sexta-feira, 22 de agosto de 2025

FIFTEEN STITCHES - BEYOND THE WALL (2025)

 


FIFTEEN STITCHES
BEYOND THE WALL
Independente - Importado

"Por que a humanidade trata uns aos outros dessa maneira?” é a pergunta que encontramos no Press-release da banda FIFTEEN STITCHES, e é a temática lírica constante em todo seu novo trabalho “Beyond The Wall”. Formado em Washington, o quarteto desenvolve neste seu segundo trabalho (o primeiro foi o E.P. “The Void” – 2018) um Heavy-Rock pesado e sujo, com influências do Hard Rock, Punk e Rock N' Roll.

“Revolution” abre o trabalho numa linha Motorheadiana com nuances daquele Hardcore que é desenvolvido em Nova Iorque, tipo Agnostic Front, entregando uma ótimo início. “Light Psycho” tem um ótimo riff inicial provido pelo guitarrista Chris Pasinetti, um Hard Rock estradeiro de qualidade. Tim Perdue faz um trabalho vocal muito bom, por vezes lembra Chris Robertson, vocalista do Black Stone Cherry. Aliás, para que você tenha uma ideia do som que encontra no FIFTEEN STITCHES, o Black Stone Cherry pode ser considerada uma referência.

“I.C.G.F.U.E.c(I Can´t Get)” muda um pouco o clima, adentrando mais ao som alternativo e colando mais na onda anos 90 . “Nemo Liber” é pesadíssima, com riff que poderia ter passado pelo crivo de James Hetfield. Você em uma caminhonete Ford ou numa Harley Davidson, cruzando o deserto, típico cenário de um “Road Movie”: esse é o clima de “Eventual Horizon”, com uma ótima linha de baixo de Rob Field, enquanto o baterista James Ortega conduz uma levada cadenciada e poderosa. As letras ficam todas na incumbência do vocalista Tim Perdue, e esta “Eventual Horizon” é excelente.

“You Know We Know” segue pesada, com outra ótima linha de baixo, mais uma vez um Hard Rock pesadão e cheio de poeira da estrada, e que na parte do refrão adentra novamente no clima alternativo/noventista. Nesta faixa temos o melhor solo do guitarrista Chris Pasinetti. Minha faixa preferida do trabalho. Outro detalhe muito bacana em “Beyond The Wall” é a duração das faixas, que ficam na média dos três minutos, e quando acabam, temos vontade de ouvir novamente.

A influência do Hardcore N.Y. aparece novamente em “It Is Destroyer”, e o trabalho encerra com “Demon Dick” (título deveras pitoresco, eu diria), essa com uma atmosfera Punk Rock, e é a única faixa que chega a quatro minutos.

Beyond The Wall” do FIFTEEN STITCHES se tornou uma grata surpresa, ao menos para mim, que não conhecia a banda. Um álbum para ser ouvido com o volume no talo, principalmente para você que curte Rock Pesado sem se prender muito a rótulos e subdivisões.

José Henrique Godoy




READY TO STRIKE - FIRST BITE (2025)


 

READY TO STRIKE
FIRST BITE
Independente - Importado

Em um mundo cheio de “modas novas”, invencionices, originalidades de gosto, por vezes, duvidoso, tudo que precisamos ás vezes é apenas um sopro da “Velha Escola” e dos “Bons Tempos”. Isso em todos as níveis da vida. Papo de velho, nostalgia ou saudosismo? Pode ser, e daí?

Mas o assunto aqui é Rock/Metal, e a minha divagação acima vem de encontro a este ótimo lançamento dos nova-iorquinos do Ready To Strike, “First Bite”. O que temos aqui é um autêntico revival do metal da melhor fase, os anos oitenta. Um Hard Rock agressivo, com um pé no Heavy Metal e outro no Sleaze Metal. Apesar da celebração ao “oitentismo”, em nenhum instante o som parece datado.

Formado em 2025, em Syracuse, NY, por Screwdriver (vocais/guitarras), Snakeskin (guitarras). Joseph Retorsi (baixo) e The Champ (bateria), o Ready To Strike começou tocando covers de bandas que os inspiraram como Poison, Metallica, Motley Crue e Ratt, passando logo para escrever material próprio, contido aqui em “First Bite”. E que ótimo material!

Uma intro de bateria para a rápida “Troublemaker” abre o CD, e aqui podemos verificar que o quarteto entende do “riscado”. “Evil Eyes” tem um puta riff de guitarra e levada clássica de bate cabeça, e você pode se imaginar na década de 80 na Sunset Strip cantando o refrão com os punhos erguidos! “What You
Want” tem um trabalho muito interessante de guitarras, lembrando algo dos primeiros Van Halen (calma, eu disse “lembrando”).

O vocal de Screwdriver (o que é esse pseudônimo, parceiro?? Hehehe...) soa como um cruzamento de Jason McMaster do Dangerous Toys, com o saudoso Jack Russell (Great White). “Higher” demonstra que os garotos ouviram e aprenderam muito ouvindo a dobradinha Motley Crue/Ratt. “Ending Song”, com seu título “muito bem pensado” é a música de encerramento, deste ”First Bite”. 

Um ótimo trabalho inicial de mais uma banda que faz uma “ode” a suas influências vindas de um tempo que ainda não tinham nascido (só olhar as fotos dos integrantes pra sacar isso). Que seja o primeiro de uma gloriosa carreira. Que venham “Second Bite”, “Third Bite” ...

José Henrique Godoy




BURNING WITCHES - INQUISITION (2025)


 

BURNING WITCHES
INQUISITION
Napalm Records - Importado

A Suíça, há muito tempo já provou que não é apenas especialista em relógios, pois de lá temos também excelentes bandas de Hard Rock/Heavy Metal, eo quinteto feminino Burning Witches é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores exemplos para reafirmar esta sentença.

As bruxas de Brugg estão de volta com seu quinto álbum de estúdio, “Inquisition”, e de antemão, adianto que é um dos melhores trabalhos das garotas, quem sabe o melhor, justamente quando comemoram o décimo aniversário da banda. A abertura vem com uma curta introdução épica, “Sanguini Hominum”, que vai num crescendo em com pouco mais de um minuto abre caminho para a explosiva “Soul Eater”, rápida e pesada e escancara a ótimo produção de V.O. Pulver, que teve como parceiros no trabalho o atual guitarrista do Damir Eskic e a guitarrista e fundadora Romana Kalkuhl.

“Shame” vem a seguir, é aquela faixa que foi feita para ser tocada ao vivo, é possível imaginar o refrão sendo cantado pelas plateias mundo afora. A banda é 100% coesa, todo o quinteto se destaca, desde a voz potente e cheia de carisma de Laura Guldemond, riffs pesados e solos cheios de técnica das guitarristas Romana e Courtney Coxx, enquanto a baixista Jay Grob e a baterista Lala Frischknecht constroem pilares firmes e sólidos em todas as composições do álbum.

“Spell Of The Skull” e a faixa título seguem em alto nível, duas ótimas amostras de Heavy Metal Tradicional, lembrando e muito Judas Priest, porém com personalidade própria das Burning Witches. “Inquisition” inclusive será outra faixa para agitar os set lists da próxima tour das moçoilas. “High Priestess Of The Night” tira um pouco o pé do acelerador e se aproxima mais do Hard Rock oitentista, excelente faixa, porém a velocidade retorna logo a seguir com “ Burn in Hell”. Os dois bumbos de Lala se mostram muito destacados nesta.

“Release Me” é a balada do álbum, e aqui o vocal de Laura apresenta bastante emoção, entregando muito “feeling”, e sendo a calmaria que antecede a tempestade sonora que é a próxima “In For The Kill”, pesada e forjada no puro aço. “In The Eye Of The Storm” é mais cadenciada e pesando toneladas, enquanto “Mirror Mirror” se aproxima mais uma vez do Hard Rock oitentista, porém dessa vez com passagens carregadas de peso. “Malus Maga” fecha o trabalho, como um “Outro” climática e sombria, finalizando “Inquisition” e dando aquele clima de “ teremos a continuação em breve”.

Posso afirmar que “Inquisiton” é um dos melhores lançamentos de 2025. Heavy Metal aqui é a Lei, e se você aprecia o estilo na sua forma mais clássica e tradicional , este trabalho foi feito para nós!!!! Longa vida as Bruxas!!!!

José Henrique Godoy




DISTRAUGHT - INVOLUTION (EP) (2025)

 


DISTRAUGHT
INVOLUTION (EP)
Independente - Nacional

São exatos 35 anos de carreira. 35 anos de devoção ao Thrash Metal e ao underground. 35 anos fazendo um estilo que nesse país onde a exaltação ao sexo, às drogas e ao crime na música podem te levar (e na maioria das vezes levam) ao estrelato. Mas integridade não se compra em farmácia. Muito menos, aderindo aos modismos impostos pela indústria musical. E nesse quesito, poucas bandas conseguem empunhar essa bandeira como a DISTRAUGHT. Um dos pilares do estilo no Brasil, o grupo nos brinda agora, em 2025 com um EP simplesmente destruidor, que faz jus à carreira vitoriosa do quinteto. São 05 faixas que colocam no bolso muito full lenght que vemos sendo lançados por aí, tamanha a intensidade, brutalidade e garra entregues a cada uma das composições. Uma pena que no Brasil, uma banda desse nível precise lançar seus trabalhos de forma independente e até mesmo, sem disponibilizar formato físico, tendo em vista as dificuldades impostas pelo mercado. E se você é daqueles como este que vos escreve, a mídia física faz muita diferença. Mas, se não vende, como lançar? Fica a reflexão pra nós mesmos, fãs de música de verdade. A questão é que INVOLUTION, merece ser apreciado por todo fã de Heavy metal, seja ele do estilo que for. Afinal, a música da Distraught ultrapassa as barreiras de um estilo e mostra que a banda, felizmente, tem muita lenha pra queimar!

André Meyer (vocal), Ricardo Silveira (guitarra), Everton Cunha (guitarra), Alan Holz (baixo) e Thiago Caurio (bateria) integram uma das formações mais insana s e destruidoras do estilo no país. Se você já teve a oportunidade de assisti-los ao vivo sabe bem do que estou falando. E aqui, neste trabalho, não poderia ser diferente. Renato Osorio (também guitarrista da Atomic Elephant e ex-Hibria) produziu o trabalho no Dry House Studio em Porto Alegre deixou tudo como deve ser: pesado, moderno e visceral. Já a mixagem ficou por conta de Benhur Lima, o que realçou ainda mais as características brutais do quinteto. A capa é mais uma obra de Marcelo Vasco, envolvendo de forma interessante o contexto do EP, que traz a nossa capacidade inerente, talvez inescapável, para a autodestruição e para a devastação sistemática do mundo a nossa volta. o "V", em destaque no título, é a Pedra de Roseta, uma obra-prima de camadas simbólicas. É um aceno direto e inegável ao numeral romano V, ligando-o intrinsecamente às cinco faixas profundas que compõem o EP. Mas, mais do que isso, serve como o nexo para os cinco elementos antigos - Terra, Água, Ar, Fogo e Aether - os próprios blocos de construção da existência de acordo com a filosofia antiga.

O trabalho abre com a poderosa "Blood Mines", que começa com as guitarras de Ricardo e Everton em sintonia, enquanto Alan e Thiago se encarregam de criar uma base solida, pesada e brutal. André, por sua vez, imprime sua personalidade de forma concisa, pois aos primeiros "gritos" já sabemos que é o alemão cantando. Fazendo referência ao elemento Terra, nos mostra a corrida do ouro ocorrida em Serra Pelada, que durou cerca de uma década e meia, a faixa é um hino visceral e carrega de emoção, principalmente nos solos que se encaixam entre a brutalidade e a melodia que se impõe de forma natural durante sua execução. Acredito que ao vivo, sua agressividade vai se elevar à décima potência! Na sequência, a faixa escolhida pra ser o vídeo de divulgação do EP, a não menos destruidora "Extermination of Mother Nature". Se na música anterior o peso e brutalidade se entrelaçavam com a velocidade, aqui, momentos mais densos e cadenciados contrastam com golpes certeiros e velozes, num mix de sensações. Trazendo à tona a ira aterrorizante dos elementos, especificamente nas inundações devastadoras que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024, a faixa nos mostra em sentido amplo que a natureza é impiedosa com aqueles que a maltratam. Repetindo “the fury of the waters / invading the land” e “all about the (fuckin’) money”, a banda mostra o que realmente legitima a tragédia. Aqui, temos o elemento Água: sua correnteza destrói casas e sonhos, mas sobretudo arrasta consigo as promessas vazias dos (des)governos.

"Aether", como o próprio nome entrega, faz referência ao próprio elemento, é uma faixa instrumental que serve como um contraponto profundo e contemplativo a devastação anterior. A  música torna-se o meio para a investigação filosófica, explorando o conceito antigo do Aether - o quinto elemento, a quintessência, e nos prepara para o que vem em "Truth Denied": um thrash á moda Distraught, ou seja, guitarras ríspidas, baixo e bateria marcados e vocais insanos. Alternando momentos mais lentos e arrastados com outros de pura violência, a faixa fala sobre a desinformação que tomou conta dos redes sociais e do mundo em geral. Seja durante a pandemia ou nos dias atuais, o negacionismo e suas consequências vêm no "Ar", numa metáfora que o transforma num "mensageiro invisível" que carrega consigo toda essa rede de negligência e ao mesmo tempo, não tem como contrapor tudo isso, nos deixando sem fôlego pra "entender" o que vem acontecendo. E pra fechar o trabalho, "Setfire", que também como o nome entrega, faz referência ao fogo. Enfatizando os desastres que vem acontecendo ao redor do planeta, mas em especial o que ocorreu no Pantanal em 2024, a faixa é um petardo daqueles que abrem as rodas de mosh nos shows e criam o clima perfeito para que o público "pegue fogo" (desculpem , sei que o trocadilho foi besta, mas não quis deixar passar... hehehe). Everton e Ricardo, novamente numa sintonia perfeita alternam riffs e solos devastadores e mostram que são uma das duplas mais criativas e pesadas do país. Um encerramento que nos deixa pensativos: o que estamos fazendo com o mundo, tem volta?

A DISTRAUGHT prova mais uma vez, que é uma das melhores bandas (na opinião deste que vos escreve, a melhor) do estilo no Brasil. INVOLUTION é um EP que une de forma perfeita a brutalidade da música do quinteto, com a brutalidade do que vem acontecendo no planeta, muito disso por nossa causa. 35 anos não são pra qualquer banda e o grupo prova que, experiência e inteligência, quando andam de mãos dadas, criam obras tão importantes e fundamentais como esse trabalho. Que venham mais álbuns (físicos de preferência) e que possam levar a banda a fazer show pelo país. Algo que deveria acontecer todos os anos...

Sergiomar Menezes

Foto: Cristiano Seifert



quarta-feira, 20 de agosto de 2025

URDZA - A WAR WITH MYSELF (2024)

 


URDZA
A WAR WITH MYSELF
Independente - Nacional

Os paulistas do Urdza já tinham me deixado uma ótima impressão quando os assisti ao vivo, na abertura do show do Saxon aqui em Porto Alegre, em maio de 2025. E esse impressão aumentou ao ouvir o seu trabalho de estreia, “A War With Myself”, lançado ainda no ano de 2024, e que tive a oportunidade de apreciar apenas agora.

Produzido por Thiago Bianchi, o Urdza entrega em “A War With Myself” o que qualquer fã de Judas Priest, Iron Maiden, Megadeth, e outros grandes nomes gostaria de ouvir em um Cd/Lp. De cara, chama a atenção a força e energia da faixa título, que abre o trabalho, com riffs pesados e rápidos do guitarrista Hugo Prado, e o ótimo vocal do seu irmão, Heitor Prado. A temática das letras nos remetem ao jogo “Magic: The Gathering”, e se encaixa de forma muito coesa ao que o Urdza entrega na parte instrumental, com melodias pesadíssimas e fortes.

“Wrath Of God” tem a velocidade como marca registrada, comandada pelo baterista Danilo Abreu, que é escoltado pelo baixista Cid Costa, formando uma cozinha muito coesa. “Living In Fear” é mais cadenciada e tem um belíssimo solo de Hugo Prado. “Rising From The Fire” é o maior destaque deste trabalho, onde o Urdza entrega uma faixa nos moldes que a banda do patrão Steve Harris costuma fazer nos seus melhores dias. Uma faixa sensacional.

“Dark Ritual” encerra os trabalhos neste álbum, de forma pesada intrincada e empolgante. Se você é daqueles que gostam de originalidade e invencionices no Metal, “A War With Myself” não é para você. Agora se você é fã do Heavy Metal tradicional e pesado, como tem que ser, não deixa de ouvir este ótimo álbum de estreia do Urdza. Com certeza, vamos ouvir falar muito da banda no futuro.

José Henrique Godoy