segunda-feira, 13 de março de 2023

MESHUGGAH - NOTHING (2002/2022)

 

MESHUGGAH - NOTHING (2002/2022)
Shimigami Records/Atomic Fire - Nacional

Depois de colapsar as contradições (Contradictions Collapse 1991); de destruir, apagar e melhorar (Destroy, Erase, Improve 1995); de explodir a mente na Caosfera (Chaosphere 1998), era chegada a hora de mergulhar no esvaziamento e perceber o que o Nada, tem pra discorrer sobre anseios, temas apocalípticos e paradoxais. NOTHING, originalmente lançado em 2002, teve um remaster em 2006, numa versão com DVD inclusa (e capa com cor azul) – contendo partes do live at Download 2005) e no seu aniversário de segunda década, 2022, o trabalho é relançado pela Atomic Fire e que chega ao Brasil pela parceria com a Shinigami Records.

Nothing, quiçá, tenha sido a base para a concretagem da pedra fundamental do Djent. Para além disto, o disco passa a impressão que funciona como uma grande narrativa cronológica. As faixas são tão coesas, dentro do peso e da pegada “palm muting” (ou abafamento de cordas), que fica difícil imaginar escutar uma faixa sozinha, solta. Carregadíssimo e cheio de energia, o disco abre com a “Stengah”, numa arritmia inigualável abusando das quebras de tempo, a faixa entrega a missão que o disco veio executar. Meshuggah de 2002, já estava deixando claro que sua sonoridade não era feita para agradar massas e/ou para “qualquer ouvido”. Muito embora, sim, eles tenham unido um verdadeiro exército no seu fã clube. “Ratinal Gaze”, deixa nítida a assinatura digital da banda. Daqui em diante, sentiremos menos elementos thrash metal, e muito mais diversidade, modernização sonora, apoiados em componentes do estilo progressivo com variações do New Metal. Quando “Rational Gaze” encerra, e você já está com essa batida impressa no córtex frontal inferior, inicia a “Perpetual Black Second”, na mesma pegada, porém numa direção completamente contrária. Como se você estivesse navegando por um rio, que manteve o ritmo das águas, porém, que mudou de direção, causa um certo desconforto que faz vocês se voltar para o som para buscar entendimento. Aqui fica estampada excelência musical dos integrantes, no que se refere ao dinamismo sonoro do disco (e da banda, claro). Dinamismo e brutalidade caminhando de mãos dadas. De um lado do passeio toda expertise sonora inspirada por Mekong Delta, do outro lado a malandragem do peso do Voivod. 

O que faz do Nothing um play diferenciado são alguns detalhes que são velhos conhecidos dos fãs. Um deles é que o baixo só foi gravado posteriormente. “Glints Collide” serve agressividade sonora na bandeja. Tomas Haake segura o tranco na batera para as guitas de Fredrik Thordendal e Mårten Hagström destilarem seus venenos a vontade. Sim, Frederik (que também fez baixo nesse disco e mixou e engenharia sonora) foi responsável por uma das guitas. E o mesmo Tomas que deu suporte para o groove na bateria, também foi o responsável pela arte da capa. O que faz desse disco, um trabalho total e inteiro da banda, entre criação, composição, mixagem e arte. Para um disco que surge como um estandarte do estilo, em sua época, é difícil eleger um único ponto alto entre os sons, mesmo em razão de que a audição completa do álbum é muito convidativa aos fãs do estilo. A sequência dos quatro sons que fecham o play composto por “Straws Pulled at Random”, “Spasm”, “Nebulous” e “Obsidian”, carregam um compendio de riffs que, talvez, sejam as melhores passagens do Djent, atemporais. Destaque para a “Obsidian”, que encerra o disco de forma totalmente deformada, torta, se esquivando da monotonia. O som abre com um preambulo, um suspiro em forma de melodia. Depois assume a forma de um riff cadenciado, conduzindo a audição para os passos finais, brincando com as quebras e tempo sem diminuir o ritmo, até que encerra de forma seca, bruta. Uma porta que se fecha sob pressão de um vento forte, na cara do ouvinte. Deixando uma mensagem de que, aquela história, não acabaria por “alí”.
Nothing não é só um disco nominado entre os precursores do Djent, é uma experiência sonora que precisa ser experienciada. 

Bom, a Atomic Fire e a Shinigami Records nos deram essa segunda chance. E se você curte bandas como Monuments, Animal as Leaders, Tesseract, Jinjer e demais do estilo, será uma excelente audição. Selo de qualidade Rebel Rock, recomenda!

Uillian Vargas



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