segunda-feira, 31 de março de 2025

PENTAGRAM - BASEMENT CULTURAL - 29/03/2025 - CURITIBA/PR


 

PENTAGRAM
Abertura: PESTA e ESPECTRO
29/03/2025
Basement Cultural - Curitiba/PR
Produção: POWERLINE
Assessoria de Imprensa: TEDESCO COMUNICAÇÃO & MÍDIA

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Carolina Capeletti Peres

Existe um velho ditado, batido e surrado que diz: “A justiça tarda, mas não falha!”. E esta frase pode muito bem ser aplicada ao momento atual do Pentagram. Formada em 1971, a banda passou décadas na obscuridade, muito por conta do comportamento errático (pra dizer o mínimo) do seu mentor, o vocalista e figuraça maluquete, Bob Liebling. Sempre envolvido em problemas com substâncias ilegais e vícios em todo o tipo de drogas, Liebling acabou colocando obstáculos enormes na carreira do grupo.

Acontece que na última década, logo após o documentário “Last Days Here”, o Pentagram conseguiu um certo destaque, e com isso, manter-se presentes em Festivais de Rock e Metal, lançando alguns (ótimos) álbuns e uma certa regularidade em sua formação. E agora em 2025, um "meme” onde mostra Bob Liebling num momento “hipnótico” viralizou, muitos riram e foram buscar nas redes pra ver de quem se tratava, e descobriram o Pentagram, e ao descobrir que se tratava de uma banda de verdade, descobriram se tratar de uma excelente banda e precursora do Doom Metal. O resultado? O Pentagram angariou mais de cem mil novos seguidores. Mesmo que por vias tortas, o grupo está recebendo o reconhecimento que há tanto tempo merecia ter.

Estamos então na bela cidade de Curitiba, para ver o Pentagram de perto. O Local escolhido foi o Basement Cultural e uma ótima surpresa ao chegar, foi saber que o evento estava “Sold Out”. Todos os ingressos foram vendidos e não havia mais como comprar na hora do evento. Fãs de várias cidades do Brasil se faziam presentes: Fortaleza ,Cascavel, São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Florianópolis, Cuiabá, Salvador. Seria uma celebração Doom.

E a banda que se encarregou de abrir os trabalhos foi a banda curitibana Espectro. E que bandaça!!! Liderada pelo vocalista Reinaldo, a banda entrou no palco as 19h40 e detonou seu setlist por quarenta minutos. Seu Heavy/Stoner Rock é empolgante e muito forte, com riffs pesadíssimos agradando ao público que já se fazia em grande número, dando um ótimo exemplo: entre cedo sempre aos eventos e prestigie as bandas de abertura, geralmente artistas underground da sua cidade, e com qualidade acima da média , como no caso do Espectro. Reinaldo agradeceu a receptividade citou a felicidade de estar no palco, abrindo o show da banda que o Espectro começou fazendo covers: Pentagram. Por volta das 20h20, o Espectro encerra a sua participação, com a certeza do dever (muito bem) cumprido, e mais: conquistaram vários fãs, incluso este aqui que está escrevendo.


Após um curto espaço de tempo, a segunda banda inicia seu espetáculo: os mineiros do Pesta. A sonoridade é aquela esperada e que amamos: Stoner rock/Doom Metal, totalmente indicado para fãs de Trouble, Saint Vitus, e óbvio, Black Sabbath. Músicas como “Black Death” e "Words Of a Madman” são certeiras, pesadas e com clima sombrio e fantasmagóricos. A banda tem 10 anos de estrada e o entrosamento do quarteto evidencia muita experiência. O vocalista Thiago Cruz, é um show a parte, seja pelo seu potente vocal, carisma e performance, que lembra uma mescla de Ronnie James Dio e Steven Tyler. O Show do Pesta durou também cerca de quarenta minutos e tal qual o Espectro, foram ovacionados ao final da sua apresentação. Sim, fiquei fã do Pesta também. Vou deixar aqui uma dica de ouro: conheça estas duas bandas, são excelentes. Vida longa ao Espectro e ao Pesta!


21h30 e é chegada a hora e os 3 escudeiros de Bob Liebling entram no palco: Tony Reed (guitarra – da banda Mos Generator ), Scooter Haslip (baixo – também da banda Mos Generator) e Henry Vasquez (bateria ex-Sayint Vitus). Após alguns segundos, inicia o "ritual” com “Live Again”, enquanto a lenda surge sob aplausos e gritos da platéia. Bob Liebling estava entre nós.

Sua performance é energética e teatral, por vezes cômica, mas é inegável a sua competência vocal e carisma. Com um bom aspecto físico, brincava com a platéia, fazia mil e uma caretas e dava alegria a todos que esperavam que ele recriasse o seu agora famoso meme.

A esta altura o Basement Cultural estava abarrotado de gente, e aqui começaram alguns problemas: O banheiro masculino teve problema de entupimento (“parabéns” aos amiguinhos que colocaram papel higiênico nos mictórios), mas o pior foi realmente o calor insuportável, que fez muitas pessoas procurarem ar fora do Basement. Não sei se o problema foi o ar condicionado estragado ou a falta dele, mas o fato de que você ter que sair pra rua por conta do calor e não acompanhar o show é lamentável.

Enquanto isso, no palco, o Pentagram “derretia”( no bom sentido) seu show. Clássicos como “The Ghoul”, “I Spoke To Death”, “Sign Of The Wolf” foram executados em um nível de perfeição que fez justiça ás versões originais de estúdio. Alguns problemas técnicos ocorreram no palco, mas mesmo com estes pequenos percalços, Bob Liebling não perdeu o bom humor, conversando e brincando com a plateia e os seus colegas, aguardando enquanto tudo era solucionado.


“Walk The Sociopath” encerrou o set list, com mais uma performance ímpar de Bob. A banda faz o tradicional “final falso” e se retira do palco, e sob os gritos de “Pentagram!! Pentagram!” e “ one more song” retornam ao palco poucos instantes depois para detonar A mais que clássica “Forever My Queen”, cantada e plenos pulmões pelo Basement Cultural lotado. ”20 Buck Spin” encerra a celebração do Pentagram e a banda se despede e se retira sob acalorada saudação dos presentes.


Uma noite excelente, tanto para público como para as bandas. Que o Pentagram possa voltar mais vezes ao Brasil, e que Bob Liebling possa, finalmente, curtir o reconhecimento à sua obra, mesmo que este reconhecimento tenho chegado com décadas de atraso. Agradecemos a produtora Powerline pelo credenciamento, ao staff do Basement Cultural pela gentileza.






OVERFUZZ - TRÊS (2025)

 


OVERFUZZ
TRÊS
Independente - Nacional

O trio OVERFUZZ, banda de Goiânia, celebra agora em 2025 seus 15 anos de história e para comemorar, lança seu terceiro álbum, sintomaticamente intitulado TRÊS. Além disso, uma mudança bastante significativa acontece aqui: o grupo abandona as letras em inglês e abraça definitivamente o português como língua para suas letras. Assim, o trio acredita que tem mais liberdade para compôr, ainda que suas principais características tenham se mantido, trazendo um rock alternativo forte, mas com o aporte de influências mais variadas. Se  você procura por uma banda autoral independe que tenha personalidade, está diante de uma que pode te agradar.

Mario Nacife (vocal e baixo), Brunno Veiga (vocal e guitarra) e Victor César Rocha (vocal e bateria), formam um power trio que faz um rock com presença, atitude e energia em suas apresentações. Formado em 2010, o grupo goiano tem um público consolidado em todo o Brasil, que engloba fãs de diferentes estilos e gerações. TRÊS foi gravado por Gustavo Vazquez, no Rocklab Produções Fonográficas, tendo sido produzido por  Rodrigo Andrade (Coruja Estúdio) e também Gustavo Vazquez, que se encarregou da mixagem e masterização. A produção executiva ficou por conta de João Pedro Barbosa e a capa foi obra de Gabriel Lada (Plano B), lembrando um pouco aquelas capas das bandas alternativas dos anos 90.

"Montanha Russa" abre o álbum num clima introspectivo, ganhando ritmo e velocidade e, dentro dos limites da banda, uma boa dose de peso, entregues pela cozinha formada por Mario e Victor César. Boas linhas de guitarra e alternância de vocais , por vezes limpos e em alguns momentos mais rasgados, mostram a diversidade do trio. No entanto, "Telas" traz uma veia pop mais acentuada, ainda que traga um belo trabalho de baixo e bateria novamente. Interessante notar que a produção, soube dosar os instrumentos de forma que ganha a guitarra precisa se destacar, ela não fica sozinha, com os três músicos exercendo suas funções de forma igualitária. Uma pitada daquele rock alternativo dos anos 90 surge forte em "Sonho Americano", os backing vocals entram com mais força no refrão, criando ótimas melodias vocais. Já "O Olho que Tudo Vê" tem guitarras que lembram um pouco os Pixies, e aqui, acredito que se a letra fosse em inglês, o resultado seria melhor.

"Overdose" tem linhas de baixo, com aquela sonoridade "gorda", enquanto o vocal acaba destoando um pouco aqui, pois acredito que uma maior intensidade traria um melhor resultado. Aquela pegada mais alternativa ressurge em "Ilusão", e a troca de vocal aqui foi correta. Aliás, esse é um ponto que a banda poderia aperfeiçoar, uma vez que os três integrantes cantam. De repente fixar um que se encaixe melhor pode trazer melhores resultados, como é o caso dessa faixa. Já "Hei de Correr" é a m ais pop de todas, com boa melodia e um solo simples, mas bem eficiente. O álbum fecha com "O Rock Morreu", que traz peso, distorção e uma letra bastante reflexiva sobre seu título. Cabe a reflexão...

O OVERFUZZ em seu terceiro álbum de estúdio traz faixas interessantes, com ótima produção e alguns pequenos detalhes que podem trazer melhorias ao grupo. No entanto, TRÊS é um trabalho que vale a audição e também, serve para que se conheça uma das inúmeras boas bandas do nosso cenário independente.

Sergiomar Menezes




SIEGRID INGRID - MASSACRE IN LORENA (2024)

 


SIEGRID INGRID
MASSACRE IN LORENA
Independente - Nacional

O que esperar de um álbum ao vivo de uma das bandas mais brutais e agressivas do cenário nacional? Um verdadeiro MASSACRE, não é mesmo? E com o perdão deste trocadilho infame, o que o SIEGRID INGRID nos presenteia com este MASSACRE IN LORENA, gravado ao vivo em 2024, é um verdadeiro apanhado de músicas rápidas, pesadas, violentas e sensacionais! Resgatando faixas de toda sua carreira, desde o início dos anos 90 até os dias atuais, o grupo liderado por M. Punk, mostra que o Brasil é um dos países sede quando se trata de metal extremo. Se você não morou neste planeta nos últimos 30 anos ou ainda duvida dessa afirmação, escute esse álbum e tenha coragem de discordar!

Formado pelo já citado M. Punk (vocal), André Gubber (guitarra), Luiz Berenguer (baixo) e Romulo Minduim (bateria) o quarteto gravou o show realizado em 14 de novembro do ano passado, durante a turnê de divulgação do excelente "Back From Hell" (2023) e, apesar deste ao vivo não estar nos planos iniciais da banda, a energia e a atmosfera vibrante durante os shows fez com que o grupo decidisse transformar aquele momento em um registro histórico. Totalmente sem cortes ou edições, o álbum celebra e registra a autenticidade, peso e a brutalidade de seu repertório, marcando de vez sua vitoriosa trajetória. A produção, mixagem e masterização ficaram a cargo de Martin Pent, enquanto a arte da capa, assinada por Artur Fontenelle, traduz visualmente a agressividade e a essência sombria do álbum.


Ainda que o álbum mantenha uma regularidade acima da média, por se tratar de uma espécie de retrospectiva, algumas faixas acabaram se destacando de forma mais consistente. É o caso de "Murder", pedrada na orelha que abre o trabalho em grande e brutal estilo! M. Punk consegue jogar sua voz de gutural mais grave ao mais rasgado de forma efetiva, entregando a faixa toda a agressividade que dela emana. Assim como em "Nojo" e "Forces", essa última, um verdadeiro pesadelo em forma de música. Podemos destacar ainda faixas como "Never Again", rápida e mortal, "Templo dos Vermes", uma das melhores faixas de "Back From Hell", assim como "Drásticas Consequências", e suas guitarras insanas. Pra fechar "Enéas", absurdamente grindocre e "Suicide", pesada, veloz e brutal, como o metal extremo deve ser.

MASSACRE IN LORENA coroa a trajetória do SIEGRID INGRID com seu primeiro álbum ao vivo. Não há dúvidas que o grupo (assim como muitos outros da nossa aldeia) merecem um maior destaque e reconhecimento, seja da mídia, seja dos fãs. Quem sabe não é esse o momento de virar esse jogo?

Sergiomar Menezes







BODY COUNT - MERCILESS (2025)

 


BODY COUNT
MERCILESS
Shinigami Records/ Century Media - Nacional

BODY COUNT's IN THE HOUSE, MUTHAFUCKA! Sim, Ice T e sua trupe voltam com mais uma porrada direta na boca do estômago. Em MERCILESS, o grupo despeja mais algumas toneladas de ódio e raiva em forma de música, trazendo toda a fúria do metal/hardcore/rap/thrash e o que mais você imaginar dentro do cenário da música pesada. Sem medo do dizer o que pensa sobre a propaganda midiática e seus malefícios, do sistema político americano de dois partidos, muito mais polarizado do que aqui no Brasil e do pensamento que domina um grande quadrante da sociedade estadunidense, a banda, que já ultrapassou a barreira dos 35 anos de carreira, nos entrega 12 faixas, que chegam por aqui pela parceria Shinigami Records/Century Media.

Ice T (vocal). Ernie C (guitarra), Juan of the Dead (guitarra), Vincent Price (baixo), Sean E Sean (sampler), Will "lll Will" Dorsey (bateria) e Little Ice (vocais de apoio), mantiveram Will putney (Fit for an Autopsy) na produção e o resultado foi aquele que já era esperado: guitarras pesdas, baixo e bateria insanos e vocais que beiram o desespero em certos momentos. Tudo isso envolto em uma atmosfera incendiária, fazem de MERCILESS um sucessor à altura de "Carnivore" (2020). E para deixar o álbum ainda mais nervoso, George Corpsegrinder Fischer (Cannibal Corpse), Joe Bald (Fit for an Autopsy), Howard Jones (Killswitch Engage) e Max Cavalera (Soulfly, Cavalera Conspiracy, Go Ahead and Die, entre outros) fazem participações mais que especiais, provando que o Body Count é metal na veia!

"Interrogation Interlude", como o próprio nome entrega, é uma intro com um clima angustiante, nos preparando para a faixa título. E "Merciless", segue o clima angustiante de sua intro, pois as guitarras de Ernie C e Juan of the Dead soam desesperadas com riffs densos e pesados. Ice T por sua vez, usa sua experiência dosando passagens mais rap, com levadas mais próximas do Hardcore. A primeira participação especial surge em "The Purge", uma porrada hardcore/thrash que pra ficar ainda mais destruidora, traz uma das vozes mais marcantes do death metal: George "Corpsegrinder" Fischer. Mesmo sendo um arregaço, há espaço para um solo criativo por parte de Ernie C. Na sequência, Joe Bald (Fit for an Autopsy) participa de forma visceral, numa composição que as guitarras não tem vergonha de dizer que beberam muito da fonte King/Hannemann. Já em "Fuck What You Heard", resgata a face rap metal do grupo, sem abrir mão do peso absurdo nas guitarras. "Live Forever" traz a participação de Howard Jones (Killswitch Engage), o que nem precisaria ser dito, bastando apenas ouvir o refrão característico do cantado pelo vocalista. Mas a faixa é uma pérola do Hardcore/Thrash sem concessões.

"Do or Die", é outro momento que une o peso do metal ao rap, que norteou a carreira de Ice T nos primórdios. Sem dúvidas, uma das melhores faixas do álbum, expondo o posicionamento da banda (ou do próprio Ice T) sobre o uso de armas. Ficou curioso? escute e descubra? "Confortably Numb" é uma releitura do clássico do Pink Floyd, que conta com solos do próprio David Gilmour. E quando falo em releitura, entenda-se que não estou falando de um cover. Já "Lying Motherfucka" é outra porrada rap/metal direta e pesada, enquanto "Drug lords", traz a participação do mestre Max Cavalera, introduzindo a faixa com a famosa frase "Se ficar o bico pega, se correr o bicho come", que na sequência vira uma ode à agressividade e brutalidade, com Max e Ice T dividindo os vocais, num dos grandes momentos do álbum. "World War" traz um clima de "guerra" em seus arranjos e o encerramento do álbum vem com "Mic Contract", uma "homenagem" do vocalista ao estilo que o consagrou. Mas, obviamente, sem esquecer das guitarras pesadas ao extremo.

Quando Ice T decidiu montar o BODY COUNT em 1990, talvez não imaginasse que o grupo atingiria uma parcela considerável dos fãs de metal. E nós sabemos que fã de metal não tem a cabeça mais aberta do mundo, não é mesmo? No entanto, se você não está nem aí pra qualquer tipo de limitação mental, ouça MERCILESS no volume máximo e prepara--se para se incomodar com a vizinhança...

Sergiomar Menezes









BLADES OF STEEL - BLADES OF STEEL (2025)

 


BLADES OF STEEL
BLADES OF STEEL
Independente - Nacional

Às vezes, não precisamos de novas fórmulas, tecnologias ou reinvenções. O bom e velho heavy metal, forjado no mais puro aço, é suficiente para arrancar um sorriso de qualquer camiseta preta. E é exatamente isso que a estreia do Blades of Steel nos entrega: um tributo apaixonado ao melhor do metal tradicional dos anos 80. O grupo paulista bebe diretamente da fonte de Judas Priest, Saxon, Manowar e outros gigantes, entregando um álbum que exala nostalgia e autenticidade.

A banda é formada por Yara Haag (vocal), Jonas Soares (guitarra), Rafael Romanelli (guitarra), Filippe Tonini (baixo) e Bruno Carbonato (bateria). Desde a faixa de abertura, que leva o nome do grupo, fica claro o que esperar dos próximos 38 minutos: riffs cortantes e energia ininterrupta. Possivelmente, o ouvinte sairá com uma leve tendinite de tanto manter o braço erguido, fazendo os "chifrinhos" para o alto.Sem firulas, faixas como "Ruler of the Waves", "Vengeance of Mine", "Unholy Scrolls" e "Into the War" são verdadeiros socos na cara de quem pratica o "falso metal". Diretas, poderosas e carregadas de atitude, poderiam facilmente figurar em clássicos como “Wheels of Steel” (Saxon), “Spellbound” (Tygers of Pan Tang) ou “Metal Heart” (Accept).

Os refrãos repletos de backing vocals e os solos gêmeos carregados de emoção são um dos grandes trunfos da banda. E falando em emoção, toda banda de heavy metal precisa de uma boa balada, certo? "A Heart in the Dark" coloca Yara Haag no centro das atenções, onde a vocalista demonstra todo seu poder de interpretação, transmitindo carisma e sentimento em cada verso.

O peso retorna com força, mas de maneira mais cadenciada, em "Iron Hands", faixa que tem tudo para se tornar um dos destaques ao vivo. E para fechar o álbum com chave de ouro, "Shadow Huntress" chega como um hino de encerramento: riffs marcantes, refrão contagiante e um instrumental pulsante que mantém a energia até o último segundo, mostrando que o Blades of Steel veio para deixar sua marca no metal nacional.

No futebol, dizem que estrear com vitória é sempre bom. Mas vencer de goleada? Melhor ainda. O Blades of Steel entra em campo com tudo e já começa no “campeonato do metal nacional” no topo da tabela.

William Ribas




DIMMU BORGIR - GODLESS SAVAGE GARDEN (1998/2024) RELANÇAMENTO DELUXE EDITION

 


DIMMU BORGIR
GODLESS SAVAGE GARDEN - DELUXE EDITION
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Após o seu orgasmo criativo em “Enthrone Darkness Triumphant”, os noruegueses do Dimmu Borgir definitivamente iriam conquistar o trono de maior banda de Black Metal do mundo, caindo nas graças de fãs mais radicais e ao mesmo tempo forjando seu nome no cenário do heavy metal mundial.

Pegando uma carona nas frutíferas turnês e entre sobras de estúdio, nasce em 1998 novamente com a produção de Peter Tagtgren o excelente “Godless Savage Garden”, uma compilação de muito bom gosto que de certa forma serve como cartão de visitas para até mesmo quebrar barreiras do estilo que se propõem a fazer.

A bolacha conta com duas inéditas, “Moonchild Domain”, com um andamento obscuro e interessantes melodias de teclado e a marcante “Chaos Without Prophecy”, apresentando linhas mais sinfônicas, e duas faixas regravadas do debut  "For All Tid”, a poderosa e veloz “ Hunnerkongens Sorgsvarte Ferd Over Steppenne” e a melancólica “Raabjorn Speiler Draugheimens Skodde”, contando com uma produção mais cristalina e ao mesmo tempo evocando acertadamente a síntese do que seria a proposta inicial da banda, fase essa ainda com as letras em sua linguagem nativa.

Dentre as faixas ao vivo, as matadoras “Stormblast”, “Master of Disharmony” e “ In Death’s Embrace” mostram a versatilidade de uma banda bem poderosa no palco, esbanjando energia. E a cereja do bolo vem com um magnífico cover de “Metal Heart” do Accept executada com a cara da banda e que viria a fazer parte de um tributo aos alemães.

Essa versão bônus edition lançamento da SHINIGAMI RECORDS ainda conta com duas faixas ao vivo gravadas em São Paulo no ano de 2004 na tour do aclamado “Death Cult Armageddon”, “Spellbound (by the Devil)” e “ Mourning Palace”, um verdadeiro presente aos fãs.

Um ótimo registro que marca a entrada de Astennu nas guitarras e a despedida do tecladista Stjan Aarstad, e abre caminhos ao próximo opus da banda, o marcante “Spiritual Black Dimensions” do ano de 1999. A capa é um show a parte, produção da Nuclear Blast, engrandecendo a obra ainda mais.

Gustavo Jardim





sexta-feira, 28 de março de 2025

THE DARKNESS - DREAMS ON TOAST (2025)

 


THE DARKNESS
DREAMS ON TOAST
Canary Dwarf/ Cooking Vinyl - Importado

Quando falamos em THE DARKNESS, é quase impossível não lembrar da música e videoclipe de "I Believe in a Thing Called Love", e seus exageros tanto visuais (um tanto quanto bregas), quanto vocais por parte de seu vocalista Justin Hawkins. Muitos até hoje, insistem em colocar a banda em uma bandeja de ironia e não a levam a sério. No entanto, o grupo é muito mais do que isso. óbvio que os exageros vocais de Justin persistem, mas ao mesmo tempo, a guitarra calcada em Thin Lizzy executada por seu irmão e compositor Dan Hankins, que executa seus riffs e linhas de guitarra que exalam o espírito do Hard Rock. DREAMS ON TOAST, o oitavo álbum de estúdio do grupo, vem para corroborar isso, com músicas festivas e que, se não vão mudar o mundo, garantem bons minutos de diversão.

Os já citados irmãos Hawkins, ao lado de Frank Poullain (baixo e backing vocal) e Rufus Tyger Taylor (bateria e backing vocal) apresentam 10 faixas num trabalho que conta com uma boa produção, que ficou por conta de Dan Hawkins, e traz uma capa "inspirada" no álbum "Bugatti & Musker" do duo The Dukes (créditos ao amigo Felipe Izzard). Músicas descompromissadas, guitarras com uma pegada AC/DC, Rolling Stones e o já citado Thin Lizzy, cozinha entrosada e aquela vocal característico de Justin, nos garantem momentos de boa música e, nuca é demais lembrar, provando que o Rock n' Roll não precisa ser militante e chato como alguns insistem em ser.

"Rock and Roll Party Cowboy" abre o álbum com aquele clima de festa, como o próprio nome entrega. Guitarras em profusão, num clima rocker totalmente The Darkness. Os vocais de Justin começam sussurrados, mas se elevam com o desenvolvido da composição. Os backing vocals, outra marca registrada da banda, seguem ativos, enquanto Dan despeja seus riffs e solos. "I Hate Myself", é aquela faixa cheia de adrenalina, rápida e contagiante. Bateria simples e diretamente e uma veia totalmente AC/DC. Os agudos surgem aqui de forma comedida, mas completamente identificáveis. A country music surge em "Hot on My Tail", num momento descontraído e de bom gosto, mostrando que as fontes de influências do grupo não se restringem a um determinado estilo. Os riffs "acedecianos" ressurgem em "Mortal Dread", com um belo refrão, cortesia de Dan, que além de ótimo guitarrista, já deu inúmeras provas de ser um excelente compositor. "Don't Need Sunshine" é uma semi-balada que pouco acrescenta ao trabalho, ainda que possua uma bela melodia. 

Aquele clima de "cabaré americano" surge em "The Longest Kiss", um momento que mostra a versatilidade dos caras, além de explicitar que não estão nem aí pra definição de som e estilo onde se enquadrar. O negócio do The Darkness é fazer música! E a guitarra de Dan comprova isso no decorrer da faixa. Baixo e bateria conduzem "The Battle of Gadget Land", num ótimo momento rock n' roll do álbum. Já aquele clima country n' roll volta a surgir em "Cold Hearted Woman", contratando com a adrenalida de "Walking Through Fire". O encerramento vem com "Weekend in Rome", uma "música" que, acredito eu, é uma brincadeira/piada/homenagem dos músicos à capitam italiana.

Existem discos que entram pra história. Existem discos que passam despercebidos. Mas existem discos que servem para nos divertir e fazer com que, por alguns minutos, esqueçamos dos problemas e nos liguem ao universo musical. Com a mais absoluta certeza, DREAMS ON TOAST não está na primeira, nem na segunda opção. No entanto, como praticamente, todo álbum do THE DARKNESS, ele está entre aqueles que nos garante bons momentos de diversão. Enjoy it!

Sergiomar Menezes




LACUNA COIL - SLEEPLESS EMPIRE (2025)

 


LACUNA COIL
SLEEPLESS EMPIRE
Century Media - Importado

Três anos após a ideia pouco perspicaz de regravar o excelente "Comalies", lançado em 2002 com o título de "Comalies XX", os italianos do LACUNA COIL se redimem de forma considerável com SLEEPLESS EMPIRE, décimo álbum do grupo capitaneado pela bela Cristina Scabbia e por Andrea Ferro. Consagrada pela sua sonoridade gothic metal, a banda tem muito mais a oferecer, pois traz consigo elementos do metal mais moderno e alternativo, apresentando um som original, o que para muitos acaba sendo um fato negativo, enquanto para tantos outros, se torna um atrativo a mais. Marcado pelos duetos vocais de Cristina e, com suas guitarras distorcidas, baixos potentes, o álbum se destaca também pela parte instrumental, trazendo elementos eletrônicos.

Os já citados Cristina Scabia e Andrea Ferro, juntamente com Marco Coti Zelati (baixo/guitarra e teclados), Daniele Salomone (guitarra) e Richard Meiz (bateria) conseguiram manter sua sonoridade que vem estabelecida desde "Dark Adrenaline" (2012). A partir deste álbum, a banda assume um som mais cru e direto em comparação aos clássicos "Comalies" (2002) e "Karmacode" (2006). Por outro lado, Cristina, cada vez mais maravilhosa, alcança tons mais agudos na voz e, como prova da busca por um som mais "pesado", temos uma maior presença vocal de Andrea, que, aliás, nos últimos álbuns começou a usar mais vocais guturais. Dessa forma, temos um álbum mais pesado, em que a intensidade praticamente não diminui, com músicas cheias densas, sombrias e que moldam a atmosfera intensa do trabalho.

"The Siege" abre o álbum e é uma uma música pesada, que nos apresenta um clima denso e de desespero, na qual se destacam os duetos vocais de Andrea, que recorre aos guturais, e Cristina, que, como já mencionado, atinge tons mais agudos de sua voz. O baixista Marco também se destaca, com uma base sólida, acompanhado de Richard Meiz na bateria. "Oxygen" dá continuidade, começando com sons eletrônicos, guitarras e baixos crus que lembram o metal mais moderno, tendo os vocais guturais de Andrea e a voz "suave e forte" de Cristina ao fundo. Momentos mais melódicos de guitarra, vocais de Andrea e um momento mais relaxado caracterizado pelos vocais de Cristina fizeram com que ela fosse escolhida como faixa de divulgação. "Scarecrow" , outra música que começa com sons eletrônicos e a voz de Andrea, embora nesta música, Cristina ganhe maior destaque, transmitindo angústia e desespero. Uma pegada mais moderna, onde o baixo e as atmosferas geradas pelas guitarras se destacam novamente. Já "Gravity", começa de forma original, com corais em italiano, seguidos de uma fórmula semelhante à das músicas anteriores: vocais potentes de Andrea, atmosferas sombrias e modernas e um refrão contagiante, no qual a voz de Cristina assume o comando. "I Wish You Were Dead", é uma faixa mais suave que as anteriores, que começa com o refrão cantado por Cristina, com bases eletrônicas ao fundo.

Com participação especial de Randy Blythe (Lamb of God), a faixa "Hosting the Shadow", começa com uma melodia interpretada pela voz de Cristina e mais bases eletrônicas, com uma melodia que vem acompanhada pelas guitarras. A música depois se torna mais agressiva, provando que a proposta do grupo é inovar a cada composição. "In Nomine Patris" começa com teclados seguida por sons modernos de guitarra que mais uma vez criam uma atmosfera sombria. Cristina assume os vocais principais, alternando com os guturais de Andrea. A faixa título, por sua vez, possui um clima pesado, mas não empolga, ainda que carrega doses generosas de peso e densidade. De outra forma, "Sleep Paralysis" tem forte presença de elementos eletrônicos e um ritmo lento, trazendo alguns toques orientais, o que a torna uma música interessante e original. Destaque para a performance de Cristina. Contando com a participação de Ash Costello (New Years Day) e não acrescenta muito, enquanto o final com a intensa "Never Dawn", traz agressividade e por isso, Andrea acaba se destacando mais.

SLEEPLESS EMPIRE é um álbum que, do começo ao fim, mantém sua agressividade, tensão e densidade sombria. O LACUNA COIL sempre se caracterizou pela interação vocal entre Cristina e Andrea, e aqui encontramos uma maior participação do vocalista que investiu de vez nos vocais guturais. Embora seja um bom álbum, o trabalho dificilmente irá angariar novos fãs, mas com certeza, manterá a base atual firme e forte, pois traz consigo tudo aquilo que os admiradores de Cristina e cia apreciam nos trabalhos do grupo.

Sergiomar Menezes




quinta-feira, 27 de março de 2025

ARCH ENEMY - BLOOD DYNASTY (2025)

 


ARCH ENEMY
BLOOD DYNASTY
Vahall Music/Century Media - Nacional

No início dos anos 2000, o Arch Enemy abalou estruturas ao colocar Angela Gossow no lugar de Johan Liiva. Os três primeiros álbuns com a alemã nos vocais estabeleceram uma base sólida e um pilar extremamente forte para os anos – ou décadas – seguintes. Não que os sucessores de “Wages of Sin” (2001), “Anthems of Rebellion” (2003) e “Doomsday Machine” (2005) estejam abaixo desse nível, muito pelo contrário, mas o sucesso e o nome da banda já estavam fincados no heavy metal.

Desde que assumiu os vocais em 2014, Alissa White-Gluz se consolidou como uma das vocalistas mais marcantes do metal moderno, trazendo não apenas sua potência nos guturais, mas também um equilíbrio com vocais limpos estrategicamente inseridos. Em Blood Dynasty, sua performance demonstra um amadurecimento ainda maior, transitando entre agressividade e melodia com naturalidade.

O quarto trabalho de estúdio com Alissa no comando segue uma linha evolutiva, mostrando a vocalista cada vez mais à vontade e impondo suas habilidades de forma mais expressiva, o que abre novas possibilidades para o som do Arch Enemy crescer e explorar novas direções. Um fator adicional também pode ter feito diferença nas novas composições: o disco marca a estreia do guitarrista Joey Concepcion, que adiciona uma nova camada à potente dinâmica instrumental liderada por Michael Amott.

"Dream Stealer" segue a velha cartilha: uma rápida introdução e uma “bicuda” na orelha com um urro infernal. A faixa entrega uma fusão poderosa entre death e thrash metal, repleta de variações rítmicas e camadas vocais, funcionando como um excelente cartão de visitas para o que está por vir. "Illuminate the Path" chega de maneira mais “contida”, diminuindo a velocidade, mas sem perder o peso. É, possivelmente, aquela faixa que fará o público pular nos shows – o refrão, parcialmente cantado com voz limpa, é cativante e irresistível.

Uma das minhas favoritas é "March of the Miscreants", que me fez viajar no tempo. Esta é a faixa que mais remete ao velho Arch Enemy, com uma forte presença do “metal da morte”, guturais raivosos e riffs que comandam o bate-cabeça. "A Million Suns" se desenvolve sobre uma base instrumental mais solta, leve e até “alegre” – um exemplo perfeito do melhor que o death metal melódico pode oferecer.

"Don't Look Down" mantém o clima pesado característico da banda, mas encaixa elementos novos aqui e ali, mantendo a evolução constante do som do Arch Enemy. A música lembra um pouco "Handshake with Hell", do álbum “Deceivers” (2022). Já a faixa que mais me despertou curiosidade pelo título foi "Vivre Libre". O que esperar? Peso e agressividade ou uma balada? Pois bem, a terceira opção foi a escolhida. Lenta, climática, com instrumental pesado apenas no refrão e carregada de sentimento, a música segue um caminho totalmente diferente de "Reason to Believe". Aqui, Alissa canta quase 100% com a voz limpa, utilizando apenas algumas incursões de drive e gritos.

"Blood Dynasty" volta a decolar com "The Pendulum", onde a cozinha formada por Sharlee D'Angelo (baixo) e Daniel Erlandsson (bateria) brilha, destacando-se pelo groove e pela precisão. Vale ressaltar que eles não são músicos que tentam impressionar com malabarismos técnicos, mas sim jogadores de equipe, sempre certeiros no que fazem. Outro ponto digno de nota é como o álbum transita por incursões do death metal tradicional e melódico, mesclando-se ao thrash habitual da banda, mas sem deixar de lado pitadas da New Wave of British Heavy Metal. Seja nos riffs cavalgados ou nos solos repletos de feeling, de alguma maneira sempre há um pouco de Judas Priest, Iron Maiden e seus contemporâneos.

O encerramento fica por conta de "Liars & Thieves", que amarra o disco de forma impactante, coroando a jornada construída ao longo das 10 faixas anteriores.

Seria repetitivo afirmar que “Blood Dynasty” é o melhor álbum do Arch Enemy com Alissa White-Gluz nos vocais. A cada novo lançamento, essa impressão se repete, pois a banda sempre entrega algo novo e surpreendente sem se prender ao passado. Mas, sendo sincero, o que nunca muda é a mente criativa e a palhetada digna de aplausos de Michael Amott.

O Arch Enemy mais uma vez se firma entre os gigantes do metal mundial.

Sim! De novo, de novo e de novo...

William Ribas




GRAVE DIGGER - BONE COLLECTOR (2025)

 


GRAVE DIGGER
BONE COLLECTOR
RPM/ROAR - Importado

A instituição do metal alemão chamada GRAVE DIGGER parece ser incansável. Completando 45 anos de carreira (se desconsiderarmos o hiato entre os anos de 1987 - 1991), o grupo chega ao seu 22º trabalho de estúdio e mostra que ainda tem o Heavy Metal correndo nas veias. Obviamente que não podemos (e nem devemos) esperar mudanças na sonoridade da banda, no seu estilo de composição ou seja lá o que for. A verdade é que BONE COLLECTOR é um álbum repleto de peso, pegada e envolta naquela atmosfera típica do quarteto: heavy metal com momentos mais épicos e sem nenhum tipo de acomodação ou incorporação de elementos estranhos à sua personalidade.

Chris Boltendahl (vocal), Tobias Kersting (guitarra), Jens Becker (baixo) e Markus Kniep (teclados, bateria), chegam mais uma vez revigorados, apresentando músicas fortes e de acordo com aquilo que sempre permeou a carreira da banda: guitarras intensas, baixo e bateria por vezes simples, por vezes mais estruturados, e os vocais mais do que característicos de Boltendahl, uma verdadeira marca registrada da banda. No entanto, temos mais uma modificação no line up, com a entrada de Tobias "Tobi" Kersting no lugar de Axel Ritt, que ficou 14 anos na banda. Mas isso não interferiu, acredito até, que injetou uma dose extra de vitalidade ao grupo, que parece ter renovado suas forças e nos apresenta um trabalho melhor e mais encorpado do que o já muito bom "Symbol of Eternity" de 2022.

A faixa título abre o álbum em grande estilo. Rápida, com riffs que beberam (e que também criaram) do metal germânico, a composição traz aquela pegada característica do Grave Digger, qual seja, ríspida, ao mesmo tempo imponente e bastante pesada. Um início bem escolhido, pois logo na sequência, "The Rich The Poor The Dying", traz a guitarra do estreante "Tobi" em perfeita carga de peso e intensidade. Outro momento bem rápido e calcado naquilo que o grupo faz como poucos: músicas diretas e mortais! "Kingdom of Skulls", por sua vez, começa com um clima soturno, dando destaque para a dupla Jens Becker/Markus Kniep (baixo e bateria, respectivamente), despejando peso ao longo dos quase 4min da composição. Já "The Devils Serenade" tem uma levada Hard/Heavy, que todo disco do Grave Digger possui. Os riffs mortais e típicos voltam com tudo em "Killing is my Pleasure", outro momento em que "Tobi" se destaca.

"Mirror of Hate" é uma faixa que, se antes falamos sobre o Hard/Heavy do grupo, aqui os contornos ganham maiores linhas, pois apesar dos momentos mais introspectivos da composição, o peso das guitarras e o andamento mais marcado acabam dando a direção. "Riders of Doom" é puro metal oitentista, ainda que adaptado ao momento atual. Peso e cadência, como o Judas Priest ensinou ao mundo a maneira certa de se fazer. Por outro lado, "Made of Madness" é um momento mais suave, melódico e até mesmo "bonito" dentro do trabalho... quer dizer, apenas em seu início! A porradaria come solta, com os vocais de Boltendahl, alternando alguns momentos mais "limpos", sendo um dos destaques do álbum! "Graveyard Kings" é outro momento Hard/Heavy, enquanto "Forever Evil & Buried Alive" resgata o peso e velocidade de forma bem eficaz. O encerramento vem com "Whispers of the Damned", uma espécie de balada, se é que podemos chamá-la assim...

BONE COLLECTOR não está entre os melhores álbuns do GRAVE DIGGER. No entanto, é digno de figuras entre aqueles que mantém viva a chama do metal germânico nos dias de hoje. Sendo fiel às suas raízes, o grupo mostra que continua relevante num cenário que parece ter esquecido de como o heavy metal deve soar. Com certeza, eles não esqueceram!

Sergiomar Menezes




quarta-feira, 26 de março de 2025

WARFIELD - WITH THE OLD BREED (2025)

 


WARFIELD
WITH THE OLD BREED
Napalm Records - Importado

Estava ansioso pelo novo álbum do trio alemão Warfield. O grupo, formado pelos irmãos Johannes Clemens (vocal, baixo) e Matthias Clemens (guitarra), junto com o baterista Dominik Marx, lançou em 2018 o maravilhoso Wrecking Command, trabalho que os levou a dividir palcos com nomes como Tankard, Evil Invaders e Exodus.

Agora, após longos sete anos, eles retornam com “With The Old Breed”, um álbum que apresenta um retrato cru e emocional de guerras sociais, históricas e internas, expressando críticas afiadas às realidades da vida. O disco é ríspido, uma sequência de golpes impiedosos do mais puro thrash germânico, prestando homenagem aos gigantes Kreator, Destruction e, principalmente, Sodom.

A abertura já chega como um voleio na fuça: “Melting Mass”. Os riffs iniciais trazem uma leve lembrança de Metal Militia, do Metallica, e não há forma melhor de iniciar um álbum de thrash metal do que com riffs brutais e um belo grito rasgado - "Abra os olhos e seja banhado por falsidade".

A sequência é ainda mais cruel com os nossos pescoços. “Appetitive Aggression”, “Soul Conqueror” e “Tie the Rope” formam uma trinca avassaladora que não deixa pedra sobre pedra. A velocidade impera, as batidas são violentas, os graves pulsantes – não há espaço para descanso.

"Como a guerra é um jogo de azar entre a vida e a morte, vivo no limite
A adrenalina da batalha me leva a uma viagem, meu vício diário
O prazer insano de matar dorme dentro de mim, sou um perigo encarnado para minha tropa
Minha sede interna por guerra vem à luz do dia, mas eu não dou a mínima."

O trecho acima pertence à poderosa “Fragmentado", uma faixa que me faz fechar os olhos e imaginar que essas palavras poderiam muito bem ter saído da mente de Jeff Hanneman, Tom Araya e companhia - puro Slayer, meus amigos. O Warfield não brinca em serviço e está determinado a recuperar o tempo "sumido". “Inhibition Atrophy” e “Dogs For Defense” formam uma dupla implacável, cheia de agressividade e aniquilação gratuita. Já “Gasp” marca o momento de desaceleração. A música é mais arrastada, trazendo um ar denso — um leve respiro instrumental para uma letra insana:

"A perdição sobe – névoa crescente
Parede rastejante – praga fluindo
Máscaras esqueléticas contam a história
O vento entrega a lei química

Gritos de 'gás' – a fumaça preenche a trincheira
Arrastando-se para dentro da presa ofegante
A guerra psicológica fode as mentes
Asfixiados, afogados em um mar verde."

O ponto alto do disco está nos riffs. Não há um único deslize ao longo das faixas, e a vontade de banguear é constante. “With The Old Breed” é um álbum feito de fã para fã, e fica nítido o sangue e o suor derramados nessas 11 faixas. O encerramento é apoteótico: a faixa-título retorna com o caos, repleta de bumbo duplo e uma velocidade descomunal, mas com quebras de tempo bem encaixadas, tornando-a perfeita para os palcos. O ponto final do tracklist vem com um cover de “F# (Wake Up)”, do Nuclear Assault.

Em “With The Old Breed”, o Warfield não deixa nada pela metade. Homenageia seus ídolos com maestria, ao mesmo tempo em que acende um alerta para a nova geração que está surgindo no velho continente.

Ouça e ganhe um bom e pesado torcicolo.
Thrash til' Death!

William Ribas




BRAINSTORM - PLAGUE OF RATS (2025)

 


BRAINSTORM
PLAGUE OF RATS
Reigning Phoenix Music - Importado

O Brainstorm é uma banda do Sul da Alemanha, com 35 anos de estrada, e que contabiliza na sua discografia, quatorze álbuns de estúdio. É uma das bandas mais tradicionais do Power/Heavy Metal germânico, e desde o seu início, se mantém fiel ao estilo, muito por conta da sua estável formação.

Em “Plague Of Rats”, a sonoridade retorna ao que o Brainstorm fez de melhor nos anos noventa: Power Metal com tons épicos. Após a tradicional “Intro”, “Beyond The Enemy Lines”, vem rápida e galopante, abrindo os trabalhos para o deleite de qualquer fã do estilo e dos alemães. “Garuda (The Eater Of Snakes)” é mais cadenciada, com belos riffs e refrão à la Accept.

“False Memories” retoma a velocidade, com destaque para a bateria de Dieter Bernert, rápida e precisa, enquanto o vocal Andy B. Franck demonstra grande poder de interpretação. Aliás a entonação de Andy é um destaque durante todo o álbum, como de costume. “The Shepherd Girl” retorna a cadência, envolta em melodias indianas. Esta inclusive ganhou um belo vídeo promocional.

“Your Soul That Lingers in Me” apresenta um interessante dueto vocal de Andy B. Franck com a vocalista do Leave´s Eyes/Angel Nation, Elina Siirala. ”Masquerade Conspiracy” é puro metal tradicional, rápida e com ótimos riffs, “From Hell” segue veloz e apresenta outro dueto, desta vez com Alex Krull, também do Leave´s Eyes e Atrocity. Apesar de enriquecer a composição com seu vocal mais sujo, “From Hell” me parece uma faixa mais fraca e comum, com relação as demais do álbum. “Dark Night” é mais marcada e cadenciada também, com ótimas melodias. ”Crawling” e “Celebrate Youth” (esta com excelente letra) mantém o nível, enquanto “Curtains Falls” que finaliza a audição, tem trabalho irrepreensível dos guitarristas Torsten Ihlenfeld e Milan Loncaric, tanto nos solos como riffs e o tradicional refrão “cante junto” faz esta faixa ficar na sua cabeça.

Plague Of Rats“ é um trabalho que agradará totalmente os fãs do Brainstorm e de Power Metal em geral, e ao mesmo tempo dá sequência de forma digna e em alto nível à carreira desta já longeva banda.

José Henrique Godoy




LORDI - LIMITED DEADITION (2025)

 


LORDI
LIMITED DEADITION
Reigning Phoenix Music - Internacional 


O Lordi sempre soube transformar o horror em um espetáculo visual e sonoro, e com “Limited Deadition”, seu 19º álbum de estúdio, a banda finlandesa foi muito além. O disco homenageia o universo dos brinquedos dos anos 1980, mesclando sua sonoridade pesada e teatral com referência dessa época, mantendo a essência do grupo, ao mesmo tempo que aposta em uma abordagem conceitual bem específica - Essa nostalgia se traduz tanto na sonoridade quanto nas interlúdios que pontuam o álbum, simulando vinhetas e comerciais de TV.

Com um total de 16 faixas, o ouvinte tem uma experiência imersiva que lembra a programação televisiva dos anos 80. Porém, temos “o bem e o mal”, pois, te traz uma experiência única, ao mesmo tempo, que tantas “quebras” (5 interlúdios) tire o fator de impacto na audição. O disco começa com "SCG XIX The Hexecutioners", uma introdução macabra que prepara o terreno para "Legends Are Made of Clichés", uma faixa vibrante que combina elementos clássicos do hard rock oitentista com riffs bem construídos e teclados atmosféricos - aliás, o Lordi tem uma única proposta, brincar com os clichês do terror e do próprio heavy metal.

"Syntax Terror", tem sintetizadores futuristas e uma pegada mais agressiva nos vocais, algo novo no castelo assombrado Lordi. Em "Skelephant in the Room", a banda explora uma sonoridade mais voltada ao AOR, com um solo de guitarra que poderia facilmente ser trilha sonora de algum desenho ou filme. "Killharmonic Orchestra" leva a banda mais próxima do heavy metal tradicional, com riffs afiados, bastante punch e um baixo pulsante.

Em todo trabalho dos finlandeses temos uma balada emocional, e, em “Limited Deadition”, "Collectable" tem esse papel. A música carrega em si um lado bem teatral, algo que nos faz pensar em quanto Alice Cooper é uma influência para Mr. Lordi — o piano inicial melancólico e um refrão grandioso são de tirar lágrimas.A parte final do álbum inclui "Retropolis", que traz guitarras pesadas e vocais expressivos, além da faixa-título, que equilibra peso e melodias grudentas, parte desde sempre da magia do grupo. O encerramento se dá com "You Might Be Deceased" e o seu rock ‘n’ roll mais sujo e direito, com backing vocals reforçando o caráter teatral do disco.

Lordi constriu um álbum que não apenas soa como uma homenagem aos anos 80, mas que também transporta o ouvinte para tal época. O uso de sintetizadores, riffs característicos e a produção cuidadosamente nostálgica dão vida à proposta da banda - “Limited Deadition” entrega faixas memoráveis e reforça a identidade divertida e criatividade do grupo.

William Ribas



terça-feira, 25 de março de 2025

MARKO HIETALA - ROSES FROM THE DEEP (2025)

 



MARKO HIETALA
ROSES FROM THE DEEP
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Se há uma palavra que define “Roses from the Deep”, essa palavra é versatilidade. O finlandês Marko Hietala, mundialmente conhecido por sua passagem pelo Nightwish, entrega um trabalho diversificado, repleto de momentos únicos, emoções intensas e uma rica variedade de sentimentos. É um álbum que surpreenderá aqueles dispostos a sair da zona de conforto e não olhar o livro somente pela capa.

Desde a primeira audição, fica claro que este é um disco guiado pelas guitarras. Para onde quer que se olhe, riffs. Alguns pesados, outros mais lentos e carregados, mas sempre conduzidos por refrãos marcantes. A sensação é como se o Black Sabbath caminhasse pelo vale das sombras ao lado do Avantasia - um encontro de mundos distintos, costurado por melodias cativantes, peso instrumental e orquestrações grandiosas.

Naturalmente, as comparações com sua antiga banda são inevitáveis, e muitos fãs procurarão ecos do Nightwish. No entanto, a única conexão direta com o grupo se dá na participação especial de Tarja Turunen em "Left on Mars", onde ambos entregam um dueto memorável.

O álbum começa de forma cinematográfica com “Frankenstein’s Wife”, uma faixa épica, cheia de camadas, que soa como uma verdadeira trilha sonora metálica. A imprevisibilidade é o grande trunfo, pois nunca sabemos qual será o próximo passo.

“The Dragon Must Die” transita por diversos estilos, começando com uma pegada folk metal, passando pelo heavy metal tradicional e culminando em um encerramento despojado no melhor estilo hard rock oitentista. A jornada continua com “The Devil You Know”, que remete a décadas passadas com seus fraseados de guitarra, teclados marcantes e linhas vocais que homenageiam o lendário Ian Gillan e o Deep Purple.

O ditado “menos é mais” se aplica perfeitamente a “Rebel of the North”. Simples e certeira, é um clássico rock ‘n’ roll pronto para tocar no rádio - o tipo de música que você poderia mostrar para sua mãe e ouvir: “Essa é do meu tempo, filho!”. “Impatient Zero” traz um tom mais sombrio e introspectivo. Hietala canta sobre depressão e a sensação de ser incompreendido em determinados momentos da vida, tornando essa faixa uma das mais pessoais do álbum.

E quando falamos sobre versatilidade, não estávamos exagerando. “Tammikuu”, cantada em finlandês, é pura diversão. Com uma levada dançante e um instrumental vibrante, a faixa surpreende ao explorar caminhos pouco convencionais, sem jamais perder a identidade do álbum.

O disco se encerra com a faixa-título, “Roses from the Deep”, uma canção carregada de emoção e melancolia. É o fechamento perfeito para um álbum que traduz, de forma intensa e sincera, as nuances da vida—um dos trabalhos mais expressivos e multifacetados da carreira de Marko Hietala.

Hietala ressurgiu e com ele trouxe o álbum mais surpreendente que escutei até agora em 2025.

William Ribas




RAVEN - CAN'T TAKE AWAY THE FIRE (EP) - 2025

 


RAVEN
CAN'T TAKE AWAY THE FIRE
Silver Lining Music - Importado

Cinquenta anos de carreira não é para qualquer um, e obviamente o trio inglês Raven não é qualquer banda. Formado em 1974, desde o lançamento do seu primeiro álbum em 1981, o clássico “Rock Until We Drop”, a banda dos irmãos Gallagher (não aqueles que querem ser o The Beatles) vem marcando o mundo do Heavy Metal, com álbuns clássicos que influenciaram e influenciam até hoje várias novas bandas.

E nada melhor que comemorar cinco décadas de existência com um novo lançamento, e aqui temos “Can´t Take Away The Fire”, com 5 faixas novas e faixas ao vivo, gravadas em diferentes épocas. Entre as novas, a faixa de abertura “Black and Blue” é puro Raven tradicional, onde o “headbanging” é mandatório, velocidade, peso e melodia nas doses certas. “Power Hungry” segue a mesma linha, uma “ode “ ao metal oitentista numa velocidade alucinante.

A faixa título é a terceira, mais cadenciada, num ritmo quase “AC/DC”, com riff e refrão marcantes, enquanto o batera Mike Heller mostra toda a sua habilidade em viradas e quebradas empolgantes. Em “Gimme a Lie” a velocidade volta com tudo, sem deixar de lado a melodia. Por outro lado a última faixa inédita de estúdio é arrastada, pesada e “Sabbathica”.

As faixas ao vivo são gravações de três décadas diferentes: ”The Power” em 2022, “Architects Of Fear” em 1991, E “Don´t Need Your Money” em 1984. Elas reafirmam que o grupo atravessou as décadas sem se abalar, não dando a mínima para os modismos e estilos “passageiros” , como Nu Metal e Grunge. O Raven é a prova viva que o Heavy Metal não é apenas um estilo musical, e sim um estilo de vida, independente da idade.

José Henrique Godoy



BOB MOULD - HERE WE GO CRAZY (2025)

 


BOB MOULD
HERE WE GO CRAZY
Granary Music/BMG Records

Hüsker Dü e Sugar. Se você desconhece esses dois trios seminais para a história do punk e do rock alternativo (que eu prefiro chamar apenas de rock), muito provavelmente você desconheça BOB MOULD. E isso se deve ao fato de que Mould era a mente criativa, e porque não dizer, brilhante por trás dessas duas bandas. Enquanto a primeira surgiu ni final da década de 70 e trouxe ao mundo obras definitivas do estilo, culminando no ótimo "Candy Apple Gray" (1986) e no excelente e perfeito "Warehouse: Songs and Stories" (1987), a segunda surgiu logo depois da separação e de uma pequena carreira solo do artista, onde também deixou dois excelentes álbuns "Cooper Blue" (1992) e "File Under: Easy Listening" (1994). E se por um acaso, você não é um cara radical e aprecia a boa música, pode ter certeza que HERE WE GO CRAZY vai agradá-lo em cheio. 

Próximo de completar 65 anos, o velho Bob Mould segue incansável fazendo música e nunca deixando de lado sua raízes e influências. Muito mais um influenciador do que influenciado, o guitarrista/vocalista deixa claro que seu estilo nunca mudou e não é agora que irá mudar. Trazendo consigo aquela atmosfera típica de meados dos anos 80 e início doa anos 90, o álbum é um apanhado de composições inteligentes, distintas e cheias de emoção. Não era de se esperar algo de diferente, afinal Mould pode ensinar muita gente quando o assunto é música, não é mesmo? "Here We Go Crazy" não chega a alcançar o mesmo toque emocional de um "Copper Blue" ou mesmo de "Warehouse", mas a pergunta é: isso é necessário? O fato de ainda termos um senhor nessa idade, compondo, tocando e gravando já não deveria nos deixar satisfeitos? A resposta é sim. Todavia, também é necessário afirmar aqui que o álbum se sustenta pela sua qualidade e emoção, mostrando que o músico ainda tem (e sempre terá) relevância no cenário.

Guitarras por vezes sujas, afinações mais baixas, mudanças de andamento e aquela voz quase anasalada de Mould são o norte deste trabalho, assim, como todos dos quais participou. Composições como a faixa título, que abre o álbum com um clima quase intimista, mas com a personalidade do vocalista/guitarrista intacta, comprovam o jeito "Mould de fazer música" com uma melodia "noise" digna de nota. "Neanderthal" tem aquela veia Hüsker Dü, intensa e cheia de guitarras, que se encaixam nos vocais como uma luva. Ótimo momento e um dos mais inspirados do álbum. "Breathing Room", uma música que traz um pouco de referência dos seus contemporâneos do Sonic Youth, (e que também serviu de inspiração para bandas como o Nirvana) antecede "Hard to Get", dona de uma pegada simples e eficiente, enquanto seu refrão fica por algumas horas na sua cabeça ao término de sua execução. "When Your Heart is Broken" poderia tranquilamente integrara a trilha sonora de "Singles" (1992 e que saiu por aqui como "Vida de Solteiro"), pois tem identificação com aquele período e cena.

Temos uma mistura perfeita entre Hüsker Dü e Sugar em "Fur Mink Augurs", um rockão clássico, cheio de energia e com aquela cara de adolescência que parece não ter ficado pra trás. Já em "Lost or Stolen", temos uma composição introspectiva, acústica, com uma interpretação correta de Mould e linhas de violão bem interessantes. "Sharp Little Pieces" traz a sujeira das guitarras de volta, mas com uma atmosfera mas densa, buscando um pouco de reflexão sobre relacionamentos que acabam sem razão aparente. Algo bastante peculiar ao lirismo sempre abordado pelo artista, buscando respostas e apontando caminhos. Ao contrário, "You Need to Shine" joga a energia lá pra cima, com uma pegada típica enquanto "Thread So Thin", seria aquilo que chamaríamos de balada. Pra fechar este belo trabalho, "Your Side", outro momento acústico, novamente introspectiva, intimista e que nos deixa com a sensação que o velho músico ainda tem muito a dizer, principalmente pela energia dispensada à composição em sua segunda metade.

BOB MOULD não precisa provar nada à ninguém. E acredito que, a essa altura do campeonato, ninguém queira algo assim. No entanto, o artista mostra que ainda tem muita lenha pra queimar, nos entregando belas composições que não lhe deixam fugir do seu passado/presente/futuro. HERE WE GO CRAZY é um álbum para apreciadores da boa música e que sabem reconhecer p talento quando estão diante de um. Longa vida à BOB MOULD!

Sergiomar Menezes