quinta-feira, 14 de março de 2024

TARJA TURUNEN & MARKO HIETALA - LIVING THE DREAM THE HITS TOUR 2024 - 09/03/2024 - BAR OPINIÃO - PORTO ALEGRE/RS

 

TARJA TURUNEN & MARKO HIETALA
LIVING THE DREAM THE HITS TOUR 2024
Abertura: Andreas Solrak
Local: Bar Opinião - Porto Alegre/RS
Produção: Opinião Produtora

Texto e fotos: Henrique Lippert

Uma fila gigante de fãs se formou muito antes da abertura dos portões, a fim de prestigiar Tarja Turunen e Marko Hietala na turnê Living The Dream – The Hits Tour 2024 - em Porto Alegre. As quase duas décadas que separavam a presença dos artistas juntos em solo gaúcho criaram um clima de expectativa e empolgação em muitos fãs. Com os ingressos esgotados há semanas, era esperado um Opinião lotado na noite quente do sábado. Porém, o que deveria ser um espetáculo de diversão e muita música acabou se tornando uma experiência ruim para todos os presentes.

A começar pela entrada, ninguém pôde ingressar no Opinião com água, e todos foram obrigados a deixar suas garrafas antes da tradicional revista. Lá dentro, o ambiente quente deixou claro que a climatização não estava sendo suficiente, somando-se ao fato de que a água era vendida quase no mesmo valor daquelas comercializadas em aeroporto. Pouco depois também, a equipe de segurança informou que não haveria o acesso a frente do palco para fotos, o que não chegou a ser terrível, mas um pouco decepcionante.

Eram 21h e a banda Andreas Solrak pisou no palco, trazendo um rock/folk para abrir os trabalhos da noite. As primeiras músicas da banda foram acompanhadas por um problema técnico em um dos cabos dos instrumentos, gerando um chiado contínuo que só cessou no fim da terceira música. Com letras poéticas e guitarras alterando entre peso e leveza, o som aos poucos foi ganhando o público, que foi resistente logo no início da noite. A qualidade da banda como músicos e entrega é inegável, mas foi uma escolha pobre pela falta de sintonia com a plateia da noite, o que acabou gerando certo descontentamento por parte dos fãs.


Após uma breve pausa para organização do palco e ao som de “Olê, olê, olê, olê! Marko, Marko”, o artista aparece para abrir essa segunda etapa com seu colega Tuomas Wainola, e logo se pôde perceber que a voz de Marko não estava boa. Encerrando a música “Stones” com dificuldade, Marko pede um tempo e sai de cena, seguido pelo colega músico logo na sequência. Sem entender o que estava acontecendo, os fãs aguardaram por quase 15 minutos, quando o próprio Marko voltou e, em inglês, disse que não estava em condições de continuar cantando. Ele citou as poucas horas de sono, além da constante troca de ambientes com ar-condicionado e pediu desculpas, pois não conseguiria tocar e cantar sua parte no show. Conseguiu ainda dizer que tentaria se juntar ao público para tirar algumas fotos (o que acabou não acontecendo) e saiu do palco após contar uma pequena história engraçada para o público.

Sabemos que o inglês não é uma língua que a maioria de nós, brasileiros, tenha domínio, e nesse ponto faltou o cuidado de alguém da produtora vir esclarecer o que estava acontecendo. A falta de informações foi uma das principais reclamações da noite, mas ela ainda estava longe de acabar.


Após aguardar mais 30min sem entender direito o que estava acontecendo, o empresário da Tarja - Paulo Baron - entra para informar que a artista está com o mesmo problema de Marko, seguido de vaias pelo público. Ele pede compreensão e, complementando a fala, diz que ela irá cantar mesmo com a voz prejudicada, mas que conta com a ajuda dos fãs.

Ela entra no palco sendo ovacionada por todos, tendo como principal apoio os colegas músicos que conseguiram manter a energia lá em cima. O carisma e simpatia da cantora encantou o público, e o que faltou de voz, sobrou no esforço e na presença de palco.

Sem abrir com a prevista "Eye of the Storm", "Demons in You", "Die Alive", "Diva" e "Shadow Play" conseguiram animar os presentes e preparar o terreno para os grandes hits que marcaram a passagem dos artistas no Nightwish. Marko chegou a voltar ao palco, pedindo novamente desculpas, e dizendo que uma van o levaria direto ao hotel, onde conseguiria descansar, recebendo mais uma vez o carinho da plateia antes de dizer que não conseguiria fazer os duetos com a Tarja. Era perceptível o cansaço e a tristeza do artista ao sair do palco novamente ao som de “Olê, olê, olê, olê! Marko, Marko”.
"Dark Star" e" Dead Promises" serviram de ponte para o ponto alto da noite: "Planet Hell" fez a plateia toda cantar junto, sendo embalada na sequência pela igualmente épica "Wish I had an Angel". O coro de vozes em uníssono entoava a plenos pulmões as linhas do refrão, e por alguns instantes os problemas da noite foram esquecidos.


Algo parecido se deu com "I walk Alone" e "Victim of Ritual", que manteve os fãs interagindo bastante e cantando, até o encerramento com "Until my Last Breath". Encaminhando o show para o fim, Tarja declara seu amor ao público que retribuiu durante toda a noite e repetiu um sonoro "Tarja eu te amo" várias vezes até os músicos saírem do palco.

Mesmo com todo empenho e dedicação da banda, o encerramento da noite deixou um gosto amargo na boca. Com o setlist reduzido, perdemos clássicos como “Phantom of The Opera” e “Over The Hills And Far Away”. Também teve a falta da inédita “Left On Mars”, música nova da Tarja com o Marko. Sabemos que problemas acontecem com todos, e me solidarizo com as questões de saúde dos artistas. Contudo, talvez a remarcação da data do show não fosse uma saída tão ruim, visto que nem fãs, nem banda, ficaram satisfeitos nesta noite.

terça-feira, 12 de março de 2024

JUDAS PRIEST - INVINCIBLE SHIELD (2024)



JUDAS PRIEST
INVINCIBLE SHIELD
Sony Music - Importado



Todos os headbangers vivos do planeta Terra têm a oportunidade de viver nestes próximos dias, um evento raro quase que um cometa Halley do Heavy Metal: o lançamento de um novo álbum completo dos deuses do Heavy Metal, o Judas Priest. Afinal em 50 anos de carreira, este é a 19o. disco de estúdio dos britânicos, praticamente um disco a cada 2,5 anos. Como é bom ainda conseguir viver uma expectativa como essa, é quase como viajar no tempo.

Foram 6 anos de espera que valeram cada segundo. Os problemas de saúde de Glenn Tipton deixaram os fãs apreensivos quanto ao futuro da banda e eu particularmente, cheguei a ver o então atual Judas Priest quase como uma continuidade da carreira solo de Rob Halford; felizmente, eu me enganei. Judas continua com sua propria identidade, com fome de Metal, muito louvável para senhores com mais de 70 anos de idade.

Depois dos medianos “Nostradamus” (2008) e “Redeemer of Souls” (2014), cheguei a pensar em desistir de uma vez e ficar apenas com o material classico, o que vamos combinar, já estaria mais do que excelente. Mas Halford, Tipton e cia. não se deram por satisfeitos e lançaram o fantástico “Firepower” (2018) e aqui, foram ainda mais malignos e magníficos com este seu novíssimo trabalho.

Até nas faixas lançadas previamente como single, a banda foi cirúrgica: “Panic Attack” mostra um Judas renovado e Richie Faulkner se destaca amplamente com sua aula de bom gosto nos riffs. “The Serpent and the King” é a melhor de todas: poderia estar em “Painkiller” (1990) ou mesmo no ultra classico album solo de Rob Halford, “Resurrection” (2000), tamanha a pancadaria e potência da voz do senhor Metal God Rob Halford, mas claro sem se esquecer da feracidade de Tipton e Faulkner que já estão devidamente entrosados. E o que dizer da longa faixa título: começa com um riff tipicamente Judas Priest e Scott Travis, o polvo humano, destila seu veneno sem nenhuma compaixão ao ouvinte mais desavidado. Que trinca de abertura de encher os olhos, ou melhor, os ouvidos!

“Devil in Disguise” e “Gates of Hell” dão aquela acalmada na fúria toda sem perder a elegância e “Crown of Horns” me lembrou um classico da carreira solo de Halford, “Thunder and Lightning”; portanto, se você caro leitor não estiver muito familiarizado com a carreira solo do Metal God, é altamente recomendável que o faça de imediato. “As God Is My Witness” é outra que poderia estar em “Painkiller” então sobre ela nada mais precisa ser dito. “Trial by Fire” não é rápida, mas é uma aula de guitarras para todos os ouvidos.

Halford está ainda mais soberbo em “Escape from Reality” alternando tons algo que sempre fez com maestria. A pancadaria segue com ~Sons of Thunder” com Tipton e Faulkner se alternando nos vários curtos solos da faixa, e outro grande destaque vem a seguir: “Giants in the Sky” tem um groove muito interessante, sendo ela a mais, digamos, original de todo o trabalho. Candidata a clássica!

Ah, e obviamente temos as faixas bonus: “Fight of Your Life”, “Vicious Circle” e “The Lodger” são ótimas o suficiente para fazer o fã de mídia física desembolsar mais alguns reais em sua aquisição. Mesmo que não fossem tão boas assim, qual fã de verdade deixará de comprar a versão deluxe não é mesmo? Eu mesmo já comprei a minha!

Já que vivemos na era do streaming, alguém pode por gentileza, enviar para o mestre Steve Harris, o link do Spotify / Deezer / SoundCloud / Tidal / Apple Music ou sei lá mais qual Plataforma para mostrar a ele como se deve fazer? “Invincible Shield” beira facilmente a perfeição. Que forma absurda de comemorar 50 anos de carreira, uma ode ao Heavy Metal puro, bruto, potente e sem a menor firula. Que petardo nota 10 com sobras! Ouça já!

Mauro Antunes




segunda-feira, 11 de março de 2024

ART OF ANARCHY - LET THERE BE ANARCHY (2024)

 


ART OF ANARCHY
LET THERE BE ANARCHY
Pavement music - importado

Formado em 2011 pelos irmãos Votta (Jon Votta, guitarrista e o baterista Vince Votta) em conjunto com a amizade de longa data com ninguém menos que o ex-guitarrista do Guns n' Roses, Ron "Bumblefoot" Thal, o Art of Anarchy navegou em diversas direções musicais desde sua criação, o que não é demérito nenhum, visto que a banda teve três vocalistas diferentes (o falecido Scott Weiland, ex-Stone Temple Pilot e Scott Stapp, ex-Creed) em seus três primeiros álbuns e que soube de maneira primorosa se adequar a cada um deles e é isto, o que torna o som e a banda mais fascinante ainda de se ouvir.

Mesmo com a infelicidade que pairou a banda no início (a morte de Weiland e a separação com Stapp), os dois primeiros álbuns do Art of Anarchy são ótimos. E esta é a parte ruim da trajetória da banda até aqui, pois as trocas de vocalistas afetaram imensamente o reconhecimento e visibilidade da banda no cenário mundial da música, especialmente o Hard Rock mais moderno. No entanto, estes dias infelizes para a banda parecem que chegaram ao fim após o anúncio de ninguém menos que Jeff Scott “Fucking” Soto (mais conhecido por seus trabalhos em Rising Force de Yngwie Malmsteen e Talisman) para compor a banda como membro oficial a partir de setembro de 2023. Outra importante mudança na banda, foi a entrada do baixista Tony Dickinson (que já trabalhou com o Trans-Siberian Orchestra), no lugar de John Moyer, do Disturbed.

E Pensando nisso, a banda fez o lançamento do primeiro single "Vilified", do que viria a ser o lançamento futuro “LET THERE BE ANARCHY”, no qual foi lançado em 16 de fevereiro de 2024. Uma música intensa, com um groove típico da dupla de guitarristas e que lembra até um pouco Sons of Apollo, a música também virou videoclipe, e é altamente recomendável assisti-lo, se você ainda não o fez, pois ela é carregada de emoção, além de que o clipe foi estrelado pelo fantástico Cuba Gooding Jr. Música esta que deu início a este álbum quando o guitarrista Jon Votta foi diagnosticado com uma doença misteriosa e que poderia causar sua morte. E neste meio tempo, o que ele mais fez foi assistir ao filme do Coringa, estrelado por Joaquin Phoenix. E foi a partir daí que começou a tocar violão e escrever o que culminou neste lançamento que vos escrevo. Outro destaque do videoclipe é que a influência do filme foi tão grande, que a banda resolveu gravar justamente nas escadarias do Coringa, no Brooklin, NY.

Dito isto e curiosidade lá em cima por conta da nova formação, o play começa com “Die Hard” em uma breve introdução orquestrada e épica, que nos deixa ainda mais ansiosos pelo que está por vir, até que de repente explode em um maravilhoso riff heavy metal, com a bateria em seguida ditando o ritmo pesado da música. Não demora muito para o monstro JSS entrar em ação com seu estilo único de cantar, deixando a música ainda mais agradável e agressiva a seu modo. "Echoes Your Madness" e já citada "Vilified" seguem com um groove e melodias vocais excepcionais (como canta esse cara chamado JSS), além do peso cadenciado das guitarras. Já em “Bridge of Tomorrow” temos um momento de calmaria, o que eu diria ser uma “power ballad” onde podemos ver e ouvir claramente a influência de JSS, que por momentos nos remetem a carreira solo do mesmo, bem como dos recentes álbuns do SOA.

A pancadaria e a intensidade continuam nas músicas seguintes, como "Rivals", "Dying Days", que contam com elementos um pouco mais sombrios e sendo executadas com perfeição, que por sinal deve-se destacar a cozinha da banda, que literalmente destrói durante todo o álbum. Em “Blind Man’s Victory” o destaque, mais uma vez vai para a letra, bem como JSS que faz uma interpretação espetacular, acompanhado pelo resto da banda, onde todos detonam, que faixa forte. Um dos maiores destaques do play.

Se as músicas anteriores eram mais sombrias, carregadas de intensidade, em "Writing on the Wall" e "The Good, the Bad and the Insane" a banda uma mistura de calmaria com porradaria (ao melhor estilo SOA) e encerra com “Disarray” que é um pouco mais arrastada e groovada.
De maneira geral, “Let There Be Anarchy” é um disco furioso com uma pegada mais Hard/Heavy e progressivo que seus anteriores, é o renascimento de uma banda que pelo calibre de seus integrantes, pode ter um futuro muito promissor.

E para finalizar, a grande questão é: essa formação do Art of Anarchy se sustentará? Isto só o tempo dirá, no entanto, se isso acontecer, não há razão alguma que esta banda não possa ganhar um lugar de direito no alto escalão junto as bandas do Metal moderno atual.

Fernando Aguiar




sexta-feira, 8 de março de 2024

REBEL ROCK RESEARCH - THIN LIZZY



Phil Lynott formou o Thin Lizzy em Dublin, Irlanda, em 1969, com seu amigo de infância, o baterista Brian Downey, e o guitarrista Eric Bell. O Thin Lizzy precisou de uma longa trajetória até alcançar o status de grande banda de rock. A maior parte de todo o sucesso alcançado se deve ao talento e genialidade do baixista, vocalista e líder Phil Lynott. Filho de uma irlandesa com um marinheiro sul-americano (havia muitos rumores de que o pai fosse brasileiro, porém não é), Lynott nos presenteou com sua carreira (relativamente curta), uma marca inquestionável de qualidade, seja em seu instrumento (e que baixista era Phil, hein?!), nas interpretações vocais e principalmente em suas composições. Infelizmente, por complicações após anos de abuso de drogas e álcool, Lynott faleceu com apenas 36 anos, no dia 4 de janeiro de 1986, recentemente completos 38 anos.

Para este que vos escreve é ainda mais especial e emocionante falar sobre Thin Lizzy, pois nasci justamente neste ano em que dois dos meus baixistas/artistas favoritos morreram, primeiro Phil em janeiro, conforme mencionado e mais tarde, em setembro, Cliff Burton.

A música e nós, fãs, sentem muita falta desses dois gênios.

E para contemplar essa toda essa genialidade, o REBEL ROCK RESEARCH vai dissecar a discografia da banda (apenas estúdio) de modo que seja uma justa homenagem a um dos titãs do Hard Rock setentista, uma vez que não foram reconhecidos quando houve chances.

Assim, terei a difícil missão – para não dizer quase impossível – de fazer a lista do “pior” ao “melhor” desta discografia. É até um pecado colocar a palavra “pior” dentro da discografia de uma banda que não tem um álbum que seja, sequer, mediano a ponto de classificarmos como “pior” e neste caso classifico como álbuns que menos “escuto” e que de maneira alguma são ruins ou que não tenham músicas boas, que fique bem claro.

Dito tudo isto, sem mais delongas bora para as audições da MAIOR E MELHOR BANDA DA IRLANDA DE TODOS OS TEMPOS!

Fernando Aguiar

*** AVISO: Preparem para ler bastante (hehe)!


Renegade (1981)


Por último, temos o penúltimo registro da banda. Renegade não traz a mesma qualidade das músicas grandiosas como, por exemplo, nos lançamentos dos discos da segunda metade dos anos 70, porém há ótimos momentos que ainda remetem ao bom e velho Lizzy. O disco começa com um som quase “heavy metal”. Estamos falando de “Angel of Death” (será que o Slayer curtiu esse nome? Hehe), que teve participação na composição de Darren Wharton, que havia entrado na banda em 1980, porém só foi efetivado neste registro. A faixa-título vem em seguida com uma boa levada, porém sem a mesma pegada que a anterior. Em seguida, “The Pressure Will Blow” segue a mesma linha do “hardão” apresentado nas anteriores e começa com aquele trabalho, já conhecido, de guitarras gêmeas que nos remete ao Lizzy dos anos 70 novamente. Scott Gorham e Snowy White fizeram um ótimo trabalho nela. “Leave This Town” tem uma boa pegada suingada, e “Hollywood (Down on Your Luck)” é maior destaque do disco onde podemos ver elementos da NWOBHM, que vinha em uma grande crescente na época e poderia até se tornado um dos clássicos do estilo, o que não aconteceu. Outro destaque é “Fats”, com seu instrumental suingado e cheio de balanço, além da performance “malandra” de Phil. “It’s Getting Dangerous” encerra com aquele andamento típico de Thin Lizzy onde a bateria, guitarras e baixo puxam o ritmo parecendo uma unidade, acompanhados pela maravilhosa performance e interpretação de Lynott, assim encerrando o álbum.


Chinatown (1980)


Após a saída de Gary Moore, Snowy White (ex-Pink Floyd) se juntou a banda para gravar Chinatown. Além disso, o tecladista Darren Wharton, também entrou extraoficialmente na banda, que foi transformado então em um quinteto. Snowy era um guitarrista com uma pegada um pouco mais bluesy, que não tinha a mesma pegada pesada ao estilo Lizzy de ser, se assim podemos dizer. Mesmo Chinatown sendo um tanto inferior a seus predecessores, concebido com uma produção um tanto quanto mais “magra” e com um certo descontentamento de Phil Lynott, que havia lançado, no mesmo ano, o disco Solo in Soho, é um disco com diversos momentos divertidos. Outro ponto a destacar na época do lançamento do disco é vício em drogas pesadas de Phil, assim como o de Scott Gorham. Ainda assim, Chinatown é recheado de momentos tipicamente Lizzy, como as belas dobras de guitarra em “We Will Be Strong”, música maravilhosa que abre o disco. Já o lado mais pesado da banda aparece na boa faixa-título, nas excelentes “Killer on the Loose” e “Genocide (The Killing of the Buffalo)”. “Having a Good Time” é uma divertida canção com uma letra um tanto quanto despretensiosa e “malandra”, na qual Phil inclusive introduz os guitarristas pelo nome antes dos solos. Em “Sweetheart” podemos ver o lado mais “pop” de Phil, uma música muito agradável de se ouvir, além da bela balada “Didn’t I” que traz aquele Phil mais “melancólico e romântico” ao mesmo tempo. E para fechar o play, temos aquele típico hard suingado em “Hey You” e “Sugar Blues”, esta que nos traz uma letra que é mais uma clara referência (infelizmente) aos vícios de Lynott, dessa vez a heroína.


Shades of a Blue Orphanage (1972)


Aqui, o trio Phil, Bell e Downey ampliou um pouco mais a gama de experimentações de seu álbum de estreia, mesclando diversos ritmos, como o funk, o blues, o folk irlandês e o hard rock. Shades of a Blue Orphanage abre com uma longa introdução de Downey em “The Rise and Dear Demise of the Funky Nomadic Tribes”, que por si só já valeria a compra do disco. O riff de baixo e guitarra, acaba apresentando uma deliciosa música calcada no funk, além da voz de Lynott, característica ao logo da carreira (como veremos nos discos a seguir), que surpreende pela malemolência e suingue de uma ótima música, que ao final tem um solo de bateria espetacular em seus minutos finais. A diferente e até um pouco “estranha” introdução de “Buffalo Gal” reflete-se no riff inicial, que tem as notas e solos de Bell como principal destaque desta música que nos brinda com uma boa balada. “I Don’t Want to Forget How to Jive” é faixa mais curta do álbum, com pouco menos de 2 minutos e que foi muito inspirada em algum rockabilly dos anos 50/60 de Elvis Presley, Chuck Berry, Jerry Lee Lewis e cia. Em “Sarah” temos uma das mais belas músicas do disco, e até da banda, por ter uma referência um pouco mais relacionada a música clássica onde o piano de Clodagh Simmons, o violão de Bell em conjunto com a magistral interpretação vocal de Phil soam em perfeita harmonia, mostrando que desde cedo já era habilidoso tanto nos vocais, como baixista e compositor. “Brought Down”, inicia com o violão de Bell, outra importante composição de Phil que foi inspirada claramente pelo folclore irlandês, com destaque para o solo de Bell, onde o riff da guitarra duela com o baixo, começando aqui os indícios do que o Thin Lizzy faria anos depois. A pesadona “Baby Face”, mais uma música mostrando o que poderia se tornar o Thin Lizzy anos depois com aquele hard setentista e com o baixo de Phil batendo na cara do ouvinte, enquanto “Chatting Today” retorna aos violões com um ritmo mais folk. “Call the Police” é outro grande hard, onde o destaque, mais uma vez vai para o riff marcado entre baixo e guitarra, com muito suingue acompanhando a parte vocal. O disco encerra com a bela faixa-título, são sete minutos de um blues sublime, tendo a participação destacada do órgão de Clodagh Simmons, alternando as notas simples de um dedilhado de guitarra que acompanha a interpretação melancólica e até chorosa de Phil, mostrando seu poder como interprete e cantor. É a partir daqui, em Shades of a Blue Orphanage, que o Thin Lizzy começou mostrar que poderia e iria se tornar um gigante entre os grandes do rock.


Thin Lizzy (1971)


A estreia do Thin Lizzy é um tanto quanto “difícil” de explicar (talvez por isso eu goste tanto dele a ponto não ser o “último lugar” na minha lista de preferência). A banda trouxe uma mistura de sons, ideias e estilos em um álbum bastante experimental, a começar pela abertura, com “The Friend Ranger at Clonfart Castle”, na qual psicodelia do The Doors e cia impera através de um poema entoado por Phil, fazendo o ouvinte viajar logo de cara, e aqui é onde vemos o estilo inconfundível de cantar de Phil pela primeira vez. “Honesty is no Excuse” inicia com uma bela levada de violão de Bell, acompanhado pelo órgão (participação de Ivor Raymonde), nos leva de volta aos anos 60, em uma balada maravilhosa, já “Diddy Levine” é uma bela demonstração da influência folk sobre a banda. Nela que aparece pela primeira vez o riff marcado entre baixo e guitarra que estaria presente em muitas da banda anos mais tarde. “Ray-Gun” tem uma pegada funk maravilhosa, levado pelo wah-wah de Bell, com Phil bebendo e muito, da fonte de Jimi Hendrix em sua melodia vocal, assim como em “Look What the Wind Blew In”, que tem um ritmo bem envolvente feio pelo trio. “Eire” traz Phil demonstrando seus dotes vocais, acompanhado pelo lento ritmo da guitarra, baixo e bateria em mais um belo blues. “Return of the Farmer’s Son” (alguma alusão a “Highway Star” do Deep Purple aqui? Que foi lançada um ano depois), tem uma ótima levada de baixo e guitarra enquanto Phil derrama emoção na letra da canção, além do primeiro solo de destaque feito por Bell. A malemolência e “malandragem” inicial da curta “Clifton Grange Hotel” é bem interessante, a música em si parece uma espécie de rock anos 50/60 com psicodelia, com destaque para as guitarras sobrepostas de Bell. Em “Saga of the Ageing Orphan”, volta ao folk com uma triste canção e com um bonito arranjo de violões. “Remembering – Part 1” fecha o primeiro álbum em uma faixa bem trabalhada, na qual o wah-wah de Bell se destaca entre os momentos delicados e agitados que se alternam constantemente com o passar dos seis minutos de duração, onde o solo de Bell é outro grande destaque, além do cavalgante baixo de Phil, entre seus gritos ensandecidos e guitarras sobrepostas, encerrando o álbum em grande estilo.


Thunder and Lightning (1983)


O décimo segundo e (infelizmente) último lançamento de estúdio do Thin Lizzy conseguiu demonstrar um gás renovado, sendo o mais pesado da banda e com algumas músicas com um lado mais heavy metal, e muito disso foi devido à entrada do talentoso guitarrista John Sykes no lugar de Snowy White, uma jovem promessa proveniente de uma das melhores bandas reveladas pela NWOBHM, o Tygers of Pan Tang. Darren Wharton também se faz presente com mais personalidade, algo bem claro desde a introdução ao teclado para a faixa-título, que abre o álbum, logo acompanhada do ataque selvagem às guitarras de Sykes e Gorham, de uma maneira que o Lizzy não fazia tão bem desde Black Rose. Apesar de ter sido produzido por Chris Tsangarides, o mesmo que cuidou de Renegade, dessa vez o álbum soa mais agressivo, perigoso como a banda sempre deveria ser. Mesmo sendo um disco menos variado que outros destaques dos anos 70, o investimento no lado mais direto foi muito bem vindo, pois gerou diversas ótimas faixas, como “This Is the One”, “Heart Attack”, e, mais especialmente, a excelente “Cold Sweat” (anos mais tarde regravada pelo Megadeth), movida a riffs de guitarra, colocando o Thin Lizzy para concorrer com os grupos que despontaram durante o ápice da NWOBHM. Outra boa contribuição de Darren Wharton é “The Sun Goes Down”, permeada por texturas geradas por seus teclados, e muito provavelmente a mais atípica canção do álbum. “The Holy War” traz um bom desempenho dos guitarristas e a marca registrada de Sykes, enquanto “Bad Habits” lembra o Thin Lizzy setentista, criador de músicas que injetavam uma forte dose de melodia através de sua dupla de guitarristas. Outra boa faixa é “Baby Please Don’t Go”, ajudando a tornar Thunder and Lightning ainda mais empolgante.


Vagabonds of the Western World (1973)


Aqui é onde o som do Thin Lizzy realmente começa a tomar forma adquirindo sua própria personalidade, sem mesclar tantos os estilos. A guitarra de Bell ganha mais espaço e o lado folk é praticamente abandonado de vez, assim privilegiando um som mais característico do rock setentista, com mais peso. Podemos ver isso logo na música de abertura, a dançante “Mama Nature Said”, na qual o slide de Bell dá um espetáculo à parte, ao lado do órgão do convidado Jan Schelhaas, também presente na embaladíssima “The Hero And The Madman” onde é apresentado um Hard Rock para ouvir durante a estrada, viajando sem destino. Seguimos com “Slow Blues”, que faz jus ao título e mantém a qualidade do play, sendo uma das melhores músicas da banda, na qual a guitarra, acompanhando a melodia vocal entre as batidas fortes de bateria, em um ritmo quase marcial, transforma-se em uma suingada canção com o andar da carruagem. Em seguida temos “The Rocker”, primeiro clássico da banda, com destaque total para Bell trazendo riffs agressivos e solos maravilhosos. Um Hardão forte e com os vocais bem trabalhados e uma interpretação genial de Lynott. A faixa-título é um Hardão forte e com os vocais bem trabalhados e uma interpretação genial de Lynott, além de um riff grudento de baixo e guitarra, que parece ter saído de algum álbum do Black Sabbath. “Little Girl in Bloom” é o momento calmo do play, assemelhando-se à “Shades of a Blue Orphanage” ou “Saga of the Ageing Orphan” em determinados momentos, apesar da inovação com os vocais sobrepostos de Lynott cantando o refrão. O baixo entra demolindo em “Gonna Creep Up on You”, mais uma funkeada faixa criada por Lynott e cia, na qual Bell gasta o wah-wah com um riff pegajoso e dançante. “A Song for While I’m Away”, com um interessante arranjo de cordas, mantém a tradição de encerrar os álbuns do Thin Lizzy sempre com uma canção marcante, dessa vez simples, mas emotiva, quase como uma valsa, levada pelo baixo e violão e por uma interpretação única de Lynott.

Aqui cabe um parágrafo de dicado àquela que virou quase que uma marca da banda, hoje a clássica “Whiskey in the Jar”, que acabou ficando de fora do lançamento original, mas que apareceu no relançamento do álbum em 1991, uma música popular irlandesa, mas que o Thin Lizzy a tratou de “possuí-la”, onde teve um relativo sucesso com o single quando foi lançada em 1972 e que anos mais tarde foi regravada e também “possuída” pelo Metallica no Garage Inc, onde a banda toca ela nos shows até hoje como forma de homenagem a uma das maiores influências e heróis da banda. Essa versão do Metallica, muitos também consideram como definitiva e até melhor que a original. Bem, para este que vos escreve, ambas têm o mesmo peso de gosto e adoração.


Nightlife (1974)


1974 marca o começo de uma nova era para a banda, a começar pela saída de Eric Bell, que foi substituído logo por uma dupla (e isso mostra um pouco da ambição que Phil tinha em mente para o futuro da banda), que seriam Scott Gorham e Brian Robertson. Nascia assim uma das principais duplas de guitarra, ao lado de K. K. Downing/Glenn Tipton (Judas Priest) e Andy Powell/Ted Turner (Wishbone Ash), eternizando momentos sagrados para o rock através das famosas guitarras gêmeas. E é a partir de Nightlife que o bicho pega, pois este é um grande álbum (é o início real da fase de ouro da banda), misturando elementos da soul music, do funk e algumas pitadas de hard rock, sendo em geral um disco com muita sensualidade, contando com a participação de backing vocals femininos que contribuem bastante para isso, assim como arranjos especiais para cordas, feitos por Jerry Horrowitz, e pelos teclados de Jean Roussell. O suingue de “She Knows” abre o disco, e nela é possível identificar uma pequena diferença em se tratando das guitarras, com cada músico fazendo seu breve solo. A faixa-título é um blues bem dinâmico e composto, mantendo o suingue da faixa de abertura, e trazendo novamente as cordas para as canções do grupo. “It’s Only Money” já é mais hard, com o riff marcado das guitarras e baixo mostrando o lado pesado que o Thin Lizzy tanto procurava. Logo após temos uma das melhores canções do grupo (se não a melhor), a emocionante e romântica “Still in Love With You”, com Phil dando mais um show de interpretação vocal, dividido com Frankie Miller, e com a participação mais que especial de Gary Moore fazendo o magistral solo de guitarra, como esperado de um dos maiores guitarristas da história do rock, fazendo com que encerre este relato com lágrimas nos olhos, que música meus amigos. “Frankie Carroll” é outra pérola, com Phil cantando acompanhado apenas por um bonito arranjo de cordas e piano. Já em “Showdown”, na qual o baixão de Phil, acompanhado pela levada de Downey e do wah-wah da guitarra, constrói mais uma sensual canção para aquela noite de sábado, destacando os vocais femininos. A vinheta instrumental “Banshee” é uma bela amostra do que as guitarras gêmeas eram capazes de fazer, em uma canção simples, porém comovente ao mesmo tempo, enquanto “Philomena” retorna ao som mais cadenciado, com o baixo de Phil sendo a atração, dividindo o riff principal junto das guitarras gêmeas. A clássica “Sha La La” é o momento no qual as guitarras gêmeas se fazem mais presentes, com uma levada sensacional do baixo acompanhando o riff de tirar o fôlego, além da ótima levada de bateria (mais uma). Os solos rasgados de Gorham e Robertson são a cereja do bolo dessa excelente faixa. O encerramento fica por conta de “Dear Heart”, outra música mais amena e comovente, levada pelo órgão de Rousell e pelas cordas. Outro destaque do disco é a linda capa do álbum, uma obra de Jim Fitzpatrick, com uma pantera negra observando um entardecer, sendo essa pantera uma representação de Phil.


Fighting (1975)


Se Nightlife foi o começo de uma nova era, é em Fighting que o som do Thin Lizzy toma a forma mais conhecida e amada pelos fãs, onde Phil, Gorham, Robertson e Downey definem o estilo que então consagraria a banda como a mais importante do rock irlandês e uma das maiores no cenário mundial naquele momento. Cada música é uma pequena obra-prima do hard setentista, a começar pela clássica e cover de Bob Seger “Rosalie”, com seu riff grudento, tendo a participação especial de Roger Chapman (do grupo Family) nos backing vocals. “For Those Who Love to Live” tem um ótimo trabalho das guitarras gêmeas e amplia o horizonte de canções suingadas, mas com o peso que não aparecia nos álbuns anteriores, destacando também as vocalizações de Lynott. A banda resgata “Suicide”, que já era era apresentada nos shows quando ainda eram um trio, e que aqui recebeu o devido tratamento para torná-la um dos grandes clássicos da banda, onde as guitarras de Gorham e Robertson fazem a cadência perfeita para o baixo e para a voz de Phil, acompanhados pelo sempre monstruoso Brian Downey (que baterista!), com a ponte central, onde todos executam um riff marcado, sendo um dos principais momentos do álbum, copiado “descaradamente no bom sentido” por bandas como Iron Maiden, Def Leppard, Tygers of Pan Tang, entre outros da NWOBHM. “Wild One” é uma balada que entra para dar aquela calmaria de meio de disco e possui momentos marcantes das guitarras gêmeas, principalmente no maravilhoso solo. “Fighting My Way Back”, com suas variações, seu riff principal e as belas melodias de guitarra se tornou mais um clássico da banda. Já “King’s Vengeance” tem um riff inspirado em Led Zeppelin e embora seja uma sonoridade que soa diferente do “habitual” se tratando de Thin Lizzy, é uma música muito agradável. “Spirit Slips Away” possui uns timbres que fazem dela uma viajante canção, na qual as variações no botão de volume na guitarra de Robertson criam uma atmosfera inédita para os irlandeses e mais uma vez a interpretação e letra de Phil se destacam de maneira triste, que músico! O tecladista do Faces, Ian McLagan, participa em “Silver Dollar”, a qual é uma representação fiel do som objetivado por Lynott para a banda, ou seja, uma mescla de suingue, peso e partes de guitarra bem trabalhadas, assim como “Freedom Song”, outra boa amostra do que era o som feito pelo Thin Lizzy a partir de Fighting, com as guitarras gêmeas duelando com o baixo. O álbum se encerra com “Ballad of a Hard Man”, que de balada só tem o nome, já que as guitarras de Gorham e Robertson despejam um Hardão fenomenal, comandado por uma cozinha impecável, empregando o suingue de Nightlife com muito peso, sendo esse o diferencial nos álbuns do grupo a partir de então. É impossível não destacar o belo solo com wah-wah feito por Robertson. Certamente, muito da influência que o Thin Lizzy deixou para a posteridade vem dos petardos impressos nos sulcos de Fighting (e os discos posteriores), que saiu nos Estados Unidos com uma capa diferente da versão europeia, tornando-se mais um item de coleção para os fãs.


Bad Reputation (1977)


Foi uma batalha árdua ter que deixar Bad Reputation fora do pódio, mas do quinto colocado (Fighting) em diante, as diferenças são praticamente zero até a primeira posição...que tarefa difícil, de verdade!
Bem, vamos ao que interessa. Como a capa do disco denota, o errático Brian Robertson se fez ausente na maior parte das sessões de gravação e por este motivo acabou ficando foda da foto final, que acabou culminando na capa do disco, contudo, o trabalho foi extremamente bem preenchido por Scott Gorham, algo nítido desde as belas melodias executadas na guitarra em “Soldier of Fortune” até suas sensíveis, mas certeiras intervenções na derradeira “Dear Lord”. A faixa-título, além de apresentar uma letra que se encaixa perfeitamente à condição do Lizzy na época, é perfeito exemplo da união única de peso e groove que a banda praticava com tanta maestria na segunda metade dos anos 70, sem falar nas belíssimas viradas de bateria executadas por Brian Downey. “Southbound” e “Dancing in the Moonlight” trazem uma sensibilidade pop invejável; a primeira através de agradáveis melodias executadas na guitarra, “conversando” com o vocal de Phil, enquanto a segunda (Uma das melhores da banda) apresenta um irresistível convite ao balanço, inclusive trazendo como complemento o estalar de dedos e a presença de um bem vindo saxofone. A criatividade do grupo não para por aí, pois “Killer Without a Cause” possui riffs de heavy metal (mais uma que certamente influenciou diversas bandas) e bases executadas ao violão em paralelo e o uso do voice box, cortesia de Robertson. “Downtown Sundown” acalma os ânimos, mas “That Woman’s Gonna Break Your Heart” recoloca os níveis de adrenalina no alto, com seu marcante riff principal, que serve de perfeita ponte para as linhas vocais de Phil. Brian Robertson acabaria deixando o Thin Lizzy definitivamente após a turnê para Bad Reputation, sendo substituído por um velho conhecido, mas ainda deixaria sua marca em Live and Dangerous (1978), álbum duplo ao vivo compilando faixas apresentadas sobre os palcos durante 1977, mas este é assunto para outro momento.


Johnny the Fox (1976)


E para abrir o pódio, ninguém menos que Johnny the Fox. Pelo visto não foi suficiente ter lançado O ÁLBUM em 1976, o Thin Lizzy lançou logo dois! Visto que a banda foi forçada a abortar a turnê de Jailbreak na metade após Phil Lynott ter sido diagnosticado com hepatite, resolveram retornar aos trabalhos antes do planejado a sequência de Jailbreak, o clássico (mais um) Johnny the Fox. Este é um álbum que une com propriedade o típico peso do hard rock a um groove irresistível, no qual só o Thin Lizzy conseguia fazer. A obsessão de Phil com os Estados Unidos em suas letras continua em Johnny the Fox, presente em músicas como “Fool’s Gold” e “Massacre”, esta última, aliás, prova absoluta da influência exercida pelo Thin Lizzy nas bandas da NWOBHM (New Wave of British Heavy Metal), com maravilhosos riffs e a condução digna do talento de Brian Downey. Música esta, que viria a ser regravada pelo Iron Maiden muitos anos depois. A execução de riffs unindo baixo e guitarras como apenas um instrumento permeia a maravilhosa “Johnny”, com Scott Gorham e Brian Robertson despejando técnica e feeling nos solos. Já em “Rocky”, traz a história de um presunçoso rock star (seria Robertson??) através de uma música pesada e rica nas dobras de guitarra que se tornaram característica marcante do Lizzy. Brian Robertson também é o co-escritor de “Borderline”, uma magnifica balada sobre um homem ter sido deixado por uma mulher, porém sem soar brega (esta que também veio a ser tocada pelo Metallica em seu último show acústico beneficente, coisa mais linda ver James entoando as notas de Phil com emoção, tirando lágrimas deste que vos escreve). Chegamos ao principal hit do disco, a curta “Don’t Believe a Word”, que possui um riff simples, porém hipnótico e único, denotando influências blues carregadas por Phil e que acabou se tornando mais um clássico da banda. “Fool’s Gold” traz a história da fuga em massa de irlandeses para os Estados Unidos em função da fome atravessada durante o século XIX. Aquela malandragem típica de Phil encontra sua maior manifestação em “Johnny the Fox Meets Jimmy the Weed” (outro clássico absoluto), apresentando, sob um instrumental cheio de balanço e swing. O lado mais melódico do Lizzy retorna em “Old Flame” e “Sweet Marie”, mas a finalização do disco em “Boogie Woogie Dance” traz um som cheio de groove e peso, na qual Phil e Downey constroem uma sólida base para o show de Gorham e Robertson. Johnny the Fox é daqueles discos que não se escuta pela metade, NUNCA.


Black Rose: A Rock Legend (1979)



Como se não bastasse a dificuldade de escolher a sequência dos discos no geral, este 3 piorou ainda mais a situação, vocês não têm noção do quão difícil foi ter que deixar Black Rose em segundo. Bem, após a saída definitiva de Brian Robertson, finalmente Gary Moore registrou devidamente sua presença em um disco do Thin Lizzy. Variado, o disco apresenta desde canções bem roqueiras e rápidas, como “Toughest Street in Town” e “Get Out of Here”, até momentos de uma delicadeza ímpar, elevada ao máximo em “Sarah”, música escrita para a recém-nascida filha de Phil Lynot. No meio disso tudo, ainda havia espaço para as percussivas e grooveadas “Do Anyting You Want To” e “S&M”, além das sempre bem vindas características pop do Lizzy, que podemos ver na magnifica “Waiting For a Alibi”, que é conduzida pelas guitarras marcantes de Gorham e Moore, despejando licks e solos que trazem uma dinâmica diferenciada à música. “With Love” traz misturas de guitarra e violão de uma maneira bem agradável e ainda trazem a presença do amigo Jimmy Bain (Rainbow, Dio) no baixo. Mesmo com nível lá das músicas nas alturas, o maior destaque do álbum é sua épica faixa-título, um belo tributo as canções tradicionais irlandesas, atribuindo um suave toque celta ao hard rock do Thin Lizzy, fora o destaque para o talento absurdo de Gary para construir solos de alto nível. É um tanto quanto triste que, no track list, logo após “Sarah”, homenagem à sua filha, Phil admita, através da letra de “Got to Give It Up”, que precisava largar os vícios que estavam consumindo sua vida (e que acabaria consumindo literalmente sua vida anos depois). Infelizmente, Phil ainda lutaria muito contra esses demônios, que acabariam afetando negativamente sua vida e a música produzida pela banda no futuro próximo.


Jailbreak (1976)



E a medalha de ouro vai para Jailbreak. Mais entrosados do que nunca, a banda passou a compor uma música melhor que a outra, atingindo o ápice em Jailbreak. O álbum começa com a “porrada” e excepcional faixa-título, com um grudento refrão e com aquela típica levada que só Thin Lizzy sabe fazer e seguindo o ritmo, as guitarras são um espetáculo à parte em “Angel from the Coast”, uma música rápida, na qual o baixo galopante de Phil dá as caras, e claro, dê-lhe guitarras gêmeas. “Running Back”, possui a participação de um saxofonista e de outros músicos de estúdio, em uma canção mais amena em comparação às duas iniciais, porém sem perder o brilho. “Romeo and the Lonely Girl” é mais um som típico de Thin Lizzy, com o baixo tomando as rédeas e as guitarras suingadas sendo os maiores destaques. “Warriors” vem com mais um destaque de baixo galopante de Phil e com outro riff grudento das guitarras gêmeas, além do vocal recheado de efeitos. Em seguida vem o maior clássico da banda “The Boys are Back in Town”, que aliás, já nasceu clássico. O riff simples, a melodia grudenta, a interpretação fenomenal de Lynott, as guitarras dominando e o refrão de fácil assimilação, daqueles que se sai cantando após a primeira audição. E foi com esta música que o Thin Lizzy ganhou o mundo de vez. “Fight or Fall” diminui o ritmo, com um lindo arranjo das guitarras e com Lynott se consagrando de vez como um dos principais baixistas e compositores de sua geração (e pós também). Se você não se pegar dançando em “Cowboy Song” é porque, com toda certeza, você tem sérios problemas auditivos (para não dizer outra coisa), já que o ritmo da música por si só embala as pernas e os braços do ouvinte. “Emerald” encerra O ÁLBUM perfeito, com seu riff pesadíssimo, que se tornou rapidamente mais um clássico da banda com seu hipnotizante hard setentista, que leva o ouvinte ao êxtase no sensacional duelo de guitarras durante o solo que conclui a música. Fantástica e absolutamente perfeita!


Pois bem meus amigos, chegamos ao fim desta maravilhosa e estonteante aventura que foi dissecar a discografia de uma das melhores e mais importantes bandas da história, ao mesmo tempo esquecida por muitos. Mas estamos aqui para lembra-los de que o Thin Lizzy, mesmo não existindo mais, estará sempre vivo em nossos corações com sua obra mais que perfeita.

Obrigado Philip Parris Lynott por nos brindar com sua eterna poesia e obra!
E para fechar, quem não gosta de Thin Lizzy, gente boa não é. E tenho dito!




quinta-feira, 7 de março de 2024

EXHORDER - DEFECTUM OMNIUM (2024)

 

EXHORDER
DEFECTUM OMNIUM
Shinigami Records/Nuclear Blast Records - Nacional

Há quase quatro décadas o Exhorder começou sua caminhada. Um caminho cheio de pedras, percalços, sumiços e música pesada de qualidade. A banda de New Orleans, nos Estados Unidos, foi um dos percursores de um estilo que anos depois se popularizou com o Pantera.

Enquanto a turma de Dimebag Darrel tentava a fama no Glam metal, o Exhorder já ousava na genialidade ao adicionar uma boa dose de groove ao thrash metal americano. As famosas demo-tapes tão populares nos anos 80 abriram caminho e fama até a chegada de “Slaughter in the Vatican” (1990) e “The Law” (1992). Dois trabalhos que merecem a atenção de qualquer fã de heavy metal. Mas, mesmo com a boa recepção, a banda se dissolveu e teve um longo hiato que durou até 2019.

Os 20 e poucos longes dos holofotes não tiraram o brilhantismo do grupo, que lançou “Mourn the Southern Skies” - um trabalho cheio de adrenalina e boas viagens, onde na época, ganhou bastante destaque na mídia especializada. Cinco anos depois, o Exhorder resolveu dar “dois passos para trás” para dar um pulo gigantesco rumo a se tornar um dos grandes - “Defectum Omnium” é uma miscelânea completa do que foi os anos 80 e 90 apontada para um novo norte.

O novo trabalho tem três pilares que sustentam a estrutura sonora. Primeiro de tudo, a agressividade. Uma violência gratuita que faz os tímpanos sangrarem de alegria. Segundo, a sua própria identidade que não se corrói mesmo com tantos anos. Terceiro, a ousadia de integrar novos elementos a sua loucura. Para clarear o caro leitor, é como se tivéssemos Exodus, Exhorder e Candlemass nas 12 composições do disco. A abertura com “Wrath of Prophecies”, é uma voadora na porta. Kyle Thomas (Vocal e Guitarra), Pat O’Brien (Guitarra), Sasha Horn (Bateria) e Jason VieBrooks (Baixo) não estão dispostos a brincar, uma vez que a sequência com a dupla mortífera “Under the Gaslight” e “Forever and Beyond Despair” mantém o material em alta. Com as músicas em ritmo acelerado, o ouvinte se sente como se estivesse em um rodamoinho metálico.

“The Tale of Unsound Minds” traz um clima mais arrastado, guitarra sombria e andamento lento, o peso descomunal faz a parede trepidar. Uma pegada mais solta, mas não menos pesada, encontramos em “Divide and Conquer”. Sua parte do meio renderá momentos únicos nas apresentações. O peso parece que nunca diminui, em “Year of the God”, riffs frenéticos, com o instrumental beirando as lunáticas linhas do black metal em determinadas partes. Aliás, as incursões de punk, hardcore, em certos momentos dão um enorme ganho para estrutura, mostrando quão inspirados todos estavam nas composições de “Defectum Omnium”.

As letras do disco são reflexo da atual situação do planeta terra e suas “pragas”, nas palavras de Kyle: “O mundo é um incêndio em uma lixeira e somos todos cúmplices. As pessoas têm falado sobre vírus nos matando, quando, na verdade, NÓS somos o vírus para a Terra”. Nesse contexto todo, e ainda explorando a profundezas da mente humana, o trabalho merece várias audições para melhor absorção da mensagem passada pela banda. A faixa título se torna algo fora da curva levando um desespero caótico numa cadência gloriosa, os últimos minutos são épicos onde devemos aplaudir tamanha maestria. O disco por completo é muito ímpar, não existindo similaridades, o ponto central e regra única é ter peso, mas, também, transformar a jornada mais agradável possível, sem essa de “isso não acaba?”. Por exemplo, em “Your Six”, o último ato do álbum, a música transcende, é o cósmico perfeito entre Black Sabbath e Exhorder.

O álbum sairá agora no dia 8 de março, e tenho certeza que, em dezembro, ele ainda estará fazendo a sua cabeça girar. Exhorder foi durante décadas e décadas ofuscado pelo “seu filho bastardo”, mas, em “Defectum Omnium”, muitos vão saber a verdade e reverenciar os mestres.

William Ribas