MONSTERS OF ROCK 30 ANOS
SCORPIONS
JUDAS PRIEST
EUROPE
SAVATAGE
QUEENSRYCHE
19/04/2025
ALLIANZ PARQUE - SÃO PAULO/SP
Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts
Existiu uma época, pré-internet, que para o Headbanger Brasileiro, o “streaming” era esperar tocar algum som de alguma banda nas rádios rock (poucas mas formadoras de caráter) que existiam, ou pegar uma fita K7 ou um LP de uma amigo para poder gravar. Os “sites” eram as também poucas revistas especializadas em Heavy Metal (Rock Brigade e Metal), onde podíamos ver as notícias sobre lançamentos, entrevistas e eventos, sem a agilidade que temos hoje em dia. Falamos lá dos anos 1980.
Um desses eventos que as revistas faziam a cobertura, se chamava Monsters Of Rock, que era realizado na Inglaterra, no autódromo de Castle Donnington, e era empolgante ver o que escreviam sobre os shows: Ozzy, Motorhead, Def Leppard, Whitesnake, Iron Maiden, Judas Priest , Scorpions e tantos outros. Na época era apenas um sonho muito distante poder participar de algo desta magnitude.
Estamos em abril de 2025, mais precisamente no dia 19 de abril. E neste momento, estamos comemorando trinta anos de Monsters of Rock no Brasil, com um line up arrasador: Scorpions , Judas Priest, Europe, Savatage, Qüeensryche, Opeth e Stratovarius. Sonhos se tornam realidade e o que presenciei no Allianz Parque em uma tarde/noite de sábado foi um evento extraordinário, com show tão fantásticos que até agora estou em dúvida de qual deles eu achei o melhor.

Vamos tentar contar a história então. Por motivos de gosto pessoal, entrei no estádio antes de apresentação do Queensryche, pois era a primeira banda que eu sou fã e queria muito assistir. Com todo respeito aos fãs do Stratovarius e Opeth, são duas bandas que não são do meu agrado/gosto pessoal, por tanto optei chegar depois das suas apresentações. Como o Rebel Rock não foi credenciado para o evento por parte da produção, e o texto que você está lendo é feito por um fã que pagou ingresso, desta forma, reservei o direito de relatar apenas o que tínhamos interesse de assistir, que eram as cinco bandas após o Opeth.
Eram 14h20, quando o fabuloso Queensryche adentra o palco e toma conta do público que já era numeroso. Esta é a primeira vez que a banda aporta no Brasil com o vocalista Todd La Torre. E que vocalista senhoras e senhores! Nem os saudosistas e fãs mais xiitas podem dizer que o vocalista original Geoff Tate faz falta, pois Todd canta exatamente igual (ou até mais) que Tate. Vamos ser sinceros, desde “Promised Land” (1994) o grupo não produziu nenhum álbum realmente interessante ou marcante, voltando a produzir algo realmente forte em 2013, com a estreia de La Torre em estúdio. E ao vivo, o cara destrói. Junto aos originais Michael Wilton (guitarra), Eddie Jackson (baixo) e aos mais novos Mike Stone (guitarra) e Casey Grillo (bateria), o Queensryche desfilou um set absurdo, cheio de clássicos. Da abertura com a maravilhosa “Queen of The Reich” até o fechamento com a espetacular “Eyes of The Stranger”, todas as músicas foram executadas com exatidão e precisão, com uma qualidade de som absurda. Para alguns faltaram “ Silent Lucidity” e “Jet City Woman”, mas num set com faixas como “Walk In The Shadows”, “I Don´t Believe In Love”, “Warning” , “Take Hold Of The Flame” “Screaming In Digital”, dentre outras, se o sujeito reclamar, numa boa, merece ser corrido a palavrões. Ao final de uma hora de apresentação, a banda deixa o palco sobre muitos aplausos, e uma felicidade enorme nos fãs presentes. Cheguei a pensar, o que as demais bandas vão fazer para superar esta apresentação fantástica? Mas calma, tinha mais por vir.


Após uma ágil troca de palco, o Savatage invade o palco do Monsters.. .apesar de ser fã de todas as cinco bandas, o Savatage era a banda que eu mais ansiava assistir. Por ter assistido apenas uma vez em 2001, em Porto Alegre, e após a sua total inatividade desde 2003, rompida apenas em 2015 para algumas apresentações especiais, eu acreditava nunca mais ver a banda ao vivo. Após a intro com parte de “City Beneath The Surface”, Zak Stevens (vocal), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Johnny Lee Midleton (baixo), Jeff Plate (bateria) e com dois tecladistas convidados: Paulo Cuevas, colombiano, e o norte-americano Shawn McNair (Jon Oliva é tão foda, que precisou de dois caras para fazer o que ele magistralmente sozinho) detonam “Welcome”, com a plateia cantando em uníssono, uma excelente abertura, onde sim, todos nós recebemos as boas vindas do grupo. Em seguida o riff matador da “preferida da casa”, "Jesus Saves”. Que música e que execução! Ali o Savatage não ganhou apenas a partida, mas o campeonato inteiro.
A clássica “Handful of Rain” foi abençoada pelos deuses do Metal com uma chuva fraca, como se fosse para ilustrar a execução da música, e isso foi comentado por Zak Stevens, que aliás interagiu o tempo todo com a plateia, é um excelente frontman e além disso, mostrou que está com a sua voz em perfeitas condições, dando aula de interpretação. “Chance”, “Gutter Ballet” e “Edge of Thorns” foram executadas com maestria, sendo esta última com a “participação especial” de uma moça tresloucada, que subiu ao palco dando a impressão de não saber muito bem aonde estava. Foi conduzida pelo segurança, com todo o cuidado, para fora do recinto.
Então é chegada a hora do Savatage enfiar o dedo nos olhos dos fãs, provocando lágrimas de muitos, este que digita incluso: no telão, surge o mentor, o ausente fisicamente Jon Oliva, executando em uma gravação de estúdio, em um piano de cauda, a clássica e maravilhosa “Believe”. Sem dúvida o momento mais emocionante do festival. Após o primeiro refrão, a banda volta e segue executando a faixa, com mais emoção na hora do solo de guitarra, onde são exibidas no telão imagens do saudoso guitarrista original Criss Oliva. Ao final, Jon Oliva “retorna” para finalizar este que foi, sem dúvida, um momento que ficará para sempre na memória de quem lá esteve presente. Com as clássicas “Sirens” e “Hall Of The Mountain King” o Savatage se despede de uma plateia em êxtase com o que acabara de assistir.



Próximo das 17h30, o telão exibe o logotipo dos suecos do Europe, e a hora do Hard Rock havia chegado! O clássica banda oitentista, conhecida pela mais que clássica “The Final Countdown”, aquela do teclado, que toca até em banheiro de rodoviária do interior, sobe ao palco com a sua formação clássica original e num arregaço despeja a sensacional “On Broken Wings”, faixa esta que é o lado B do single “Final Countdown” e infelizmente não consta em nenhum álbum da banda, exceto na coletânea “1982/1992”. Sem pausa, executam “Rock The Night”, clássico absoluto do Hard Rock dos oitenta, cantada a plenos pulmões pelo público. Joey Tempest demonstra o que todo fã já sabe: é um puta frontman, e com uma voz em plena forma, como se ainda estivesse na casa dos seus vinte e poucos anos.
John Norum? Simples: é um dos melhores guitarristas do estilo de todos os tempos, da escola Gary Moore/Michael Schenker, sem exagero algum. “Walk The Earth” faixa titulo do até então mais recente trabalho do grupo, de 2017, mostra o lado mais pesado e setentista do Europe, sonoridade que foi adotada pelo grupo após “Start From The Dark” de 2004. Seguiu-se “Scream Of Anger” se bem me lembro é a faixa mais heavy Metal da banda, lançada no segundo disco, “ Wings Of Tomorrow” de 1984. “Sign of The Times” traz ao baile algo do multiplatinado álbum “Out Of This World”, “Hold Your Head Up” é a seguinte, lançada apenas como single/promo vídeo, deve estar no próximo álbum da banda, e abriu caminho para a balada mais que clássica “Carrie”. Cantada por grande parte do Allianz parque, com as luzes dos celulares emulando os isqueiros da década em que foi lançada, a composição fez a alegria dos fãs de balançou os corações apaixonados (ou não) presentes!
“Last Look at Eden”, “Ready Or Not” (outra preferida aqui do redator) se juntam a “Superstitious” (esta com inserção de “No Woman, No Cry” de Bob Marley) para nos encaminhar para um final apoteótico com “Cherokee” e claro, “The Final Countdown”. Não importa quantas vezes você ouviu, querendo ou não, quando o tecladista Mic Michaeli” toca a introdução dela, não fica pedra sobre pedra, e durante a sua execução, a impressão era que o antigo estádio "Palestra Itália” viria abaixo. Acaba o show excelente e irrepreensível do Europe.



Passava das 19h, e momento mais aguardado por muitos presentes estava para iniciar: a missa do Padre Judas. Judas Priest é muito mais do que uma banda, Judas Priest é sinônimo de Heavy Metal, é a banda que mais representa o estilo. Se você discorda, podemos discutir numa boa, mas adianto que você está errado! Para quem é fã da banda, sempre vamos sentir falta dos guitarristas originais, K.K. Downing e Glenn Tipton, porém o espírito do JUDÃO sempre estará presente em suas apresentações. E que apresentação senhoras e senhores. Na realidade, foi um culto! Rob Halford é algo quase sobrenatural. Logo que cai o pano, os riffs primorosos de “Panic Attack” são ouvidos, mas quando Rob começa a cantar é impossível não deixar de acompanhá-lo. E assim segue por todo o espetáculo.
Ian Hill, baixista e fiel escudeiro de Rob e único membro original no palco, fica ao fundo, seguro e dando o peso ao som do Judas, juntamente com o extraordinário batera Scott Travis. Chega a ser “irritante” a forma como ele toca, parece ser simples e fácil tocar uma hora e meia de clássicos da maior banda de Heavy Metal que existe. “You Got Another Thing Comin'”, “Rapid Fire”, “Breaking The Law”, "Ridin`On The Wind”, ”Love Bites”... o que foi essa sequência?? Andy Sneap e Richie Faulkner são monstros, executaram cada riff e solo com precisão cirúrgica, fazendo muito jus e honrando o posto que ocupam. Durante a execução da eterna “Victim Of Changes”, Glenn Tipton surge no telão para o delírio de todos nós. Uma bonita homenagem ao guitarrista co-fundador da banda, que infelizmente devido a doença de Parkinson, ficou impossibilitado de fazer longas turnês, mesmo que ainda siga na banda como membro, compondo e gravando.
E o que dizer do final “avalanche morro abaixo”??? Scott Travis pega seu microfone e fala conosco, anunciando por óbvio , a clássica e amada “Painkiller”, com sua introdução de bateria que, além de grandiosa, se tornou uma das mais clássicas da história do Rock/Heavy Metal. “The Hellion/Eletric Eye” não precisa de anúncios, e tome lágrimas novamente! O ronco do motor de uma Harley Davidson se faz tão alto quanto as guitarras, e óbvio que está na hora de “Hell Bent For Leather”. Lá está o Metal God e sua poderosa motocicleta... Manjado?? Sim, e daí? Espetacular como sempre. “Living After Midnight” fecha não apenas o show, mas a Missa, o Culto, o espetáculo chamado Judas Priest ao vivo... Que energia que essa banda consegue transmitir para seu público! Como comentei, é algo sobrenatural! Judas Priest é o Heavy Metal! Que ainda haja muito mais tempo para assistirmos mais shows e escutarmos mais trabalhos novos do Priest!




Se trinta anos de Monsters Of Rock já é tempo pra caramba... Imaginem a última atração, que veio celebrar SESSENTA anos junto à um dos seus públicos mais fiéis? Sim, o Scorpions veio para o festival comemorar seis décadas de existência. E que existência grandiosa!!! E que início de show!!! Os alemães iniciam seu setlist com “Coming Home” do soberbo álbum “Love At The First Sting”, e para aqueles que como eu, são “jovens a mais tempo”, não houve como não entrar na máquina do tempo, e nos transportar para o Rock In Rio de 1985, pois foi com “Coming Home” que eles iniciaram aquelas históricas apresentações. Que surpresa matadora!
Lá estavam Klaus Meine (voz), Mathias Jabs e Rudolph Schenker (guitarras), Pawel Maciwoda (baixo) e o destruidor Mikkey Dee (bateria), provando uma vez mais que o habitat natural dos escorpiões alemães é ali mesmo, num grande palco para milhares de pessoas. Klaus já não tem a mesma voz de antes, mas segue ali, simpático e carismático, e sua performance não compromete, apesar de está longe do que ele entregava antigamente. Mas também, o senhorzinho está com 76 anos, e se eu chegar na idade dele conseguindo falar, me dou por satisfeito. As guitarras de Mathias e Rudolph soam insanas, enquanto a “cozinha” é um Yin Yang Hard Rock: enquanto o baixista Pawel é sóbrio e mais discreto, Mikkey Dee desce a porrada em pratos e tambores com uma fúria poucas vezes vista antes. Não é a toa, que Lemmy, quando dos tempos de Motorhead o apresentava como o “The Best Drummer in the World”...
“Gas In the Tank”, dá uma amostra do último trabalho de estúdio, o ótimo “Rock Believer”, e na sequência a trinca poderosa “Make it Real”, “The Zoo” e “Coast To Coast”, a instrumental em que Klaus Meine sempre apresenta seus conhecimentos nas seis cordas. Falando em clássicos, abrace este medley da época setentista do Scorpions: “Top Of The Bill/Steamrock Fever/Speedy´s Coming /Catch Your Train”... Saudades de Uli Jon Roth? Claro que bate né! De volta aos anos oitenta, uma das melhores faixas da discografia da banda: “Bad Boys Running Wild”. Se no ”Medley 70's” lembramos de Uli Jon Roth, aqui temos Mathias Jabs brilhando como sempre.
“Send Me an Angel” e “Wind Of Change” dão uma acalmado no repertório, apesar de serem cantadas pelo estádio inteiro novamente. “Lovin You Sunday Morning” volta à carga Hard Rock, e na sequência outra surpresa: “I´m Leaving You “ uma das preferidas do redator e que pouco frequentou os set lists dos shows que presenciei do Scorpions. Na realidade creio que foi a primeira vez que eu a assisti ao vivo. Solos de baixo e bateria são executados, para dar um descanso aos velhinhos da banda, e o retorno é com “Tease Me Please Me” do álbum de 1990, “Crazy World”. “Big City Nights” com seus riffs e solos maravilhosos embalam o que parecia ser o final, mas obviamente faltavam três clássicos que não podem passar batidos: “Still Loving You” (Rock In Rio 1985 feelings again!), “Blackout”, com Rudolph fazendo a festa e “Rock You Like a Hurricane” com direito a escorpião gigante no palco!!! Que Showzaço!!! Se o Scorpions viesse toda a semana, eu iria ao show deles todas as vezes!!!!!!




Enfim, um Festival espetacular!! Que grande festa foi este Monsters Of Rock 30 anos. Do cast de bandas, ao local ( parabéns ao S.E. Palmeiras, que puta Arena!!!), à organização e todos os trabalhadores que lá estavam para ajudar e orientar o público.
E aqui eu gostaria de deixar um P.S.: Algumas pessoas acham que quem resenha shows quer apenas “ir de graça no evento aproveitar"... Sabe como é, aquele jeitinho “brasileiro”. Sem citar nomes existem até alguns (pouquíssimos, diga-se de passagem) que vão ao evento e não entregam o textinho a que se comprometeu a fazer. Ou o faz de qualquer forma, como se tivesse ouvido falar do show. Mas os sites que que realmente trabalham duro , e não são poucos (não vou citar, pois são muitos e posso esquecer de algum), trabalham junto para divulgar e todo o resto que envolve o evento. Aqui neste Monsters, a cobertura do Rebel Rock foi por conta própria. Sabem por que? Porque somos fãs também, e amamos todo esse universo. E principalmente, gostamos de poder contar a história que vimos para quem infelizmente não teve a oportunidade de ir(assim como faziam comigo nos anos oitenta), trocar as informações e impressões com aqueles que lá estiveram também. Quem sabe num próximo festival a gente esteja por lá oficialmente credenciados, não é mesmo? Espero que tenham curtido, pois aqui a gente faz de coração, de Headbanger para Headbanger.
