sexta-feira, 25 de abril de 2025

MACHINE HEAD - UNATØNED (2025)

 


MACHINE HEAD
UNATØNED
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Existem bandas que repousam sobre os louros do passado - grupos que lançaram álbuns lendários há 20, 30 anos e permaneceram ali, presos ao próprio legado. E existem artistas como Robb Flynn, do Machine Head. O carismático líder da banda jamais poderá ser acusado de comodismo. Seu verdadeiro nome bem poderia ser “metamorfose ambulante”, tamanha a inquietude criativa que carrega desde “Burn My Eyes”. A cada novo lançamento do Machine Head, somos surpreendidos. Flynn parece impulsionado por uma força insaciável, como se a mente por trás da máquina jamais encontrasse descanso.

Unatøned”, o novo álbum da banda comprova isso mais uma vez. Tudo o que já vimos - o thrash agressivo, a pegada moderna dos anos 90, ou ainda a grandiosidade de “The Blackening” - agora é revisitado sob uma nova ótica. Uma nova história se reescrevendo, rompendo com fórmulas, apagando linhas e rabiscando outras tantas.

Um disco que é brutal, denso, ou tenso e cortante - exatamente como esperamos. Mas também há novidade, e isso não significa que serão boas. Entre as camadas espessas de guitarras, surgem texturas industriais que remontam à época em que o metal flertava com o caos digital. Gritos, urros caminhando numa linha tênue com passagens limpas, melódicas e faladas. “Landscape Øf Thørns”, uma simples e rápida intro, abre espaço para as agressivas “Atømic Revelatiøns” e “Unbøund” , que mostram de cara a qualidade dos estreantes Matt Alston (Bateria) e Reece Scruggs (Guitarra), ambos esbanjam desenvoltura e brutalidade logo de cara.

O início agressivo parece servir como trampolim - Um impulso para “Øutsider”, que serve como ponte entre as entranhas “discograficas” da banda. Sombria e pesada, caindo para camadas mais leves e cativantes no refrão, uma verdadeira gangorra pesada. Uma tentativa ousada e consciente de dialogar com novos fãs, e segue assim com “Nøt Løng For This Wørld”, a voz limpa contrastando com gritos de Robb são o ponto forte.

Há momentos de “deja vu”, grandes peças dentro do tracklist que trazem a lembrança do álbum “Catharsis”, um soco violento no estômago, com um lado mais “pula pula”, exemplo, “These Scar Wøn't Define Us”. Ao decorrer da audição é perceptível uma certa “mania” nesse álbum - pé no acelerador, depois no freio para logo em seguida voltar a pisar fundo novamente. Quase todas as faixas mais “porradas” em certos momentos caem para algo mais melódico no seu refrão, com pianos de fundo, muitas vezes estamos mais próximos de um grupo de metalcore do que thrash/groove metal do passado.

Ficou ruim? Não, mas às vezes perde o elemento surpresa, e há até quem possa torcer o nariz para essas escolhas estéticas. Faixas como “Bønescraper” e “Addicited Tø Pain” são mutantes, não param numa simples rítmica, dão dinamismo, são amplas fugindo do óbvio, aliás, o álbum por um todo foi feito para incendiar nos shows, e eu não estranharia se o grupo tocasse ele por completo na turnê.

“Bleeding Me Dry”, “Shards Øf Shattered Dreams” e “Scørns” dão números finais a um trabalho intenso, de grandes emoções, que não é fácil de digerir. Afinal, o Machine Head não quer apenas sobreviver com o lançamento de “Unatøned”. Num cenário onde tantas bandas se repetem, Robb Flynn ainda prefere o risco - entregando sempre uma nova transformação.

Porém, vale o livre arbítrio do fã embarcar nesse trem e pular na próxima estação ou, seguir viagem.

William Ribas




Nenhum comentário:

Postar um comentário