terça-feira, 29 de abril de 2025

HAREM SCAREM - CHASING EUPHORIA (2025)

 


HAREM SCAREM
CHASING EUPHORIA
Frontiers Music srl - Importado

O ano era 1991, e os canadenses do Harem Scarem lançavam o seu primeiro álbum, surpreendentemente batizado com o nome da banda... Nem eles, nem ninguém à época, tinham conhecimento de que tinham produzido um dos maiores clássicos do Melodic-Hard Rock de todos os tempos, um álbum que mais de 30 anos após seu lançamento segue sendo cultuado por uma legião de fãs do estilo, eu incluso.

Passaram-se décadas, o Harem Scarem produziu um sem-número de álbuns, alguns ótimos, outros nem tanto, alguns até fraquíssimos, como o infame e tenebroso “Rubber” (1999). Mas o detalhe que nunca se perdeu foi a esperança dos fãs de que a banda voltasse a fazer um álbum de altíssimo nível, que, se não chegasse próximo dos seus primeiros trabalhos, ao menos lembrasse um pouco a sonoridade clássica que uma vez haviam construído.

Com o álbum anterior, “Change The World” (2020), Harry Hess e companhia já haviam chegado perto, mas agora com este novo “Chasing Euphoria” acertaram na mosca. Um dos fatores principais creio que seja o entrosamento entre o quarteto, e quando Harry Hess, Pete Lesperance, Creighton Doane, e Darren Smith , decidem fazer um álbum honesto e baseado na sua química e experiência, o saldo não é nada menos que muito positivo.

Trazendo de volta músicas cheias de melodias e emoção, refrãos “cante-junto”, o que escutamos em faixas como “Reliving History”, “Better The Devil You Know”, “Understand It All” e a faixa título são grandes canções que se escutadas separadamente, já valeriam a pena, imagine num único trabalho, onde até temos algumas outras composições com mais “punch” como em “Falling A Knife”, porém sem perder a classe. A semi-balada “In A Bad Way” é outro ponto alto, onde vemos todo o poderio de Harry Hess e Pete Lesprance, dois músicos que mereciam muito mais sucesso e reconhecimento, do que apenas a admiração dos fãs do nicho que representam.

Finalizando, é muito bom estar em 2025 e o Harem Scarem estar ativo e ainda fazendo música de (MUITA!) qualidade. “Chasing Euphoria” vai certo pra minha lista de melhores do ano!

José Henrique Godoy




BILLY IDOL - DREAM INTO IT (2025)

 


BILLY IDOL
DREAM INTO IT
Dark Horse Records - Importado

Billy Idol, o primeiro “traidor do movimento”, pode dizer aquele punk rocker mais radical a que vem acompanhando o movimento desde seu “boom” mundial, por volta do longínquo ano de 1977. Mas calma, sossega o seu moicano, amigo punk. Billy Idol sempre deu sinais de sua busca pelo “mainstream”.

Enquanto seus colegas de classe como o The Clash declaravam não gostar de The Beatles, Stones, e outros, Billy Idol ao contrário, através das letras da sua banda Generation X, proclamava amor a estes e outros tantos artistas gigantes, e remava na direção contrária do “faça você mesmo”.

Onze anos após o seu último trabalho, elenos entrega “Dream Into It”, e logo na primeira audição, o sentimento de frustração me tomou conta, não por ser um fã de carteirinha do senhor Idol, mas desde a década de 1980, aprecio o seu trabalho, muito pelo que produziu o fantástico e monstruoso guitarrista Steve Stevens. Mas ao ouvir as duas primeiras faixas, onde está o Steve Stevens?

Ao invés de riffs fortes, temos camadas de sintetizadores pra lá de insossas, melodias pra fazer a alegria de autores de filmes juvenis estilo sessão da tarde... Não é à toa que como convidada na segunda faixa, “77” (título gera expectativas/expectativas se vão por água abaixo na audição), de ninguém mais ninguém menos que Avril Lavigne. Sim, ela mesma, a rebeldezinha na fila do peixe...

Steve Stevens surge nas faixas “Too Much Fun” e “John Wayne” (essa é ótima, uma semi-balada que homenageia um dos maiores cowboys do cinema). A pop-punk “Wildside” tem a participação de Joan Jett, e mais uma vez o que poderia ser uma puta faixa, acaba em decepção, apesar do lindo solo de Steve Stevens. “I´m Your Hero “ é uma faixa legalzinha.

Por fim, a melhor faixa, que está muito acima das demais, que foi lançada como single, ”Still Dancing” fecha o trabalho. Creio que esta faixa deve ser o maior motivo da minha frustração, pois quando a ouvi pensei que teríamos um ótimo trabalho. Ao contrário disso, ao terminar a audição, tive a impressão de ter ouvido alguma bandinha metida a punk e que não chegou a lugar nenhum. Totalmente dispensável, a não ser por “Still Dancing”...

José Henrique Godoy




PAIN - DANCING WITH THE DEAD (2005/2025) - RELANÇAMENTO

 


PAIN
DANCING WITH THE DEAD
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2005, “Dancing with the Dead” marcou o momento em que o Pain atingiu seu ponto mais profundo e refinado até então. Naqueles anos, Peter Tägtgren parecia incansável - entre turnês e álbuns com o Hypocrisy e o crescimento constante do Pain, ele vivia num ciclo criativo que beirava o sobre-humano. Foi justamente nessa época que vi pela primeira vez alguém usar o termo workaholic para descrevê-lo, e fazia todo o sentido: o cara simplesmente não parava.

Depois do impacto de “Nothing Remains the Same” em 2002 - o disco que realmente colocou o Pain no radar, com sua fusão certeira de peso industrial, melodia sombria e refrães grudentos - o desafio era manter a pegada sem soar repetitivo. E Tägtgren não só conseguiu, como foi além. Mergulhou fundo em uma experiência pessoal (uma parada cardíaca que o deixou clinicamente morto por dois minutos) e transformou isso em combustível emocional para um dos álbuns mais intensos de sua carreira.

Se o antecessor exalava raiva, sarcasmo e crítica à alienação moderna, “Dancing with the Dead” mostra Peter exorcizando os próprios fantasmas em pleno estúdio. A dor e a luta agora são internas. Logo de cara, “Same Old Song” mostra a que veio: batida eletrônica contagiante, guitarra pesada e uma melodia dark que gruda na cabeça. É o tipo de música que nasceu para ser hino - e não à toa se tornou um dos maiores sucessos do Pain. “Nothing” e “Bye/Die” seguem na mesma linha, misturando peso e melancolia com precisão cirúrgica.

A faixa-título é talvez o momento mais atmosférico do disco. Carregada de tensão, cria uma sensação quase épica - como se estivéssemos flutuando entre dois mundos. É sombria, elegante e estranhamente hipnótica. A produção é impecável: moderna, pesada, clara e cheia de camadas, dando uma enorme amplitude ao som.

O mais impressionante é que, mesmo com esse tom mais emocional, o álbum não perde força. Ele é direto, dançante e envolvente. “Dancing with the Dead” é a consolidação da identidade do Pain - mais maduro, mais intenso e mais elétrico.

Peter Tägtgren não precisou berrar nem apelar para extremos: transformou uma experiência de quase morte em um álbum cheio de vida. E isso, por si só, já faz deste um dos grandes momentos do metal industrial.

William Ribas




PAIN - NOTHING REMAINS THE SAME (2002/2025) - RELANÇAMENTO

 


PAIN
NOTHING REMAINS THE SAME
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2002, “Nothing Remains the Same” é o momento em que o Pain deixa de ser apenas um experimento de Peter Tägtgren e se transforma, de fato, em uma entidade própria - viva, dançante e cheia de atitude. Depois de dois álbuns em que ainda faltava uma identidade definida ao projeto, esse disco chega como um soco bem dado. O título já entrega o espírito: Não resta mais nada como antes.

Desde a primeira batida de “It’s Only Them”, já dá pra sentir a virada. A guitarra é seca, o ritmo é marcial, os teclados criam um clima quase paranoico - e aí entra a voz de Tägtgren, carregada de raiva. O refrão explode como um alerta: essa fase do Pain é para ser festejada, na pista. Mas é com “Shut Your Mouth” que o álbum realmente vira a chave. Um verdadeiro hino da revolta moderna, com riff grudento, batida eletrônica hipnótica e uma letra que, entre ironia e desabafo, gruda na cabeça. É o tipo de música que você ouve uma vez e já sai cantando sem perceber.

O mais legal é como o disco mantém o nível alto. “Just Hate Me” tem um clima melancólico irresistível - quase uma balada obscura, mas sem perder o peso. “Fade Away” é carregada de sintetizadores, revelando o lado emocional que Tägtgren passa a explorar com mais força aqui. Já “Save Me” vem como uma pancada eletrônica, agressiva e direta, perfeita para pistas sombrias ou para momentos de fúria silenciosa.

A grande sacada de “Nothing Remains the Same” é esse equilíbrio entre ser acessível e nebuloso. As músicas têm refrãos fortes, são cheias de ganchos e funcionam muito bem. O som é industrial, sim, mas é sombrio; é pop, mas jamais sem soar agressivo. A produção é de altíssimo nível, como se espera de Peter Tägtgren, e tudo soa limpo, poderoso e bem amarrado.

É um disco que convida à repetição - não só pela qualidade das composições, mas porque traduz perfeitamente o sentimento de frustração e desconexão de uma geração inteira. Cada faixa tem sua personalidade, seu impacto, seu lugar.

Nothing Remains the Same” é Peter Tägtgren do avesso - pesado, sem precisar urrar.

William Ribas




CANDLEMASS - CANDLEMASS (2005/2025) - RELANÇAMENTO

 


CANDLEMASS
CANDLEMASS
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O álbum Candlemass, lançado em 2005, é simplesmente um monumento do doom metal - uma obra que carrega o peso clássico da banda, mas que soa viva, intensa e até inovadora. É o quinto e último disco de estúdio com a formação clássica reunida, e você sente isso em cada nota.

A abertura com "Black Dwarf" já chega como um trovão - o riff principal é puro Candlemass: pesado, lento, ameaçador, mas com uma leve veia quase hard/heavy em alguns momentos. Messiah canta como um profeta enlouquecido, sobre guitarras que parecem arrancadas do fim do mundo. "Seven Silver Keys" diminui o passo e mergulha ainda mais fundo no doom puro, aquele tipo de som que parece fazer o tempo parar.

Cada música é uma pancada emocional. "Assassin of the Light" é outra joia, uma montanha-russa de riffs e melodias que fazem você querer erguer os punhos para o céu cinzento. "Copernicus" é hipnótica e pesada - um verdadeiro hino oculto. "The Man Who Fell from the Sky", um instrumental poderoso, mostra como a banda é monstruosa mesmo sem precisar de palavras.

O auge dramático talvez esteja em faixas como "Witches" e "Born in a Tank" - momentos em que a banda parece exorcizar todo o peso de duas vidas. Não é um álbum rápido (óbvio), mas também não é sufocante: é pesado, sim, mas dentro dele pulsa uma beleza sombria — como um amanhecer de inverno, com o ar gelado e o sol mal se erguendo no horizonte.

O impacto foi tão grande que o álbum rendeu ao Candlemass o prêmio Grammy sueco. A vitória impulsionou uma turnê pela Europa e América do Sul, incluindo a tão esperada primeira vez da banda no Brasil em 2006.

Agora, em uma celebração merecida, o disco está sendo relançado pela Shinigami Records, em parceria com a Nuclear Blast, permitindo que uma nova geração descubra (ou redescubra) esse trabalho.

O auto-intitulado é, acima de tudo, um disco de paixão visceral. Cada faixa soa como se a banda soubesse que estava capturando algo mágico e único - uma despedida da formação clássica digna dos deuses do doom, uma carta de amor ao metal melancólico e monumental que só o Candlemass sabe (e pode) fazer.

William Ribas