quarta-feira, 15 de março de 2023

REBEL ROCK ENTREVISTA: JAIRO GUEDZ (THE TROOPS OF DOOM)

 

O Heavy Metal no Brasil possui muitos heróis. Desde aqueles que começaram tudo isso, desbravando um território totalmente desconhecido e com muita coragem, até aqueles que conseguem manter sua relevância nos dias de hoje sem precisar se vender aos modismos. Se eu fosse falar o nome de todos aqui, escreveria uma enciclopédia. Mas poucos, muito poucos conseguem se encaixar nas duas descrições. E um desses nomes é JAIRO GUEDZ. Seja com o início fulminante do Sepultura, seja com o The Mist, Eminence, entre outras, até os dias de hoje com a THE TROOPS OF DOOM, o guitarrista mantém sua trajetória inequívoca dentro do nosso cenário. Prestes a desembarcar no Rio Grande do Sul pela primeira vez com sua nova banda (completada por Alex Kaffer - vocal/baixo, Marcelo Vasco - guitarra e Alexandre Oliveira - bateria), no ABLAZE METAL FEST II em Novo Hamburgo no dia 25/03, Jairo respondeu nossas perguntas se dizendo ansioso para o show que se aproxima.

Entrevista conduzida por Sergiomar Menezes

Rebel Rock - Jairo, antes de mais nada, quero dizer que é sempre um prazer e uma honra trocar uma ideia com você, um cara fundamental pra cena metal brasileira e que sempre nos recebe de braços abertos. Mais uma vez, obrigado por nos atender. Falando agora sobre o mais recente trabalho do grupo, o ótimo "Antichrist Reborn", que está próximo de completar um ano de lançamento. Como está a repercussão do trabalho junto aos fãs e a mídia? Está dentro daquilo que a banda esperava?

Jairo Guedz - Obrigado à vocês pela oportunidade ! A banda completa hoje, 14 de março, 3 anos desde sua criação ! Tudo que realizamos até o momento nos mostra que estamos no caminho certo e que nossa música está sendo super bem aceita pelos fãs e crítica do mundo ! Estamos muito realizados e felizes com os resultados que a banda vem atingindo até hoje ! Posso dizer que a repercussão está além do que esperávamos, por ser um projeto desenvolvido durante uma pandemia mundial, por ser uma banda onde cada membro vive em um estado do Brasil...etc.

RR - Dentro da proposta do grupo, a sonoridade se manteve intacta, ainda que exista uma evolução nas composições. Em conversas anteriores, você me disse que os EPs foram compostos totalmente à distância. Este novo trabalho também foi feito dessa forma?

JG - Todos os nossos trabalhos são feitos à distância, como disse, vivemos em estados diferentes, então mesmo que não existam mais as barreiras impostas pela pandemia do Covid, a banda não pode estar junta todo o tempo - a diferença é que nós tivemos a chance de gravar, mesmo separadamente, em estúdios profissionais quando começamos à trabalhar no full. Alex havia gravado seus vocais nos EPs usando um fone de ouvido e microfone de celular Samsung !!! O Lars Nedland, tecladista e vocalista do Borknagar, gravou as linhas de baixo lá na Suécia pra nos ajudar, pois tínhamos apenas linhas de baixo digitais nas nossas músicas, a bateria programada, etc...no caso do "Antichrist Reborn" eu já pude ir pro estúdio no rio grande do sul e gravar juntamente com o Marcelo Vasco as nossas guitarras, Alex Kafer gravou as vozes em um estúdio no Rio de Janeiro e o Alexandre Oliveira gravou suas linhas de bateria dentro de um outro estúdio em Belo Horizonte ! Fazemos nossos ensaios da mesma forma - cada um em sua casa durante os dias normais e nos encontramos sempre dois ou três dias antes de algum show pra passar umas horas juntos dentro de um estúdio.

RR - As dificuldades enfrentadas por muitos durante a pandemia acabaram refletindo também de forma bem acentuada nas bandas, em especial as de heavy metal. Apesar disso, o grupo, pode-se assim dizer, é uma cria desse período. Muitas bandas utilizaram esse tempo de isolamento para compor, já que os shows ficaram impossibilitados. Para um músico, bastante acostumado à vida na estrada, como você encarou esse triste período que passamos?

JG - Encarei de forma tranquila - mesmo sentindo falta de ir pra estrada, pra um estúdio, de ver meus companheiros de banda - mas acredito que essas duas barreiras, da distância geográfica ou da pandemia, acabou nos dando mais sangue no olho, mais gás, pra criar e produzir !



RR - A primeira vez que a banda se reuniu foi para os ensaios realizados para o primeiro show do grupo que aconteceu em dezembro de 2021. Ainda que seja uma situação bastante incomum, como foi esse momento de encontro e troca musical entre vocês?

JG - Foi um momento mágico pra todos ! Nunca tínhamos encontrado antes, como banda, e decidimos nos encontrar em um estúdio em Niterói, onde tivemos uma estrutura muito boa de ensaio e dormitório. Ficamos quase 10 dias lá dentro, tocando, trocando experiências, interagindo ! Depois fomos pra SP para nosso primeiro show. De lá pra cá fazemos sempre o mesmo esquema - treinamos em casa cada um separadamente, viajamos dois ou três dias antes para o local do show e começamos os shows, tour, etc !

RR - Falando diretamente sobre o novo álbum. A produção nos mostra uma banda coesa, entrosada e cheia de sangue no zóio. O que fica claro já em "Dethroned Messiah". Essa faixa tem uma pegada bem peculiar, trazendo a atmosfera perfeita criada pela banda, ou seja, temos o velho e bom death metal direto, sem concessões, mas ao mesmo tempo, com uma roupagem atual, com identidade. Gostaria que você falasse um pouco a respeito disso.

JG - A gente tinha essa questão muito peculiar pra ser resolvida - como soar como uma banda dos anos 80 mas usando as ferramentas de áudio dos anos 2020 ? Como fazer uma produção de forma que a sonoridade não seja trabalhada de maneira moderna mas ao mesmo tempo que possa disputar espaço de mercado com as bandas atuais ? E foi assim que chegamos ao Peter Tatgren do Hipocrisy - e o Peter nos mostrou que seria possível fazer isso ! Mixar o álbum de forma moderna sem perder a atmosfera que queríamos passar em nosso som. Ficamos muito felizes com o resultado final !

RR - Por sua vez, "The Rebellion" tem uma pegada mais thrash, assim como "Preacher's Paradox" tem uma atmosfera meio Slayer. Essa veia THRASH vem da sua bagagem, afinal, mesmo que o Sepultura na época atentasse mais para o lado do death, é inegável que a banda foi um dos pilares do Thrash Metal mundial.

JG - Exatamente ! Tenho hoje as mesmas influências que eu tinha lá nos anos 80, o que me ajudou muito na composição das músicas do The Troops of Doom - eu praticamente escuto hoje tudo que ouvia nos anos 80, como Slayer, Possessed, Kreator, Celtic Frost, Metallica, Obituary...Marcelo Vasco e Alex Kafer têm quase as mesmas influências que eu e ainda trazem algo diferente, algo que eu nunca parei pra prestar atenção e que agora consigo assimilar bem...tudo isso completa uma boa receita de bolo pro que fazemos hoje !

RR - Jairo, qual foi a sensação de regravar músicas como "Troops of Doom", "Necromancer" nos dias de hoje? Bate aquela nostalgia e você lembra daqueles ensaios em BH junto com os Cavalera e com o Paulo?

JG - Cara, foi insano ! Quando gravamos as primeiras coisas do sepultura antigo eu mandei pros caras, e o Iggor e o Max ficaram muito felizes com o resultado. Max disse que achava foda poder ouvir nossas músicas de quase 40 anos atrás mas de forma atual, bem gravadas, com os instrumentos bacanas, estúdio profissional, etc...na época não tivemos muita chance de trabalhar da maneira que queríamos, não tivemos muito tempo de estúdio, instrumentos regulados, etc...então o The Troops of Doom apenas pegou minhas composições com o sepultura e trouxe elas de volta sem alterar em nada a composição das músicas, mas usando ferramentas novas para uma mix bem feita !

RR - Você já fez participações nos shows do Cavalera Conspiracy e também no Canal que o Iggor mantém sobre bateria. Existe a possibilidade da dupla, ou um deles, participarem em futuros trabalhos do The Troops of |Doom como convidados? Seria sensacional!

Eu acho um pouco difícil isso acontecer...não descarto essa ideia, e até ficaria muito feliz com isso...mas eles não são muito abertos à participações em álbuns de outros artistas sempre. Quem sabe ?


RR - A banda está prestes a se apresentar no Rio Grande do Sul pela primeira vez, no Ablaze Metal fest que acontecerá em Novo Hamburgo no dia 25/03. Quais são as suas expectativas para esse show?

JG - Estamos super animados ! Esse show tem uma grande importância por vários motivos ! É um puta festival bacana, num lugar bacana e com uma ótima organização ! Será nosso primeiro show nas terras do Marcelo Vasco ! Teremos a oportunidade de fazer um setlist completo, com mais de uma hora de show pros nossos fãs ! Estou feliz demais em poder tocar no Ablaze !!!

RR - 2023 realmente começou, agora que passamos o Carnaval... hehehe. Quais são os panos da banda para o futuro próximo?

JG - Estamos cheios de novidades pra esse ano - vamos lançar um álbum ainda no primeiro semestre, mas ainda é uma surpresa ! Até julho queremos lançar nosso boneco colecionável "o capiroto" pela porcovelha toys de São Paulo ! As primeiras 50 peças desse boneco serão pintadas à mão por mim ! Estou muito animado com esse lançamento ! Além disso estamos refazendo nosso merchandising e marcando mais shows por aqui !

RR - Mais uma vez, Jairo, agradeço pela sua disponibilidade e deixo aqui esse espaço para suas considerações finais.

JG - Espero ver todos vocês em Novo Hamburgo, no Ablaze Metal Fest ! Obrigado pelo carinho e pelo respeito sempre ! Sigam o The Troops of Doom nas nossas redes sociais e nos vemos na estrada !!!


*Agradecimento ao Homero Pivotto Jr.

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