terça-feira, 29 de abril de 2025

HAREM SCAREM - CHASING EUPHORIA (2025)

 


HAREM SCAREM
CHASING EUPHORIA
Frontiers Music srl - Importado

O ano era 1991, e os canadenses do Harem Scarem lançavam o seu primeiro álbum, surpreendentemente batizado com o nome da banda... Nem eles, nem ninguém à época, tinham conhecimento de que tinham produzido um dos maiores clássicos do Melodic-Hard Rock de todos os tempos, um álbum que mais de 30 anos após seu lançamento segue sendo cultuado por uma legião de fãs do estilo, eu incluso.

Passaram-se décadas, o Harem Scarem produziu um sem-número de álbuns, alguns ótimos, outros nem tanto, alguns até fraquíssimos, como o infame e tenebroso “Rubber” (1999). Mas o detalhe que nunca se perdeu foi a esperança dos fãs de que a banda voltasse a fazer um álbum de altíssimo nível, que, se não chegasse próximo dos seus primeiros trabalhos, ao menos lembrasse um pouco a sonoridade clássica que uma vez haviam construído.

Com o álbum anterior, “Change The World” (2020), Harry Hess e companhia já haviam chegado perto, mas agora com este novo “Chasing Euphoria” acertaram na mosca. Um dos fatores principais creio que seja o entrosamento entre o quarteto, e quando Harry Hess, Pete Lesperance, Creighton Doane, e Darren Smith , decidem fazer um álbum honesto e baseado na sua química e experiência, o saldo não é nada menos que muito positivo.

Trazendo de volta músicas cheias de melodias e emoção, refrãos “cante-junto”, o que escutamos em faixas como “Reliving History”, “Better The Devil You Know”, “Understand It All” e a faixa título são grandes canções que se escutadas separadamente, já valeriam a pena, imagine num único trabalho, onde até temos algumas outras composições com mais “punch” como em “Falling A Knife”, porém sem perder a classe. A semi-balada “In A Bad Way” é outro ponto alto, onde vemos todo o poderio de Harry Hess e Pete Lesprance, dois músicos que mereciam muito mais sucesso e reconhecimento, do que apenas a admiração dos fãs do nicho que representam.

Finalizando, é muito bom estar em 2025 e o Harem Scarem estar ativo e ainda fazendo música de (MUITA!) qualidade. “Chasing Euphoria” vai certo pra minha lista de melhores do ano!

José Henrique Godoy




BILLY IDOL - DREAM INTO IT (2025)

 


BILLY IDOL
DREAM INTO IT
Dark Horse Records - Importado

Billy Idol, o primeiro “traidor do movimento”, pode dizer aquele punk rocker mais radical a que vem acompanhando o movimento desde seu “boom” mundial, por volta do longínquo ano de 1977. Mas calma, sossega o seu moicano, amigo punk. Billy Idol sempre deu sinais de sua busca pelo “mainstream”.

Enquanto seus colegas de classe como o The Clash declaravam não gostar de The Beatles, Stones, e outros, Billy Idol ao contrário, através das letras da sua banda Generation X, proclamava amor a estes e outros tantos artistas gigantes, e remava na direção contrária do “faça você mesmo”.

Onze anos após o seu último trabalho, elenos entrega “Dream Into It”, e logo na primeira audição, o sentimento de frustração me tomou conta, não por ser um fã de carteirinha do senhor Idol, mas desde a década de 1980, aprecio o seu trabalho, muito pelo que produziu o fantástico e monstruoso guitarrista Steve Stevens. Mas ao ouvir as duas primeiras faixas, onde está o Steve Stevens?

Ao invés de riffs fortes, temos camadas de sintetizadores pra lá de insossas, melodias pra fazer a alegria de autores de filmes juvenis estilo sessão da tarde... Não é à toa que como convidada na segunda faixa, “77” (título gera expectativas/expectativas se vão por água abaixo na audição), de ninguém mais ninguém menos que Avril Lavigne. Sim, ela mesma, a rebeldezinha na fila do peixe...

Steve Stevens surge nas faixas “Too Much Fun” e “John Wayne” (essa é ótima, uma semi-balada que homenageia um dos maiores cowboys do cinema). A pop-punk “Wildside” tem a participação de Joan Jett, e mais uma vez o que poderia ser uma puta faixa, acaba em decepção, apesar do lindo solo de Steve Stevens. “I´m Your Hero “ é uma faixa legalzinha.

Por fim, a melhor faixa, que está muito acima das demais, que foi lançada como single, ”Still Dancing” fecha o trabalho. Creio que esta faixa deve ser o maior motivo da minha frustração, pois quando a ouvi pensei que teríamos um ótimo trabalho. Ao contrário disso, ao terminar a audição, tive a impressão de ter ouvido alguma bandinha metida a punk e que não chegou a lugar nenhum. Totalmente dispensável, a não ser por “Still Dancing”...

José Henrique Godoy




PAIN - DANCING WITH THE DEAD (2005/2025) - RELANÇAMENTO

 


PAIN
DANCING WITH THE DEAD
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2005, “Dancing with the Dead” marcou o momento em que o Pain atingiu seu ponto mais profundo e refinado até então. Naqueles anos, Peter Tägtgren parecia incansável - entre turnês e álbuns com o Hypocrisy e o crescimento constante do Pain, ele vivia num ciclo criativo que beirava o sobre-humano. Foi justamente nessa época que vi pela primeira vez alguém usar o termo workaholic para descrevê-lo, e fazia todo o sentido: o cara simplesmente não parava.

Depois do impacto de “Nothing Remains the Same” em 2002 - o disco que realmente colocou o Pain no radar, com sua fusão certeira de peso industrial, melodia sombria e refrães grudentos - o desafio era manter a pegada sem soar repetitivo. E Tägtgren não só conseguiu, como foi além. Mergulhou fundo em uma experiência pessoal (uma parada cardíaca que o deixou clinicamente morto por dois minutos) e transformou isso em combustível emocional para um dos álbuns mais intensos de sua carreira.

Se o antecessor exalava raiva, sarcasmo e crítica à alienação moderna, “Dancing with the Dead” mostra Peter exorcizando os próprios fantasmas em pleno estúdio. A dor e a luta agora são internas. Logo de cara, “Same Old Song” mostra a que veio: batida eletrônica contagiante, guitarra pesada e uma melodia dark que gruda na cabeça. É o tipo de música que nasceu para ser hino - e não à toa se tornou um dos maiores sucessos do Pain. “Nothing” e “Bye/Die” seguem na mesma linha, misturando peso e melancolia com precisão cirúrgica.

A faixa-título é talvez o momento mais atmosférico do disco. Carregada de tensão, cria uma sensação quase épica - como se estivéssemos flutuando entre dois mundos. É sombria, elegante e estranhamente hipnótica. A produção é impecável: moderna, pesada, clara e cheia de camadas, dando uma enorme amplitude ao som.

O mais impressionante é que, mesmo com esse tom mais emocional, o álbum não perde força. Ele é direto, dançante e envolvente. “Dancing with the Dead” é a consolidação da identidade do Pain - mais maduro, mais intenso e mais elétrico.

Peter Tägtgren não precisou berrar nem apelar para extremos: transformou uma experiência de quase morte em um álbum cheio de vida. E isso, por si só, já faz deste um dos grandes momentos do metal industrial.

William Ribas




PAIN - NOTHING REMAINS THE SAME (2002/2025) - RELANÇAMENTO

 


PAIN
NOTHING REMAINS THE SAME
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2002, “Nothing Remains the Same” é o momento em que o Pain deixa de ser apenas um experimento de Peter Tägtgren e se transforma, de fato, em uma entidade própria - viva, dançante e cheia de atitude. Depois de dois álbuns em que ainda faltava uma identidade definida ao projeto, esse disco chega como um soco bem dado. O título já entrega o espírito: Não resta mais nada como antes.

Desde a primeira batida de “It’s Only Them”, já dá pra sentir a virada. A guitarra é seca, o ritmo é marcial, os teclados criam um clima quase paranoico - e aí entra a voz de Tägtgren, carregada de raiva. O refrão explode como um alerta: essa fase do Pain é para ser festejada, na pista. Mas é com “Shut Your Mouth” que o álbum realmente vira a chave. Um verdadeiro hino da revolta moderna, com riff grudento, batida eletrônica hipnótica e uma letra que, entre ironia e desabafo, gruda na cabeça. É o tipo de música que você ouve uma vez e já sai cantando sem perceber.

O mais legal é como o disco mantém o nível alto. “Just Hate Me” tem um clima melancólico irresistível - quase uma balada obscura, mas sem perder o peso. “Fade Away” é carregada de sintetizadores, revelando o lado emocional que Tägtgren passa a explorar com mais força aqui. Já “Save Me” vem como uma pancada eletrônica, agressiva e direta, perfeita para pistas sombrias ou para momentos de fúria silenciosa.

A grande sacada de “Nothing Remains the Same” é esse equilíbrio entre ser acessível e nebuloso. As músicas têm refrãos fortes, são cheias de ganchos e funcionam muito bem. O som é industrial, sim, mas é sombrio; é pop, mas jamais sem soar agressivo. A produção é de altíssimo nível, como se espera de Peter Tägtgren, e tudo soa limpo, poderoso e bem amarrado.

É um disco que convida à repetição - não só pela qualidade das composições, mas porque traduz perfeitamente o sentimento de frustração e desconexão de uma geração inteira. Cada faixa tem sua personalidade, seu impacto, seu lugar.

Nothing Remains the Same” é Peter Tägtgren do avesso - pesado, sem precisar urrar.

William Ribas




CANDLEMASS - CANDLEMASS (2005/2025) - RELANÇAMENTO

 


CANDLEMASS
CANDLEMASS
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O álbum Candlemass, lançado em 2005, é simplesmente um monumento do doom metal - uma obra que carrega o peso clássico da banda, mas que soa viva, intensa e até inovadora. É o quinto e último disco de estúdio com a formação clássica reunida, e você sente isso em cada nota.

A abertura com "Black Dwarf" já chega como um trovão - o riff principal é puro Candlemass: pesado, lento, ameaçador, mas com uma leve veia quase hard/heavy em alguns momentos. Messiah canta como um profeta enlouquecido, sobre guitarras que parecem arrancadas do fim do mundo. "Seven Silver Keys" diminui o passo e mergulha ainda mais fundo no doom puro, aquele tipo de som que parece fazer o tempo parar.

Cada música é uma pancada emocional. "Assassin of the Light" é outra joia, uma montanha-russa de riffs e melodias que fazem você querer erguer os punhos para o céu cinzento. "Copernicus" é hipnótica e pesada - um verdadeiro hino oculto. "The Man Who Fell from the Sky", um instrumental poderoso, mostra como a banda é monstruosa mesmo sem precisar de palavras.

O auge dramático talvez esteja em faixas como "Witches" e "Born in a Tank" - momentos em que a banda parece exorcizar todo o peso de duas vidas. Não é um álbum rápido (óbvio), mas também não é sufocante: é pesado, sim, mas dentro dele pulsa uma beleza sombria — como um amanhecer de inverno, com o ar gelado e o sol mal se erguendo no horizonte.

O impacto foi tão grande que o álbum rendeu ao Candlemass o prêmio Grammy sueco. A vitória impulsionou uma turnê pela Europa e América do Sul, incluindo a tão esperada primeira vez da banda no Brasil em 2006.

Agora, em uma celebração merecida, o disco está sendo relançado pela Shinigami Records, em parceria com a Nuclear Blast, permitindo que uma nova geração descubra (ou redescubra) esse trabalho.

O auto-intitulado é, acima de tudo, um disco de paixão visceral. Cada faixa soa como se a banda soubesse que estava capturando algo mágico e único - uma despedida da formação clássica digna dos deuses do doom, uma carta de amor ao metal melancólico e monumental que só o Candlemass sabe (e pode) fazer.

William Ribas




HYPOCRISY - THE ARRIVAL (2004/2025) - RELANÇAMENTO

 


HYPOCRISY
THE ARRIVAL
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

Após o controverso “The Catch 22”, o Hypocrisy tinha dois caminhos: voltar ao passado ou seguir viagem na polêmica de seu trabalho anterior. Pois bem, Peter Tägtgren (vocal e guitarra), Andreas Holma (guitarra), Mikael Hedlund (baixo) e Lars Szöke (bateria) escolheram o óbvio - o death metal.

The Arrival” ainda mantém alguns resquícios de seu antecessor, mas agradou em cheio ao público com seus vários elementos de metal extremo. O álbum contém influências claras de death metal, black metal e doom metal. A abertura com “Born Dead Buried Alive” e “Eraser” deixa claro que estamos diante de um trabalho que elevaria a régua em termos de qualidade de composição, graças a um tracklist forte, mas ainda assim relativamente "comercial" (ou de fácil absorção).

O vocal "à la black metal", assustador e potente de Peter, faz toda a diferença. A cada linha, em cada faixa, sentimos o desespero sendo “cuspido” nas estrofes - caótico e denso. “Slaves to the Parasites” e “Dead Sky Dawning” trazem mais melodias nas passagens de guitarra, mas a agressividade se mantém como fonte primária. Falando em agressividade, o que dizer de “New World” e “War Within”? Brutais a ponto de jorrar sangue pelos olhos e ouvidos.

Mas os maiores destaques ficam para “The Abyss” e “Departure”. A dupla é ampla, com instrumentais carregados, lentos, lamacentos e um belo clima atmosférico - um passo digno dos grandes nomes do doom metal.

The Arrival” foi a volta triunfal do Hypocrisy - na época extremamente comentada e comemorada e, hoje, ainda um dos grandes destaques na extensa discografia dos suecos.

William Ribas




GHOST - SKELETÁ (2025)

 


GHOST
SKELETÁ
Concord Music/ Loma Vista - Importado

Falar sobre o GHOST não é uma tarefa fácil. Banda amada por muitos e odiada por tantos outros, o grupo (ou o projeto musical de Tobias Forge), chega agora ao seu 6º álbum de estúdio, resgatando de certa forma, um pouco daquilo que a banda fazia em "Opus Eponymous" (2010) e "Meliora" (2015). Em tempos de Conclave (nos cinemas e na vida real), o grupo agora é liderado pelo Papa V Perpétua. Como todos sabemos, os nomes mudam, mas a qualidade e capacidade de criação de seu mentor continuam acima da média, ainda que algumas escorregadas tenham acontecido nesse percurso ("Prequelle", lançado em 2018). SKELETÁ mostra um grupo que incorpora climas mais densos, pesados e soturnos, mesclados ao mesmo tempo com passagens que nos remetem ao pop dos anos 80, bem como ao Heavy Metal da melhor década do estilo. 

O já citado Papa V Perpétua, seguido pelos seus Nameless Ghouls, nos traz um álbum característico, sem surpresas, mostrando a supracitada influência da sua estreia e do terceiro trabalho, por sinal, um voltado ao lado mais atmosférico e soturno, outro usando e abusando do peso das guitarras. Produzido por Gene Walker e mixado por Andy Wallace, SKELETÁ (derivado do grego, que além de "esqueleto", também pode significar "murcho" ou "seco"), vem com 11 faixas que navegam por climas e atmosferas introspectivos, pesados e que deixam o ouvinte mergulhado numa imensidão de sentimentos que se transformam em pessoais, tamanha a dramaticidade emprestada às composições. Volto a repetir, Aqui, o GHOST volta a ser o GHOST que moldou sua personalidade buscando sempre temas ocultos, obscuros e, principalmente, voltados a mistura de peso e melodia.

Abrindo com "Peacefield", o trabalho traz um clima introspectivo, com corais, que dá lugar aos vocais temáticos de Papa V Perpétua, recebendo o auxílio de guitarras pesadas, lembrando os momentos mais pesados de "Meliora", ainda que os elementos pop (no quesito melodia) se façam presentes. Uma abertura bem pensada e que nos prepara "Lachryma", pesada e forte, totalmente ligada aos momentos mais ligados ao heavy metal do grupo. Outra vez, a genialidade de Tobias Forge em criar uma linha tênue entre peso e melodia se mostra muito mais do que eficiente, pois os riffs de guitarra aqui se destacam de forma concisa. Já "Satanized", por sua vez, traz uma cozinha focada em criar bases técnicas e pesadas, liberando a possibilidade das melodias se tornarem a parte dominante da composição. Apesar do nome, a faixa possui um certo apelo pop. algo bastante característico ao grupo. No entanto, os solos de guitarra buscam um meio termo entre o metal mais pesado e linhas mais melódicas. Mas chega um momento que se mostra um dos destaques, senão o maior, de SKELETÁ: "Guiding Lights". Uma composição intimista, repleta de sentimento, onde a capacidade criativa de Tobias extrapola as vertentes do pop, criando uma atmosfera simples e ao mesmo tempo, intensa e emotiva. Que bela composição!  "De Profundis Borealis", é voltado a um clima hard/heavy, com passagens de teclado no refrão que ensejam possibilidades de novas perspectivas ao "pop disfarçado" do grupo.

A veia pop/rock oitentista ressurge em "Cenotaph", com vocais em coro que criam um brilho diferente à faixa. As guitarras novamente mostram serviço com uma pegada mais Hard, sem interferir na proposta inicial da composição. "Missila Amori" propõe peso e melodias contratando de forma fácil no decorrer de sua execução enquanto "Marks of the Evil One" é uma daquelas faixas que se a gente lê o título, imagina que vem uma chuva de guitarras e vocais guturais, no entanto, temos aqui mais uma vez o bom e "velho" GHOST, despejando mais uma faixa totalmente "ghostniana", carregada de influências gothic pop dos anos 80 (The Mission, The Sisters of Mercy, entre outros). "Umbra" é outro ótimo momento, pois começa num clima um tanto quanto "new age" e descamba pra um belo heavy/rock, com uma pegada bem trabalhada de guitarras e vocais soturnos. O encerramento vem com "Excelsis", que fecha o trabalho de maneira envolvente, com passagens climáticas, e por vezes, "orbitais" (não achei palavra que definisse de outra forma).

Muito tem se falado que SKELETÁ é um álbum fraco, que decepcionou os fãs, que não entrega tudo aquilo que a banda pode oferecer e que não pode ser comparado aos primeiros trabalhos do GHOST. Das duas uma: ou quem disse isso não conhece a sonoridade da banda, ou, a hipótese mais provável, quer criar discussões, fazer valer sua opinião e mostrar que está tentando se tornar um novo Régis Tadeu. Menos, meus amigos, menos. SKELETÁ é um belo trabalho de um grupo que não está nem aí pra sua opinião. E nem pra minha. No entanto, eu pelo menos, ouvi o disco e conhece a trajetória da banda...

Sergiomar Menezes






segunda-feira, 28 de abril de 2025

BLEED FROM WITHIN - ZENITH (2025)

 


BLEED FROM WITHIN
ZENITH
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

O Bleed from Within não veio pra brincar em “Zenith” — eles vieram pra cravar o nome ainda mais fundo na história do metal moderno. Chegando no mercado nacional em parceria entre a Shinigami Records e Nuclear Blast, o álbum é uma verdadeira explosão de peso, técnica e emoção, daqueles que já no primeiro play fazem você pensar: “Ok, isso aqui é especial”. Logo de cara, “Violent Nature” te atropela como uma locomotiva desgovernada, mostrando que a banda está afiada, e mesmo fazendo turnês com grandes nomes, recebendo elogios, ainda existe “fome” dentro deles.

A cada faixa, o álbum vai construindo uma muralha sonora impressionante. E quando você acha que já entendeu o jogo, eles vêm com “In Place Of Your Halo”, misturando gaitas de fole com um “breakdown” pesado de fazer o chão tremer. É uma celebração das raízes, um soco no estômago e um abraço ao mesmo tempo — corajoso e emocionante. Essa ousadia “rodeia” por todo tracklist. Os riffs insanos, grooves de fazer bater cabeça até cair os miolos e refrões que grudam como tatuagem.

O vocalista Scott Kennedy canta como se estivesse cuspindo fogo, variando entre berros animalescos e melodias rasgadas que transbordam sentimento. E não dá pra falar de “Zenith” sem destacar as participações de peso de Brann Dailor (Mastodon), em “Immortal Desire”, e Josh Middleton (Sylosis), em “Hands of Sin”. É como se cada convidado tivesse entrado no campo de batalha pra elevar ainda mais a intensidade do álbum.

A produção é absurda. Tudo soa gigante: bateria martelando o peito, guitarras cortando o ar como lâminas, baixo pulsando nas entranhas. Cada detalhe brilha na medida certa, deixando o som limpo sem tirar a brutalidade. Eles não estão apenas no topo — eles construíram a própria montanha e estão gritando de lá de cima pra todo mundo ouvir, sendo um dos grandes exemplos a avassaladora “Known by No Name”, que mostra como há beleza no meio do caos.

A mistura de partes orquestradas, corais e a insanidade do instrumental e vocal revelam o quanto o quinteto estava inspirado e confiante no momento de composição do trabalho. E então chega “Edge of Infinity”, o grande encerramento: A música começa como nascer do dia de guerra, tranquila e carregada de uma explosão controlada de fúria e esperança. Aqui, o peso dá espaço à emoção, como se a banda entregasse, de peito aberto, tudo aquilo que ainda carregava.

Zenith” não termina. Ele ecoa como um grito de liberdade e dor na escuridão. Um trabalho que não ficará preso no presente (2025), ele coloca o Bleed From Within mais forte do que nunca para o futuro, mostrando que vão muito além do tal metalcore.

William Ribas




SCOUR - GOLD (2025)

 


SCOUR
GOLD
Shinigami Records/ Nuclear Blast - Nacional

O Scour chegou com tudo em “Gold” e, sinceramente, chutou a porta do black metal moderno. Depois de anos lançando EPs matadores (“Grey”, “Red” e “Black”), Phil Anselmo e companhia resolveram despejar toda a fúria acumulada em um álbum completo — e o resultado é simplesmente devastador. Uma verdadeira aula de brutalidade, misturando o veneno do black metal noventista com a sujeira do grindcore e aquela pegada ríspida do thrash. Nada aqui é domesticado: a produção é cristalina sem perder o peso absurdo, cada riff parece querer arrancar a sua cabeça fora, e a bateria de Adam Jarvis é uma avalanche impossível de segurar.

O disco abre com a insana "Cross", e não desacelera nem por um segundo. Desde os primeiros acordes, o ouvinte é lançado em um redemoinho agressivo e impiedoso, uma bateria que mais parece uma máquina de guerra e vocais que exalam ódio e desespero. Phil Anselmo entrega uma performance monstruosa, misturando urros viscerais e gritos que soam como se estivessem rasgando a carne. Aliás , a banda inteira soa como uma entidade faminta: John Jarvis no baixo, Mark Kloeppel e Derek Engemann nas guitarras constroem uma muralha sonora e destroem qualquer possibilidade de calmaria.

A sequência das faixas é um ataque ininterrupto. "Blades" e "Infusorium" são pancadas secas, afiadas como navalhas, e "Coin", que ainda conta com a participação de Gary Holt (Exodus), transborda ódio e solos cortantes. A música arrasta, grita, sangra, mas sem jamais perder o controle. Tudo é muito bem amarrado: “Gold” é caótico na energia jorrando toneladas de metal pesado sobre os fãs.

As letras mergulham no horror mais sufocante, claramente inspiradas por contos macabros, criando uma atmosfera de desolação e insanidade que vai além da música — é quase uma dor física. O disco constrói um ambiente sombrio que parece se infiltrar em cada canto, como uma névoa negra e sufocante, dominando tudo ao redor enquanto o tracklist avança.

Musicalmente, “Gold” reverencia as raízes do black metal, mas sem soar datado ou caricato. Há ecos evidentes de Satyricon e Darkthrone, por exemplo, mas sempre misturados a outros elementos da música extrema, trazendo um frescor agressivo e urgente que evita qualquer traço de nostalgia vazia. Cada uma das 13 faixas é uma explosão, como gasolina jogada na fogueira, incendiando tudo com uma violência que soa tão viva quanto necessária — um disco feito para quem quer ser esmagado pela música e, mesmo assim, levantar sorrindo, pedindo mais.

William Ribas




sexta-feira, 25 de abril de 2025

INCITE - SAVAGE NEW TIMES (2025)

 


INCITE
SAVAGE NEW TIMES
REIGNING PHOENIX MUSIC - Internacional 

O sobrenome Cavalera carrega um peso quase mítico no mundo do metal - não importa quem o carrega ou onde ele apareça, sempre chama atenção. O fascínio que a comunidade do metal tem por tudo que envolve Max Cavalera é algo extraordinário. Pode ser filho, sobrinho, neto ou bisneto: se tem o sangue (ou mesmo a conexão) Cavalera, a galera para pra ouvir.

No caso do Incite, a responsabilidade é grande - mas a entrega é ainda maior. Liderado por Richie Cavalera, enteado de Max, o grupo segue com fidelidade e intensidade os caminhos agressivos traçados por seu padrasto. E o novo lançamento, “Savage New Times”, deixa claro que a lição foi aprendida com louvor - Nunca tire a distorção da guitarra, jamais perca a brutalidade de vista e tenha o groove na manga.

“Lies” abre o disco de maneira primorosa - pesada, alternando entre momentos velozes e cadenciados, com Richie gritando o título da faixa como se não houvesse amanhã no refrão. “Feel This Shit (I'm Fired UP)”, “Just a Rat” e “Doubts and the Fear” exploram um lado mais moderno da banda, lembrando inclusive trechos do álbum “3”, do Soulfly. A última dessas, aliás, apresenta uma energia única, com uma quebra surpreendente no meio trazendo um belo dedilhado.

“Dolores” é um dos pontos altos. Seu instrumental carrega uma carga emocional evidente, com uma rítmica mais lenta que ganha força nos refrãos, soando bastante cativante. O trabalho em si é cheio desses "nós" soltos — há agressividade por todos os lados, mas nunca presa a uma única fórmula. Pelo contrário: trata-se de um disco dinâmico, que agradará fãs de bandas que vão de Gojira e Machine Head (nos seus bons momentos) até Carcass ou Arch Enemy.

“Used and Abused” vem com belíssimos blast beats em um momento denso, seguido por “Never Die Once”, mais arrastada e pesadíssima, preparando o terreno para a faixa-título, que fecha o disco do mesmo jeito que ele começou: brutal, brutal e brutal. Obviamente, o mérito não é só de Richie Cavalera. Layne Richardson (guitarra), EL (baixo) e Lennon Lopez (bateria) são exímios em seus instrumentos, dando ao vocalista toda a base e liberdade para brilhar em suas interpretações.

Savage New Times” tem tudo para agradar gregos e troianos - do velho reclamão ao marinheiro de primeira viagem. Se você curte agressividade com pegada moderna e peso de sobra, aqui está uma audição poderosa e empolgante.

William Ribas




MACHINE HEAD - UNATØNED (2025)

 


MACHINE HEAD
UNATØNED
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Existem bandas que repousam sobre os louros do passado - grupos que lançaram álbuns lendários há 20, 30 anos e permaneceram ali, presos ao próprio legado. E existem artistas como Robb Flynn, do Machine Head. O carismático líder da banda jamais poderá ser acusado de comodismo. Seu verdadeiro nome bem poderia ser “metamorfose ambulante”, tamanha a inquietude criativa que carrega desde “Burn My Eyes”. A cada novo lançamento do Machine Head, somos surpreendidos. Flynn parece impulsionado por uma força insaciável, como se a mente por trás da máquina jamais encontrasse descanso.

Unatøned”, o novo álbum da banda comprova isso mais uma vez. Tudo o que já vimos - o thrash agressivo, a pegada moderna dos anos 90, ou ainda a grandiosidade de “The Blackening” - agora é revisitado sob uma nova ótica. Uma nova história se reescrevendo, rompendo com fórmulas, apagando linhas e rabiscando outras tantas.

Um disco que é brutal, denso, ou tenso e cortante - exatamente como esperamos. Mas também há novidade, e isso não significa que serão boas. Entre as camadas espessas de guitarras, surgem texturas industriais que remontam à época em que o metal flertava com o caos digital. Gritos, urros caminhando numa linha tênue com passagens limpas, melódicas e faladas. “Landscape Øf Thørns”, uma simples e rápida intro, abre espaço para as agressivas “Atømic Revelatiøns” e “Unbøund” , que mostram de cara a qualidade dos estreantes Matt Alston (Bateria) e Reece Scruggs (Guitarra), ambos esbanjam desenvoltura e brutalidade logo de cara.

O início agressivo parece servir como trampolim - Um impulso para “Øutsider”, que serve como ponte entre as entranhas “discograficas” da banda. Sombria e pesada, caindo para camadas mais leves e cativantes no refrão, uma verdadeira gangorra pesada. Uma tentativa ousada e consciente de dialogar com novos fãs, e segue assim com “Nøt Løng For This Wørld”, a voz limpa contrastando com gritos de Robb são o ponto forte.

Há momentos de “deja vu”, grandes peças dentro do tracklist que trazem a lembrança do álbum “Catharsis”, um soco violento no estômago, com um lado mais “pula pula”, exemplo, “These Scar Wøn't Define Us”. Ao decorrer da audição é perceptível uma certa “mania” nesse álbum - pé no acelerador, depois no freio para logo em seguida voltar a pisar fundo novamente. Quase todas as faixas mais “porradas” em certos momentos caem para algo mais melódico no seu refrão, com pianos de fundo, muitas vezes estamos mais próximos de um grupo de metalcore do que thrash/groove metal do passado.

Ficou ruim? Não, mas às vezes perde o elemento surpresa, e há até quem possa torcer o nariz para essas escolhas estéticas. Faixas como “Bønescraper” e “Addicited Tø Pain” são mutantes, não param numa simples rítmica, dão dinamismo, são amplas fugindo do óbvio, aliás, o álbum por um todo foi feito para incendiar nos shows, e eu não estranharia se o grupo tocasse ele por completo na turnê.

“Bleeding Me Dry”, “Shards Øf Shattered Dreams” e “Scørns” dão números finais a um trabalho intenso, de grandes emoções, que não é fácil de digerir. Afinal, o Machine Head não quer apenas sobreviver com o lançamento de “Unatøned”. Num cenário onde tantas bandas se repetem, Robb Flynn ainda prefere o risco - entregando sempre uma nova transformação.

Porém, vale o livre arbítrio do fã embarcar nesse trem e pular na próxima estação ou, seguir viagem.

William Ribas




Márcio Duarte, baterista da TUMULTO, compartilha diagnóstico e decisão sobre tratamento: “Vamos vencer mais uma batalha”


O músico Márcio Duarte comunicou recentemente, com coragem e serenidade, o diagnóstico de um novo câncer localizado no fêmur. Trata-se de um caso distinto do câncer enfrentado por ele há 17 anos, o que, segundo o próprio artista, “é uma boa notícia dentro do cenário atual”.

Após a confirmação por meio de exames e a devida avaliação médica, foi decidido que o primeiro passo do tratamento será a amputação da perna esquerda. A decisão foi recebida com tranquilidade pelo artista, que afirma: “Essa perna me dá muitas dores e limitações há anos. Com isso, vou recuperar uma qualidade de vida que não tenho há muito tempo.”

Sempre otimista e fiel à sua paixão pela música, Márcio reforça que esse momento não marca uma pausa, mas uma nova fase: “Quem é do Rock, fiquem tranquilos! Logo estarei nos palcos novamente. Já estou até pensando em usar aquele pedal que faz bumbo duplo com apenas um pé”, brinca, demonstrando sua energia contagiante.

Em sua mensagem, o baterista também destacou a importância das pessoas que o cercam: “Divido isso com vocês porque cada um tem um papel fundamental na minha vida. Só quero boas energias, que é o que vocês sempre me enviam.”

Com fé, humor e o espírito de luta que o público já conhece, Márcio encerra com uma certeza: “Vamos vencer mais uma batalha, e logo estarei com todos vocês.”

Toda força e sorte ao nosso querido amigo Márcio!

quinta-feira, 24 de abril de 2025

SLEEK - STILL HURTS (2025)

 


SLEEK
STILL HURTS
Good Time Music - Importado

Algumas vezes, a gente abre a caixa de e-mail e se depara com surpresas. Pra falar a verdade, na maioria das vezes, elas surgem pelo lado negativo. Mas dessa vez me deparei com esse lançamento enviado pela C.S. Management & Promotions: SLEEK, banda grega criada em 2021, praticante de um Melodic Hard Rock interessante e que em seu álbum de estreia STILL HURTS, mostra que tem um bom potencial a ser explorado. O sexteto investe em melodias eficientes e guitarras que se encaixam de forma correta, dosando momentos mais pesados (obviamente, não espera encontrar lampejos de Pantera, Sepultura ou afins) que fazem com que as harmonias criadas tenham uma pegada mais atual sem soar forçado. Se você curte bandas que praticam aquela Hard/AOR com pegada anos 80, o grupo pode te agradar de forma bem satisfatória.

Joseph Agnostou (vocal), Nikos Efetzis (guitarra/backing vocal), Giorgos Kontogiannis (guitarra/backing vocal), Alkis Rigopoulos (baixo/backing vocal), Grigoris Sandalidis (piano/teclado) e Vaggelis Diplarakos (bateria) formam o SLEEK e trazem 09 faixas com produção cristalina, onde tudo ficou em seu lugar (por vezes, até demais), e ganha destaque a boa postura vocal de Joseph, pois seu timbre fica no meio do caminho entre o melódico e o mais rasgado (em algumas passagens) e as guitarras da dupla Nikos e Giorgos se sobressaem, criando o citado "peso". Com isso, podemos afirmar que o trabalho merece o apreço pelos fãs do estilo, pois as características que o envolvem são trazidas pelo sexteto de maneira correta e harmoniosa. Merece destaque a capa do álbum, uma vez que nos remete àqueles seriados dos anos 80 que se passavam na Califórnia... Bons tempos!

O trabalho abre com a faixa título, com aquela pegada Hard/AOR típica, trazendo um belo trabalho de guitarras. Dona de um refrão que gruda na cabeça, a composição traz solos técnico e melódicos, empenhando muita qualidade à execução. Um pouco pesada, "Tell Me" vem com mais guitarras e riffs hard/heavy, destacando também o bom entrosamento da dupla Alkis e Grigoris (baixo e bateria, respectivamente) que empresta à faixa uma base intensa, enquanto Nikos nos apresenta mais um belo solo. Por sua vez, "Gold" começa com uma linha de baixo mais destacada e nos traz momentos mais suaves, mostrando que apesar de pouco tempo de estrada, a versatilidade do grupo em termos de composição é bem presente. "Empty", começa como uma bonita balada e assim se mantém até metade de sua execução, quando ganha mais intensidade uma veia mais Hard Roc (talvez, a maior do álbum). Com certeza, um dos destaques do trabalho!

"Heavenly Skies" continua a viagem pelos caminhos do Hard/AOR, novamente sendo guiadas pelas linhas de guitarra, onde o tecladista Vaggelis aparece de forma bastante discreta. Se "Empty" soava como uma balada, "Friends" se encarrega melhor desse título, com uma bela melodia. Assim como "Snowstorm", que traz apenas voz e violão, totalmente acústica e com uma ótima performance de Joseph. O clima segue o mesmo em "Another Lie", mas dessa vez, temos a participação da banda de forma completa. O álbum se encerra com " A Life in Chains", totalmente rock n' roll, cheia de guitarras e energia, fechando o trabalho com uma ótima vibração, contrastando com a suavidade que vinha se mantendo anteriormente. ótima faixa e um dos destaques de STILL HURTS.

De forma geral, STILL HURTS é um trabalho na média, com destaque para as guitarras, mas que traz uma ótima perspectiva sobre o que o SLEEK pode vir a apresentar logo em seguida. Com apenas três anos de carreira, o grupo soube o momento certo de entrar no estúdio e apresentar seu cartão de visitas. Nos resta esperar e comprovar se isso se confirmará. Entretanto, se você curte o Hard/AOR dos anos 80 com uma sonoridade mais atual, vá sem medo!

Sergiomar Menezes









FABULOUS DESASTER - CRUCIFY THIS (2025)

 


FABULOUS DESASTER
CRUCIFY THIS
MDS Records - Importado

Os alemães do Fabulous Desaster estão de volta com seu terceiro trabalho de estúdio, Crucify This. Para os fãs de longa data, não há surpresa: a banda continua afiada na sua missão de moer ossos com composições brutais. Já os marinheiros de primeira viagem não precisam ir muito longe para entender o que vem pela frente - o próprio nome do quarteto entrega o jogo: thrash metal na veia, reverência explícita aos mestres do gênero e uma promessa de 45 minutos de destruição sonora.

Formado por Jan (voz e guitarra), Mathes (guitarra), Andi (voz e baixo) e Luke (bateria), o grupo não deixa pedra sobre pedra. Seu thrash vem direto da fonte de Gary Holt e companhia - o Exodus é claramente o farol sonoro da banda. Mas que fique claro: não se trata de um grupo “cover”. O Fabulous Desaster sabe dosar suas influências com identidade própria, e isso se reflete nas 11 faixas do disco, onde até mesmo momentos mais melódicos encontram espaço na sinfonia do mosh.

A abertura com “Menace to Sobriety” surpreende com uma introdução calma e bela, marcada por duetos de guitarra que evocam Judas Priest e Iron Maiden, o prelúdio perfeito para o caos.

E quando “Misanthropolis” dispara, rompendo a velocidade da luz, aí sim o bicho pega: cadeira, mesa, cama, televisão - tudo voa. A “rifferama” é infernal, e Jan comanda a destruição com vocais cheios de fúria. O comparativo com Steve "Zetro" Souza, é inevitável - o timbre é tão semelhante que chega a ser assustador. Os primeiros segundos de “Trenchmouth” são totalmente alucinantes e mantêm a música em alta rotação, com um refrão gritado de forma enlouquecida que prepara o terreno para a maravilhosa “Coffin Dwellers”. Essa sequência já valeria o disco - uma dobradinha que certamente vai deixar muito thrasher com torcicolo, tamanha a ignorância sonora despejada nos nossos tímpanos.

A faixa-título, “Crucify This”, é a minha favorita. Cada nota aqui é de precisão ímpar - riffs marcantes e sujos alinhados com um baixo pulsante e cada “martelada” de bateria (que certamente foi trocada depois da gravação, de tanto apanhar). O resultado são espasmos de brutalidade. E a letra? Impossível tirar da cabeça:

Never have I ever rigged the law for my own needs.
Nor never have I ever raised taxes for deceit.
Never have I ever glorified my own greed.

Os caras estavam inspirados, e isso dá pra sentir toda vez que o play é acionado. “Crucify This” é um passo adiante dentro da discografia do grupo - possivelmente, a tão esperada virada de chave rumo a mais visibilidade e reconhecimento entre os thrashers de plantão.

“Rip It Up” poderia ter sido retirada de Bonded by Blood - pisaram no acelerador, e a faixa não para até atingir os 180 km/h, deixando um rastro de poeira seguido pelas hipnóticas “A Hard Day's Fight” e “May Your Mother Wear Black”. “Ten Year Chaos” ganha um tom mais festivo, digamos, mais solto - obviamente sem perder o riff como carro-chefe. O álbum se encerra com a dupla “Before the War” e “Trapped in the Dark”.

Ouvindo e ouvindo, é como se fôssemos jogados na Bay Area dos anos 80. É possível notar a grande homenagem a discos como Kill 'Em All, Killing Is My Business..., Hell Awaits, Pleasures of the Flesh e tantos outros daquela época. Crucify This é o trabalho perfeito de um grupo que pisa fundo numa viagem “de volta ao passado”.

Um fabuloso ataque sonoro - Ouça!

William Ribas




DIMMU BORGIR - ENTHRONE DARKNESS TRIUMPHANT - DELUXE EDITION (1997/2025)

 


DIMMU BORGIR
ENTHRONE DARKNESS TRIUMPHANT - DELUXE EDITION
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional 

A segunda geração de bandas norueguesas de black metal estava muito ligada às origens do estilo praticado no país, seus primeiros álbuns tinham uma sonoridade mais crua, mais densa, cheio de climas envolventes de teclado durante a execução das músicas. O Dimmu Borgir não era exceção, cantando inclusive em norueguês nos álbuns antecessores à este Enthrone Darkness Triumphant, que saiu da escuridão norueguesa em 1997 e agora é relançado no Brasil numa edição deluxe com faixa bônus. Esse álbum marca um divisor de águas gigantesco na carreira dos “garotos” de Oslo, que mudam seus conceitos tanto na forma lírica, abordando mais profundamente temas como satanismo e ocultismo, passando a escrever suas letras em inglês, quanto na forma musical, mantendo todos os elementos de black metal primitivo, mas indo muito além, acrescentando muito mais trabalhos de guitarras e incorporando uma dinâmica mais de metal extremo contemporâneo tanto nos andamentos quanto nos arranjos muito mais elaborados e de um bom gosto e originalidade até então não praticados por nenhum conterrâneo. Enthrone Darkness Triumphant se consolida como um dos pilares do black metal mundial passando a figurar facilmente num top 10 do estilo, tamanho é seu brilhantismo e sua inspiração.

Iniciamos o álbum com "Mourning Palace", um dos clássicos absolutos da banda e que figura até hoje no set lista executado ao vivo, já de cara nota-se a diferença na produção, no que diz respeito aos timbres, se compararmos aos 2 trabalhos anteriores. Talvez a produção no renomado Abyss estúdio tenha dado a tônica de como o Dimmu Borgir passaria a soar nos próximos anos, e a produção aqui creditada a própria banda, explica também porque o som não saiu igual a todos os outros que saíram do Abyss estúdio quando tinham a produção assinada pelo lendário produtor Peter Tägtgren. Provavelmente, a banda tenha acertado finalmente como deveria soar, e isto está claro aqui na faixa de abertura que inicia com um teclado soturno e logo adentra a um riff de guitarra poderoso com uma bateria cheia de variações. Incrível como a junção de melodia e agressividade aqui se mostra totalmente eficaz e a música mantém uma incrível linha como de introdução, clímax e desenvolver pro final com arranjos perfeitos desembocando no primeiro blast beat acertado do baterista Tjodalv. A próxima é "Spellbound (by the Devil)" mantendo o mesmíssimo estilo da anterior. Essa comparação será notada ao longo de todo o álbum, mostrando como o trabalho é coeso e ligado musicalmente entre si. A banda executa sua música transitando por vários estilos diferentes, mostrando a versatilidade que estaria incorporada a partir daqui nos próximos trabalhos. Em "In Death’s Embrace" seguimos com inspiração máxima, os teclados de Stian Aarstad são usados de forma cirúrgica e sem aquele excesso de outrora, se encaixando de forma natural ao agora muito mais visível trabalho de guitarras de Silenoz. Além dos vocais sensacionais de Shagrath, apenas o baixista Nagash é novo na formação, e talvez, o entrosamento de todos tenha sido peça fundamental na concepção dessa pérola chamada Enthrone Darkness Triumphant, nome enorme com três palavras, fórmula que passaria a ser usada pela banda para nomear todos os seus próximos álbuns. "In Death’s Embrace" nos brinda com um lindo solo de guitarra antecedendo o final da música. O sonoramente renovado Dimmu Borgir inicia "Relinguishment of Spirit and Flesh" debaixo de pesada tempestade num blast beat violento e muito coeso, sendo difícil não se repetir nos adjetivos de todas as músicas do álbum, pois no tempo que as resenhas traziam notas, aqui emplacaríamos facilmente uma nota10. Dê-lhe riff inspirado e batida que nos remete instantaneamente ao headbanging com "The Night Masquerade", dois bumbos dando o norte e adentrando numa bateria cheia de variações novamente. Os vocais de Shagrath aqui soam como uma alma amaldiçoada gritando no inferno, são 10 faixas todas mantendo o mesmo nível de extremo bom gosto, e o final dessa música ainda temos o vocal feminino da norueguesa Bente Engen como convidada especial, dando um clima soturno ao corpo da música. 

A velocidade é mantida em "Tormentor of Christian Souls" com um riff principal que nos lembra o antigo Dimmu Borgir antes de seguirem novamente no novo estilo perseguido, assim como "Entrance" que mantém o mesmo nível de uma forma impressionante, não há música mediana aqui, e como já citado, os adjetivos começam a se repetir, mas aqui o trampo de teclado é impressionante ao logo dessa que soa um pouco mais cadenciada e melódica, talvez para justamente contrastar com a "Master of Disharmony" que novamente emerge com total velocidade e voracidade. "Prudence’s Fall", faixa mais rápida e "A Succubus in Rapture", dando um clima de despedida mantém o altíssimo nível desse álbum perfeito do início ao fim, selando de vez a qualidade musical e o talento e sucesso do Dimmu Borgir no cenário extremo, estabelecendo a banda em certo momento no topo do estilo a nível mundial, angariando uma nova geração de fãs que provavelmente antes deles e talvez o Cradle of Filth não participassem e somassem tanto a cena do black metal em geral. Não esqueçam do presente que a Shinigami colocou aqui nessa nova edição com a faixa bônus "Raabjorn Speiler Draugheimens Skodde" vista originalmente no álbum "For All Tide" e também já conhecida numa roupagem diferente no EP "Godless Savage Garden" de 1998, para fechar com chave negra de ouro este tão aclamado terceiro álbum dos noruegueses, que se mantém um clássico até os dias de hoje.

Márcio Jameson




quarta-feira, 23 de abril de 2025

SAVATAGE & OPETH - ESPAÇO UNIMED - 21/04/2015 - SÃO PAULO/SP

 


SAVATAGE & OPETH
ESPAÇO UNIMED
21/04/2025
SÃO PAULO/SP

Texto: William Ribas
Fotos: Reinaldo Canto / Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Sabe aquele tal de “dreams come true”? Pois é. No dia 21 de abril de 2025, eu realizei o meu.

Aquele moleque de 11 anos que conheceu o Savatage na metade dos anos 90, que preenchia todas as listas de “banda que você mais quer ver ao vivo” com o mesmo nome, finalmente viveu o dia em que esse desejo saiu do papel. O mesmo garoto que sonhou tanto, agora com 40 anos, estava lá — de olhos brilhando, alma lavada, vivendo o maior sonho em termos de shows.

E foi inesquecível.

O Espaço Unimed, em São Paulo, foi o cenário escolhido para o primeiro show completo do Savatage desde 2015. E não foi por acaso que essa volta aconteceu aqui. A resposta do público brasileiro foi absurda — não só pela energia, mas pelo carinho, pela entrega, pela forma como cada música foi cantada como se fosse a última. A sinergia entre banda e fãs foi única do começo ao fim.

Aliás, nas redondezas do Espaço Unimed era todo mundo com uma enorme ansiedade.

Dois dias antes, a apresentação no Monsters Of Rock deu o ponta pé para volta do grupo americano, mas agora seria diferente. Os donos da festa eram eles, mas não vinham sozinhos, coube ao Opeth fazer as honras.

Os suecos tinham uma missão árdua, trazer sua música mais introspectiva, cheias de mudanças instrumentais e líricas para um público que não era seu. Um público que chegou com o pé atrás e que aos poucos foi se rendendo a fusão entre o peso e melodia. A precisão técnica e parte emocional são uma das grandes forças do Opeth.

Desde da abertura com “§”, “Master's Apprentices” e “The Leper Affinity” ficou claro que era jogo de paciência, onde cada urro, ou, cada nota mais agressiva ganhava mais ponto com o público, que aos poucos começavam a gritar o nome da banda. O vocalista Mikael possui um humor mais ácido, por vezes soando divertido, por outras incompreendido

Entre músicas do novo álbum, “The Last Will And Testament” e algumas “velharias”, o grupo conseguiu passar o seu recado, principalmente em “Sorceress” e “Deliverance”.


Às 21h30 era chegado o motivo pelo qual estávamos lá — SAVATAGE!

Desde os primeiros acordes de “The Ocean” e “Welcome”, a emoção transbordava. Vieram “Jesus Saves”, “Sirens”, “Another Way”, “The Wake of Magellan”, e o repertório foi revelando um recorte amplo da história da banda — passando por todas as fases e surpreendendo com faixas menos óbvias, mas profundamente celebradas.

O peso e agressividade de “Taunting Cobra” é sempre bem vinda, com Zak e Caffery dando um show a parte. “Handful of Rain” e “Chance” são teatrais, cheias de coro. O grande positivo foi o uso dos telões, com diversas imagens que traziam mais impacto a cada música executada.

A cada nota despejada, a cada nova interação, mais o grupo tinha seus fãs ao seu lado — “This Is The Time (1990)” tem uma grandiosidade ao mesmo tempo que desfila “simplicidade”, com o refrão que se fez ser escutado por todos os cantos do local, aliás, o Savatage é mestre em criar refrãos explosivos e marcantes, víde maravilhosa “Gutter Ballet”. O teclado inicial de “Edge of Thorns” é clássico, e cada nota, cada palavra foi cantada por todos sendo um dos pontos altos da apresentação.



Só perdendo para emocional e arrepiante, “Believe”.

Quando o telão mostrou Jon Oliva em estúdio, cantando sozinho a primeira parte da música, o tempo simplesmente parou. A voz dele — marcada pelo tempo, mas cheia de alma — ecoou pelo espaço como um chamado direto ao coração de cada um ali. A banda entrou logo depois, mas a atmosfera já estava carregada de uma beleza impossível de descrever. As lágrimas foram inevitáveis. Foi um momento de comunhão entre passado, presente e futuro. Como se dissesse: "estamos todos aqui, ainda juntos, ainda vivos e ainda acreditando.

A parte do solo onde no telão foi projeto imagens de Cris Oliva foram lindas e nunca mais sairão da minha memória.

O público foi parte essencial dessa noite mágica. Gente de todos os cantos do país — e de fora também. Era possível ouvir inglês, espanhol, sotaques diversos se misturando aos coros emocionados de Savatage, Savatage, Savatage...O fechamento com “Power Of The Night” e “ The Hall Of Mountain King” foi para todos gritarem e pularem até a última gota de energia.



Sim, algumas músicas ficaram de fora. Daria pra fazer no mínimo mais dois shows sem repetir nenhuma música do setlist. Ficou o gostinho de quero mais, principalmente pela ausência de faixas de “Poets and Madmen”.

Mas ninguém saiu com vazio. Porque o que foi entregue ali foi muito mais do que música — Foi alma, memória e mostrando que algumas noites foram feitas para durar para sempre e essa, definitivamente, será eterna para todos.

Que essa volta seja duradoura, que tenhamos novo álbum, novas turnês, pois o mundo necessita do Savatage e o legado dos Oliva.

MONSTERS OF ROCK 30 ANOS - ALLIANZ PARQUE - 19/04/2025 - SÃO PAULO/SP

 


MONSTERS OF ROCK 30 ANOS

SCORPIONS
JUDAS PRIEST
EUROPE
SAVATAGE
QUEENSRYCHE

19/04/2025
ALLIANZ PARQUE - SÃO PAULO/SP

Texto: José Henrique Godoy
Fotos: Ricardo Matsukawa / Mercury Concerts

Existiu uma época, pré-internet, que para o Headbanger Brasileiro, o “streaming” era esperar tocar algum som de alguma banda nas rádios rock (poucas mas formadoras de caráter) que existiam, ou pegar uma fita K7 ou um LP de uma amigo para poder gravar. Os “sites” eram as também poucas revistas especializadas em Heavy Metal (Rock Brigade e Metal), onde podíamos ver as notícias sobre lançamentos, entrevistas e eventos, sem a agilidade que temos hoje em dia. Falamos lá dos anos 1980.

Um desses eventos que as revistas faziam a cobertura, se chamava Monsters Of Rock, que era realizado na Inglaterra, no autódromo de Castle Donnington, e era empolgante ver o que escreviam sobre os shows: Ozzy, Motorhead, Def Leppard, Whitesnake, Iron Maiden, Judas Priest , Scorpions e tantos outros. Na época era apenas um sonho muito distante poder participar de algo desta magnitude.

Estamos em abril de 2025, mais precisamente no dia 19 de abril. E neste momento, estamos comemorando trinta anos de Monsters of Rock no Brasil, com um line up arrasador: Scorpions , Judas Priest, Europe, Savatage, Qüeensryche, Opeth e Stratovarius. Sonhos se tornam realidade e o que presenciei no Allianz Parque em uma tarde/noite de sábado foi um evento extraordinário, com show tão fantásticos que até agora estou em dúvida de qual deles eu achei o melhor.


Vamos tentar contar a história então. Por motivos de gosto pessoal, entrei no estádio antes de apresentação do Queensryche, pois era a primeira banda que eu sou fã e queria muito assistir. Com todo respeito aos fãs do Stratovarius e Opeth, são duas bandas que não são do meu agrado/gosto pessoal, por tanto optei chegar depois das suas apresentações. Como o Rebel Rock não foi credenciado para o evento por parte da produção, e o texto que você está lendo é feito por um fã que pagou ingresso, desta forma, reservei o direito de relatar apenas o que tínhamos interesse de assistir, que eram as cinco bandas após o Opeth.

Eram 14h20, quando o fabuloso Queensryche adentra o palco e toma conta do público que já era numeroso. Esta é a primeira vez que a banda aporta no Brasil com o vocalista Todd La Torre. E que vocalista senhoras e senhores! Nem os saudosistas e fãs mais xiitas podem dizer que o vocalista original Geoff Tate faz falta, pois Todd canta exatamente igual (ou até mais) que Tate. Vamos ser sinceros, desde “Promised Land” (1994) o grupo não produziu nenhum álbum realmente interessante ou marcante, voltando a produzir algo realmente forte em 2013, com a estreia de La Torre em estúdio. E ao vivo, o cara destrói. Junto aos originais Michael Wilton (guitarra), Eddie Jackson (baixo) e aos mais novos Mike Stone (guitarra) e Casey Grillo (bateria), o Queensryche desfilou um set absurdo, cheio de clássicos. Da abertura com a maravilhosa “Queen of The Reich” até o fechamento com a espetacular “Eyes of The Stranger”, todas as músicas foram executadas com exatidão e precisão, com uma qualidade de som absurda. Para alguns faltaram “ Silent Lucidity” e “Jet City Woman”, mas num set com faixas como “Walk In The Shadows”, “I Don´t Believe In Love”, “Warning” , “Take Hold Of The Flame” “Screaming In Digital”, dentre outras, se o sujeito reclamar, numa boa, merece ser corrido a palavrões. Ao final de uma hora de apresentação, a banda deixa o palco sobre muitos aplausos, e uma felicidade enorme nos fãs presentes. Cheguei a pensar, o que as demais bandas vão fazer para superar esta apresentação fantástica? Mas calma, tinha mais por vir.


Após uma ágil troca de palco, o Savatage invade o palco do Monsters.. .apesar de ser fã de todas as cinco bandas, o Savatage era a banda que eu mais ansiava assistir. Por ter assistido apenas uma vez em 2001, em Porto Alegre, e após a sua total inatividade desde 2003, rompida apenas em 2015 para algumas apresentações especiais, eu acreditava nunca mais ver a banda ao vivo. Após a intro com parte de “City Beneath The Surface”, Zak Stevens (vocal), Chris Caffery e Al Pitrelli (guitarras), Johnny Lee Midleton (baixo), Jeff Plate (bateria) e com dois tecladistas convidados: Paulo Cuevas, colombiano, e o norte-americano Shawn McNair (Jon Oliva é tão foda, que precisou de dois caras para fazer o que ele magistralmente sozinho) detonam “Welcome”, com a plateia cantando em uníssono, uma excelente abertura, onde sim, todos nós recebemos as boas vindas do grupo. Em seguida o riff matador da “preferida da casa”, "Jesus Saves”. Que música e que execução! Ali o Savatage não ganhou apenas a partida, mas o campeonato inteiro.

A clássica “Handful of Rain” foi abençoada pelos deuses do Metal com uma chuva fraca, como se fosse para ilustrar a execução da música, e isso foi comentado por Zak Stevens, que aliás interagiu o tempo todo com a plateia, é um excelente frontman e além disso, mostrou que está com a sua voz em perfeitas condições, dando aula de interpretação. “Chance”, “Gutter Ballet” e “Edge of Thorns” foram executadas com maestria, sendo esta última com a “participação especial” de uma moça tresloucada, que subiu ao palco dando a impressão de não saber muito bem aonde estava. Foi conduzida pelo segurança, com todo o cuidado, para fora do recinto.

Então é chegada a hora do Savatage enfiar o dedo nos olhos dos fãs, provocando lágrimas de muitos, este que digita incluso: no telão, surge o mentor, o ausente fisicamente Jon Oliva, executando em uma gravação de estúdio, em um piano de cauda, a clássica e maravilhosa “Believe”. Sem dúvida o momento mais emocionante do festival. Após o primeiro refrão, a banda volta e segue executando a faixa, com  mais emoção na hora do solo de guitarra, onde são exibidas no telão imagens do saudoso guitarrista original Criss Oliva. Ao final, Jon Oliva “retorna” para finalizar este que foi, sem dúvida, um momento que ficará para sempre na memória de quem lá esteve presente. Com as clássicas “Sirens” e “Hall Of The Mountain King” o Savatage se despede de uma plateia em êxtase com o que acabara de assistir.



Próximo das 17h30, o telão exibe o logotipo dos suecos do Europe, e a hora do Hard Rock havia chegado! O clássica banda oitentista, conhecida pela mais que clássica “The Final Countdown”, aquela do teclado, que toca até em banheiro de rodoviária do interior, sobe ao palco com a sua formação clássica original e num arregaço despeja a sensacional “On Broken Wings”, faixa esta que é o lado B do single “Final Countdown” e infelizmente não consta em nenhum álbum da banda, exceto na coletânea “1982/1992”. Sem pausa, executam “Rock The Night”, clássico absoluto do Hard Rock dos oitenta, cantada a plenos pulmões pelo público. Joey Tempest demonstra o que todo fã já sabe: é um puta frontman, e com uma voz em plena forma, como se ainda estivesse na casa dos seus vinte e poucos anos.

John Norum? Simples: é um dos melhores guitarristas do estilo de todos os tempos, da escola Gary Moore/Michael Schenker, sem exagero algum. “Walk The Earth” faixa titulo do até então mais recente trabalho do grupo, de 2017, mostra o lado mais pesado e setentista do Europe, sonoridade que foi adotada pelo grupo após “Start From The Dark” de 2004. Seguiu-se “Scream Of Anger” se bem me lembro é a faixa mais heavy Metal da banda, lançada no segundo disco, “ Wings Of Tomorrow” de 1984. “Sign of The Times” traz ao baile algo do multiplatinado álbum “Out Of This World”, “Hold Your Head Up” é a seguinte, lançada apenas como single/promo vídeo, deve estar no próximo álbum da banda, e abriu caminho para a balada mais que clássica “Carrie”. Cantada por grande parte do Allianz parque, com as luzes dos celulares emulando os isqueiros da década em que foi lançada, a composição fez a alegria dos fãs de balançou os corações apaixonados (ou não) presentes!

“Last Look at Eden”, “Ready Or Not” (outra preferida aqui do redator) se juntam a “Superstitious” (esta com inserção de “No Woman, No Cry” de Bob Marley) para nos encaminhar para um final apoteótico com “Cherokee” e claro, “The Final Countdown”. Não importa quantas vezes você ouviu, querendo ou não, quando o tecladista Mic Michaeli” toca a introdução dela, não fica pedra sobre pedra, e durante a sua execução, a impressão era que o antigo estádio "Palestra Itália” viria abaixo. Acaba o show excelente e irrepreensível do Europe.



Passava das 19h, e momento mais aguardado por muitos presentes estava para iniciar: a missa do Padre Judas. Judas Priest é muito mais do que uma banda, Judas Priest é sinônimo de Heavy Metal, é a banda que mais representa o estilo. Se você discorda, podemos discutir numa boa, mas adianto que você está errado! Para quem é fã da banda, sempre vamos sentir falta dos guitarristas originais, K.K. Downing e Glenn Tipton, porém o espírito do JUDÃO sempre estará presente em suas apresentações. E que apresentação senhoras e senhores. Na realidade, foi um culto! Rob Halford é algo quase sobrenatural. Logo que cai o pano, os riffs primorosos de “Panic Attack” são ouvidos, mas quando Rob começa a cantar é impossível não deixar de acompanhá-lo. E assim segue por todo o espetáculo.

Ian Hill, baixista e fiel escudeiro de Rob e único membro original no palco, fica ao fundo, seguro e dando o peso ao som do Judas, juntamente com o extraordinário batera Scott Travis. Chega a ser “irritante” a forma como ele toca, parece ser simples e fácil tocar uma hora e meia de clássicos da maior banda de Heavy Metal que existe. “You Got Another Thing Comin'”, “Rapid Fire”, “Breaking The Law”, "Ridin`On The Wind”, ”Love Bites”... o que foi essa sequência?? Andy Sneap e Richie Faulkner são monstros, executaram cada riff e solo com precisão cirúrgica, fazendo muito jus e honrando o posto que ocupam. Durante a execução da eterna “Victim Of Changes”, Glenn Tipton surge no telão para o delírio de todos nós. Uma bonita homenagem ao guitarrista co-fundador da banda, que infelizmente devido a doença de Parkinson, ficou impossibilitado de fazer longas turnês, mesmo que ainda siga na banda como membro, compondo e gravando.

E o que dizer do final “avalanche morro abaixo”??? Scott Travis pega seu microfone e fala conosco, anunciando por óbvio , a clássica e amada “Painkiller”, com sua introdução de bateria que, além de grandiosa, se tornou uma das mais clássicas da história do Rock/Heavy Metal. “The Hellion/Eletric Eye” não precisa de anúncios, e tome lágrimas novamente! O ronco do motor de uma Harley Davidson se faz tão alto quanto as guitarras, e óbvio que está na hora de “Hell Bent For Leather”. Lá está o Metal God e sua poderosa motocicleta... Manjado?? Sim, e daí? Espetacular como sempre. “Living After Midnight” fecha não apenas o show, mas a Missa, o Culto, o espetáculo chamado Judas Priest ao vivo... Que energia que essa banda consegue transmitir para seu público! Como comentei, é algo sobrenatural! Judas Priest é o Heavy Metal! Que ainda haja muito mais tempo para assistirmos mais shows e escutarmos mais trabalhos novos do Priest!



Se trinta anos de Monsters Of Rock já é tempo pra caramba... Imaginem a última atração, que veio celebrar SESSENTA anos junto à um dos seus públicos mais fiéis? Sim, o Scorpions veio para o festival comemorar seis décadas de existência. E que existência grandiosa!!! E que início de show!!! Os alemães iniciam seu setlist com “Coming Home” do soberbo álbum “Love At The First Sting”, e para aqueles que como eu, são “jovens a mais tempo”, não houve como não entrar na máquina do tempo, e nos transportar para o Rock In Rio de 1985, pois foi com “Coming Home” que eles iniciaram aquelas históricas apresentações. Que surpresa matadora!

Lá estavam Klaus Meine (voz), Mathias Jabs e Rudolph Schenker (guitarras), Pawel Maciwoda (baixo) e o destruidor Mikkey Dee (bateria), provando uma vez mais que o habitat natural dos escorpiões alemães é ali mesmo, num grande palco para milhares de pessoas. Klaus já não tem a mesma voz de antes, mas segue ali, simpático e carismático, e sua performance não compromete, apesar de está longe do que ele entregava antigamente. Mas também, o senhorzinho está com 76 anos, e se eu chegar na idade dele conseguindo falar, me dou por satisfeito. As guitarras de Mathias e Rudolph soam insanas, enquanto a “cozinha” é um Yin Yang Hard Rock: enquanto o baixista Pawel é sóbrio e mais discreto, Mikkey Dee desce a porrada em pratos e tambores com uma fúria poucas vezes vista antes. Não é a toa, que Lemmy, quando dos tempos de Motorhead o apresentava como o “The Best Drummer in the World”...

“Gas In the Tank”, dá uma amostra do último trabalho de estúdio, o ótimo “Rock Believer”, e na sequência a trinca poderosa “Make it Real”, “The Zoo” e “Coast To Coast”, a instrumental em que Klaus Meine sempre apresenta seus conhecimentos nas seis cordas. Falando em clássicos, abrace este medley da época setentista do Scorpions: “Top Of The Bill/Steamrock Fever/Speedy´s Coming /Catch Your Train”... Saudades de Uli Jon Roth? Claro que bate né! De volta aos anos oitenta, uma das melhores faixas da discografia da banda: “Bad Boys Running Wild”. Se no ”Medley 70's” lembramos de Uli Jon Roth, aqui temos Mathias Jabs brilhando como sempre.

“Send Me an Angel” e “Wind Of Change” dão uma acalmado no repertório, apesar de serem cantadas pelo estádio inteiro novamente. “Lovin You Sunday Morning” volta à carga Hard Rock, e na sequência outra surpresa: “I´m Leaving You “ uma das preferidas do redator e que pouco frequentou os set lists dos shows que presenciei do Scorpions. Na realidade creio que foi a primeira vez que eu a assisti ao vivo. Solos de baixo e bateria são executados, para dar um descanso aos velhinhos da banda, e o retorno é com “Tease Me Please Me” do álbum de 1990, “Crazy World”. “Big City Nights” com seus riffs e solos maravilhosos embalam o que parecia ser o final, mas obviamente faltavam três clássicos que não podem passar batidos: “Still Loving You” (Rock In Rio 1985 feelings again!), “Blackout”, com Rudolph fazendo a festa e “Rock You Like a Hurricane” com direito a escorpião gigante no palco!!! Que Showzaço!!! Se o Scorpions viesse toda a semana, eu iria ao show deles todas as vezes!!!!!!



Enfim, um Festival espetacular!! Que grande festa foi este Monsters Of Rock 30 anos. Do cast de bandas, ao local ( parabéns ao S.E. Palmeiras, que puta Arena!!!), à organização e todos os trabalhadores que lá estavam para ajudar e orientar o público. 

E aqui eu gostaria de deixar um P.S.: Algumas pessoas acham que quem resenha shows quer apenas “ir de graça no evento aproveitar"... Sabe como é, aquele jeitinho “brasileiro”. Sem citar nomes existem até alguns (pouquíssimos, diga-se de passagem) que vão ao evento e não entregam o textinho a que se comprometeu a fazer. Ou o faz de qualquer forma, como se tivesse ouvido falar do show. Mas os sites que que realmente trabalham duro , e não são poucos (não vou citar, pois são muitos e posso esquecer de algum), trabalham junto para divulgar e todo o resto que envolve o evento. Aqui neste Monsters, a cobertura do Rebel Rock foi por conta própria. Sabem por que? Porque somos fãs também, e amamos todo esse universo. E principalmente, gostamos de poder contar a história que vimos para quem infelizmente não teve a oportunidade de ir(assim como faziam comigo nos anos oitenta), trocar as informações e impressões com aqueles que lá estiveram também. Quem sabe num próximo festival a gente esteja por lá oficialmente credenciados, não é mesmo? Espero que tenham curtido, pois aqui a gente faz de coração, de Headbanger para Headbanger.