quarta-feira, 27 de agosto de 2025

10 ANOS DE BAD MAGIC - O FIM DO MOTÖRHEAD


 
MOTORHEAD:  REVISITANDO  BAD MAGIC E 0S DEZ ANOS DO FIM DA BANDA MAIS CASCUDA DO PLANETA   


O tempo, esse misterioso desdobre do espaço cósmico, é implacável. Da mesma forma que cura cicatrizes profundas, por vezes as abre, talvez para nos lembrar do que perdemos e resgatar sentimentos e ensinamentos que de outra forma não absorveríamos, e da mesma forma que os aprendemos, nos perdemos de novo.

No dia vinte e oito de agosto de 2025 completam dez anos de Bad Magic, o vigésimo terceiro disco de estúdio da banda mais casca grossa de rock and roll que existiu. Era assim que Lemmy Kilmister fazia questão de cravar o estilo do Motörhead, o marco zero do que seria o metal extremo, ou como definiram na época que não haviam muitos rótulos, “Power metal “.

Temos aqui um disco excelente, mais completo na minha opinião que os anteriores como “The World is Yours” e “Aftershock”. Gravado na Califórnia, contou com a produção de Cameron Webb e teve uma roupagem muito orgânica sendo gravado “ao vivo “, com os integrantes tocando juntos. Podemos perceber o quanto isso impactou positivamente na urgência, peso e visceralidade das treze músicas, a inspiração é notável e a energia dispensada aqui nos remete a cada fase da banda, ao mesmo tempo que é uma vitória pessoal de Lemmy, com suas limitações e estado de saúde, mas que apesar disso, demonstrou uma grandeza fenomenal no processo, junto aos companheiros Phil Campbell e Mikkey Dee. Infelizmente viria a ser o grito de Mandrágora da banda, apesar de não saberem disso.

“Victory or Die“ abre os trabalhos com dignidade, demonstrando o estilo único da banda desde há tempos, rápida e pesada, abrindo caminhos para a poderosa “Thunder and Lightning”, notavelmente uma das mais empolgantes e agressivas do álbum, com uma cozinha e riffs no talo em alto nível.. “Fire Storm Hotel“ é um rock and roll do inferno, poderia estar em ”Overkill“ tranquilamente, ”Shoot Out All of Your Lights“ abre com uma levada sensacional de Mikkey Dee, um groove característico dá destaque, e pequenas doses de velocidade complementam. ”The Devil “ é uma boa canção com uma pegada áspera e conta com Brian May em uma participação especial, adicionando um brilhante toque. “Eletricity” volta a empolgar, lembrando os áureos tempos de “Bomber” eu diria, com seu andamento característico, ponto alto também pra mim .

“Evil Eye“ tem uma levada tribal nos tambores, é uma faixa interessante. ”Teach Them How to Bleed” eleva um pouco o nível, uma das melhores do álbum, contando com um solo matador de Phil Campbell. Funcionaria muito bem ao vivo, o nível de complementaridade do Power trio se destaca mais uma vez. “Till the End” é uma pérola em forma de reflexão sobre autenticidade nas palavras do mestre e uma balada magnífica, me lembrou até mesmo algo de Hendrix aqui (não sei o porquê), uma das minhas favoritas e que depois, acabou se tornando uma das mais tristes pelo que viria mais tarde naquele mesmo ano...  seria um adeus?

”Tell me Who to Kill” tem um riff interessante, lembrando até mesmo o Metallica, “Choking on Your Screams” não é ruim mas acaba não empolgando em comparação às outras aqui, e “When the Sky Comes Looking for You” fecha em alto nível com um belo trabalho de guitarras uma vez mais. Finalizando, um cover brilhante dos Stones com a emblemática “Sympathy for the Devil”, que caiu como uma luva em questão de peso e deu de certa forma uma aura mais sombria pro clássico.

Anos mais tarde, o disco foi relançado, intitulado “Bad Magic: Seriously Bad Magic” trazendo de bônus duas inéditas, “Bullet in Your Brain” (e um clipe cheio de nostalgia com imagens da época da gravação) e “Greedy Bastards”, além de um cover magnífico de “Heroes” de David Bowie. Também conta com um CD ao vivo de uma apresentação no Japão em 2015. Tivemos uma distribuição desse belo material através da Shinigami Records aqui no Brasil em parceria com a gravadora UDR na ocasião.

Antes do lançamento do disco, a banda passou pelo Brasil na edição do Monsters of Rock, o show foi cancelado em São Paulo pois Lemmy estava muito debilitado e passou mal. Com sorte, rolou o show em Porto Alegre no estádio do São José junto com as bandas ZeroDoze, Judas Priest e Ozzy Osbourne, e eu perdi.

A lendária e pesada sonoridade do baixo Rickenbacker e a voz única, rouca e alcoolizada de Lemmy se calaram pela última vez na tour de quarenta anos da banda, em quinze de dezembro na Alemanha. Duas semanas depois, em vinte e oito de dezembro de 2015, devido a complicações de saúde, além da recente descoberta de um câncer, Lemmy faleceu. Segundo relatos, morreu em serenidade e em paz. E obviamente, o Motörhead decretou o fim das atividades.

Passei dias sem ouvir a banda. Não consegui, foi duro aceitar que tudo havia acabado. Nunca mais teremos uma banda igual surgindo por aí, nenhuma chance disso acontecer. Mas necessário jamais esquecer do tamanho da importância e do legado que um dia uniu rockeiros, headbangers e punks, e que mudou tudo nos primeiros acordes de suas obras. Igualmente necessário e fundamental nunca esquecer das palavras de Lemmy, sobretudo num tempo perigoso e sombrio que vivemos, quando nos ensina que todo político é um filho da puta, e que não precisamos de religião para sermos boas pessoas e pensarmos por nós mesmos. É dever de cada um de nós, o reviver através de nossas atitudes e postura a cada dia.

Salve Lemmy Kilmister, Phill Campbell, Mikkey Dee. Salve ”Fast” Eddie Clarke, Philtty "Animal" Taylor, Würzel…. obrigado por tanto.

À maior de todas, um brinde com Jack Daniels!

Gustavo Jardim



segunda-feira, 25 de agosto de 2025

REBEL ROCK ENTREVISTA - NO MORE DEATH

 



Depois de marcar seu nome na cena underground brasileira com o Mad Dragzter, banda que lançou o clássico “Strong Mind”. Tiago Torres passou quase uma década afastado do ciclo criativo. Um longo período separa o fim da sua antiga banda do nascimento do No More Death, novo projeto que resgata sua paixão pela música pesada, mas agora com uma proposta ainda mais madura, ousada e conceitual.

Com o “The Death is Dead”, lançado de forma independente em 2025, o No More Death apresenta um thrash metal carregado de fúria, peso e melodia, mas também de emoção e narrativa, contando uma história inspirada no Apocalipse: a era em que a própria morte é derrotada. Em uma conversa exclusiva com o Rebel Rock, Tiago fala sobre sua volta à cena, as diferenças entre o passado e o presente, a concepção do disco e o que podemos esperar dessa nova fase que promete ser definitiva.

Por William Ribas


Rebel Rock: O último suspiro do Mad Dragzter foi em “Master of Space and Time”, de 2015. São dez anos entre o fim da sua ex-banda e o início do No More Death. Como foram esses anos longe da cena musical e do processo criativo?

Tiago Torres: Olha, foram longos (risos)! Eu praticamente desconectei de tudo relacionado a banda: ter banda, tocar, compor, gravar. Na verdade, a única coisa que ainda fazia era solfejar alguns riffs e gravar no celular para um dia poder usar. Realmente foi uma página em branco nesse sentido.

Rebel Rock: Em que momento surgiu o estalo para voltar ao ciclo de compor, gravar e lançar um trabalho? Foi algo planejado ou simplesmente inevitável?

Tiago Torres: Sempre foi meu sonho ter uma banda de thrash, pelo menos nos últimos 25 anos. E essa chama permaneceu no meu coração quando o Mad Dragzter acabou. Em 2024 surgiu uma oportunidade de voltar a compor e gravar, e não perdi tempo. Foi como se toda a energia estivesse lá. Me sinto com a mesma, ou até maior, energia do que na época em que gravei o EP “New Times” ou o “Strong Mind”. Voltei a sonhar!

Rebel Rock: O Mad Dragzter deixou uma marca muito forte no underground brasileiro. O quanto desse passado ainda pulsa dentro do No More Death e o que você fez questão de deixar para trás nessa nova fase?

Tiago Torres: Tenho orgulho de tudo que fiz na banda! Tempos muito bons, que não voltam mais! Nunca me diverti tanto (risos)!!! Mas sinto que foi como se fosse um treino para o que planejo com o No More Death, em todos os sentidos: profissionalismo, seriedade, potencial. O No More Death está em outro patamar, na minha humilde opinião, e terá mais sequência, regularidade. Veio para ficar.

Rebel Rock: Sobre o nome da banda: No More Death é curto, direto e de fácil memorização, mas ao mesmo tempo carrega um peso conceitual imenso. Essa força e simplicidade sempre foram a ideia desde o início?

Tiago Torres: Sim! Em tudo relacionado à banda! Vou te falar que achar nome para banda agora é uma tarefa quase impossível (risos)! Já tinham usado todos os legais (risos)! Mas fiquei muito feliz com o nosso. Queria, para o No More Death, uma cara toda nova e exclusiva. Isso valia para o som, capa, logo, estética em geral! E acredito que consegui. Muita gente vê o logo e a capa e não tem a menor ideia do que vai vir. Dificilmente pensam em thrash — e isso é ótimo! Nos anos 80/90 as bandas tinham identidade, cada uma com a sua cara. Hoje as bandas de thrash são muito parecidas, os logos e capas praticamente iguais. É só bater o olho que você já sabe que é thrash. Está todo mundo enclausurado em uma caixa. O Master of Space and Time, do Mad Dragzter, também estava. O No More Death é livre, tudo do zero! Sonho que falem “isso é NMD”… e não “isso é mais uma banda de thrash dentro de trocentas que existem e aparecem todo dia”.


Rebel Rock: Gostaria também de saber mais sobre a história que envolve o disco. Ele parte de um trecho do Apocalipse (21:4), que fala sobre uma era em que a morte não existe mais. Como esse conceito se desdobra ao longo das oito faixas e de que maneira a narrativa se conecta musicalmente e liricamente?

Tiago Torres: Tentei contar, nos 37 minutos do disco, essa saga de quando a “Morte morre”! Quem matou, quando e como! E quais são os presentes que ganhamos com isso. Um deles é “ser jovem para sempre” (risos)!!! Na verdade, coloco uma lupa nesse momento e também lanço a história para depois dessa era, na próxima e eterna era, onde tudo de definitivo vai acontecer e definir a eternidade. Então o ouvinte vai passando por tudo isso, como se fosse uma história só em 8 atos. Até por isso as faixas são tão “coladas” umas nas outras.

Rebel Rock: O álbum começa de uma maneira inusitada: o refrão da faixa-título rompe o silêncio e já impacta o ouvinte logo de cara. Como surgiu essa ideia de começar o disco assim? Foi uma decisão pensada ou algo que aconteceu naturalmente?

Tiago Torres: No começo não! Mas quando gravamos o refrão e ouvimos o resultado, resolvemos começar o álbum assim. Na verdade, é como se fosse um cartão de visita sobre o que é o álbum: refrão grudento de cara e, depois, o riff com palhetada para baixo na velocidade da luz (a lá Hetfield). Em síntese, isso é um resumo do que é o No More Death. No primeiro minuto da primeira faixa já mostramos quem somos.

Rebel Rock: Os vocais em “The Death is Dead” chamam a atenção por não dependerem de urros extremos nem de exageros. Eles transitam entre o rasgado e o limpo, transmitindo emoção quase como uma narração. Esse caminho foi escolhido justamente para colocar você como um “narrador” da história?

Tiago Torres: Exatamente isso! Estou muito feliz com o vocal nesse disco. Na verdade, foi o primeiro disco em que realmente pensei nos vocais, pensei como música! E também consegui tirar de dentro de mim essa coisa da interpretação, para cada faixa, cada momento. Por isso acho tão real e visceral! Cantei com o coração!

Rebel Rock: A faixa “Forever Young” fala sobre o retorno à juventude eterna. É uma música carregada de sentimento e que ocupa um lugar único dentro do tracklist. Como foi o impacto pessoal para você, logo após gravá-la?

Tiago Torres: Realmente ela é uma faixa muito especial, e me remete a pessoas que perdi nessa vida, que se foram acreditando exatamente no que fala a música. Em termos de som, queria uma faixa mais lenta, com riffs cavalgados (sempre pensava em “Eye of Beholder”, do Metallica) e um refrão grandioso! Ela se tornou a faixa preferida de muita gente e será o próximo lyric video que vamos lançar.

Rebel Rock: Musicalmente, “The Death is Dead” traz um thrash metal direto e contundente, que remete a nomes como o antigo Sepultura, Korzus, Dorsal Atlântica e MX. Esses seriam alguns dos pilares que influenciaram sua jornada no início da carreira?

Tiago Torres: Sim, com certeza! Gosto muito e admiro muito essas bandas. E também as gringas, que sempre foram influência para mim, como Metallica, Slayer, Testament e Exodus, entre outras. Mas, mesmo assim, acho o NMD bem diferente de todas pela questão musical — e esse era o plano mesmo! Fazer músicas com riffs marcantes, mas também com melodias e refrões memoráveis. Cantáveis! Marcantes! Música que poderia até, quem sabe, romper as fronteiras do thrash e do metal. A Forever Young, que estávamos falando, tem conseguido isso, por exemplo.

Rebel Rock: Quando compôs “Sons of Light”, já tinha em mente essa ideia de hino?

Tiago Torres: Um pouco, até pelo nome da faixa. Mas foi com a gravação dela, e principalmente do refrão, que eu particularmente acho emocionante, que entendemos o potencial enorme dela. Realmente virou um hino!

Rebel Rock: Podemos dizer que o que ouvimos em “The Death is Dead” é uma evolução natural do que foi apresentado em “Master of Space and Time”? Existe uma linha de continuidade entre os dois trabalhos?

Tiago Torres: Tem alguma ligação porque é thrash, e eu compus, toquei e cantei em ambos os álbuns. Mas acho que para aí! Acho o “The Death is Dead” muito à frente. É o álbum que eu sempre sonhei gravar! Parece outra banda mesmo! Timbres, composições, objetividade, maturidade! Outro planeta, na minha opinião!

Rebel Rock: O encerramento, “Love is Immortal”, revela que tudo, no fim, é movido pelo amor. É curioso — e até irônico — cantar sobre o amor ser imortal em um mundo cada vez mais doente, onde justamente o amor parece se perder em meio ao egoísmo. Essa contradição também faz parte da mensagem?

Tiago Torres: Essa é a mensagem central da banda e do álbum: a de que essa era terrível, cada vez pior que vivemos, em algum momento vai acabar. E tudo de pior que existe nela — morte, dor, sofrimento, mentira, raiva, traição, etc. — vai deixar de existir! Queremos mostrar um mundo novo, onde há esperança, paz eterna e um amor imortal! Ele virá! Ele acontecerá!

Rebel Rock: Jesus Cristo foi o primeiro e único a vencer a morte, ressuscitar e se tornar eterno. “The Death is Dead” é apenas o primeiro capítulo de uma história maior. O que você já pode adiantar sobre essa continuidade?

Tiago Torres: O próximo capítulo já está bem adiantado, encaminhado! Praticamente todos os riffs e linhas de voz compostas. Deve sair ano que vem! E vai falar sobre os últimos anos dessa era. As coisas ainda vão piorar muito, mas muitos vão estar dormindo e não vão perceber! Então o próximo álbum vai ser mais sombrio, e também mais técnico e musical ao mesmo tempo. E, quem sabe, uma balada pesada?

Rebel Rock: No campo da arte — e especialmente no mundo da música — o conceito de eternidade sempre aparece. Quando um artista morre, é comum ouvirmos frases como: "sua música será eterna". De certa forma, a arte vence a morte, certo?. Você acredita que compor e lançar um álbum é, de certa forma, desafiar a mortalidade?

Tiago Torres: Sim, sem dúvida! Quanta coisa a gente ama de artistas que já se foram! Então, enquanto durar essa era, discos, livros, quadros, etc., serão eternos. Só para citar alguns dos meus preferidos, estão aí Bach, Cliff Burton, Jeff Hanneman, Dimebag Darrell, entre tantos outros! Suas obras estão mais vivas do que nunca, sem dúvida!

Rebel Rock: Se tivesse que resumir em uma frase: o que o público pode esperar do No More Death?

Tiago Torres: Fúria, velocidade, peso e melodia. Thrash Metal para cantar junto! No More Death!

Rebel Rock: Muito obrigado pela entrevista! O espaço final é todo seu.

Tiago Torres: Obrigado, William e Rebel Rock, por toda a força desde sempre!!! E, para a galera, peço de coração que deem uma chance para o No More Death! Ouçam, deixem seus corações serem tocados! Vamos amar ouvir a opinião de vocês! Estamos em todas as redes sociais e streamings.



Site:


Instagram: htps://www.instagram.com/nomoredeath77

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

FIFTEEN STITCHES - BEYOND THE WALL (2025)

 


FIFTEEN STITCHES
BEYOND THE WALL
Independente - Importado

"Por que a humanidade trata uns aos outros dessa maneira?” é a pergunta que encontramos no Press-release da banda FIFTEEN STITCHES, e é a temática lírica constante em todo seu novo trabalho “Beyond The Wall”. Formado em Washington, o quarteto desenvolve neste seu segundo trabalho (o primeiro foi o E.P. “The Void” – 2018) um Heavy-Rock pesado e sujo, com influências do Hard Rock, Punk e Rock N' Roll.

“Revolution” abre o trabalho numa linha Motorheadiana com nuances daquele Hardcore que é desenvolvido em Nova Iorque, tipo Agnostic Front, entregando uma ótimo início. “Light Psycho” tem um ótimo riff inicial provido pelo guitarrista Chris Pasinetti, um Hard Rock estradeiro de qualidade. Tim Perdue faz um trabalho vocal muito bom, por vezes lembra Chris Robertson, vocalista do Black Stone Cherry. Aliás, para que você tenha uma ideia do som que encontra no FIFTEEN STITCHES, o Black Stone Cherry pode ser considerada uma referência.

“I.C.G.F.U.E.c(I Can´t Get)” muda um pouco o clima, adentrando mais ao som alternativo e colando mais na onda anos 90 . “Nemo Liber” é pesadíssima, com riff que poderia ter passado pelo crivo de James Hetfield. Você em uma caminhonete Ford ou numa Harley Davidson, cruzando o deserto, típico cenário de um “Road Movie”: esse é o clima de “Eventual Horizon”, com uma ótima linha de baixo de Rob Field, enquanto o baterista James Ortega conduz uma levada cadenciada e poderosa. As letras ficam todas na incumbência do vocalista Tim Perdue, e esta “Eventual Horizon” é excelente.

“You Know We Know” segue pesada, com outra ótima linha de baixo, mais uma vez um Hard Rock pesadão e cheio de poeira da estrada, e que na parte do refrão adentra novamente no clima alternativo/noventista. Nesta faixa temos o melhor solo do guitarrista Chris Pasinetti. Minha faixa preferida do trabalho. Outro detalhe muito bacana em “Beyond The Wall” é a duração das faixas, que ficam na média dos três minutos, e quando acabam, temos vontade de ouvir novamente.

A influência do Hardcore N.Y. aparece novamente em “It Is Destroyer”, e o trabalho encerra com “Demon Dick” (título deveras pitoresco, eu diria), essa com uma atmosfera Punk Rock, e é a única faixa que chega a quatro minutos.

Beyond The Wall” do FIFTEEN STITCHES se tornou uma grata surpresa, ao menos para mim, que não conhecia a banda. Um álbum para ser ouvido com o volume no talo, principalmente para você que curte Rock Pesado sem se prender muito a rótulos e subdivisões.

José Henrique Godoy




READY TO STRIKE - FIRST BITE (2025)


 

READY TO STRIKE
FIRST BITE
Independente - Importado

Em um mundo cheio de “modas novas”, invencionices, originalidades de gosto, por vezes, duvidoso, tudo que precisamos ás vezes é apenas um sopro da “Velha Escola” e dos “Bons Tempos”. Isso em todos as níveis da vida. Papo de velho, nostalgia ou saudosismo? Pode ser, e daí?

Mas o assunto aqui é Rock/Metal, e a minha divagação acima vem de encontro a este ótimo lançamento dos nova-iorquinos do Ready To Strike, “First Bite”. O que temos aqui é um autêntico revival do metal da melhor fase, os anos oitenta. Um Hard Rock agressivo, com um pé no Heavy Metal e outro no Sleaze Metal. Apesar da celebração ao “oitentismo”, em nenhum instante o som parece datado.

Formado em 2025, em Syracuse, NY, por Screwdriver (vocais/guitarras), Snakeskin (guitarras). Joseph Retorsi (baixo) e The Champ (bateria), o Ready To Strike começou tocando covers de bandas que os inspiraram como Poison, Metallica, Motley Crue e Ratt, passando logo para escrever material próprio, contido aqui em “First Bite”. E que ótimo material!

Uma intro de bateria para a rápida “Troublemaker” abre o CD, e aqui podemos verificar que o quarteto entende do “riscado”. “Evil Eyes” tem um puta riff de guitarra e levada clássica de bate cabeça, e você pode se imaginar na década de 80 na Sunset Strip cantando o refrão com os punhos erguidos! “What You
Want” tem um trabalho muito interessante de guitarras, lembrando algo dos primeiros Van Halen (calma, eu disse “lembrando”).

O vocal de Screwdriver (o que é esse pseudônimo, parceiro?? Hehehe...) soa como um cruzamento de Jason McMaster do Dangerous Toys, com o saudoso Jack Russell (Great White). “Higher” demonstra que os garotos ouviram e aprenderam muito ouvindo a dobradinha Motley Crue/Ratt. “Ending Song”, com seu título “muito bem pensado” é a música de encerramento, deste ”First Bite”. 

Um ótimo trabalho inicial de mais uma banda que faz uma “ode” a suas influências vindas de um tempo que ainda não tinham nascido (só olhar as fotos dos integrantes pra sacar isso). Que seja o primeiro de uma gloriosa carreira. Que venham “Second Bite”, “Third Bite” ...

José Henrique Godoy




BURNING WITCHES - INQUISITION (2025)


 

BURNING WITCHES
INQUISITION
Napalm Records - Importado

A Suíça, há muito tempo já provou que não é apenas especialista em relógios, pois de lá temos também excelentes bandas de Hard Rock/Heavy Metal, eo quinteto feminino Burning Witches é, sem sombra de dúvidas, um dos melhores exemplos para reafirmar esta sentença.

As bruxas de Brugg estão de volta com seu quinto álbum de estúdio, “Inquisition”, e de antemão, adianto que é um dos melhores trabalhos das garotas, quem sabe o melhor, justamente quando comemoram o décimo aniversário da banda. A abertura vem com uma curta introdução épica, “Sanguini Hominum”, que vai num crescendo em com pouco mais de um minuto abre caminho para a explosiva “Soul Eater”, rápida e pesada e escancara a ótimo produção de V.O. Pulver, que teve como parceiros no trabalho o atual guitarrista do Damir Eskic e a guitarrista e fundadora Romana Kalkuhl.

“Shame” vem a seguir, é aquela faixa que foi feita para ser tocada ao vivo, é possível imaginar o refrão sendo cantado pelas plateias mundo afora. A banda é 100% coesa, todo o quinteto se destaca, desde a voz potente e cheia de carisma de Laura Guldemond, riffs pesados e solos cheios de técnica das guitarristas Romana e Courtney Coxx, enquanto a baixista Jay Grob e a baterista Lala Frischknecht constroem pilares firmes e sólidos em todas as composições do álbum.

“Spell Of The Skull” e a faixa título seguem em alto nível, duas ótimas amostras de Heavy Metal Tradicional, lembrando e muito Judas Priest, porém com personalidade própria das Burning Witches. “Inquisition” inclusive será outra faixa para agitar os set lists da próxima tour das moçoilas. “High Priestess Of The Night” tira um pouco o pé do acelerador e se aproxima mais do Hard Rock oitentista, excelente faixa, porém a velocidade retorna logo a seguir com “ Burn in Hell”. Os dois bumbos de Lala se mostram muito destacados nesta.

“Release Me” é a balada do álbum, e aqui o vocal de Laura apresenta bastante emoção, entregando muito “feeling”, e sendo a calmaria que antecede a tempestade sonora que é a próxima “In For The Kill”, pesada e forjada no puro aço. “In The Eye Of The Storm” é mais cadenciada e pesando toneladas, enquanto “Mirror Mirror” se aproxima mais uma vez do Hard Rock oitentista, porém dessa vez com passagens carregadas de peso. “Malus Maga” fecha o trabalho, como um “Outro” climática e sombria, finalizando “Inquisition” e dando aquele clima de “ teremos a continuação em breve”.

Posso afirmar que “Inquisiton” é um dos melhores lançamentos de 2025. Heavy Metal aqui é a Lei, e se você aprecia o estilo na sua forma mais clássica e tradicional , este trabalho foi feito para nós!!!! Longa vida as Bruxas!!!!

José Henrique Godoy




DISTRAUGHT - INVOLUTION (EP) (2025)

 


DISTRAUGHT
INVOLUTION (EP)
Independente - Nacional

São exatos 35 anos de carreira. 35 anos de devoção ao Thrash Metal e ao underground. 35 anos fazendo um estilo que nesse país onde a exaltação ao sexo, às drogas e ao crime na música podem te levar (e na maioria das vezes levam) ao estrelato. Mas integridade não se compra em farmácia. Muito menos, aderindo aos modismos impostos pela indústria musical. E nesse quesito, poucas bandas conseguem empunhar essa bandeira como a DISTRAUGHT. Um dos pilares do estilo no Brasil, o grupo nos brinda agora, em 2025 com um EP simplesmente destruidor, que faz jus à carreira vitoriosa do quinteto. São 05 faixas que colocam no bolso muito full lenght que vemos sendo lançados por aí, tamanha a intensidade, brutalidade e garra entregues a cada uma das composições. Uma pena que no Brasil, uma banda desse nível precise lançar seus trabalhos de forma independente e até mesmo, sem disponibilizar formato físico, tendo em vista as dificuldades impostas pelo mercado. E se você é daqueles como este que vos escreve, a mídia física faz muita diferença. Mas, se não vende, como lançar? Fica a reflexão pra nós mesmos, fãs de música de verdade. A questão é que INVOLUTION, merece ser apreciado por todo fã de Heavy metal, seja ele do estilo que for. Afinal, a música da Distraught ultrapassa as barreiras de um estilo e mostra que a banda, felizmente, tem muita lenha pra queimar!

André Meyer (vocal), Ricardo Silveira (guitarra), Everton Cunha (guitarra), Alan Holz (baixo) e Thiago Caurio (bateria) integram uma das formações mais insana s e destruidoras do estilo no país. Se você já teve a oportunidade de assisti-los ao vivo sabe bem do que estou falando. E aqui, neste trabalho, não poderia ser diferente. Renato Osorio (também guitarrista da Atomic Elephant e ex-Hibria) produziu o trabalho no Dry House Studio em Porto Alegre deixou tudo como deve ser: pesado, moderno e visceral. Já a mixagem ficou por conta de Benhur Lima, o que realçou ainda mais as características brutais do quinteto. A capa é mais uma obra de Marcelo Vasco, envolvendo de forma interessante o contexto do EP, que traz a nossa capacidade inerente, talvez inescapável, para a autodestruição e para a devastação sistemática do mundo a nossa volta. o "V", em destaque no título, é a Pedra de Roseta, uma obra-prima de camadas simbólicas. É um aceno direto e inegável ao numeral romano V, ligando-o intrinsecamente às cinco faixas profundas que compõem o EP. Mas, mais do que isso, serve como o nexo para os cinco elementos antigos - Terra, Água, Ar, Fogo e Aether - os próprios blocos de construção da existência de acordo com a filosofia antiga.

O trabalho abre com a poderosa "Blood Mines", que começa com as guitarras de Ricardo e Everton em sintonia, enquanto Alan e Thiago se encarregam de criar uma base solida, pesada e brutal. André, por sua vez, imprime sua personalidade de forma concisa, pois aos primeiros "gritos" já sabemos que é o alemão cantando. Fazendo referência ao elemento Terra, nos mostra a corrida do ouro ocorrida em Serra Pelada, que durou cerca de uma década e meia, a faixa é um hino visceral e carrega de emoção, principalmente nos solos que se encaixam entre a brutalidade e a melodia que se impõe de forma natural durante sua execução. Acredito que ao vivo, sua agressividade vai se elevar à décima potência! Na sequência, a faixa escolhida pra ser o vídeo de divulgação do EP, a não menos destruidora "Extermination of Mother Nature". Se na música anterior o peso e brutalidade se entrelaçavam com a velocidade, aqui, momentos mais densos e cadenciados contrastam com golpes certeiros e velozes, num mix de sensações. Trazendo à tona a ira aterrorizante dos elementos, especificamente nas inundações devastadoras que assolaram o Rio Grande do Sul em 2024, a faixa nos mostra em sentido amplo que a natureza é impiedosa com aqueles que a maltratam. Repetindo “the fury of the waters / invading the land” e “all about the (fuckin’) money”, a banda mostra o que realmente legitima a tragédia. Aqui, temos o elemento Água: sua correnteza destrói casas e sonhos, mas sobretudo arrasta consigo as promessas vazias dos (des)governos.

"Aether", como o próprio nome entrega, faz referência ao próprio elemento, é uma faixa instrumental que serve como um contraponto profundo e contemplativo a devastação anterior. A  música torna-se o meio para a investigação filosófica, explorando o conceito antigo do Aether - o quinto elemento, a quintessência, e nos prepara para o que vem em "Truth Denied": um thrash á moda Distraught, ou seja, guitarras ríspidas, baixo e bateria marcados e vocais insanos. Alternando momentos mais lentos e arrastados com outros de pura violência, a faixa fala sobre a desinformação que tomou conta dos redes sociais e do mundo em geral. Seja durante a pandemia ou nos dias atuais, o negacionismo e suas consequências vêm no "Ar", numa metáfora que o transforma num "mensageiro invisível" que carrega consigo toda essa rede de negligência e ao mesmo tempo, não tem como contrapor tudo isso, nos deixando sem fôlego pra "entender" o que vem acontecendo. E pra fechar o trabalho, "Setfire", que também como o nome entrega, faz referência ao fogo. Enfatizando os desastres que vem acontecendo ao redor do planeta, mas em especial o que ocorreu no Pantanal em 2024, a faixa é um petardo daqueles que abrem as rodas de mosh nos shows e criam o clima perfeito para que o público "pegue fogo" (desculpem , sei que o trocadilho foi besta, mas não quis deixar passar... hehehe). Everton e Ricardo, novamente numa sintonia perfeita alternam riffs e solos devastadores e mostram que são uma das duplas mais criativas e pesadas do país. Um encerramento que nos deixa pensativos: o que estamos fazendo com o mundo, tem volta?

A DISTRAUGHT prova mais uma vez, que é uma das melhores bandas (na opinião deste que vos escreve, a melhor) do estilo no Brasil. INVOLUTION é um EP que une de forma perfeita a brutalidade da música do quinteto, com a brutalidade do que vem acontecendo no planeta, muito disso por nossa causa. 35 anos não são pra qualquer banda e o grupo prova que, experiência e inteligência, quando andam de mãos dadas, criam obras tão importantes e fundamentais como esse trabalho. Que venham mais álbuns (físicos de preferência) e que possam levar a banda a fazer show pelo país. Algo que deveria acontecer todos os anos...

Sergiomar Menezes

Foto: Cristiano Seifert



quarta-feira, 20 de agosto de 2025

URDZA - A WAR WITH MYSELF (2024)

 


URDZA
A WAR WITH MYSELF
Independente - Nacional

Os paulistas do Urdza já tinham me deixado uma ótima impressão quando os assisti ao vivo, na abertura do show do Saxon aqui em Porto Alegre, em maio de 2025. E esse impressão aumentou ao ouvir o seu trabalho de estreia, “A War With Myself”, lançado ainda no ano de 2024, e que tive a oportunidade de apreciar apenas agora.

Produzido por Thiago Bianchi, o Urdza entrega em “A War With Myself” o que qualquer fã de Judas Priest, Iron Maiden, Megadeth, e outros grandes nomes gostaria de ouvir em um Cd/Lp. De cara, chama a atenção a força e energia da faixa título, que abre o trabalho, com riffs pesados e rápidos do guitarrista Hugo Prado, e o ótimo vocal do seu irmão, Heitor Prado. A temática das letras nos remetem ao jogo “Magic: The Gathering”, e se encaixa de forma muito coesa ao que o Urdza entrega na parte instrumental, com melodias pesadíssimas e fortes.

“Wrath Of God” tem a velocidade como marca registrada, comandada pelo baterista Danilo Abreu, que é escoltado pelo baixista Cid Costa, formando uma cozinha muito coesa. “Living In Fear” é mais cadenciada e tem um belíssimo solo de Hugo Prado. “Rising From The Fire” é o maior destaque deste trabalho, onde o Urdza entrega uma faixa nos moldes que a banda do patrão Steve Harris costuma fazer nos seus melhores dias. Uma faixa sensacional.

“Dark Ritual” encerra os trabalhos neste álbum, de forma pesada intrincada e empolgante. Se você é daqueles que gostam de originalidade e invencionices no Metal, “A War With Myself” não é para você. Agora se você é fã do Heavy Metal tradicional e pesado, como tem que ser, não deixa de ouvir este ótimo álbum de estreia do Urdza. Com certeza, vamos ouvir falar muito da banda no futuro.

José Henrique Godoy








VICIOUS RUMORS - THE DEVIL'S ASYLUM (2025)

 


VICIOUS RUMORS 
THE DEVIL'S ASYLUM 
SteamHammer/SPV - Importado

O Vicious Rumors é uma veterana banda americana, formada em 1979, em São Francisco, Califórnia. A banda ficou conhecida no meio da década de 1980, por seu som intrincado, riffs e solos de guitarras elaboradíssimos e vocais potentes. Um aspecto que sempre caracterizou o grupo, foi ocorrer um sem-número de trocas de formação, passando excelentes músicos nas suas fileiras, como o guitarrista Vinnie Moore e o ótimo vocalistas Carl Albert (infelizmente falecido num acidente de carro em 1995), como alguns exemplos.

A discografia do Vicious Rumours é vasta, e temos verdadeiras pérolas contidas nela, como “Digital Dictator” (1988), “Vicious Rumours” (1990) e “Welcome to The Ball” (1991), dentre outros trabalhos. ”The Devil´s Asylum” é o décimo terceiro lançamento da banda e contém o som característico do quinteto, que é o Heavy Metal tradicional e pesadíssimo, as vezes flertando com o Thrash/Power Metal. Contando com os membros originais Geoff Thorpe (guitarras) e Larry Howe (bateria), o baixista de longa data Robin Utbult, e os novatos Chalice (vocais) e Denver Cooper (guitarra), o álbum tem onze faixas distribuídas em quarenta e seis minutos.

Já na abertura com “Bloodbath”, temos uma faixa rápida, com riffs furiosos e “priestianos”, e a principal influência do novo vocalista Chalice é escancarada logo nos primeiros segundos: Rob Halford, que o abençoe. Outros destaques: “Dogs Of War”, mais cadenciada, com solos dobrados e com vocal poderoso, enquanto “Crack The Sky In Half” se ergue vigorosa numa grande faixa dentro do estilo que se convencionou chamar de “U.S. Metal”. Grande refrão que faz você querer cantar junto!

Na faixa “Abusement Park”, Chalice tem uma de suas melhores performances, desta vez encarnando um subtipo do mestre Alice Cooper, para nos narrar os terrores do “Parque do Abuso”. “Wrong Side Of Love” tem um “quê” do Hard Rock californiano, quase um “Sleaze Metal”, enquanto o Thrash Metal apresenta suas armas em “In Blood We Trust”. “Better Than Me” é pesada e cadenciada, com cara de hino Heavy Metal, e o álbum fecha com a faixa título, “The Devil´s Asylum”, em alta velocidade e com grandes riffs mais uma vez.

Um trabalho consistente e muito bom do Vicious Rumors, que vai manter o status de banda “cult”. Novos fãs vão aparecer ao ouvirem este novo CD e os antigos vão ficar satisfeitos.

José Henrique Godoy




PARADISE LOST - ASCENSION (2025)

 


PARADISE LOST
ASCENSION 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Três décadas após redefinirem o lado sombrio do metal, o Paradise Lost continua provando por que seu nome é sinônimo de melancolia majestosa. Formados em 1988, os britânicos nunca aceitaram permanecer estáticos: do doom-death inicial ao metal clássico e melódico de "Draconian Times" (1995), passando por flertes eletrônicos e experimentações ousadas, moldaram um legado que não apenas sobreviveu, mas influenciou gerações inteiras — sempre envolto em uma aura de escuridão que parece eterna.

Agora, em 2025, o quinteto Nick Holmes (vocal), Greg Mackintosh (guitarra e teclado), Aaron Aedy (guitarra), Steve Edmondson (baixo) e Jeff Singer (bateria) entrega seu 17º álbum de estúdio, “Ascension”, um trabalho que reafirma sua posição como referência absoluta no metal sombrio. Produzido pelo próprio Greg Mackintosh, o disco reúne dez faixas que transitam entre a escuridão arrastada do doom, riffs pesados de metal tradicional e melodias que só poderiam ter a assinatura do Paradise Lost — belas e cortantes.

A abertura com “Serpent on the Cross” já anuncia a diversidade do álbum: riffs densos que se transformam em pura fúria — e que performance de Nick Holmes aqui, hein? “Tyrant’s Serenade” mostra a força de uma banda que domina a arte de fazer do simples algo grandioso, com uma linha instrumental que remete ao Type O Negative. Inclusive, a forma de Holmes cantar funciona como uma espécie de tributo discreto a Peter Steele e à própria história do Paradise Lost. Se fecharmos os olhos e prestarmos atenção, encontramos resquícios do álbum Icon, numa música de tirar o fôlego e mergulhar nas sombras.

Enquanto isso, “Salvation” surge como mais uma miserável dose do que é o Paradise Lost em essência — densidade e melodia entrelaçados, reflexo direto de sua importância e de sua versatilidade única, como um hino à dor transformada em música.

Em “Silence Like the Grave”, o álbum abraça um ar melancólico em seus primeiros momentos para, surpreendentemente, nos conduzir a algo entre One Second e The Plague Within — um lado “acessível” inserido dentro do peso lamacento dos riffs, como se a escuridão abrisse um breve fecho de luz. Já “Lay a Wreath Upon the World” soa como uma prece em forma de música, crescendo até um clímax de dor e beleza — uma calmaria disfarçada antes da tempestade que se esconde logo atrás do horizonte.

Um detalhe curioso é que Ascension mantém sua força independentemente da forma como é ouvido. Do fim para o começo, em ordem invertida ou até mesmo no modo aleatório, cada faixa sustenta o mesmo impacto. Essa homogeneidade não torna o álbum previsível, mas sim coeso — como se cada música fosse um fragmento igualmente indispensável para sustentar o todo, pedaços de uma mesma noite sem fim.

Faixas como “Dilivium”, “Savage Days” e “Sirens” ampliam ainda mais essa noção, cada uma trazendo nuances distintas, mas sempre conectadas ao fio condutor da melancolia grandiosa da banda. Já “Deceivers” desponta como um dos pontos altos do álbum, somando tensão e dramaticidade — flertando tanto com o doom quanto com o gótico, com riffs pesados e marcantes que ecoam como lamentos distantes.

Nas letras, Holmes mergulha em reflexões existenciais: a eterna luta humana por ascender a um lugar melhor, os fantasmas da morte, os abismos mentais que nos assombram diariamente. O resultado é sombrio, mas paradoxalmente belo — a prova de que, para o Paradise Lost, a miséria ainda é a fonte mais fértil de inspiração.

O encerramento do tracklist regular vem com “The Precipice”, guiado por piano, que fecha o álbum de forma solene, quase litúrgica, como uma despedida inevitável — uma lentidão pesada e carregada de sentimento, como um último adeus diante do desconhecido.

Em “Ascension”, o grupo não apenas honra sua coroa como pioneiro do gótico e do doom, mas mostra que ainda há fogo em sua existência. Amargo e doce, pesado e contemplativo, o disco é a reafirmação de que o Paradise Lost só sabe ser ele mesmo: inconfundível e melancólico como a própria escuridão que o acompanha.

William Ribas




HUMANAL - “DELIRIUM” (2025)

 



HUMANAL 
DELIRIUM
Independente - Nacional

A banda curitibana Humanal chega ao seu primeiro álbum, “Delirium”, com uma confiança renovada após marcar presença entre os finalistas do concurso New Blood e abrir para os russos do Slaughter To Prevail. Lançado em 13 de agosto de 2025, Delirium é um trabalho de peso, densidade e reflexão, que posiciona a banda como um dos nomes emergentes do metal brasileiro.

"Delirium" apresenta dez faixas, todas conectadas por uma mesma essência: traduzir em música as contradições da vida moderna. Temas como saúde mental, vício, vaidade, opressão, alienação digital e colapso ambiental são tratados de forma direta, sem suavizações, mas sempre com um olhar filosófico e existencial.

Musicalmente, Delirium transita entre groove, progressivo, metal alternativo e death metal melódico, equilibrando agressividade e complexidade de maneira ímpar. A estrutura é dinâmica, cheia de quebras de andamento e atmosferas densas, mas também oferece melodias marcantes, tudo sem perder impacto e força. O resultado é um álbum extremamente versátil, no qual momentos de brutalidade se alternam com passagens mais calmas, e os vocais agressivos de Tati encontram contraponto em linhas limpas e emocionais.

Há ecos de nomes modernos do metal — como Jinjer e Gojira — e nomes da "velha guarda" — como Sepultura e Death —, mas apenas como inspiração estética, absorvendo influências para construir sua própria identidade.

Um ponto crucial é como o instrumental pesado se alinha às letras sombrias, fazendo da música não apenas entretenimento, mas uma experiência que mexe com quem ouve desde o primeiro instante. A abertura com "Echoes of Ether", seguida da instigante "Abyss", já estabelece esse casamento entre peso sonoro e densidade lírica, dando ao álbum um caráter visceral e perturbador.

Entre os destaques, "Xawara", inspirada no livro A Queda do Céu, de Davi Kopenawa, surge como manifesto. "Burnout" traduz em som o esgotamento da vida moderna, com arranjos sufocantes, quase uma catarse. "Animal Social" é carregada de groove e tem uma levada que facilmente leva o ouvinte a bater cabeça e gritar o refrão. Já "Spiritless" traz consigo um ar angustiante, inquieto e denso.

Um dos momentos mais impactantes vem com "Opressor", cantada em português, que carrega um peso ainda maior pela clareza da mensagem. Nela, a banda pisa fundo na brutalidade, liberando um caos controlado pela intensidade instrumental e pelos berros viscerais de Tati.

Mais do que um simples lançamento, “Delirium” representa a trilha sonora intensa e consciente de seu tempo. O fechamento com "The Art of Losing" é apoteótico: começa com suspense e levada limpa, cresce passo a passo até que o peso toma conta, evidenciando a genialidade dos músicos.

Humanal prova que é uma banda que veio para deixar sua marca — O álbum é uma obra-prima, uma experiência única e impactante para os ouvintes.

Ouça!!!

William Ribas




MORS PRINCIPIUM EST – “DARKNESS INVISIBLE” (2025)

 


MORS PRINCIPIUM EST
DARKNESS INVISIBLE
Reigning Phoenix Music - Importado

Fundado em 1999, na Finlândia, o Mors Principium Est retorna em 2025 com Darkness Invisible, seu nono trabalho de estúdio. Desde 2021, a banda mantém a mesma formação: Ville Viljanen (vocal), Jori Haukio (guitarra), Jarkko Kokko (guitarra), Teemu Heinola (baixo) e Marko Tommila (bateria). Juntos, gravaram “Liberate the Unborn Inhumanity” (2022) e agora, com o segundo álbum de estúdio desse line-up, mostram-se ainda mais coesos, afiando identidade e sintonia.

Confesso que nunca havia escutado sobre a banda até agora — e “Darkness Invisible” foi uma grata surpresa, mesmo que essa descoberta tenha demorado 26 anos desde a sua fundação. Há um frescor aqui que é raro: a sensação é de estar conhecendo uma banda nova, que acaba de lançar seu primeiro trabalho, mas com a experiência e maturidade de quem já percorreu uma longa estrada. A energia que a banda transmite é a de iniciantes famintos, e isso é ótimo — tanto para quem descobre, quanto para eles, que ainda demonstram esse tesão diante do eterno ciclo composição, gravação e turnê. Após a primeira audição, fui direto ao Spotify e resolvi explorar alguns outros trabalhos: “Inhumanity” (2003), “The Unborn” (2005), “Dawn of the 5th Era” (2014) e, obviamente, o antecessor “Liberate the Unborn Inhumanity”. A escolha foi quase instintiva, guiada pelas capas — como fazia nos anos 90.

Musicalmente, "Darkness Invisible" preserva o DNA característico do MPE: riffs cortantes, harmonias melancólicas e precisão rítmica impecável. O álbum tem uma certa dose de caos. O instrumental é agressivo e os momentos mais melódicos ficam mais focados nos solos ou em uma ou outra passagem, apenas para trazer uma atmosfera épica. Tudo isso reforça o peso emocional das faixas.

O início com “Of Death”, com seu jeito quase Black Metal à la Dimmu Borgir e Cradle Of Filth, cai como uma luva, com uma breve introdução sombria, riffs pesados misturados com uma bateria. Na sequência, vêm “Venator” e “Monuments”. Ambas mantêm um lado Black/Death Metal melódico — deixando claro que a obscuridade e intensidade serão as regras do álbum.

“Tenebrae Latebra” é um breve descanso. Uma passagem tranquila, com vocais femininos apenas ambientando a faixa — a óbvia calmaria antes da tempestade.

As letras de “Darkness Invisible” mergulham fundo na escuridão — e não apenas como recurso estético. Medo existencial, tormento interior, isolamento psicológico e a lenta desintegração da identidade permeiam o álbum, transformando-o em uma jornada filosófica e devastadora. É uma obra que provoca catarse. “
Summoning The Dark” e “The Rivers of Avernus” são exemplos — fazem os fones de ouvido “explodirem” e deixam o ouvinte desnorteado.

“In Sleep There is Peace” entrega uma performance destruidora de Ville Viljanen, alternando guturais brutais e “grunidos” sombrios, sempre de maneira visceral. A bela melodia de “An Aria Of The Damned” acalma, ao mesmo tempo em que traz uma certa ponta de angústia e ansiedade para o que pode estar por vir. Na sua sequência, temos “All Life Is Evil” — carregada, a banda diminui a velocidade e apenas transborda um ar melancólico, com seu pé no Doom Metal, ampliando uma experiência surreal para o fã.

O final com “Makso Mitä Makso” traz novamente a agressividade — o mesmo tom caótico do início do álbum. Gritos, blast beats, riffs sendo despejados sem dó nem piedade, fechando o trabalho de maneira impiedosa. “Darkness Invisible” é mais que um álbum — é uma declaração, uma experiência e um lembrete de que, mesmo nas sombras mais profundas, ainda existe beleza, mesmo que ela venha acompanhada de uma sinfonia deliciosamente caótica.

Bem, fim de resenha e vou ali dar sequência na riquíssima discografia (o lado bom da existência do streaming) do Mors Principium Est.

William Ribas




AMORPHIS - “BORDERLAND” (2025)

 


AMORPHIS 
BORDERLAND
Reigning Phoenix Music - Importado

O Amorphis desafia a lógica da indústria musical, ignorando a acomodação e mantendo viva a inquietude criativa ao longo de décadas. Trinta e cinco anos depois de surgir na cena finlandesa com um death/doom bruto, sendo um espelho daquela época — o sexteto chega ao seu 15º álbum de estúdio, “Borderland”, como veteranos e incansáveis exploradores de novos territórios. Com uma trajetória marcada por experimentação e inovação, a banda segue expandindo seus limites musicais.

O novo trabalho combina frescor e equilíbrio entre a melancolia tradicional e um tempero moderno que amplia horizontes. As melodias permanecem profundas e carregadas de emoção, mas aqui ganham um tratamento mais direto e, por vezes, irresistivelmente cativante. Não é um álbum agressivo — muitas vezes nem pesado. Um passo adiante do que foi proposto em “Halo” (2022). Existe, sim, um lado denso no instrumental, mas Borderland é feito para quem deseja fugir das regras.

A abertura com “The Circle” comprova que a liberdade criativa segue intacta: leve, mas hipnotizante; dançante, mas obscura — um início que anuncia que, nesta estrada sombria, haverá também beleza abstrata. “Bones” é prova disso, figurando como um destaque imediato com melodias orientais que sobem mais um degrau em relação às tentativas anteriores da banda. Já “Dancing Shadow” surpreende ao flertar com atmosferas repletas de ganchos — o contraste entre voz limpa e gutural alinhado ao instrumental pulsante são capazes de incendiar qualquer pista de dança para headbangers.

“Fog to Fog” carrega uma forte carga emotiva desde as primeiras notas de teclado, passeando entre guitarras melódicas e uma vibração livre. “The Strange” é como o final de um longo inverno: frio, denso, mas com a luz surgindo. Essa luz se revela por completo em “Tempest”, um capítulo suave, quase cinematográfico, marcado por uma interpretação impecável de Tomi Joutsen.

O single “Light and Shadow” demonstra o quão criativo foi o processo de composição do álbum, equilibrando peso e melodia, com um caráter ao mesmo tempo introspectivo e acessível. “The Lantern” surge mais densa, com guitarras pesadas e andamento arrastado — talvez o momento mais “quieto” do disco. A faixa-título se ergue como o núcleo emocional, unindo guitarras e teclados envolventes, além de uma letra que reflete o embate entre a sabedoria ancestral e os dilemas da vida moderna — um tema que permeia por todo o tracklist.

A reta final do álbum é onde a escuridão volta a tomar conta. “Despair” fecha como um sopro gélido no ouvido — progressiva , cativante e lenta, deixando no ar um peso que persiste muito depois da última nota. Como se a beleza se misturasse com o desconforto, criando um encerramento que mais parece um presságio.

Borderland” é um álbum de contrastes: sedutor e sombrio, melódico e pesado, e acima de batidas dançantes. É o Amorphis olhando para frente, mas com um pé no lado escuro de sua própria história. Um disco brilhante, mas mesmo que sob a luz de um novo amanhecer, as sombras do passado permanecem.

William Ribas




sexta-feira, 15 de agosto de 2025

REBEL ROCK RESEARCH - MERCYFUL FATE


Poucas bandas no heavy metal são tão essenciais e ao mesmo tempo tão envoltas em mistério quanto o Mercyful Fate. Formada em 1981, na Dinamarca, em meio ao furacão da New Wave of British Heavy Metal, a banda logo chamou atenção com sua sonoridade única: guitarras afiadas, estruturas longas e intrincadas, e acima de tudo, a voz hipnótica e teatral de King Diamond, que alternava entre falsetes agudos de arrepiar e graves que pareciam invocações do além. O quinteto clássico (King Diamond (vocais), Hank Shermann (guitarra), Michael Denner (guitarra), Timi Hansen (baixo) e Kim Ruzz (bateria)) deu ao mundo dois discos que se tornariam verdadeiros pilares do black metal primitivo: "Melissa" (1983) e "Don’t Break the Oath" (1984). Esses trabalhos foram tão influentes que até hoje são citados entre os maiores álbuns de metal extremo já feitos. Após divergências internas, a banda se separou em 1985. Mas como toda lenda, o Fate ressurgiu em 1992, mais maduro, lançando uma sequência de álbuns que mostraram uma nova face, até entrar novamente em hiato depois de 9 (1999).

Minha conexão pessoal com a banda começou de forma indireta, através do Metallica, quando ouvi o "Mercyful Fate Medley" no Garage Inc. (1998), do Metallica. Ali senti a força da música, mas foi mergulhando na discografia original que me tornei devoto ao ocultismo e à teatralidade sombria do Mercyful Fate \m/. Todos os discos têm sua importância, e ainda que os três primeiros estejam em um altar intocável, a jornada completa é um mergulho profundo na essência do heavy metal. Dito isso, vamos nos deleitar com a discografia da banda, que apresento aqui do meu “menos preferido” até o supra-sumo.

Fernando Aguiar

8º - RETURN OF THE VAMPIRE (1992)


Mais que um álbum, Return of the Vampire é um documento histórico. Trata-se de demos gravadas antes mesmo do primeiro disco oficial, lançadas como compilação. "A Corpse Without Soul" já carrega a energia obscura que seria marca registrada. "On a Night of Full Moon" tem uma atmosfera quase ritualística, enquanto a faixa-título "Return of the Vampire" resume a identidade embrionária da banda. Não há polimento, mas há autenticidade pura. É como abrir o diário secreto de um mago e encontrar os primeiros feitiços. Para qualquer fã, é um tesouro que mostra como o Mercyful Fate já tinha sua essência formada antes mesmo de mudar a história com "Melissa".



7º - 9 (1999)


O último álbum da banda é uma despedida poderosa (até o momento). 9 mostra um Mercyful Fate fiel ao que sempre foi: sombrio, pesado e intenso. A produção é crua, direta, sem polimentos desnecessários, o que dá ao disco uma energia agressiva, quase como se quisessem lembrar ao mundo que não havia envelhecimento criativo. "Last Rites" abre de maneira explosiva, reafirmando que o King Diamond ainda dominava o palco e o estúdio com sua teatralidade. "Burn in Hell" carrega riffs cortantes, daqueles que grudam na mente e mostram o DNA da banda. "House on the Hill" talvez seja a mais marcante, pela força melódica que contrasta com o peso. O álbum inteiro soa como um fechamento em círculo: é como se o Mercyful Fate dissesse ao mundo que começou sombrio e assim permaneceria até o fim. É um ”último” capítulo, sem concessões, que deixa o legado intacto.



6º - DEAD AGAIN (1998)


Lançado no ano anterior, Dead Again é um álbum longo e ousado. São músicas que ultrapassam dez minutos, construídas como rituais musicais que alternam passagens de pura agressividade com atmosferas densas. A faixa-título "Dead Again" é um épico absoluto: riffs que crescem como tempestade, vocais que alternam entre o demoníaco e o melancólico, e uma estrutura que mais parece um rito satânico. "The Night" se destaca pela aura obscura, como se fosse a trilha sonora de um pesadelo interminável. Já "Scream" é a pancada direta, lembrando que a banda também sabia ser simples e devastadora quando queria. "Crossroads" equilibra peso e melodia de forma quase ritualística. A produção é propositalmente crua, o que reforça o clima macabro. Para quem busca acessibilidade, esse disco pode soar desafiador. Mas para quem entra na imersão, é uma viagem que mostra a coragem da banda de não se repetir, mesmo depois de tantos anos.



5º - INTO THE UNKNOW (1996)


Este é o disco mais acessível do Mercyful Fate, mas não menos sombrio. Lançado em 1996, Into the Unknown soa cristalino, com uma produção impecável, riffs claros e uma pegada mais direta. Isso o torna uma boa porta de entrada, mas não trai as raízes. A abertura com "Lucifer" já mostra que a aura satânica continua ali. "The Uninvited Guest" é um destaque absoluto, sombria e cativante. "Holy Water" traz riffs que grudam na mente e uma interpretação de King que equilibra teatralidade com força. A faixa-título "Into the Unknown" é um mergulho no clima místico que sempre acompanhou a banda, e "Fifteen Men (and a Bottle of Rum)" mostra a ousadia em experimentar temáticas diferentes sem perder a identidade. Esse álbum foi bem recebido comercialmente, alcançando inclusive paradas europeias, algo incomum para a banda. É a prova de que, mesmo mais acessível, o Mercyful Fate sempre manteve sua essência.



4º - TIME (1994)


Com Time, lançado em 1994, a banda mergulhou em atmosferas mais elaboradas. É um álbum que mistura agressividade com momentos contemplativos, quase ritualísticos, provando que o Mercyful Fate podia soar versátil sem perder identidade. "Nightmare Be Thy Name" é um verdadeiro hino, um dos maiores da fase 90, carregado de riffs que soam como trovões. "Witches’ Dance" é teatral e vibrante, uma celebração da essência da banda. "Angel of Light" traz uma melodia envolvente que equilibra peso e emoção. "The Mad Arab" (dividida em duas partes) mergulha em mitologias do Oriente Médio, criando uma ambientação exótica e única. E há ainda "The Afterlife", que para mim é uma das faixas mais poderosas do disco: melancólica, direta, com riffs incendiários e King Diamond no seu modo mais agressivo. Ela mostra que, mesmo dentro de um álbum cheio de atmosferas místicas, a banda ainda podia soar como um ataque frontal, lembrando ao mundo sua raiz mais crua. Time é cheio de detalhes sutis, que só aparecem após várias audições. É um daqueles trabalhos que crescem com o tempo e revelam novas camadas a cada retorno. Para mim, é um tesouro da discografia, injustamente subestimado por alguns, mas absolutamente brilhante.



3º - IN THE SHADOWS (1993)


E chegamos ao pódio com o retorno triunfal após quase uma década. In the Shadows marcou o renascimento da banda, provando que ainda tinham muito a dizer. A abertura com "Egypt" é grandiosa e épica, preparando o terreno para um álbum memorável. "The Bell Witch" é um dos maiores clássicos da segunda fase, com riffs marcantes e refrão poderoso. "Is That You, Melissa?" conecta presente e passado, trazendo de volta a magia do debut em uma continuação emocionante. Um dos detalhes interessantes deste play está em "Return of the Vampire", com Lars Ulrich (Metallica) na bateria. Essa participação sela a reverência de um discípulo à sua influência maior. A produção é moderna, mas sem esterilidade, tudo soa nítido, mas ainda sombrio. É um disco que mostra vitalidade e respeito ao passado, ao mesmo tempo em que atualiza a sonoridade para os anos 90.



2º - DON'T BREAK THE OATH (1984)


O segundo álbum do Mercyful Fate é pura consagração. Se "Melissa" já havia colocado a banda no mapa, Don’t Break the Oath os elevou a um patamar quase místico dentro do heavy metal. Lançado em 1984, em meio ao crescimento do thrash e ao surgimento de bandas mais extremas, o Fate entregou um trabalho que foi além de tudo o que se fazia na época. Era mais sombrio, mais ousado, mais complexo, e ainda assim acessível para quem quisesse mergulhar em sua obscuridade. "A Dangerous Meeting" abre o disco de forma explosiva, com riffs que soam como trovões e uma progressão que anuncia logo de cara que este não seria apenas mais um álbum de metal. "Desecration of Souls" aprofunda o lado macabro, trazendo linhas vocais quase demoníacas de King Diamond, que aqui atinge um dos auges de sua teatralidade. "Night of the Unborn" mantém esse clima de horror, criando uma narrativa sonora que parece vir de um ritual ocultista.
Mas o ápice ritualístico vem com "The Oath". Essa faixa é praticamente uma missa negra em forma de música. Com atmosferas sombrias, vocais teatrais e riffs que parecem invocações, é um dos pontos mais altos da carreira da banda e do metal como um todo. Já "Gypsy" mostra a versatilidade do grupo, com uma levada que mescla peso e groove, mantendo a intensidade. E, claro, "Come to the Sabbath". Aqui não há espaço para discussões: é um hino absoluto do heavy metal e ponto. Reverenciada até hoje como uma das melhores músicas já escritas dentro do gênero, ela condensa tudo o que é o Mercyful Fate: riffs cortantes, letras ocultistas, teatralidade e uma atmosfera que arrepia do início ao fim.
Esse disco é pura imortalidade. Sua influência ecoou em bandas como Slayer, Bathory e Emperor, além de todo o black metal que viria depois. O mais impressionante é que, mesmo quatro décadas depois, ele ainda soa moderno e relevante. Para mim, Don’t Break the Oath é daqueles álbuns que não envelhecem, porque são mais que música: são uma declaração de princípios e principalmente, formador de caráter, daqueles que moldam não só a cena, mas a alma de quem o ouve.



1º - MELISSA (1983)



E chegamos ao altar máximo. Melissa não é apenas "O" debut do Mercyful Fate, é um marco incontornável na história do heavy metal. Lançado em 1983, em pleno boom da NWOBHM, o disco foi um divisor de águas: trouxe uma sonoridade ousada, complexa e absolutamente sombria, que abriria as portas para todo o metal extremo que estava por vir. "Evil" abre o álbum com violência e energia, um clássico imediato que mostra desde o primeiro riff que a banda não estava ali para brincar. "Curse of the Pharaohs" é épica, carregada de riffs que ecoam como mantras, com uma aura quase ritualística. "Into the Coven" mergulha fundo no ocultismo, explorando temas que ninguém ousava tocar na época e criando uma atmosfera de arrepio.
Mas é em "Satan’s Fall" que o Mercyful Fate entrega sua obra-prima progressiva. Com mais de 11 minutos, a faixa alterna climas, intensidades e riffs de forma genial, mostrando a ousadia e a habilidade da banda em compor músicas longas sem perder impacto. É um verdadeiro épico, daqueles que você termina de ouvir sem perceber o tempo passar. E então vem a faixa-título, "Melissa'. Dedicada à famosa caveira que King Diamond usava nos palcos, ela é carregada de melancolia, teatralidade e emoção. É um encerramento quase espiritual, que transforma a audição do álbum em uma experiência única, como se o ouvinte tivesse participado de um ritual.
Esse disco moldou o futuro do thrash, do death e do black metal. Bandas como Metallica, Slayer e Exodus beberam diretamente dessa fonte, assim como todo o movimento do black metal norueguês. É referência obrigatória, não apenas pela música, mas pela ousadia e pela forma como expandiu os limites do gênero. Para mim, Melissa é mais do que um álbum, é uma das maiores obras da história do heavy metal. Ouvi-lo é como participar de um ritual sagrado, algo que vai além da música. É entrar em contato com uma energia que mistura o oculto, a paixão e a genialidade criativa. Um verdadeiro altar sonoro, onde todo fã de metal deveria se ajoelhar pelo menos uma vez na vida.



CONCLUSÃO

A discografia do Mercyful Fate é um verdadeiro mergulho no oculto e no poder do heavy metal. Todos os álbuns têm valor, todos são celebrações de um legado eterno. Mas é impossível negar que Melissa e Don’t Break the Oath estão em um altar intocável, influenciando gerações e definindo um gênero. Eu descobri o Mercyful Fate pelo Metallica, mas foi a própria banda que me conquistou e me fez um fã tão devoto.
Porque, no fim, o Mercyful Fate não é apenas uma banda. É um culto. E quem entra nesse culto, como eu entrei, nunca mais sai.