sexta-feira, 1 de agosto de 2025

STRYPER, NARNIA, BRIDE - 30/07/2025 - TEATRO DA AMRIGS - PORTO ALEGRE/RS

 


STRYPER
NARNIA
BRIDE
30/07/2025
TEATRO DA AMRIGS
PORTO ALEGRE/RS

Texto e fotos: José Henrique Godoy

Três bandas de “Rock Cristão”... Três bandas de “Metal Gospel”... Três bandas de “Crente”, como alguns falam pejorativamente, como se a fé dos caras fosse alguma falha... Na realidade todas estas três descrições, apesar de não serem inadequadas, ficam abaixo do que Stryper, Narnia e Bride na realidade são: três ótimas bandas de Heavy Metal/Hard Rock. E quem compareceu ao Teatro da AMRIGS, em Porto Alegre teve como constatar o poder de fogo da trinca, “in loco”.

O local, como próprio nome já diz, é um teatro, com cadeiras e para assistir o show sentado. Mas logo aos primeiros acordes do Bride, que entrou no palco as 19h10, o público que ainda não era numeroso, se levantou e se direcionou para mais perto do palco. De cara a banda dos irmãos Thompson detonam “Rattlesnake”, de um dos seus álbuns mais cultuados pelos fãs, “Snakes In Paradise” (1992). O som ainda necessitava de alguns ajustes que foram feitos aos poucos, mas o Bride não se importou e agitou desde o início.

Sem muita interação como público, Dale Thompson demonstrou excelente forma vocal, enquanto Troy Thompson é o destaque maior, um excelente guitarrista, com riffs pesados e solos criativos. A “cozinha” brasileira é formada pelo baixista Nenel Lucena e pelo baterista Alexandre Aposan, que diga-se de passagem, é um puta batera, no melhor estilo “lenhador”, e que quase destruiu seu kit. Num set bastante energético de pouco mais de quarenta minutos, os destaques ficaram para “Psychedelic Super Jesus” que agitou e muito a plateia e a clássica e favorita ds fãs “Heroes”, que não era executada ao vivo a quase trinta anos. Uma ótima e energética performance do Bride que se despede do público e se retira. Após o show os músicos atenderam a todos os presentes, com fotos e autógrafos.


Após um intervalo de aproximadamente vinte minutos, é a vez dos suecos do Narnia. Christian Rivel-Liljegren (vocal), C.J. Grimmark (guitarra), Jonatan Samuelsson (baixo), Martin Härenstam (teclados) e Andreas Johansson (bateria) sobem ao palco, Esbanjando técnica, categoria e muita simpatia, iniciaram com a faixa “Rebel” e seguiram com “No More Shadows From the Past”. Nos trabalhos iniciais, o Narnia se aproximavam mais do Prog/Power Metal, mas atualmente é mais próximo do Hard Rock/AOR, uma sonoridade muito agradável. O som da voz de Christian oscilava as vezes mais baixa, as vezes mais alta, mas nada que afetasse a sua performance. O Narnia executou uma faixa pela primeira vez ao vivo, “Ocean Wide”, que foi muito bem recebida pelo público.

Um dos pontos altos do show foi “Long Live The King”, com sua aura meio Rainbow/Deep Purple, onde o destaque ficou por conta de Martin Härenstam, o tecladista que atacava seu teclado da mesma forma que o gênio imortal John Lord fazia. Seria ele o John Lord sueco? O último refrão desta faixa foi cantada em português, pela banda e pelo público presente, que já era bem numeroso à esta altura. Na próxima pausa, o vocalista Christian nos relata, que quando tinha quinze anos, se tornou cristão, e por coincidência ou não, no mesmo ano o Stryper lançou o álbum “Soldiers Under Command” (1985) e que este era o álbum pelo qual ele foi inspirado para criar uma banda de Heavy Metal/Hard Rock com a temática cristã, e que estava muito feliz em tocar no mesmo palco da banda que o influenciou a quarenta anos atrás. O Narnia finaliza sua ótima apresentação com “Living Water”. A banda se despede e deixa o palco.



A troca de palco desta vez levou um pouco mais de tempo, tendo em vista que a bateria de Robert Sweet já estava montada, e pela posição dela e também pelas suas dimensões, obrigou as baterias tanto do Bride como do Narnia, a ficarem mais ao lado do palco.

Sendo assim, precisou de mais tempo para a desmontagem da bateria do Narnia, mas nada que tenha causado algum transtorno maior. Pontualmente , as 21h30, era chegada a hora do “Yellow And Black Attack” em Porto Alegre: Michael Sweet (guitarra vocal), Robert Sweet (bateria), Perry Richardson (baixo) e Howie Simon (guitarra – substituindo OZ Fox) iniciam sua performance com a clássica “In God We Trust”. Eu disse performance, mas eu poderia usar o termo “aula” de show.

O público já tomava conta de praticamente todos os espaços do Teatro da AMRIGS e a recepção ao Stryper foi além de calorosa, tendo em vista serem eles a atração principal, e a maioria, senão a totalidade, foi ao show por causa dos californianos. “Revelation” vem em seguida, faixa poderosa do álbum de 2013, “No More Hell To Pay”. Após a primeira pausa, o carismático Michael Sweet saúda e fala com os gaúchos pela primeira vez. Ele brinca que a faixa a seguir e da época que eles armavam o cabelo, usavam maquiagem e apareciam seguidamente na MTV, “na época em que a MTV era realmente um canal de música” ressaltou ele. E a dobradinha é matadora, dois clássicos: “Calling On You” e “Free”, assim como foram lançadas no clássico “To Hell With The Devil” (1986), são sempre tocadas como se fosse uma faixa só. Incrível a precisão da banda ao vivo. Mas Oz Fox fez falta e daqui a pouco comento a respeito de Howie Simon. Após elas, temos a tradicional distribuição das bíblias do Stryper... Independente de ser cristão ou não, todo mundo quer pegar uma, se bobear até satanistas que por acaso sejam fãs do Stryper. Por que não, né? Vivemos num mundo de esquisitices e contradições. 


Dando sequência, foram executadas com maestria “Sorry”, “All For One”, linda faixa do injustiçado álbum “Against the Law (1990), cantada em uníssono por todos os presentes, exatamente como a seguinte e também clássica “Always There For You”. Aqui abro um parênteses para falar sobre a ausência de Oz Fox e seu substituto Howie Simon. Oz Fox, além de exímio guitarrista, tem um carisma sensacional, junto à todos os membros do Stryper. A performance de Howie vai totalmente contra ao que Oz representa no Stryper, num anti-clima total. Não que ele seja mal guitarrista, ao contrário, porém muitas partes de solos que foram gravados originalmente no padrão “guitarras gêmeas/solos dobrados” por Michael e Oz, ficaram apenas nas mãos de Michael, enquanto Howie se limitava a executar as bases das músicas. Fora a postura em palco que deixava a desejar, e escancarando até para quem visse a banda pela primeira vez, que ele não é parte integrante do Stryper. Junte-se ainda, um comportamento desagradável fora do palco, segundo relatos de fãs e jornalistas, que presenciaram uma certa rispidez com alguns fãs, fica aqui o questionamento se realmente Howie Simon foi uma escolha acertada por parte do Stryper, uma banda que sempre tratou e atendeu os seus fãs com alegria e cordialidade. Nos resta torcer para que OZ Fox possa voltar o mais rápido possível.

Voltando ao show, Michael Sweet mais uma vez conversa com a plateia, e conta que adora tocar os clássicos da banda, mas que ama também executar faixas dos trabalhos mais recentes, e então na sequência temos “Divider” e “No Rest For The Wicked”. Não falei dele ainda, mas que baterista é Robert Sweet!! Com sua bateria tradicionalmente montada de lado para o público, podemos ver toda a sua performance, e que performance!!! Carismático, cheio de técnica e força, Robert é sem dúvida um dos melhores bateristas do Hard/Heavy e um dos preferidos deste que aqui digita! Simplesmente o cara é a alegria de tocar bateria, em carne e osso! Junto a ele temos Perry Richardson, o ex-baixista do Firehouse, e que há alguns anos substituiu o original Thimothy Gaines, segura magistralmente os graves do Stryper, além de ótimos backing vocals, sorri e distribui palhetas o tempo todo.



“No More Hell To Pay” é anunciada por Michael, como uma das faixas preferidas dele, de toda a discografia do Stryper, e realmente é uma ótima música, que parece ganhar ainda mais peso ao vivo. Seguimos com “More Than A Man”, uma das minhas preferidas e que também faz parte do álbum “To Hell with The Devil”. Excelente como sempre, mas...  cadê as partes do Oz Fox...?? Pois bem... "The Valley” e a pesadíssima “Yahweh” abrem caminho para duas clássicas do “Soldiers Under Command”(1986): “Surrender” e a faixa título, ambas cantadas por todo teatro da AMRIGS, como se não houvesse amanhã.

O Stryper se retira do palco, sobre muitos aplausos e o coro tradicional de “One More Song!!!”. Em poucos instantes, o quarteto volta ao palco para, infelizmente, finalizar o show. As faixas escolhidas foram “Sing-Along Song” e, por óbvio, “To Hell With The Devil”, novamente entoadas por todos presentes. O Stryper agradece, tira a tradicional foto com o público se despede e deixa o palco.



Foi um senhor show, como já citei anteriormente! E aqui uma nota: O pai de Michael e Robert, faleceu na noite do dia 28/07, dois dias antes do show aqui em Porto Alegre. Só quem já passou por isso sabe a dor que é, e os irmãos Sweet com um profissionalismo acima da média, fizeram um show impecável, como se nada tivesse ocorrido. Realmente são músicos e seres humanos muito diferenciados. O Rebel Rock aproveita aqui para deixar as condolências à Michael, Robert e toda a família Sweet. Agradecemos também à produtora Estética Torta pela grandiosa produção, generosidade e parceria!

KORZUS - 24/07/2025 - SESC AVENIDA PAULISTA - SÃO PAULO/SP


 

KORZUS
24/07/2025
SESC AVENIDA PAULISTA
SÃO PAULO/SP

Texto, fotos e vídeos: William Ribas

As últimas 48 horas (pré show) têm sido estranhas — e acredito que para uma grande parcela dos headbangers também. O falecimento de John Michael Osbourne deixou um gosto amargo. É como perder um amigo, um parente próximo. É como ver aquela época que, em algum momento, passou pelas nossas vidas trazendo alegrias, ensinamentos e emoções.

Desde o início da tarde em que vi a notícia, só tenho escutado Ozzy. Seja em CD, seja no streaming — essa tem sido a trilha sonora desses dias de luto por nosso madman.

Estar aqui no Sesc Avenida Paulista trazia dois sentimentos ao mesmo tempo: o amargo e triste da perda de alguém que “esteve” comigo nesses últimos 30 anos em que escuto música pesada, e o “vamos celebrar” tudo o que o mestre nos ensinou. Ver o Korzus celebrando seus 40 anos acabou sendo a primeira música, o primeiro som, que não vinha diretamente de Ozzy nesses dias. E fico feliz que tenha sido assim.

Antes do início do show, o som mecânico tocava Black Sabbath. E, poucos minutos depois das 19h30, ela começou — a música que deu origem a tudo: “Black Sabbath”. No meio da apresentação, Pompeu explicou que, após 25 anos, decidiram mudar a introdução do show justamente para homenagear Ozzy.

Um a um, os integrantes do Korzus foram subindo ao palco. E, nesse momento, deu pra notar que o local estava completamente abarrotado. Marcello Pompeu (vocal), Heros Trench (guitarra), Jean Patton (guitarra), Dick Siebert (baixo) e Rodrigo Oliveira (bateria) chegaram com os dois pés no peito de cada fã ao abrir o show com a maravilhosa “Guilty of Silence”.



O setlist prosseguiu com músicas que passaram por toda a discografia da banda. Digamos que, se o grupo paulistano lançasse um best of dos seus primeiros 40 anos, o que vimos nesta noite representaria 90% desse “álbum”. Faixas como “Raise Your Soul”, “What Are You Looking For”, “Truth”, “Internally” e outras colocaram o Sesc Avenida Paulista literalmente para tremer.

A dupla das seis cordas, Heros e Jean, despejou riffs atrás de riffs. Aliás, a entrada de Jean na banda nitidamente trouxe ainda mais energia — especialmente no palco. O cara é incansável: batendo cabeça, se movimentando, agitando o tempo todo. O comandante pode ser Pompeu, mas Dick e Jean também se encarregam de manter a sinergia entre banda e público sempre lá no alto — QUE TRIO de frente.

“Never Dies”, “Truth”, “Respect” e “Vampiro” foram mais alguns momentos de fúria sonora que não nos deixavam sequer respirar! Os gritos de “Korzus! Korzus!” eram entoados a cada breve intervalo — sim, breve, pois a banda parecia ter um objetivo claro: promover o caos sonoro do começo ao fim.

Gostaria de abrir um parágrafo em particular para Marcello Pompeu. Impressionante como ele tem os fãs “na palma das mãos” do início ao fim. Agitando, pedindo para que o público cante ou berre cada vez mais alto, ou simplesmente conversando com os fãs — mostrando simpatia, respeito e simplicidade. Um verdadeiro frontman. Na minha humilde opinião, um dos últimos “moicanos” daquele amor oitentista, quando “tudo era mato” e bandas como o Korzus foram desbravando cada pedaço do Brasil com muito esforço, suor e atitude.


“Catimba” traz um pouco daquele metal dos anos 90, mais carregado — o lado Pantera do Korzus. A letra, que mistura inglês e português, faz todos baterem cabeça e seguirem o mestre no refrão: “Minha ferida cicatriza com o ódio seu! Minha ferida cicatriza com o ódio seu!” — impossível não repetir, inclusive, estou aqui repetindo mesmo horas depois do show. (risos)

Rodrigo segue sendo um dos melhores bateristas do Brasil. Tenho dó do kit de bateria. O cara simplesmente bate sem dó nem piedade — uma máquina mortífera que mantém a ordem dentro da destruição que o Korzus celebra. O maior exemplo disso veio com “Agony”.

Pompeu avisou que estavam chegando perto do final, então era hora da clássica.

“Guerreiros do Metal” é, pra mim, um dos hinos atemporais do metal nacional. Deveria ser ensinada desde o berço a toda e qualquer pessoa que esteja começando a ouvir música pesada. Afinal, todos os dias... lutamos pelo metal.


O fechamento veio com a caótica “Correria”, e o final foi como o começo — banda e público ensandecidos.

Falando em Back to the Beginning, a banda deixou claro que aquele show era dedicado a Ozzy. No bom lugar onde ele está agora, tenho certeza de que está feliz por ver um de seus filhos detonando e seguindo em frente com o que ele, Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward iniciaram há mais de cinco décadas.

O Korzus detonou, lavou a alma e mostrou o motivo de ser considerado um dos grandes pilares do heavy metal brasileiro.

Como diria Pompeu: IS WE!