IN FLAMES USED & ABUSED... IN LIVE WE TRUST Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional
Um verdadeiro presente para os fãs. Assim podemos descrever USED & ABUSED... IN LIVE WE TRUST, álbum duplo ao vivo lançado pelo IN FLAMES em 2005. Se em 2001, com o lançamento de "The Tokyo Showdown", já era perceptível o poderio ofensivo da banda (ainda que a gravação tenha prejudicado um pouco a qualidade sonora), com esse trabalho o quinteto sueco mostrou porque à época, era considerada uma das maiores bandas do mundo. O material captura a energia intensa e a presença de palco marcante do grupo durante a fase em que consolidava seu som moderno dentro do death metal melódico já flertando fortemente com elementos do metalcore e do metal alternativo. O relançamento, dessa vez como CD duplo, chega por aqui pela parceria Shinigami Records/Nuclear Blast.
Com uma produção é de alto nível, garantindo um som cristalino e ao mesmo tempo pesado e denso. O vocalista Anders Fridén se destaca pela interação com o público, enquanto os guitarristas Jesper Strömblad e Björn Gelotte entregam riffs poderosos e melodias cativantes. A bateria de Daniel Svensson é precisa, e amparada pelo baixo de Pete Iwers, garantem o peso necessário para as músicas. Captados no Hammersmith Odeon de Londres e no Sticky Fingers, em Gotemburgo (aqui a banda jogava em casa), os shows revelam uma banda soberana em cima do palco.
Entre os momentos mais marcantes do show, destacam-se faixas como "Only for the Weak", clássica e indiscutível, que levanta qualquer plateia com seu groove envolvente, "Cloud Connected", com sua pegada moderna e atmosférica, e clássicos mais antigos como "Episode 666", "Pinball Map", "Moonshield", "Jotun", entre outras que remetem à era mais tradicional do In Flames no death metal melódico.
"Used and Abused... In Live We Trust" é um registro essencial para qualquer fã do IN FLAMES e do metal em geral. Ele não apenas celebra a jornada da banda até meados dos anos 2000, mas também serve como uma porta de entrada para aqueles que querem entender a força do grupo ao vivo. É um lançamento que captura a transição do In Flames de pioneiros do death metal melódico para um som mais acessível e moderno, sem perder a essência energética e agressiva.
AVANTASIA HERE BE DRAGONS Napalm Records - Importado
O Avantasia se tornou gigante. Maior do que seu próprio idealizador. O projeto que colocou o Edguy na geladeira e se transformou no maior e mais bem-sucedido supergrupo da história do heavy metal. Nenhum outro projeto chegou tão longe, reuniu tantos astros e conquistou tanto público quanto essa brilhante ideia de Tobias Sammet.
Por volta de 2004, em uma entrevista na Rádio Corsário para promover um show do Edguy, tive a chance de fazer uma pergunta que foi ao ar: existia a possibilidade do Avantasia tocar ao vivo? A resposta de Tobias foi clara e objetiva: "No way!" Pois é, o mundo queria e fez acontecer. Hoje, mais de duas décadas depois, o Avantasia tem turnês próprias, álbuns ao vivo, discos de estúdio e um legado impressionante.
E chegamos a "Here Be Dragons", o nono álbum de estúdio da banda. Um lançamento cercado de expectativa, mas que, dentro da discografia, se mostra o disco “mais simples” do projeto. Menos participações, faixas mais diretas e um retorno à essência do passado.
Os singles deram um bom aperitivo. "Creepshow", "The Witch" e "Against the Wind" formam peças de um quebra-cabeça de 11 faixas que passeia pela sonoridade clássica do Avantasia. O que temos aqui é um presente para os fãs de "The Metal Opera Pt. 1 & 2" e, principalmente, "The Scarecrow".
A abertura com "Creepshow" é contagiante, com um refrão pegajoso e um groove dançante, a lá anos 80 que convida a mergulhar no disco. Na sequência, a faixa-título traz a belíssima voz de Geoff Tate, evocando memórias de "Operation: Mindcrime" e "Empire". A melodia crescente e a cadência do instrumental conferem um charme especial, culminando em um solo carregado de sentimento.
Michael Kiske chega em "The Moorlands at Twilight" – e falar sobre sua habilidade vocal é chover no molhado. Se existe um Deus, tenho certeza de que sua voz tem o timbre de Kiske. A faixa é um típico power metal acelerado, com um refrão lá no alto, como só o Avantasia sabe fazer e Kiske cantar.
"The Witch", lançada como single em fevereiro, remete ao clima sombrio de "Draconian Love", do álbum "Ghostlights". Possui um ar misterioso e uma melodia envolvente. Já "Phantasmoria", com o já parceiro de sempre, Ronnie Atkins. A música mantém o disco em alta, a interpretação poderosa de Atkins reforça a atmosfera grandiosa do álbum. "Bring On The Night" mantém a proposta: sem exageros ou excessos, focado na emoção e no feeling, ao invés de firulas técnicas. Mas logo em seguida, o álbum acelera novamente com "Unleash The Kraken", que traz riffs com pegada thrash metal, punch no instrumental e promete abrir rodas nos shows.
"Avalon" é outro destaque, com Tobias e Adrienne Cowan entregando um dueto envolvente, explosivo e o retrovisor segue de olho na década de ouro. E então chega a inevitável balada. Tobias Sammet é um mestre nesse formato, e "Everybody's Here Until The End" não decepciona. A introdução suave, apenas voz e teclado, cria um clima perfeito para a explosão do refrão, onde o dueto com Roy Khan brilha — emoção e grandeza caminhando juntos. Um encerramento perfeito para um álbum que não tenta reinventar a roda, mas sim celebrar tudo o que tornou esse projeto tão especial.
"Here Be Dragons" é Tobias Sammet provando, mais uma vez, seu talento. Um disco direto, certeiro e capaz de despertar a nostalgia dos fãs do Power Metal, nos lembrando exatamente por que o nome Avantasia tem o peso que tem no heavy metal.
O Kamala é uma das bandas mais interessantes e consistentes do cenário do metal brasileiro. Misturando thrash metal com influências modernas e um forte senso de identidade, o grupo construiu uma trajetória sólida ao longo de mais de 20 anos de estrada. Com turnês internacionais frequentes, lançamentos marcantes e uma sonoridade única, o trio formado por Raphael Olmos (guitarra e vocal), Isabela Moraes (bateria e vocal) e Allan Malavasi (baixo e vocal) segue expandindo seus horizontes e conquistando fãs dentro e fora do Brasil.
Nesta entrevista exclusiva para o Rebel Rock, conversamos com Raphael Olmos sobre a história da banda, os desafios enfrentados ao longo dos anos, a evolução do Kamala, o impacto de álbuns como “Mantra” (2015), “Eyes of Creation” (2018) e “Karma” (2023), além das experiências internacionais que marcaram sua trajetória. Raphael também compartilhou detalhes sobre o futuro da banda, sua relação com o público e a filosofia por trás do trabalho do Kamala.
Por: William Ribas
Fotos: Wellington Penilha - Orquestra por Corentin Charbonnier
Rebel Rock: Para começar, essa é a primeira entrevista do Kamala para o Rebel Rock. Gostaria que contassem como surgiu a banda. Como foi o processo de formação e quais foram as principais influências musicais no início?
Raphael: Desde já agradeço pelo convite William, e esperamos que seja a primeira de muitas! Vamos lá. Formei o Kamala em 2003, e desde o começo tinha claramente que gostaria de fazer músicas que gostaria de ouvir. Nunca quis me apegar somente em um determinado estilo, mas claro que minha escola é o Thrash Metal, porém gosto muito de melodias e groove também. E as principais influências no início foi sem dúvida bandas como Metallica, Sepultura, Pantera, Slayer, Machine Head, Slipknot, In Flames, Dream Theater e Nevermore foram grandes influências.
Rebel Rock: Ainda falando sobre o começo da trajetória do Kamala, como foi a repercussão dos álbuns “Kamala” (2007), “Fractal” (2009) e “The Seven Deadly Chakras” (2012) na época de seus lançamentos? Esses trabalhos ajudaram a definir a identidade sonora da banda?
Raphael: Foram muito importante para a época de cada lançamento, acredito que esses 3 álbuns foram importantes para mostrar que a banda estava focada em fazer um trabalho contínuo e buscando a evolução a cada álbum. Foi importante também para experimentar e achar a nossa sonoridade, mas vejo que a banda se encontrou mesmo à partir do “Mantra”, que é nosso 4º álbum, lançado em 2015.
Rebel Rock: Aproveitando o gancho, esses três álbuns não estão disponíveis em algumas plataformas de streaming. Existem planos para relançá-los ou até regravá-los em algum momento?
Raphael: Esses 3 álbuns estão disponíveis para a galera escutar gratuitamente no nosso canal do YouTube. Acho que regravá-los na totalidade não, talvez uma música ou outra, como versões ou algo do tipo, mas preferimos sempre olhar para frente, mas nunca renegando o passado e a história da banda.
Rebel Rock: A primeira vez que ouvi falar do Kamala foi com o álbum “Mantra”(2015), através de uma resenha que li na época. Mas o momento em que a banda realmente entrou no meu radar foi com “Eyes of Creation”(2018). Lembro de escutar e pirar. Esses dois álbuns representaram uma virada de chave para o Kamala? Você acredita que foi a partir deles que a banda conseguiu romper uma espécie de bolha e expandir para outros horizontes?
Raphael: COM CERTEZA ABSOLUTA! Na minha opinião, esses dois álbuns cravaram o nome da banda não só no Brasil, como fora também, até porque foi a partir do “Mantra” que fizemos nossa 2º turnê europeia, e meses depois já fizemos a 3º e entramos no circuito de shows no velho continente. Além das turnês, achamos “nosso som” nesses dois álbuns, e começamos de fato ter uma boa repercussão nacional e internacional, tanto criando nossa base de fãs, quanto com ótimo feedback na mídia especializada.
Rebel Rock: Ao percorrer a discografia do Kamala, é perceptível o quanto o som da banda é único. É claro que vocês transitam entre o passado e o presente do metal pesado, mas existe uma identidade própria. O Kamala nasceu e cresceu para ser exatamente o som que vocês queriam ouvir quando começaram a curtir metal? Ou isso foi algo que se desenvolveu naturalmente ao longo do tempo?
Raphael: Muito obrigado pelas palavras! Claro que temos diversas influências claras no nosso som, mas sempre pensei em criar algo com personalidade própria. Pois penso, entre escutar uma banda que é muito parecida com o Slayer e o próprio Slayer, quem que o fã de metal vai escutar? Claro que o próprio Slayer! Então acho importantíssimo as bandas buscarem criar sua própria cara. Eu escuto muito nossas músicas até hoje, não enjoo, e também não escuto somente para estudá-las, escuto porque realmente gosto delas!
Rebel Rock: Em 2019, vocês lançaram “Live in France”, um álbum ao vivo que coloca o ouvinte literalmente dentro do show. O Kamala é conhecido por ser uma banda muito ativa em turnês pela Europa. Como surgiu a oportunidade de gravar esse registro ao vivo justamente na França?
Raphael: Esse álbum foi NADA PLANEJADO, e acho que é por isso que ele soa tão verdadeiro e tem uma energia incrível. Estávamos na nossa turnê de 2019, e esse show foi o último da turnê, que aconteceu em outubro. Assim que acabamos a apresentação e atendemos todos os fãs na nossa mesa de merch (algo que fazemos questão até hoje — estar presente, tirar fotos, assinar os álbuns e conversar com a galera), começamos a guardar nosso material. Foi então que o dono do local, que também era o responsável pelo som (um baita técnico, por sinal), chegou para mim e falou: “Gravei o show de vocês completo, multi-pista. Vocês gostariam de ter esses arquivos?”. Simplesmente respondi: “COM CERTEZA!”.
Colocamos tudo em um pendrive e, além das faixas separadas, havia uma faixa com tudo junto. Fomos escutando durante o caminho até Paris, onde pegaríamos o voo de volta para o Brasil. Por ter sido o último show da turnê, estávamos muito bem com o repertório e, ainda no trajeto, já mandamos mensagem para o produtor Ricardo Biancarelli (que depois também produziu Karma, Aimless e Dukkha). Assim que chegamos a Paris, enviamos os arquivos para ele. Somos completamente contra regravar algo ao vivo, e todos os álbuns ao vivo que amamos têm essa “verdade” na gravação. Então, apenas pedimos para o Rica fazer a mix e a master, e lançamos esse álbum exclusivamente nas plataformas digitais menos de dois meses depois, em dezembro. O disco foi escolhido por muitos jornalistas como o melhor álbum ao vivo lançado por uma banda brasileira, algo que nos enche de orgulho!
Outra curiosidade é que, nesse show, tocamos três músicas do “Karma”, que ainda iríamos gravar. Aproveitamos o público da turnê para testá-las e ver as reações. Tocamos “Misery and Pain”, “Never Enough” e “My Will Be Done”, mas essas faixas não foram lançadas no álbum ao vivo.
Rebel Rock: Inclusive, vocês estarão novamente em turnê pelo Velho Continente neste ano. A França parece ter se tornado uma espécie de sede central para o Kamala. Como é a recepção do público francês em relação ao som da banda? O que torna essa conexão especial?
Raphael: De fato, a França virou nossa 2º casa. Hoje nossa gravadora é francesa (M&O Music), já fizemos algumas turnês unicamente com shows na França, disparado é o país europeu em que o Kamala mais fez show até o momento. E tudo foi acontecendo de forma orgânica e totalmente natural, a França foi abraçando a banda e temos um enorme carinho e respeito pelo país, “vibe” dos shows sempre são incríveis e temos grandes amigos por lá!
Rebel Rock: Desde a explosão do Sepultura no exterior, algo parece não ter mudado: muitas vezes, uma banda brasileira precisa ser reconhecida lá fora para ser valorizada em seu próprio país. Vocês concordam com essa percepção? Já pensaram na possibilidade de se mudar para fora do Brasil para expandir ainda mais a carreira?
Raphael: Realmente isso não mudou e acredito que também não vai mudar. Mesmo com mais de 20 anos, ainda temos a visão de “banda nova” aqui no Brasil, pessoas ainda estão descobrindo a banda e isso é ótimo. Mas sabemos que essa descoberta, acontece por ver os movimentos e repercussão que temos fora do país. Tem pessoas que descobrem a banda, e nem sabem que somos brasileiros em um primeiro momento. Sobre mudar para fora do país, nunca fazemos nada dando “o passo maior que a perna”, e isso se aplica também em tomar decisões com o pé no chão e uma mudança da banda toda para fora do país, não é excluída a possibilidade, mas sabemos também que hoje, ainda não seria o movimento certo para nós 3, mas quando sentirmos que esse momento chegou, conversaremos sobre e quem sabe?
Rebel Rock: Depois de “Live in France”, o Kamala lançou “Karma” (2023), um disco pesado, mas que soa bastante orgânico, apresentando estruturas rítmicas novas. Como foi o processo de composição e gravação desse álbum? Houve alguma mudança significativa na abordagem em relação aos trabalhos anteriores?
Raphael: “Karma” foi produzido pelo Ricardo Biancarelli e desde as primeiras reuniões sobre o álbum ele falou: “A banda ainda não tem um álbum que passe a real energia do show de vocês”. Ele fez questão de acompanhar esse processo bem de perto e fizemos algo que nunca até então tínhamos feito, uma pré produção com a banda tocando as músicas ao vivo no ensaio. Todos os álbuns anteriores, as pré produções eram feitas em Home Studio, para sentir como as músicas funcionam, mas nunca tínhamos feito uma pré, onde de fato, tinha a banda tocando todas as músicas juntos. Fizemos um primeiro ensaio com a presença do Rica, ele gravou tudo, e fez algumas anotações. Analisamos tudo e trabalhamos em cima desses pontos, e poucos dias depois repetimos o processo. Com certeza isso trouxe um impacto positivo para o álbum. Outro ponto importante, é que buscamos fazer takes longos, para ter algo mais orgânico e não tudo super “picotado e montado”, como acontece em muitas gravações. Na parte rítmica, a grande responsável por isso foi o trabalho incrível da Isabela nas composições das linhas de bateria. Foi também o primeiro álbum que não cheguei com NENHUMA ideia de bateria para os riffs, e isso também foi muito positivo para o resultado final, pois a Bela fez linhas de bateria que nunca eu teria pensado como compositor.
Rebel Rock: Um dos destaques do “Karma” foi a inclusão dos vocais limpos da baterista Isabela Moraes em algumas faixas. O resultado ficou excelente, trazendo um contraste muito interessante entre as vozes. Como surgiu essa ideia? A intenção é explorar ainda mais essa dinâmica vocal em futuros lançamentos?
Raphael: Para variar, aconteceu de forma orgânica, não foi nada pensado ou programado. O Karma tem duas versões, e, na primeira, havia apenas vocais meus e do Allan (baixista). Finalizamos toda a mix e master em fevereiro de 2020 e começamos a procurar uma gravadora internacional para lançar o álbum.
Porém, a pandemia aconteceu e o mundo parou, principalmente para os negócios. Não queríamos lançar o álbum sem fazer shows para divulgá-lo, pois tínhamos medo de que a pandemia durasse muito tempo e o disco ficasse “o álbum do ano passado” quando os shows voltassem. No fim, durou muito mais do que todos imaginavam.
Ainda em 2020, conversamos e resolvemos seguir caminhos diferentes do Allan. Sempre colocamos nossa amizade e respeito à frente de tudo, mas, para trabalhar como parceiros de banda, não estava mais funcionando. Após várias conversas e novas tentativas, tomamos essa decisão para manter o respeito entre nós três. Com isso, nos encontramos sem baixista e sem shows — o que foi bom, pois não tínhamos turnês e também não havia uma urgência para encontrar um novo membro. As partes que o Allan cantava no álbum, especialmente os vocais limpos, eu não sentia conforto em executar, tanto pelo alcance das notas quanto pelas linhas de guitarra que tinha feito, muitas delas mais complexas.
Foi então que a Isabela resolveu assumir essa responsabilidade e começou a fazer aulas de vocal com nossa amiga e incrível professora Maya Silva. Após menos de cinco meses de aula, marcamos a regravação dos vocais do Allan. As partes mais brutais eu regravei, e todos os vocais limpos ficaram com a Bela. Sua execução no dia foi tão impressionante que o Ricardo (produtor) conversou com a gente e disse que tinha ficado tão bom que poderia trazer novos fãs para a banda e somar muito à nossa sonoridade. De fato, ele estava 100% certo. A resposta do público foi sensacional.
Porém, não lançamos o álbum logo após a nova mix/master ser finalizada, pois a pandemia ainda estava lá... Foi aí que tivemos a ideia de lançar dois singles, “Aimless” e “Dukkha”, para dar algo novo para a galera ouvir e mostrar a nova formação da banda. Decidimos fazer de Aimless um aperitivo do que estava por vir no “Karma”. A resposta foi tão positiva que sabíamos que, assim que o álbum fosse lançado, novas pessoas se conectariam com nossa arte. Allan voltou para a banda no ano passado e, mesmo assim, continuaremos explorando os vocais da Bela nas novas músicas. Os shows já contam com três vocais, e as próximas composições também terão essa abordagem. Mas, acima de tudo, sempre respeitaremos o que a música "pede", sem forçar nada — nem para nós, nem para os ouvintes.
Rebel Rock: Um momento bastante marcante da turnê de divulgação do álbum foi a apresentação com uma orquestra na França. Como surgiu essa oportunidade? Quem teve a iniciativa desse encontro? E como foi a experiência de unir o som pesado da banda com elementos orquestrais?
Raphael: Novamente algo maravilhoso que aconteceu na França, e novamente algo que aconteceu naturalmente através de um grande amigo nosso, que fez a ponte com a orquestra “Union Musicalle en Combrailles”. Foi simplesmente uma das experiências mais incríveis da nossa vida e esperamos repetir isso em um futuro próximo!
Rebel Rock: Alguns vídeos dessa apresentação circularam, mas confesso que fiquei na expectativa por um álbum ao vivo. Existem planos para um lançamento oficial desse show? Quem sabe algo no estilo “S&K” (em alusão ao “S&M” do Metallica)?
Raphael: Confesso que também torço para que isso aconteça, seria LINDO! Mas o que gravamos nesses 3 shows que fizemos com a orquestra, não ficou um material legal para uma boa mix. Mas se no futuro isso se repetir, quem sabe não conseguimos fazer uma nova tentativa de captura.
Rebel Rock: Pedi ao Victor Augusto, um grande amigo e fã da banda, que fizesse uma pergunta para vocês. A faixa 'Fear' aborda o medo da morte ou de perder alguém querido, enquanto 'Made Me Bleed' fala sobre a dor de ser abandonado por alguém em um momento crucial. Podemos dizer que ambas tratam da morte, sendo uma sobre a morte física e a outra sobre a morte simbólica de alguém que, embora viva, deixa de existir em nossas vidas?
Raphael: Victor é um grande amigo e um escritor fantástico, ele por ser fã da banda, consegue captar as coisas, sem mesmo a gente conversar sobre. Sua análise sobre as letras e diferentes formas de “morte”, é cirúrgica e certeira, com certeza podemos fazer essa análise!
Rebel Rock: Embora “Karma” ainda esteja sendo trabalhado na estrada, já existem ideias para um próximo álbum? Ou ainda é muito cedo para pensar nisso?
Raphael: Já sim, mas ainda é um processo que ainda está na sua fase inicial. Embora o “Karma” seja antigo pra gente, pois foi composto em 2019, ele ainda é “novo” para o público e completou 2 anos de lançamento agora em fevereiro desse ano. Queremos e achamos que o álbum merece ser ainda mais trabalhado. E estou já com mais de 120 riffs (nunca paro de escrever), e na hora certa, essas novas ideias serão trabalhadas. Em 2025 com certeza não teremos um novo álbum da banda, mas quem sabe em 2026.
Rebel Rock: O Kamala em cima do palco é extremamente forte e energético. Há algum show em especial que marcou profundamente a história da banda? Tirando o show da orquestra, obviamente (risos).
Raphael: Sim, o show com a orquestra foi aquele show inesquecível (risos), mas, se for para escolher um show especial, talvez tenha sido o que fizemos no SBO Rock Fest no ano passado. Além de ser a terceira vez que fizemos o aquecimento para o Sepultura na nossa carreira, o festival tem uma estrutura incrível e um público com altíssima energia. Mas esse show também marcou por ter sido um dia especial para nós. Seis dias antes do evento, fomos surpreendidos pela saída do baixista que estava na banda até então. Tínhamos um show de 1h30min, com 21 músicas no setlist, para fazer. Cancelar nem passou pela nossa cabeça. Pensamos em alguns nomes, conversamos com algumas pessoas, mas, devido ao tamanho do setlist e ao curto período de tempo para o preparo, te garanto: foram dias tensos.
Então, eu e a Isabela resolvemos ligar para o Allan para ver se ele poderia salvar o show. Liguei, expliquei toda a situação, e, na hora, ele topou. Allan comentou que não tocava com nenhuma banda desde que saiu do Kamala em 2020, mas já tinha tocado todas as músicas do setlist, com exceção de Aimless e Dukkha, que foram escritas após sua saída. Ele fez um trabalho intensivo para “tirar a ferrugem”, e marcamos um único ensaio na quinta-feira, um dia antes do show. Fizemos o ensaio e sentimos como se tivéssemos tocado juntos na semana passada, sabe? No dia seguinte, fizemos o show, e tudo foi muito leve — como tem que ser. Tanto os momentos antes e depois do show quanto a apresentação em si foram incríveis. Para nós três e também para o público presente, foi uma grande surpresa ver, após quase cinco anos, nós três juntos no mesmo palco novamente.
Deixamos os dias passarem, a adrenalina baixar, e, depois de conversar bastante com a Bela, resolvemos marcar uma conversa com o Allan. Queríamos falar sobre o que estávamos sentindo, entender como estava a vida dele após esses anos e conversar abertamente sobre tudo o que não estava dando certo antes, levando à sua saída em 2020. Fizemos tudo com muita calma e clareza. Nessa primeira conversa, falamos que estávamos considerando a possibilidade de tê-lo de volta na banda. Mas, para isso acontecer, dependia dele avaliar se o Kamala cabia na vida dele atualmente, se ele não repetiria o que já tinha acontecido e se entendia como a banda evoluiu profissionalmente nesses anos. Conversamos bastante, e ele teve alguns dias para pensar a respeito. Marcamos uma segunda conversa e, internamente, alinhamos tudo.
Rebel Rock: Para finalizar, participar no ano passado da exposição Diabolus in Musica na Philharmonie de Paris certamente foi um marco importante. Estar lado a lado com itens de artistas que inspiraram vocês deve ter sido emocionante. De que forma essa conquista influenciou a sua visão sobre a trajetória do Kamala após pouco mais de 20 anos de sua fundação? Isso trouxe novas perspectivas ou objetivos para o futuro?
Raphael: William, viu só? Mais uma grande conquista e experiência acontecendo na França! (risos) Foi algo MÁGICO! Não temos palavras para descrever o que sentimos quando soubemos que estávamos na exposição e, ainda por cima, eu e a Isabela tivemos a oportunidade de ver isso com nossos próprios olhos, em setembro do ano passado, nos “47 do 2º tempo”, já que a exposição aconteceu entre abril e setembro de 2024. Foi uma exposição incrível, com itens raríssimos, como a primeira guitarra do Iommi, o último baixo do Cliff Burton, além da primeira guitarra e bateria dos irmãos Duplantier, do Gojira. Havia também muitos outros equipamentos, roupas, fotografias e itens de palco de lendas do metal mundial — ídolos que nos fizeram amar esse estilo de música e de vida.
Além do Kamala, havia itens do Sepultura, Sarcófago e Max (com peças do Soulfly), o que tornou tudo um grande privilégio. Toda a equipe da exposição fez um trabalho magnífico. Quem quiser ter um gostinho do que foi esse momento pode conferir um vlog desse dia tão especial para nós e para a carreira da banda no nosso canal do YouTube!
Sobre “perspectivas e planos para o futuro”, o que essa experiência nos trouxe, especialmente, foi a reflexão de que realmente vale a pena fazer tudo com muita ética. Sem comprar oportunidades, likes ou plays, mas sim sentir o real “gosto do merecimento” em cada conquista que acontece com o Kamala.
Rebel Rock: Obrigado pela entrevista, gostaria que deixassem um recado para os leitores do Rebel Rock e para os fãs do Kamala.
Raphael: Eu, em nome da banda, agradeço muito pelo convite e pelas ótimas perguntas! Gostaria de convidar todos os leitores do Rebel Rock a conhecerem mais o nosso trabalho, escutarem o “Karma” e outros álbuns nas plataformas digitais, seguirem a gente nas mídias sociais e se inscreverem no nosso canal do YouTube. Basta procurar por kamalaofficial, que vocês nos encontram facilmente.
E fiquem ligados, pois, como sempre, estamos trabalhando intensamente para trazer muitas novidades para quem se conecta com nossa arte!
Kamala é:
Raphael Olmos (Guitarra e Voz) Isabela Moraes (Bateria e Voz) Allan Malavasi (Baixo e vocal)
ROBIN McAULEY SOULBOUND Frontiers Music srl - Importado
E o veterano Robin McAuley está de volta, com seu terceiro álbum solo, “Soulbound”, via Frontiers Records. Robin continua sendo um dos melhores da sua classe, e do alto dos seus setenta e dois anos, pode se orgulhar de ser um dos melhores vocalistas de Hard Rock/Melodic Rock em atividade, com uma voz intacta e forte, tanto quanto foi nos seus anos de Gran Prix, McAauley/Schenker Group e tantos outros.
Não adiantaria em nada a sua qualidade individual, se não estivesse cercado de ótimos músicos, e a gravadora italiana garantiu a Robin um time de primeira: Andrea Seveso e Alessandro Mammola – guitarras, Aldo Lonobile – baixo, Alfonso Mocerino - bateria, Antonio Agate – teclados adicionais. E mesmo com um time de “Série A do Calccio Italiano”, se as composições não fossem de alto calibre, nada funcionaria também.
Em “Soulbound” tudo soa positivo e vibrante. A faixa inicial “Till I Die” dá o tom do trabalho, faixa forte com ótimo riff de guitarra, e Robin, para variar brilhando. A faixa título é como um AOR praticado pelo Deep Purple, uma faixa ótima, e posso garantir que só ela já vale o álbum. “Best Of Me” muda o tom e lembra as faixas rápidas do Van Halen, com bateria dando a tônica, e dois bumbos proeminentes. “Crazy” dá uma relaxada e nos joga de volta para os anos oitenta, uma faixa que flerta novamente com o
AOR. Outro destaque que joga a nota média do álbum nas alturas.
“Let It Go” é uma das faixas mais “rockers”, cheia de groove e malícia. “Wonder Of The World” e “One Good Reason” poderiam estar tranquilamente num álbum de Robin com o “Deus” Michael Schenker, e quem sabe até não tenham sido escritas para algo nesse sentido. Então temos “Bloody, Bruised and Beautiful”, com riffs magníficos de guitarra, batera com ritmos “quebrados” um puta refrão. Neste momento que escrevo sobre o álbum, é a minha faixa preferida de “Soulbound”. “Paradise” é mais genérica, porém se deixar o nível baixar. Seguindo o trabalho temos a ótima “Born to Die”, com uma aura Hard/Heavy oitentista, me lembrando algo que o Dokken fez nos seus dias de glória, e fechando o álbum, “There Was A Man”, outra faixa forte, que ficará ótima executada a vivo.
Finalizando, “Soulbound” é mais um ótimo trabalho que envolve o grande Rodin McAuley. Vale a pena ir a procura e gastar uns trocados para ter este álbum na sua coleção.
PENTAGRAM LIGHTNING IN A BOTTLE Heavy Psych Sounds - Importado
Prestes a mais uma visita do Pentagram ao Brasil, a banda liderada pelo lendário e doido Bob Liebling lança seu décimo álbum de estúdio, após dez anos sem lançar nenhum trabalho com novas composições. Para quem não é familiarizado com o grupo, a banda foi formada em 1971 em Virginia e é considerada uma das pioneiras do Doom Metal.
A sonoridade do Pentagram sempre se identificou bastante com os pais de tudo, o Black Sabbath, porém com uma identidade própria, com riffs pesadíssimos, cozinha forte e o vocal horripilante (no bom sentido) de Bob Liebling. A banda só conseguiu lançar seu primeiro álbum em 1985, muito pelas doideiras, chapações e abusos de substâncias (todas possíveis e imagináveis) principalmente do seu líder, Liebling. Para se ter uma idéia, basta assistir o documentário “Last Days Here” (2011), disponível na íntegra no Youtube.
Voltando à “Lightning in a Bottle”, o que o Pentagram entrega neste novo trabalho, é tudo o que se espera deles. Desde abertura com “To Live Again”, a sonoridade é “Doom”, pesada, elétrica, suja e empolgante, como se o que se escuta tivesse sido forjado em 1975, para rivalizar com o “Sabotage” do Sabbath (sem comparações entre os dois, é apenas figura de linguagem). A produção é especialmente cuidadosa, e destaca muito a voz de Bob, e diga-se de passagem, para um homem de 71 anos e com todos os problemas que passou na vida, está ótima.
Destacaria algumas faixas, como a mais melódica “Dull Pain”, a “Zeppeliana” “Spread Your Wings”, um hard rock setentista arrasador, a rápida e certeira “I Certainly See You In Hell”, e a pesada e psicodélica “Lady Heroin”, com titulo auto-explicativo. Liricamente, Liebling não tem medo de falar sobre todos os seus vícios, crimes e problemas que passou durante a sua vida. Nunca o fez e não seria diferente agora nesse novo trabalho.
Rotular “Lightning in a Bottle“ apenas como um álbum de doom metal, é rotular este trabalho de uma maneira muito paupérrima. Aqui temos, por óbvio, Doom inspirado pelo Sabbath fase Ozzy, mas também Hard Rock, Heavy Metal, Blues, Rock Clássico, Psicodelia... Tudo isso canalizado por uma banda que esta na estrada há mais de 50 anos. Se você é fã vai amar este álbum. Se não conhece a banda, se dê esse direito, e não se apegue ao rótulo que é atribuído ao Pentagram, pois“Lightning in a Bottle “ é um excelente álbum. Pintou meu primeiro favorito a “Melhores do Ano”.
IN FLAMES A SENSE OF PURPOSE Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
A SENSE OF PURPOSE, lançado em 2008, o nono trabalho de estúdio do IN FLAMES, uma das principais referências do death metal melódico, representou um marco na sonoridade da banda, apresentando uma abordagem mais melódica e compreensível, incorporando elementos contemporâneos e um tom mais inclinado para o metal alternativo. Mas não pensem que quando se fala em alternativo, não estamos remetendo ao som que bandas como Nirvana, Pearl Jam, e outras daquela leva que convencionou-se chamar de Grunge. Esse relançamento proporcionado pela Shinigami Records/Nuclear Blast, traz alguns elementos raros à sonoridade do grupo, mas mantém as características básicas do grupo. O que não impediu que muitos fãs não aprovassem o que foi apresentado pelos suecos nesse trabalho. E eles não estavam de todo errados...
Anders Fridén (vocal), Björn Gellote (guitarra), Jesper Strömblad (guitarras), Peter Iwers (baixo) e Daniel Svensson (bateria) gravaram o trabalho nos estúdios IF Studios, preservando a essência do In Flames, porém deixa de lado algumas das características mais agressivas do death metal melódico tradicional. Björn Gelotte e Jesper Strömblad continuam se destacando com suas guitarras melódicas, contudo, há uma maior gama de vocais limpos e estruturas mais próximas do metal alternativo e do metalcore. A produção se mostra límpida e cristalina, destacando um som mais acessível sem renunciar ao peso inconfundível da banda.
"The Mirror's Truth" abre o álbum, se destacando com riffs envolventes e refrão marcante, estabelecendo o tom para o restante do álbum. "Disconnected" e "Delight and Angers" deixam explíta a mudança para uma sonoridade mais melodiosa, enquanto "Alias" e "I’m the Highway" comprova a habilidade da banda de balancear agressividade e melodia. "The Chosen Pessimist", uma canção extensa e melancólica, se sobressai no álbum pela sua abordagem introspectiva e emocional, com vocais mais suaves e uma progressão lenta e crescente.
Como escrito lá no início, alguns fãs elogiaram a sonoridade apresentada no álbum, enquanto outros consideraram que a banda estava se distanciando demais de suas origens no death metal melódico. O álbum A SENSE OF PURPOSE é controverso, mas indubitavelmente bem elaborado. Ele equilibra peso e melodia de maneira eficiente, proporcionando faixas interessantes e carregadas de emoção. Para os admiradores do período inicial do IN FLAMES, pode ser um ajuste difícil de assimilar, porém, para aqueles dispostos a uma sonoridade mais contemporânea e compreensível, é um álbum intenso e repleto de momentos memoráveis.
GRAND MAGUS TRIUMPH AND POWER Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
Lançado originalmente em 2014, “Triumph and Power” é o sétimo álbum da carreira do Grand Magus. Com o trabalho anterior, “The Hunt” (2012), a banda deu um salto enorme em sua carreira e popularidade após integrarem-se ao cast da Nuclear Blast, onde permanecem até hoje. Mas o que mais importa, é que a banda nunca mudou sua essência, mesmo que em alguns momentos tenha aberto mão do peso, mas seus discos seguem todos a linha do Doom ao Metal tradicional.
“Triumph and Power” não foge a essa regra. Tudo o que o fã de Grand Magus curte, está presente aqui em doses abundantes, ao começar pela capa, uma das mais lindas que já vi. A abertura com “On Hooves of Gold” é tão boa que chegou a me lembrar o Manowar nos áureos tempos. Consigo imagina-la em “Hail to England” por exemplo sem o menor esforço. “Steel Versus Steel” segue uma linha mais comercial e cadenciada, algo que sempre caracterizou a banda.
“Fight” é outro destaque: a linha vocal adotada por JB Christoffersson é desafiadora pra ele, abusando, até certo ponto, de linhas melódicas algo que é raro de se ouvir. Mas não é só isso, Fox Skinner e Ludwig Witt dão uma aula na cozinha fazendo desta faixa algo especial. A faixa título é daquelas que me imagino ouvindo em um bar brindando com os amigos, já deu pra pegar o espírito, né, caro leitor?
Outros destaques vão para “Dominator”, impossível não bangear com o riff principal desta faixa e a épica “The Hammer Will Bite”, que tem aquela levada mais arrastada, que é excelente para apreciar a performance instrumental deste trio que já pode sim, ser considerado um dos pilares do Doom Metal mundial. A versão nacional ainda traz a faixa bônus, “Blackmoon”, composição esta que não dá pra entender como não está no tracklist oficial, mas menos mal que podemos ouvi-la aqui.
Aqui, tudo é Grand Magus em sua essência, uma das poucas bandas de Heavy Metal do planeta que são capazes de agradar a todos os fãs da música pesada, do Hard Rock ao Black Metal, pois sua música é dotada de peso, melodia, com elementos de todas as vertentes do Rock & Roll. Dá gosto ser fã deles!
DIMMU BORGIR FOR ALL TID Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional
As grandes bandas nascem inspiradas, e à prova do tempo, se consolidam como referências em seu estilo. O Dimmu Borgir podemos dizer que se encaixa nesse quesito, no que se refere a Black metal sinfônico.
Em sua estréia, o álbum For All Tid, consegue sintetizar melancolia, arranjos sinfônicos, agressividade e rispidez, trazendo inovação e uma atmosfera única em suas canções. Originalmente de 1994, o debut foi relançado pela Nuclear Blast em 1997, trazendo um pouco mais de clareza no som que inicialmente foi agraciado mas também criticado por sua produção, digamos mais crua e primitiva. A bolacha traz nove faixas e o EP Inn I Evighetenens Morke (1993).
Sobre as músicas, temos faixas marcantes e inspiradas como "Under Korpens Vinger" e "Stien", que trazem agressividade e elementos permeando o clássico Black Metal noventista, mas sempre rondando o soturno e o sinfônico, temos faixas mais diretas como "Glittertind" (com riffs flertando com um metal mais tradicional) e faixas como "Raabjorn Speiler Draugheimens Skodde" e a própria faixa título, "For All Tid" que mesclam climas de bastante melancolia e desolação com riffs e andamentos bem épicos.
Encerrando o som, temos o EP já mencionado Inn I Evighetens Morke, com suas duas partes trazendo um clima ainda mais denso para o trabalho, assim como riffs marcantes. A formação conta com Silenoz (vocais e guitarras), Tjoldav (guitarra), Tristan (baixo), Stian Aarstad (teclados, sintetizadores) e Shagrath (bateria)
Com toda certeza, um grande trabalho que balizou a trajetória de uma das maiores bandas de metal extremo da Escandinávia e serviu de norte para lançamentos igualmente brilhantes pouco depois.
Phrenesy: Duas Décadas de Thrash Metal, Cerveja e Resistência no Underground
Por William Ribas
Formada em 2003 no Distrito Federal, o Phrenesy carrega mais de duas décadas de dedicação ao thrash metal, com uma trajetória marcada por muita cerveja, amizade e resistência. Surgida da parceria entre Tiago Teobaldo e Josefer Ayres, a banda cresceu no cenário underground sem pressa, priorizando a diversão e a autenticidade. Com um som agressivo, letras que equilibram crítica social e bom humor etílico, o Phrenesy conquistou reconhecimento com “The Power Comes from the Beer” (2014) e consolidou sua identidade em “Fears Apocalypse” (2022).
Nesta entrevista, Wendel Aires (vocal) e Tiago Teobaldo (guitarra) falam sobre a origem da banda, as dificuldades enfrentadas no caminho, o orgulho da cena do DF e as experiências de dividir o palco com nomes como Destruction e Warrel Dane. Com muita sinceridade e bom humor, eles compartilham os altos e baixos dessa jornada, sempre reforçando o lema de que o verdadeiro poder vem da cerveja — e da paixão pela música pesada.
Rebel Rock: Como se deu o início da banda?
Wendel: A banda foi criada em 2003 pelo Josefer e pelo Tiago Teobaldo, que na época tinha 15 anos de idade. Estava começando a dar os primeiros passos no mundo do metal!
Tiago: Cara, no começo de 2003, quando estava lutando para aprender a tocar guitarra — e até hoje a luta continua (risos), o Josefer começou a me passar uns exercícios e acabou me chamando para montar a banda. Então, no dia 07/06/2003, fizemos nosso primeiro ensaio e estamos aí até hoje!
Rebel Rock: O nome Phrenesy é forte e impactante, transmitindo bem a energia de um show de thrash metal. Como surgiu essa escolha e o que ele representa para vocês?
Wendel: O Josefer escolheu o nome e, diga-se de passagem, foi muito feliz na sua escolha, pois um de seus significados é “estado extremo de loucura”!
Tiago: Um estado de loucura incontrolável! Acho que realmente combina com a gente. Hoje isso representa as nossas vidas.
Rebel Rock: Vocês levaram pouco mais de 10 anos até lançarem o primeiro álbum, “The Power Comes from the Beer”. Qual foi a importância desse período de amadurecimento até a chegada desse trabalho?
Wendel: Mano, foi um período crucial para a gente amadurecer como músicos e como pessoas, pois éramos uns porra-loucas que não tinham limites nas bebedeiras. Para você ter uma ideia, eu tenho poucas lembranças dos shows que fizemos na primeira década da banda. A gente não ligava tanto para gravação de álbuns. Claro que queríamos gravar, mas nunca demos importância para isso. Fora que não tínhamos grana para bancar uma gravação profissional, pois gastávamos tudo com cachaça! (risos)
Rebel Rock: Como foi a repercussão do primeiro álbum na época? Ele atendeu às expectativas da banda?
Wendel: Foi muito bom. Poderia ter sido melhor, mas nós éramos inexperientes quanto à distribuição. Não tínhamos um selo ou gravadora que distribuísse os CDs e, mesmo assim, tivemos boa repercussão do álbum, com elogios do Possessed, Phil Anselmo e imprensa especializada. Recebemos até uma foto de uma molecada em Moscou (Rússia) segurando o CD com o Kremlin ao fundo!
Tiago: Olha, eu e minha esposa, Jacqueline, assim que recebemos as cópias físicas, fizemos uma distribuição gigantesca desse material. Pegamos vários contatos e enviamos para todo canto. Acredito que, graças a esse trabalho, tivemos várias resenhas em diversos sites especializados, rolando nossas músicas em rádios de metal espalhadas pelo país e recebendo comentários positivos de uma galera que curtimos muito. Isso foi muito foda! Nesse período, também recebemos vários convites para tocar em outros estados. Porém, como os gastos com as viagens deveriam ser divididos com as produtoras, acabamos não conseguindo ir por questões de logística, trabalho e, principalmente, grana.
Rebel Rock: Em 2016, vocês tiveram a oportunidade de abrir shows para Warrel Dane (ex-vocalista do Nevermore) e para o Destruction. Como foi a experiência de dividir o palco com nomes tão conceituados da cena mundial? Que aprendizados ficaram desses momentos?
Tiago: Destruction é, com certeza, uma influência para os cinco da banda, então foi inacreditável poder dividir o palco com os caras. Warrel Dane foi uma lenda e, com certeza, vamos levar esse momento para sempre. Mas não posso deixar de comentar que a experiência do show foi frustrante. Não sei direito o porquê, mas sempre que somos chamados para tocar nesses shows com bandas maiores, a sensação que tenho é que a produção nos trata como lixo. Fica aquele sentimento de que estão fazendo um favor e que temos que ser eternamente agradecidos por estarmos ali. De qualquer forma, nos divertimos muito, pois estarmos juntos sempre vai ser o que importa.
Rebel Rock: Após quase dez anos, vocês retornaram com o segundo álbum, “Fears Apocalypse” (2022). Por que houve esse intervalo tão longo entre os lançamentos?
Wendel: Boa pergunta!. O tempo foi passando e a gente nem percebeu… Fora que cada um tem seus trabalhos fora da música e não deu para conciliar muito bem, devido às contas para pagar e à falta de grana para investir em um novo álbum. Sem contar uma pandemia no meio disso tudo, que ao menos serviu para a gente compor o “Fears…”
Tiago: Acredito que o maior motivo da demora — não querendo ser chato sempre tocando nesse assunto — é a questão financeira. Todos temos nossas lutas diárias fora da banda e, infelizmente, não podemos deixar de dar prioridade a elas. Para completar, tivemos a pandemia, que acabou atrasando ainda mais nossos planos.
Rebel Rock: No segundo álbum, faixas como “My Hate Is Gonna Speak For Me”, “Vultures” e “The Truth Is All There” são verdadeiras pancadas, perfeitas para levantar rodas nos shows. Durante o processo de composição, vocês já pensam em como essas músicas vão soar ao vivo?
Wendel: Não! O termômetro é o Tiago. Se ele se arrepiar quando executamos a música depois de pronta, pode ter certeza que será porrada na moleira da galera!!! (risos). “The Truth Is All There” é a minha música preferida do disco!
Rebel Rock: Vocês acreditam que boa parte do sucesso de “Fears Apocalypse” está na gravação e mixagem extremamente eficientes, que unem uma sonoridade “old school” e impactante?
Wendel: Com certeza!!! O Thiago Bianchi (produtor) fez um trabalho extraordinário. Ele tirou leite de pedra (risos).. Ele teve esse feeling de dar essa roupagem old school para as músicas! Elas soam bem orgânicas!
Tiago: Ficou incrível o trabalho que o Bianchi fez, pois chegou exatamente no ponto que queríamos. Lembro de quando ele mostrou “The Party Won’t Stop” para a gente e, velho, foi arrepiante esse momento. Tivemos um deslumbre do que estava por vir e ali tivemos certeza de que toda a luta valeria a pena.
Rebel Rock: A capa de “Fears Apocalypse” traz elementos marcantes da cidade natal de vocês, como o pôster do festival Headbangers Attack. A arte, criada pela Jaqueline Sales, ficou belíssima. Como foi o processo de trabalhar com ela na concepção da capa? Ela teve total liberdade criativa ou a banda participou ativamente, dando sugestões?
Wendel: A Jack se confunde com a banda. Ela faz um corre fudido para a gente. Para você ter uma ideia da importância dela na banda, o refrão da música “F.U.C.K” é dela. Ela também faz os flyers de show, dá ideias para clipes e músicas, além de ser fotógrafa da banda. Trabalhamos em conjunto com ela: damos as ideias e ela coloca em ação, e vice-versa! Não sabemos viver sem ela em nossas vidas! Ela tem liberdade TOTAL para usar sua criatividade em prol do Phrenesy!
Tiago: A Jackie tomou a frente dessa parte. Ela é fundamental e não conseguimos imaginar como seria sem ela. Consigo imaginar como seria sem o Aluísio, baixista, mas sem ela não (risos). Sobre a execução do trabalho, normalmente damos uma ideia do que queremos e ela faz todo o resto. Não temos do que reclamar — é um trabalho sensacional.
Rebel Rock: Qual a importância de incluir essas referências locais e pessoais na identidade visual do álbum? Acreditam que isso aproxima ainda mais o público da banda?
Wendel: Acredito que sim, mas não fazemos só por causa disso. É mais para divulgar a periferia do DF. Brasília não é só política, Congresso Nacional e todo esse tipo de lixo que o Brasil inteiro manda para cá e depois coloca na nossa conta. Nós só mandamos oito deputados federais e dois senadores para lá; o resto do lixo é o país que manda!!! O DF tem uma cultura muito ativa, um caldeirão cultural que vai desde os anos 70, com a banda Mel da Terra, anos 80 com Legião Urbana encabeçando uma leva de bandas, anos 90 com Raimundos, Natiruts, DFC, Macakongs 2099 do nosso irmão Phú, e as bandas de metal como Violator, Mofo, Dark Avenger, Flashover, Device, Slug, Miasthenia, NW 77, Amazing. O rap aqui é um movimento muito forte — temos uma das melhores cenas —, fora o teatro com Os Melhores do Mundo, cinema, etc. Enfim, as referências servem para divulgar Taguatinga, que é a nossa cidade, onde o Phrenesy nasceu, e para mostrar o DF além do Plano Piloto (Brasília).
Tiago: Temos orgulho de onde viemos e da cena que fazemos parte. Construímos uma rede de amigos ao longo desses 22 anos e nada mais justo do que incluir essa galera quando tivermos a oportunidade. O DF não é só aquela corja filha da puta que “representa” nosso país. Temos uma cena rica em diversos aspectos e lutamos diariamente para mantê-la viva.
Rebel Rock: Como estão os shows de divulgação do novo álbum?
Tiago: Após o lançamento, fizemos vários shows em cidades aqui do Distrito Federal, alguns em São Paulo e Goiânia. Não fizemos mais porque estávamos esperando nossa gravadora, o que acabou nos frustrando. Estamos com a agenda aberta, mas vamos focar na regravação de uma demo que tem aproximadamente 20 anos, a “Do You Like Mocotó?”, e também estamos com algumas músicas no gatilho para o novo disco.
Rebel Rock: Algo que sempre chamou atenção no Phrenesy é o amor explícito pela cerveja. Músicas como “Never Forget The Beer Of You Girl”, “The Power Comes From The Beer”, “The Party Won't Stop” e “War For Beer” são bons exemplos. É sempre bom levantar um copo e brindar ao som pesado, certo? Esse tema sempre fará parte da essência da banda?
Wendel: Provavelmente, até porque tudo é motivo para tomar uma gelada. Se estamos tristes, tomamos uma para alegrar; se estamos alegres, tomamos uma gelada para comemorar; se temos uma lembrança ruim, tomamos uma para esquecer. Ou seja, tudo é só uma desculpa para tomar uma breja! Não é uma coisa obrigatória; surge naturalmente quando estamos compondo. Eu, por mim, não abordaria mais esse tema, mas tem músicas que pedem isso quando estamos compondo, e não tem como fugir dessa sina! (risos).
Tiago: A cerveja faz parte de nossas vidas, então provavelmente sempre estará em nossas músicas (risos). Não que seja um tema obrigatório, mas sempre aparece uma letra ou um riff que pede uma cerveja bem gelada!
Rebel Rock: Por outro lado, o Phrenesy também traz letras mais ácidas e críticas sociais. Como vocês encontram o equilíbrio entre a diversão e a necessidade de abordar temas mais sérios e reflexivos?
Wendel: Depende do feeling no momento em que estamos compondo. Eu gosto de sentir a música, o que ela me passa, para poder compor em cima disso. Muitas letras eu faço no estúdio: vou ouvindo a música e compondo de acordo com aquilo que ela me transmite.
Tiago: Vivemos em um mundo sombrio, onde os erros do passado estão voltando. Isso mostra como não podemos deixar de falar sobre as atrocidades que aconteceram e ainda acontecem. Passamos por um governo genocida e, infelizmente, não podemos nos calar.
Rebel Rock: Em “The Power Comes From the Beer”, vocês gravaram “Contra Tudo, Contra Todos” em português. Existe a possibilidade de novas músicas na língua portuguesa em futuros trabalhos?
Wendel: Sim, não descartamos essa possibilidade. Se eu sentir que alguma coisa ou um sentimento precisa ser transmitido em português, eu escreverei com certeza!
Rebel Rock: Qual música vocês acreditam que representa melhor a essência do Phrenesy? Por quê?
Wendel: “Contra Tudo e Contra Todos”! Essa letra foi escrita com raiva, muita coisa que estava dentro de mim e que eu queria falar para muita gente que não entende e não acredita no que é a música, a paixão, o amor de quem trabalha com isso por amor e não por dinheiro. Fazemos o que gostamos por amor, acima de tudo!
Tiago: Essa é bem difícil. Eu, particularmente, me identifico com várias, mas, para a banda, acredito que realmente seja “Contra Tudo e Contra Todos”. Resume bem o que passamos para manter essa chama viva.
Rebel Rock: Para finalizar, qual músico ou banda vocês pagariam a conta no bar sem pensar duas vezes? E porque?
Wendel: Pagaríamos a conta do Lemmy e do Jão (Ratos de Porão). Eles são ícones pra gente, são inspiração. O Krisiun que também é chegado numa breja como a gente.
Rebel Rock: Obrigado pela entrevista! O espaço final é todo de vocês para deixarem uma mensagem aos fãs.
Wendel: Obrigado à Rebel Rock pelo espaço e por dizer que foi uma das melhores pautas/entrevistas. Continuem apoiando a cena local de sua cidade, estado e país. O Brasil tem muita banda boa e muitos músicos talentosos!
Tiago: Agradecemos demais o espaço. É sempre gratificante poder compartilhar um pouco da nossa história. Para os nossos fãs, pedimos que apoiem a cena de sua cidade, comprando e divulgando os materiais das bandas locais, zines, revistas... Vamos manter o underground vivo!
VADER NECROPOLIS Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
Quando a banda precursora do metal extremo da Polônia chega ao seu décimo álbum de estúdio, é preciso realmente prestar atenção, pois não tem como não vir coisa boa por aí! Sim! Estamos falando do Vader, que com seu Necropolis, nos brinda com a mais fina nata do estilo que perseguem, o death metal.
Originalmente lançado em 2009, o Necropolis já nos deixava curiosos, pois depois de um longo período de parceria de composições com o guitarrista Mauser, agora seria a primeira vez em anos de Peter compondo sozinho, e não só compondo, já que gravou todos os instrumentos junto ao baterista Paewl Jaroszewicz, o Paul, e me obrigo a dizer: essa aventura “solo” de Peter, nos trouxe um álbum simplesmente perfeito. Sim!
Perfeito desde o ínicio com "Devilizer", soando num clima de intro, com uma levada mais lenta e crescendo no que desemboca em "Rise of the Undead", música extremamente rápida no melhor estilo Vader de blast beat bem veloz e com um refrão muito marcante e solo simplesmente avassalador! "Never Say my Name" vem pra equilibrar o álbum com uma levada mista entre partes lentas e rápidas assim como "Blast", que também soa rápida e agressiva. Nesse álbum o Vader nos traz muita influência de thrash metal em meio ao caos sonoro que sempre nos apresenta, "Dark Heart", e "Impure' são exemplos disso. "Anger' volta á carga com agressividade e velocidade e "We are the Horde" dosando partes rápidas mescladas com lentas. A última música "When the Sun Drowns in Dark" encerra com chave de ouro esse álbum, como já citado antes, perfeito!
Mas se você pensa que era isso, está enganado, o relançamento da Shinigami nos traz também duas versões simplesmente espetaculares de "Black Metal" do Venom e 'Fight Fire with Fire" do Metallica. Necropolis se coloca sem sombra de dúvida no status de grandes álbuns já lançados pelo Vader.
GRAND MAGUS SUNRAVEN Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional
Foram 5 anos de silêncio! “Wolf God” (2019) foi um trabalho intenso, pesado como todos os outros que o Grand Magus fez em sua carreira. Nunca a banda ficou tanto tempo sem lançar nada e quando “Sunraven” foi anunciado minha expectativa ficou a níveis estratosféricos.
Um ponto que me agrada na extensa discografia do Grand Magus, é que seus discos parecem claramente uma continuação uns dos outros. “Sunraven” é o décimo disco deste trio e se você, caro leitor, ouvir este trabalho em pleno 2025, pode se imaginar em uma cápsula do tempo e imaginar que está em 2005, por exemplo, há exatos 20 anos atrás, quando os caras começaram sua trajetória.
Depois de ouvir “Sunraven” pela primeira vez, fiz um teste: ouvi também na íntegra, os dois primeiros trabalhos da banda, lançados há mais de 20 anos, e, a sonoridade deles são incrivelmente semelhantes.
Em um trabalho tão consistente como “Sunraven”, fica difícil apontar qualquer destaque, “Skybound”, a faixa título e “Hour of the Wolf” são faixas que você pode ouvir no volume mais alto já que simbolizam tudo o que o Grand Magus representa: letras do mal, Doom Metal sombrio e performances classudas de seus músicos, em especial, o mestre JB Christoffersson, a personificação e a cara do Grand Magus.
Fazendo um exercício de futurologia, eles parecem ser aquela banda que sempre fará coisas boas, nunca inventará a roda e sempre será uma das queridinhas dos headbangers em geral. Tirar-lhes o mérito por isso é no mínimo uma insensatez. Os caras estão envelhecendo, mas sua música não; ao contrário, passa longe, muito longe disso! A impressão é que se eles gravarem mais 20 discos, os 20 discos serão tão bons como “Sunraven”, “Wolf God” ou os anteriores a eles. Bandaça que dá gosto ser fã!
KORPIKLAANI RANKARUMPU Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional
Os finlandeses do Korpiklaani seguem há anos trilhando sua jornada pelas “florestas encantadas” do heavy metal. Sua sonoridade é marcada por uma atmosfera mágica e inquieta, impulsionada por ritmos alegres e dançantes que tornam impossível ficar indiferente.
Cantado em finlandês, o impacto inicial é uma surpresa saborosa, onde cada nota se entrelaça de forma orgânica com a proposta vibrante do som. Em seu décimo segundo álbum de estúdio, o Korpiklaani entrega um trabalho que equilibra peso e tons dançantes na medida certa. Mesmo quando a banda pisa no acelerador, a sensação inevitável é ser arrastado para um redemoinho contagiante de celebração.
A abertura com "Kotomaa", traz o tom é definido em melodias folclóricas envolventes, letras celebrando a natureza e a cultura, e uma fusão harmoniosa entre instrumentos tradicionais, como acordeões e violinos, com um instrumental pesado. A música “Aita", tem um ritmo animado e letra leve — a interação entre acordeão e violino cria um clima festivo perfeito, com uma melodia que convida o ouvinte a cantar junto — daquelas faixas feitas sob medida para incendiar os shows.
O uso marcante desses instrumentos cria uma atmosfera que pode soar estranha para os novatos, mas a energia vibrante das 12 faixas logo cativa. "Saunaan" é um ótimo exemplo, trazendo a sonoridade acelerada e alegre típica da banda, homenageando a tradição finlandesa da sauna em um dos momentos mais animados do álbum.
Outro destaque é "Mettään" adiciona profundidade ao álbum com um tom sombrio e introspectivo, marcado por um andamento cadenciado e elementos quase xamânicos. A faixa-título é o ponto central do disco. Com percussões fortes e repetitivas que funcionam como um mantra, representa o compasso que marca o ciclo da vida, impulsionando dança, guerra, colheitas e festividades. Cada música soa como uma história contada ao redor de uma fogueira nas florestas finlandesas.
O encerramento com “Harhainenen höyhen” traz uma abordagem melódica e um toque melancólico, contrastando com a energia do restante do disco. O instrumental cresce gradualmente, proporcionando um final épico e reflexivo — um convite à celebração de um trabalho intenso e ímpar.
“Rankarumpu” reforça o domínio do Korpiklaani em criar álbuns com identidade como poucos hoje em dia. Combinando tradição e novas abordagens, o disco mantém a banda relevante e garante que o "tambor pesado" continue ecoando mundo afora.