AMARANTHE
THE CATALYST
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
THE CATALYST
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
Um dos nomes mais proeminentes do metal sueco dos últimos anos, o Amaranthe é uma banda que assume mesclar gêneros - sendo inclusive rotulado por vertentes da imprensa especializada como “Massive Metal”. Trazendo em seu arcabouço de seu roll sonoro estilos como power, alternative, metalcore e o eletrônico, o grupo lança ao mundo no presente ano seu novo trabalho, intitulado “The Catalyst”.
Sétimo álbum da trupe desde o antecessor “Manifest”, registrado em 2020, eles retornam à cena com um de seus mais energéticos e poderosos trabalhos. Entretanto, um adendo: enunciar tal afirmação é condicionada à concepção de que há o entendimento de que o trabalho do grupo se firma em um recorte extremamente próprio dentro do estilo, especialmente na obra em questão. Há uma sobrecarga eletrônica que pode não agradar a todos, especialmente aos não apreciadores das variantes do gênero. Fãs dos primórdios da banda também podem ressaltar (ou ressabiar!) esse exacerbo. Ainda assim, mesmo com tais notificações, afirmativamente, é distinta a qualidade do disco.
Talvez para que essas considerações sejam fundamentadas, é válida uma rememorada na forma de como esses suecos incidentaram seu caminho. Emersos de uma era em que bandas de power metal melódico com vocais femininos dominavam a cena – na conhecida leva inaugurada pela epítome desse marco , o fenômeno finlandês Nightwish -, o Amaranthe assumiu particularidades a sua sonoridade e expressividade que seus congêneres - nomes como Epica, Within Temptation, Lacuna Coil, After Forever ou The Gathering - talvez não compactuaram da mesma forma, apresentando um trio de vocalistas de características distintas para pontear o grupo, o que, certamente, trouxe um óbvio diferencial da banda para a cena que, apesar da borbulhante efervescência, também já virava um lugar-comum do “mais do mesmo”. Liderada pela poderosa vocalista Elize Ryd, por Nils Molin (o cara das vozes “limpas”) e por Mikael Sehlin (o cara das vozes “sujas” e agressivas), além de contar com Olaf Mörck nas guitarras, teclados e sintetizadores, Morten Løwe Sørensen na bateria e, Johan Andreassen no baixo, “The Catalyst” é uma obra que consegue entregar a essência e coerência do Amaranthe com toda a excelência e identidade do grupo, sendo um encontro do que os suecos fizeram no passado e como eles intencionam ir para o futuro.
A faixa de abertura do álbum a qual dá nome ao álbum, “The Catalyst”, é um petardo que resume o poder de fogo do grupo. Vocais de diferentes essências tomando a cena, introito calcado e inspirado no synth pop, progressão melódica, guitarras e bateria em fúria, ritmo empolgante – tudo que há de mais puro e significativo no que o Amaranthe sabe fazer está ali; justificando o porquê a música merece estampar a capa do álbum. A seguir, “Insatiable” mantém-se em consonância com a música anterior, trazendo um dos refrões mais grudentos do álbum – aliás, essa é uma das características mais marcantes dos suecos, seus chorus chicletes e grudentos! Ainda que a faixa exacerbe-se em um viés constante e eletronicamente repetitivo, o som, mesmo sem grandes arroubos de inspiração, imprime o estilo do grupo como previsto.
Porém, em “Damnation Flame”, a inclinação mais gótica da faixa registra uma mudança ambiental. Trilha mais pesada e com a agressividade vocal de Nils Molin traçando a trilha, temos aqui uma amostra de como o estilo do heavy melódico pode unir tendências – do clássico ao moderno – sintetizando instrumentos como o cravo e a batida eletrônica. A próxima música, “Liberated”, reduz a cadência veloz dos sons anteriores e investe em teclados, samples eletrônicos e na versatilidade de Elize Ryd, condensando tonalidades e harmonias vocais que ganham o ouvinte aos primeiros instantes. O refrão também segue a métrica “chiclete” e “dançante” de outrora, ainda jogando no “mais do mesmo” que já era imaginado desde o primeiro play do álbum. Aliás, se a batuta da sonoridade eletrônica acompanhava as faixas anteriores, em “Re-Vision” ela torna-se protagonista. E haja symph-pop no mundo que consiga cobrir esse som! Uma mescla de industrial e melódico, a faixa é muito específica no seu estilo e só irá agradar ao nicho mente aberta da banda, pois parece que ela saiu direta de um computador. O solo de Olaf rasga a faixa, mas não adianta: são as vozes robóticas e os sintetizadores eletrônicos que dominam a cena.
E a coisa não muda muito na sequência em “Interference”. A ambientação eletrônica pesa mais ao industrial nessa faixa. A batida análoga a uma máquina combina com o clima denso e tenso que a letra imprime (I'm gonna ride into the future like a loaded machine/Fill my tank and tear down all the inhumanity/Now is now), concentrada na relação tecnicista que as relações humanas assumem. Uma boa faixa, todavia, ainda extremamente nichada. Contudo, essa perspectiva do Amaranthe muda em “Stay a Little While”, trilha que se enquadra na esteira de balada de heavy melódico típica do estilo. Da impostação vocal de Elize ao solo emocional de Olaf, a peça é uma composição de excelente bom gosto ao que se espera. “Ecstasy” retorna ao construto tecno-melódico de antes, com refrões marcantes e guitarras em alta eletricidade. Mais uma vez, não empolga em inspiração ou criatividade, mas mediante ao conjunto de “The Catalyst”, o ouvinte certamente assimilará o resultado.
Na sucessão, “Breaking The Waves” já desponta para uma heavy melódico de linhagem mais moderna e alternativa. Temos no entremeio da cadência pesada, momentos ambientais e de solos melodiosos, complementados pelos vocais guturais de Mikael e líricos de Elize. Certamente, um das músicas mais destacáveis do registro. A próxima faixa chamada de “Outer Dimensions” começa com a climática épica e grandiosa típica do estilo. O refrão, ainda que eu tente evitar comparações, parece ter sido recortado do Nightwish e colocado em um liquidificador com bases eletrônicas. Destaque ao solo de guitarra em que Mörck apresenta sua qualidade técnica em um exímio nível. “Resistence”, a penúltima música, é uma trilha veloz e furiosa, que a despeito da composição, peca, mais uma vez, na repetitividade e previsibilidade. Francamente, a ansiedade impressa aqui não prepara devidamente o ouvinte para o desfecho devido. Até mesmo porque, “Find Life”, o momento de encerramento, é uma música que sabe dosar o sintetizadores eletrônicos, os exageros vocais dos três responsáveis por segurar os microfones, assim como os outros elementos. Mais uma vez, Olaf emociona em seu solo. Há aqui uma faixa em que o “menos é mais”, apesar da ostentação técnica e estilística do grupo.
Após o percurso auditivo de “The Catalyst”, não existe outro veredicto senão o de que o grupo segue coerente e tecnicamente excelente na linhagem ao qual já se consagram como um dos maiores nomes do gênero. Mais uma vez, é crucial endossar que ter a “mente aberta” não é apenas uma prerrogativa para ouvir o álbum em questão – é um requisito necessário para ouvir o próprio Amaranthe! O heavy metal é um estilo dinâmico e, em sua essência, a proliferação de estilos faz parte do âmago desta arte. Assim, o Amaranthe não mais arrisca mesclar estilos – ele assume o que quer fazer! Em mãos temos um dos trabalhos mais astutos do grupo. Ainda que esteja no propósito formulado e paradigmático dos suecos, eles respondem de forma clara o que o futuro da música pesada pode esperar deles.
Gregory Weiss Costa
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