SOULFLY
CHAMA
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
CHAMA
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
O 13º capítulo do Soulfly é o som do fogo vivo do metal — e Max, mais uma vez, prova que ainda é ele quem mantém a chama acesa. É indiscutível sua importância para a música pesada brasileira. Pra mim? O maior nome — e o tempo, junto de cada novo momento de sua vida, só prova mais e mais isso.
Há discos que queimam como brasas… e há aqueles que incendeiam tudo ao redor. “CHAMA” é exatamente isso: um trabalho em combustão constante, caos em estado puro. Um disco que retorna ao coração do vulcão criativo que move Cavalera desde o início. O resultado é uma obra feroz, vibrante e ancestral — um grito que vem das entranhas da Terra, das favelas e das florestas, ecoando até os palcos do mundo.
O som do disco é uma mistura perfeita entre os primórdios do Sepultura (cru, ríspido e old school) e o lado tribal, percussivo e místico dos primeiros passos do Soulfly. Temos o groove tribal dos primeiros anos, algo entre “Prophecy”. O peso direto de “Conquer”, “Enslaved” e “Totem” e a sujeira industrial de “Nailbomb”. Tudo junto, em uma produção viva e orgânica. Max revisitou o punk e o caos com o Go Ahead and Die, regravou clássicos do Sepultura e reafirmou o vínculo quase espiritual que tem com sua própria história. O novo álbum do Soulfly não é uma volta ao início — é um reencontro entre dois passados.
Max sempre teve esse “lance família” e a presença constante de amigos no Soulfly. Essa camaradagem, que transformou dor em energia e música em rito desde o pontapé inicial, continua sendo um dos mandamentos sagrados da banda. Produzido por Zyon Cavalera, dá pra sentir a conexão entre pai e filho em cada batida, em cada riff. O som é cru, quente, vivo — uma chama que consome durante as 10 faixas.
Zyon, que já está há alguns anos na banda, mostra aqui um crescimento impressionante. Quando precisa sentar a mão, com viradas precisas e linhas cheias de pegada, o garoto tem todas as cartas na manga e imprime uma criatividade surreal — entregando, sem dúvida, o melhor trabalho de bateria da discografia do Soulfly.
Desde a abertura com “Indigenous Inquisition”, o ouvinte é lançado num cenário de percussões tribais e ruídos industriais que lembram os tempos de “Primitive”, mas com uma fúria mais espiritualizada. Max invoca nomes de tribos extintas e transforma o lamento em resistência. É o início perfeito para o que vem a seguir.
“Storm The Gates” chega como um soco na “fuça” — uma avalanche de groove, thrash e energia primitiva. É o Soulfly em sua forma mais pura, com riffs colossais, batidas hipnóticas e aquela sensação de que a selva está viva dentro do som.
A mixagem suja e analógica é como um golpe certeiro, trazendo ainda mais impacto e brutalidade às músicas. Um detalhe importante: os batuques estão lá para completar o todo, não para dominar as faixas. Se o ritmo tribal combina, ele entra — se não, não há necessidade. É equilíbrio, não vício.
Em “Nihilist”, com participação de Todd Jones (Nails), o caos toma o controle. A música começa rápida e brutal, mas depois desacelera, tornando-se ainda mais pesada — como um tanque passando por cima de tudo.
Logo vem “No Pain = No Power”, com Dino Cazares (Fear Factory), que adiciona uma pegada industrial e mecânica grudenta. Os vocais alternam entre gritos e melodia, e o refrão é hipnotizante, um mantra a ser repetido.
Na sequência, “Ghenna” traz Michael Amott (Arch Enemy) em um solo espetacular, transformando a faixa em um redemoinho técnico e melódico que equilibra destruição e beleza em doses perfeitas.
“Black Hole Scum” é pura agressividade — distorções, ruídos e compressores no limite. É o som de um colapso controlado, uma muralha de peso que arrasta tudo. E quando parece que não há mais fôlego, surge “Favela – Dystopia”, escrita com Igor Amadeus Cavalera: um tributo furioso à vida dura das ruas brasileiras. É como se Nailbomb e Slayer se “trombassem” na quebrada — e o resultado é uma destruição devastadora.
“Always Was, Always Will Be” mergulha num clima sombrio e psicodélico, cheio de sussurros e transições imprevisíveis, preparando o terreno para “Soulfly XIII”, o tradicional momento instrumental da banda. Introspectiva e ritualística, a faixa é como um breve respiro antes do fim — a alma livre de Max Cavalera, com fé e propósito.
E então vem a faixa-título — um encerramento poderoso, que começa com pura brutalidade, uma overdose de riffs, e termina em clima quase transcendental. Zyon dá show nos minutos finais.
É o fogo virando luz. É a essência de Max — profeta do caos.
O disco não tenta reinventar a roda; ele reafirma o que o Soulfly sempre foi: um elo entre o sagrado e o brutal, entre a terra e o aço. “CHAMA” é um lembrete de que o fogo de Max Cavalera ainda queima com a mesma intensidade de quando ele mudou o metal nos anos 80. É música como arma, como cura e como espírito.
Ardente. Instintivo. Espiritual. Brutal.
William Ribas