terça-feira, 16 de abril de 2024

SAMAEL - PASSAGE - LIVE (2024)


SAMAEL
PASSAGE - LIVE
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Não apenas mais um “ao vivo”: uma verdadeira celebração à música pesada e sombria. Este é o espírito de “Passage – Live”, registro que comemora os 25 anos de “Passage”, uma das mais icônicas obras da igualmente icônica e soturna banda suíça Samael. Gravado na cidade de Cracóvia na Polônia, em um show com ingressos esgotados e ao final de sua festiva turnê europeia, a “Passage 25th Anniversary Tour”, o grupo entrega energeticamente sua agressividade e climática tenebrosa nesta bela apresentação em que, conforme previsto, executam integralmente o setlist do destacado álbum de 1996.

Considerada uma das bandas mais relevantes e influentes de um gênero que se traduz em uma mescla de estilos como o Black Metal Sinfônico, o Industrial e o Dark Gothic Metal, o Samael foi extremamente eficaz em “Passage – Live” ao presentear o público com a sua mais crua e transparente essência. Ainda assim, eles conseguem soar renovados em suas interpretações em relação ao disco homenageado. Certamente, "Passage” foi um divisor de águas na carreira do Samael que – sabiamente - abandonou o morno Black/Gothic Metal que faziam para incorporarem um viés mais industrial e atmosférico, tendências que os alçariam como um dos nomes mais importantes e lendários da cena. Sendo assim, é mais do que justificada sua escolha para conceber essa versão ao vivo.

Além disso, o disco também marca a história do Samael por ser o primeiro registro nesse modelo com a formação atual, composta pelo líder e membro fundador Vorph (vocais e guitarra), Xystras (bateria, teclados e sintetizadores), Thomas ‘Drop’ Betrisey (guitarras) e Ales Campanelli (baixo). A partir do primeiro play, é perceptível o quão entrosado o line-up está e quão poderosa e vívida é uma obra do calibre de “Passage”. Costumo dizer que um álbum ao vivo é um raio-x da alma de uma banda. Ali suas potencialidades, vicissitudes, peculiaridades e – em várias ocasiões – falhas são deflagradas de maneira mais orgânica que um álbum de estúdio. Sabemos que muitas bandas “enganam” em seus registros ao vivo, usando e abusando dos recursos de uma mesa de som ou de programas de computador para entregar o produto final “mais aceitável”, por assim dizer, porém, em minha incerta opinião, o Samael parece não ter utilizado desses subterfúgios. Até mesmo porque a banda calca seus sons em toda parafernália eletrônica e de programações que o Industrial pede e possibilita.

Contudo, a despeito dessa opção estilística, o Samael ao vivo não soa artificial. “Passage – Live” é visceral e emocionalmente profundo como uma viagem pela umbra e outros confins trevosos indicam ser. Vorph entrega suas entranhas em seus vocais rasgados e intensos, acompanhado pela sinfonia funesta e atmosférica dos instrumentais do grupo, que, indubitavelmente, possuem uma das sonoridades mais singulares no universo da música pesada. Não tem jeito: apenas Samael soa como Samael.

Aos familiarizados com o repertório do álbum, vale destacar algumas notáveis interpretações nesse célebre espetáculo. Após a abertura instrumental, “Rain” é arremedada com vigor e agressividade espantosa, efetuando uma estrondosa e vibrante aclamação do público, logo ao início. “Angel’s Decay” poderia servir como trilha sonora de um rito macabro, pela ambientação e versificação entoada por um voraz e inspirado Vorph. Aliás, após essa música, ele saúda o público presente e conclama, como um astuto anfitrião, o motivo de estarem ali: a celebração dos 25 anos de “Passage”. Na esteira de destaques desse live, “Jupiterian Vibe” incendeia o público presente, que sincopado aos tambores incidentais de Xystras, grita e canta com um impressionante entusiasmo. Energia em alta vibração que também é percebida em “The Ones Who Cames Before”, uma pérola instrumental de como seriam as trevas pela ótica musical de samples eletrônicos e de riffs velozes e intensos.

Impossível também não citar o hino “Moonskin”, em uma sólida e harmoniosa interpretação que incita a, talvez, maior ovação da audiência. Nessa linha, a densa e pesada “Born Under Saturn” oferta um dos melhores e mais memoráveis momentos do show. Não obstante, em sua totalidade – embora tenha citado apenas algumas das faixas do concerto – é nítida a qualidade e a identidade do Samael do início ao fim desse formidável e sombrio percurso.

Como mencionado ao início dessas palavras, “Passage – Live” é uma verdadeira celebração ao legado e à obra da lendária e soturna banda suíça. Imponentemente, o Samael entrega um vigoroso registro ao vivo de como conceder e honrar sua distinta arte e seus apreciadores.

Gregory Weiss Costa




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