MESHUGGAH - KOLOSS (2012/2022)
Shinigami Records/Atomic Fire
Shinigami Records/Atomic Fire
Na ativa desde 1987, os suecos das Meshuggah se lambuzaram no banquete sonoro do thrash metal, do death progressivo e do technical groove para criar o Djent, um novo degrau sonoro na escala evolutiva do metal pesado. Sucessor ao aclamado e polêmico ObZen (2008), chegou o Koloss (2012), aos ouvidos dos fãs sedentos por novidades. Atmosferado por ganas de um mundo que aspirava uma extinção em massa (mito do calendário Maia), Koloss não precisou de muita força para impactar. Foi o resultado da depuração e refinamento musical dos artistas, que mostrou alta fidelidade, tanto em composição sonora, quanto arranjo e melodias.
Pois em 2022 o colossal completou 10 anos de seu lançamento original, e o Meshuggah relançou uma edição especial de aniversário da bolachinha. O disco ganha o mundo pela segunda vez, porém agora pelas mãos da Atomic Fire, no Brasil, em parceria com a Shinigami Records.
O play abre com uma tempestade rugindo no horizonte chamada “I am Colossus”, pesada, swingada, groovada e com um riff, que a única medida possível para o aferir é a tonelada. Em Koloss a Meshuggah não entregou nenhuma novidade aos fãs (nem era esperado), mas com toda certeza os presenteou com um disco cheio de identidade e experiência inigualável. “The Demon's Name Is Surveillance” ao começar, entrega de bandeja a influência do Nevermore, para a banda. Num caso hipotético de que nesse som, estivesse a voz do Warrel Dane, os fãs de Nevermore nem notariam que o som não é originário do grupo. Fredrik Thordendal (guitarra) vem numa batida terraplanadora nesse nessa faixa. Outra referência nítida, nesse som, é a pegada da banda Gojira, principalmente na guitarra. E isso se explica pela razão que o Frederik gravou um single com a banda, como guitarrista convidado, nesse mesmo ano (Of Blood and Salt – 2011). Isso pode dar uma pista dessa oxigenação inspiracional.
Porém não podemos esquecer dos dias passados do Meshuggah, então sim, esse som é, também, uma espécie de memória residual dos velhos dias calcados na velocidade e (talvez menos) técnica. Um “salve” aos fãs, do tipo: “Hey pessoal, mudamos, mas ainda sabemos fazer aquilo que nos tornou o que somos hoje”. Uma excelente faixa, cheia de energia explosiva. “Do Not Look Down” é tão groovada, numa pegada tão contagiante, que eu o desafio a não banguear (e falhe miseravelmente). Ponto muito positivo para Dick Lövgren (baixo), que conduz o som surfando nas quatro cordas graves. Dick, que em 2012 já era um instrumentista de mão cheia, a ponto de ter tocado com In Flames, Arch Enemy e outras bandas, ao vivo, mostrou a razão de ser o nome que empunhou o baixo da Meshuggah nesse play (aliás, empunha até hoje). Nesse mesmo feeling vem a “Behind the Sun”. Quase uma balada, não fosse o detalhe que: Meshuggah, não faz baladas! Rifferama solta por detrás do sol, criando uma cama king size de riffs para toda a composição. Então desaguamos num ponto alto do disco: “The Hurt That Finds You Firts”. Inspire e expire, dê uma boa inflada nos pulmões com esse som, pois é uma execução violenta, cadenciada e com carga extra de peso. Nesse ponto pensei: Será que o Jens Kidman (vocal) não quer que alcancem um copo d’agua para ele? Quanta energia!
Mais de cinco minutos discorrendo a tese de que, não importa o que você faça, a dor sempre vai te encontrar primeiro. Um murro no estômago dos desavisados que acham que Meshuggah não é sobre dinâmica sonora e progressividade. Essa é faixa que vai derrubar esse pensamento, basta prestar atenção nos minutos finais do som. “Marrow” outro som ao melhor estilo massoterapeuta cervical (marque sua hora). Repleto de “tempos quebrados” com anseios de breakdowns. A faixa traz a intro da técnica monstruosa do baterista (na época com 41 anos) Tomas Haake. Atentem para esse detalhe no som, vão entender a que estou me referindo. Mas é em “Break Those Bones Whose Sinews Gave It Motion” que o Haake se destaca por completo. A multiformidade rítmica desse som é um monumento, uma homenagem ou um preito aos deuses do progressivo e dentro dela, o tempo inexiste.
“Swarm” quem sabe seja o som que se possa chamar de “meio do caminho”, no play. O disco vem numa crescente absurda e a “Swarm” dá uma segurada no ritmo. Não acrescenta nada de grandioso, mas também não deixa o ritmo desacelerar, meia parte de groove, outra meia parte de técnica. “Demiurge” se fosse uma criatura mitológica, seria um dos filhos do Chaos, Érebo talvez, ou quem sabe o próprio Tártaro. Sonoridade seca, arrasada, dissonante, angustiante e com melodias que provocam melancolia e desconforto. Um prelúdio perfeito para o fim, que nos acaricia a audição, nominada de “The Last Vigil”, não por acaso, a última vigila. Depois de uma vida inteira de explosão e energia, o disco se deita em campo aberto, olhando para o céu pré noturno, vendo a luz se transformar em escuridão, lentamente, sem pressa, os últimos suspiros são exalados ao som de teclado e guitarra clássica (e de minha parte, ao som de palmas).
Não foi a primeira e nem última vez que o Meshuggah flertou com essas combinações. Mas com certeza, a banda sabe administrar essa mescla com maestria. O relançamento da edição de “bodas de estanho” chega em versão Digipack e com contracapa extra. Reescutar Koloss fez lembrar a razão de todo o apelo em torno do Meshuggah, quando se refere a modernidade, peso, progressividade e sofisticação sonora.
Esse é o Koloss do Meshuggah. Que carrega na sua essência o DNA da banda. Provocativo e questionador, ao mesmo tempo pesado e melodioso.
Essa revisão do disco não contem verdades absolutas nem tem a intenção de esgotar o tema. Mas se em alguma das linhas, foi despertada a curiosidade para escutar alguma faixa, então a Rebel Rocks cumpriu com o que é uma das razões de sua existência e agradece. Escutem e tirem suas conclusões!
Uillian Vargas
Nenhum comentário:
Postar um comentário