Depois de marcar seu nome na cena underground brasileira com o Mad Dragzter, banda que lançou o clássico “Strong Mind”. Tiago Torres passou quase uma década afastado do ciclo criativo. Um longo período separa o fim da sua antiga banda do nascimento do No More Death, novo projeto que resgata sua paixão pela música pesada, mas agora com uma proposta ainda mais madura, ousada e conceitual.
Com o “The Death is Dead”, lançado de forma independente em 2025, o No More Death apresenta um thrash metal carregado de fúria, peso e melodia, mas também de emoção e narrativa, contando uma história inspirada no Apocalipse: a era em que a própria morte é derrotada. Em uma conversa exclusiva com o Rebel Rock, Tiago fala sobre sua volta à cena, as diferenças entre o passado e o presente, a concepção do disco e o que podemos esperar dessa nova fase que promete ser definitiva.
Por William Ribas
Rebel Rock: O último suspiro do Mad Dragzter foi em “Master of Space and Time”, de 2015. São dez anos entre o fim da sua ex-banda e o início do No More Death. Como foram esses anos longe da cena musical e do processo criativo?
Tiago Torres: Olha, foram longos (risos)! Eu praticamente desconectei de tudo relacionado a banda: ter banda, tocar, compor, gravar. Na verdade, a única coisa que ainda fazia era solfejar alguns riffs e gravar no celular para um dia poder usar. Realmente foi uma página em branco nesse sentido.
Rebel Rock: Em que momento surgiu o estalo para voltar ao ciclo de compor, gravar e lançar um trabalho? Foi algo planejado ou simplesmente inevitável?
Tiago Torres: Sempre foi meu sonho ter uma banda de thrash, pelo menos nos últimos 25 anos. E essa chama permaneceu no meu coração quando o Mad Dragzter acabou. Em 2024 surgiu uma oportunidade de voltar a compor e gravar, e não perdi tempo. Foi como se toda a energia estivesse lá. Me sinto com a mesma, ou até maior, energia do que na época em que gravei o EP “New Times” ou o “Strong Mind”. Voltei a sonhar!
Rebel Rock: O Mad Dragzter deixou uma marca muito forte no underground brasileiro. O quanto desse passado ainda pulsa dentro do No More Death e o que você fez questão de deixar para trás nessa nova fase?
Tiago Torres: Tenho orgulho de tudo que fiz na banda! Tempos muito bons, que não voltam mais! Nunca me diverti tanto (risos)!!! Mas sinto que foi como se fosse um treino para o que planejo com o No More Death, em todos os sentidos: profissionalismo, seriedade, potencial. O No More Death está em outro patamar, na minha humilde opinião, e terá mais sequência, regularidade. Veio para ficar.
Rebel Rock: Sobre o nome da banda: No More Death é curto, direto e de fácil memorização, mas ao mesmo tempo carrega um peso conceitual imenso. Essa força e simplicidade sempre foram a ideia desde o início?
Tiago Torres: Sim! Em tudo relacionado à banda! Vou te falar que achar nome para banda agora é uma tarefa quase impossível (risos)! Já tinham usado todos os legais (risos)! Mas fiquei muito feliz com o nosso. Queria, para o No More Death, uma cara toda nova e exclusiva. Isso valia para o som, capa, logo, estética em geral! E acredito que consegui. Muita gente vê o logo e a capa e não tem a menor ideia do que vai vir. Dificilmente pensam em thrash — e isso é ótimo! Nos anos 80/90 as bandas tinham identidade, cada uma com a sua cara. Hoje as bandas de thrash são muito parecidas, os logos e capas praticamente iguais. É só bater o olho que você já sabe que é thrash. Está todo mundo enclausurado em uma caixa. O Master of Space and Time, do Mad Dragzter, também estava. O No More Death é livre, tudo do zero! Sonho que falem “isso é NMD”… e não “isso é mais uma banda de thrash dentro de trocentas que existem e aparecem todo dia”.
Rebel Rock: Gostaria também de saber mais sobre a história que envolve o disco. Ele parte de um trecho do Apocalipse (21:4), que fala sobre uma era em que a morte não existe mais. Como esse conceito se desdobra ao longo das oito faixas e de que maneira a narrativa se conecta musicalmente e liricamente?
Tiago Torres: Tentei contar, nos 37 minutos do disco, essa saga de quando a “Morte morre”! Quem matou, quando e como! E quais são os presentes que ganhamos com isso. Um deles é “ser jovem para sempre” (risos)!!! Na verdade, coloco uma lupa nesse momento e também lanço a história para depois dessa era, na próxima e eterna era, onde tudo de definitivo vai acontecer e definir a eternidade. Então o ouvinte vai passando por tudo isso, como se fosse uma história só em 8 atos. Até por isso as faixas são tão “coladas” umas nas outras.
Rebel Rock: O álbum começa de uma maneira inusitada: o refrão da faixa-título rompe o silêncio e já impacta o ouvinte logo de cara. Como surgiu essa ideia de começar o disco assim? Foi uma decisão pensada ou algo que aconteceu naturalmente?
Tiago Torres: No começo não! Mas quando gravamos o refrão e ouvimos o resultado, resolvemos começar o álbum assim. Na verdade, é como se fosse um cartão de visita sobre o que é o álbum: refrão grudento de cara e, depois, o riff com palhetada para baixo na velocidade da luz (a lá Hetfield). Em síntese, isso é um resumo do que é o No More Death. No primeiro minuto da primeira faixa já mostramos quem somos.
Rebel Rock: Os vocais em “The Death is Dead” chamam a atenção por não dependerem de urros extremos nem de exageros. Eles transitam entre o rasgado e o limpo, transmitindo emoção quase como uma narração. Esse caminho foi escolhido justamente para colocar você como um “narrador” da história?
Tiago Torres: Exatamente isso! Estou muito feliz com o vocal nesse disco. Na verdade, foi o primeiro disco em que realmente pensei nos vocais, pensei como música! E também consegui tirar de dentro de mim essa coisa da interpretação, para cada faixa, cada momento. Por isso acho tão real e visceral! Cantei com o coração!
Rebel Rock: A faixa “Forever Young” fala sobre o retorno à juventude eterna. É uma música carregada de sentimento e que ocupa um lugar único dentro do tracklist. Como foi o impacto pessoal para você, logo após gravá-la?
Tiago Torres: Realmente ela é uma faixa muito especial, e me remete a pessoas que perdi nessa vida, que se foram acreditando exatamente no que fala a música. Em termos de som, queria uma faixa mais lenta, com riffs cavalgados (sempre pensava em “Eye of Beholder”, do Metallica) e um refrão grandioso! Ela se tornou a faixa preferida de muita gente e será o próximo lyric video que vamos lançar.
Rebel Rock: Musicalmente, “The Death is Dead” traz um thrash metal direto e contundente, que remete a nomes como o antigo Sepultura, Korzus, Dorsal Atlântica e MX. Esses seriam alguns dos pilares que influenciaram sua jornada no início da carreira?
Tiago Torres: Sim, com certeza! Gosto muito e admiro muito essas bandas. E também as gringas, que sempre foram influência para mim, como Metallica, Slayer, Testament e Exodus, entre outras. Mas, mesmo assim, acho o NMD bem diferente de todas pela questão musical — e esse era o plano mesmo! Fazer músicas com riffs marcantes, mas também com melodias e refrões memoráveis. Cantáveis! Marcantes! Música que poderia até, quem sabe, romper as fronteiras do thrash e do metal. A Forever Young, que estávamos falando, tem conseguido isso, por exemplo.
Rebel Rock: Quando compôs “Sons of Light”, já tinha em mente essa ideia de hino?
Tiago Torres: Um pouco, até pelo nome da faixa. Mas foi com a gravação dela, e principalmente do refrão, que eu particularmente acho emocionante, que entendemos o potencial enorme dela. Realmente virou um hino!
Rebel Rock: Podemos dizer que o que ouvimos em “The Death is Dead” é uma evolução natural do que foi apresentado em “Master of Space and Time”? Existe uma linha de continuidade entre os dois trabalhos?
Tiago Torres: Tem alguma ligação porque é thrash, e eu compus, toquei e cantei em ambos os álbuns. Mas acho que para aí! Acho o “The Death is Dead” muito à frente. É o álbum que eu sempre sonhei gravar! Parece outra banda mesmo! Timbres, composições, objetividade, maturidade! Outro planeta, na minha opinião!
Rebel Rock: O encerramento, “Love is Immortal”, revela que tudo, no fim, é movido pelo amor. É curioso — e até irônico — cantar sobre o amor ser imortal em um mundo cada vez mais doente, onde justamente o amor parece se perder em meio ao egoísmo. Essa contradição também faz parte da mensagem?
Tiago Torres: Essa é a mensagem central da banda e do álbum: a de que essa era terrível, cada vez pior que vivemos, em algum momento vai acabar. E tudo de pior que existe nela — morte, dor, sofrimento, mentira, raiva, traição, etc. — vai deixar de existir! Queremos mostrar um mundo novo, onde há esperança, paz eterna e um amor imortal! Ele virá! Ele acontecerá!
Rebel Rock: Jesus Cristo foi o primeiro e único a vencer a morte, ressuscitar e se tornar eterno. “The Death is Dead” é apenas o primeiro capítulo de uma história maior. O que você já pode adiantar sobre essa continuidade?
Tiago Torres: O próximo capítulo já está bem adiantado, encaminhado! Praticamente todos os riffs e linhas de voz compostas. Deve sair ano que vem! E vai falar sobre os últimos anos dessa era. As coisas ainda vão piorar muito, mas muitos vão estar dormindo e não vão perceber! Então o próximo álbum vai ser mais sombrio, e também mais técnico e musical ao mesmo tempo. E, quem sabe, uma balada pesada?
Rebel Rock: No campo da arte — e especialmente no mundo da música — o conceito de eternidade sempre aparece. Quando um artista morre, é comum ouvirmos frases como: "sua música será eterna". De certa forma, a arte vence a morte, certo?. Você acredita que compor e lançar um álbum é, de certa forma, desafiar a mortalidade?
Tiago Torres: Sim, sem dúvida! Quanta coisa a gente ama de artistas que já se foram! Então, enquanto durar essa era, discos, livros, quadros, etc., serão eternos. Só para citar alguns dos meus preferidos, estão aí Bach, Cliff Burton, Jeff Hanneman, Dimebag Darrell, entre tantos outros! Suas obras estão mais vivas do que nunca, sem dúvida!
Rebel Rock: Se tivesse que resumir em uma frase: o que o público pode esperar do No More Death?
Tiago Torres: Fúria, velocidade, peso e melodia. Thrash Metal para cantar junto! No More Death!
Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista! O espaço final é todo seu.
Tiago Torres: Obrigado, William e Rebel Rock, por toda a força desde sempre!!! E, para a galera, peço de coração que deem uma chance para o No More Death! Ouçam, deixem seus corações serem tocados! Vamos amar ouvir a opinião de vocês! Estamos em todas as redes sociais e streamings.
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