoluindo a cada trabalho. Se no primeiro álbum, autointitulado, lançado em 2020 o grupo já passou seu recado de forma consistente, aqui, nos traz 12 faixas que dosam de forma equilibrada peso, melodia, guitarras nervosas e levadas tipicamente características, que fazem quem cada faixa se torne marcante. O trabalho de guitarra de Maikão é soberbo, pois vai do peso do Heavy a toda malícia e técnica do Hard com facilidade, enquanto a cozinha composta por Pedro e Leandro se encarrega de deixar tudo bem pesado. Os vocais de Miro se encaixam bem na proposta, pois tem um timbre bem pessoal, indo do rasgado ao mais simples sem esforço. E não se engane pela capa, ainda que num primeiro momento, algum desavisado possa pensar que se trata de algo na linha do Sabaton e afins. Sorte nossa que passa bem longe disso...
O álbum abre com riffs pesados e totalmente Heavy Metal com a excelente "Alone". Ótima escolha para abertura, vez que nos traz as características que acompanham a execução de todo trabalho. E digo uma coisa: esse é daqueles riffs que depois de você ouvir uma vez, não sai mais da cabeça! Leandro, por sua vez, capricha em viradas em um ótimo trampo de bateria. E esse é apenas o começo do disco... Em seguida, "Day is Gone", faixa que dá título ao álbum, vem na mesma linha, qual seja, pesada e numa levada Hard/Heavy caprichada, totalmente anos 80, mas com uma pegada bem atual. Mais uma vez, as guitarras se destacam e eu fico imaginando como a banda deve soar ao vivo agora com a entrada de Primu Wills na outra guitarra. E tome mais peso e riffs em "Flesh and Bone", uma daquelas faixas mais cadenciadas em que a voz de Miro se encaixa de forma perfeita, deixando a composição com uma pegada mais intensa. E o Hard Rock surge com força em "Shadows of the Night", outra faixa com uma levda anos 80, mas com uma pegada atual. E esse é um ponto interessante a se destacar: ainda que as influências do grupo nos remetam a década de ouro do estilo, a Nasty n' Loaded soa atual, sem medo de inovar em sua sonoridade. "I Need Your Love" me remeteu às guitarras que o Mötley Crüe, o Ratt e o Dokken nos presenteavam nos áureos tempos. Rápida e certeira, a faixa mostra que a banda sabe dosar a variedade no tracklist de forma correta sem que o álbum caia num lugar comum.
A bateria introduz "Living the Nasty Show", sem dúvida, uma das melhores faixas do trabalho! Que música foda, meus amigos! Com aquela pegada totalmente Hard 80's, é impossível não tocarmos aquela "air guitar" e banguear ao som desse riff! Escute e me diga se tenho ou não razão, e se por acaso você discordar, reveja seus conceitos... O peso retorna r com a intensa "Beggar and King", com seu andamento cadenciado e direto. E tome guitarras insanas e peso (sei que me torno repetitivo, mas é preciso salientar isso de forma consistente) em "Man in the Big River", outro momento onde o baixo e a bateria ditam intensidade da faixa. Se Pedro despeja peso nas quatro cordas, Leandro senta a mão sem dó na bateria, formando uma dupla coesa e entrosada. Por sua vez, "Queen of the Flies", nos carrega de volta aos anos 80 em outro momento de destaque, com as guitarras guiam a faixa, deixando o terreno livre pra Miro cantar em linha que formam um mix de Stephen Pearcy/Chris Boltendahl e Bobby "Blitz" Ellsworth. "Flowers of Sin", apesar dos bons momentos, fica um pouco abaixo das demais. Mas isso não a torna uma faixa mais "fraca", pois possui ótimos riffs, mas pra mim, parece que algo não encaixou. Longe de ser uma faixa dispensável, apenas não manteve o mesmo nível das demais, o que não acontece com "Taste of Blodd" e sua pegada Hard/Heavy. E o álbum fecha com "Angel of Fire", uma quase balada, que inicia de forma sutil e suave, mas investe em riffs carregados de energia. Um encerramento de alto nível para um trabalho excelente!
Apesar de todas a s dificuldades, a NASTY N' LOADED nos entrega um álbum muito, mas muito bom! Produção crua e pesada, riffs e mais riffs, cozinha coesa e entrosada e vocais cheios de energia. Um trabalho que deve e merece ser conhecido por todo fã de Hard/heavy no Brasil e exterior. Não é por nada não, mas DAY IS GONE entrou fácil pra lista de melhores de 2025...
Sergiomar Menezes