terça-feira, 30 de setembro de 2025

KATAKLYSM - HEAVEN'S VENOM (2010/2025 - RELANÇAMENTO)

 


KATAKLYSM
HEAVEN'S VENOM 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Chegar ao décimo álbum não é tarefa para qualquer banda, muito menos para um grupo que nasceu no caos extremo do Northern Hyperblast. O Kataklysm, veterano da cena canadense, chega a “Heaven’s Venom” mantendo a fidelidade à sua fórmula de brutalidade acessível, mas também arriscando alguns novos elementos que, mesmo discretos, dão outra cor ao som. Não é uma revolução, mas é uma injeção de fôlego.

A primeira impressão já é típica: abrem-se os portões e logo “A Soulless God” despeja riffs cortantes, vocais urrados e a precisão de Max Duhamel na bateria. Mas algo muda. As músicas carregam mais melodia do que antes, sem abandonar o peso. “Determined (Vows of Vengeance)” mistura groove e blast beats com naturalidade, enquanto “As the Walls Collapse” e “Numb & Intoxicated” trazem solos bem encaixados – raridade no passado da banda. Até mesmo detalhes inesperados, como o uso de sitar em “Hail the Renegade”, mostram que o Kataklysm tentou sair do piloto automático.

O problema é que nem tudo acerta em cheio. O excesso de polimento tira parte do caos que sempre foi marca registrada. Os vocais de Maurizio, embora sólidos, soam baixos demais na mixagem, perdendo impacto. E sim, as músicas mais cadenciadas acabam repetitivas, reforçando a sensação de que o grupo poderia ousar mais em climas e dinâmicas.

Ainda assim, o álbum tem momentos que justificam a viagem. “Suicide River” é um dos pontos altos mais intensos e emotivos da banda, “At the Edge of the World” fecha com um breakdown digno de quebrar pescoços no pit. “Heaven’s Venom”, é o Kataklysm sendo o Kataklysm: sólido, brutal, às vezes previsível.

Não é um álbum para colocar o Kataklysm no topo do death metal mundial, mas é coeso, consistente e cheio de passagens que funcionam muito bem ao vivo.

Agora, com o relançamento no Brasil pela Shinigami Records, é a oportunidade perfeita para revisitar esse capítulo da carreira dos canadenses – ou descobri-lo pela primeira vez.

William Ribas



KATAKLYSM - SERENITY IN FIRE (2004/2025)

 


KATAKLYSM
SERENITY IN FIRE
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O Kataklysm sempre foi sinônimo de brutalidade, mas em ‘Serenity in Fire”, a banda alcança um ponto de maturidade que consolida de vez seu lugar no death metal extremo. Depois do sucesso de “Shadows & Dust” (2001), muitos imaginavam que aquele seria o auge – mas este sétimo álbum prova o contrário. Eleva o peso, refina a produção e entrega uma experiência devastadora do início ao fim.

O grande diferencial aqui atende pelo nome de Martin Maurais. Assumindo as baquetas, ele redefine o “Northern Hyperblast”, atingindo velocidades e precisão que beira a insanidade. O que ouvimos em faixas como “Resurrected”, “Blood on the Swans” e “10 Seconds from the End” é mais que um simples blast beat – é uma metralhadora rítmica, rápida, cristalina e implacável, que dá nova vida ao som do Kataklysm. A impressão é de que alguém instalou motores a jato em um kit de bateria.

Mas o mérito não é só dele. Maurizio Iacono mostra evolução nos vocais, alternando guturais e gritos cortantes com controle e intensidade. O peso das guitarras de Jean-François Dagenais e o grave do baixo reforçam a espinha dorsal da destruição.

O disco é coeso e variado na medida certa. “As I Slither” virou clássico instantâneo e presença obrigatória nos palcos, enquanto “The Night They Returned” é puro esmagamento sonoro. Já “For All Our Sins”, com participação de Peter Tägtgren (Hypocrisy), adiciona uma camada especial de brutalidade melódica. “Under the Bleeding Sun” e “The Ambassador of Pain” mostram a habilidade do grupo em misturar melodia e atmosfera sem perder a adrenalina. Até mesmo momentos mais cadenciados, como em “The Tragedy I Preach” ou na faixa-título, provam que a banda pode reduzir o andamento mas nunca abrir mão da intensidade.

Serenity in Fire” é a afirmação definitiva de que o Kataklysm encontrou sua identidade. Com esse lançamento, o Kataklysm estabelece um novo padrão dentro do gênero. É um disco devastador, implacável e memorável – daqueles que esmagam ossos, dilaceram pescoços e continuam soando atuais mesmo duas décadas depois.

William Ribas




KATAKLYSM - SHADOWS & DUST (2002/2025 - RELANÇAMENTO)


 

KATAKLYSM 
SHADOWS & DUST
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Lançado em 2002, “Shadows & Dust” marca um ponto de virada na trajetória do Kataklysm. Até então, muitos viam a banda canadense como uma promessa que oscilava entre o caos absoluto de seus primeiros discos e a busca por uma identidade mais definida. Com este álbum, no entanto, o grupo encontrou seu equilíbrio: brutalidade sem excessos, peso aliado à clareza e composições que soam tanto devastadoras quanto memoráveis.

Aqui tudo soa direto e com alma. Maurizio Iacono entrega uma performance vocal mais convincente, misturando seu gutural característico com rasgos que beiram o black metal, trazendo nuances sombrias ao disco. A produção, assinada por Jean-François Dagenais, evita exageros: os riffs soam cortantes e cheios de textura, a bateria carrega a assinatura do “hyperblast” sem soar artificial, e o baixo, mesmo discreto, sustenta o peso com firmeza.

O impacto das faixas é imediato. “In Shadows and Dust”, o hino que abre o disco, resume em poucos minutos o que o Kataklysm queria dizer ao mundo: velocidade, agressividade e refrões que grudam na mente mesmo dentro do caos. “Beyond Salvation” mantém a intensidade e mostra a veia mais grooveada do grupo sem perder a violência. “Bound in Chains” e “Illuminati” exploram atmosferas densas e riffs inspirados, enquanto “Where the Enemy Sleeps” e “Centuries (Beneath the Dark Waters)” ampliam a sensação épica, provando que o Kataklysm não dependia apenas da velocidade para ser letal.

Outro ponto forte é a temática: guerra, destruição e resistência atravessam as letras, reforçadas pelo encarte com imagens bélicas. Mas, ao contrário da caricatura encontrada em outros álbuns do gênero, aqui há equilíbrio — nada soa forçado.

O trabalho não apenas consolidou o Kataklysm como um dos pilares do death metal moderno, mas também serviu de porta de entrada para muitos fãs que buscavam algo além das repetições de clones do Morbid Angel ou do tecnicismo vazio que dominava parte da cena. O final apoteótico com a dupla “Years of Enlightenment - Decades in Darkness” e “Inside the Material Flesh” traz uma dose extra de urgência — um mergulho em meio ao caos impiedoso.

Em essência, este é o Kataklysm no auge da inspiração, escalando a montanha dos grandes nomes graças ao seu modo feroz, coeso e visceral de fazer música extrema. “Shadows & Dust” não pede licença — simplesmente atropela.

William Ribas




THE EXPLOITED - FUCK THE SYSTEM (2003/2025 - RELANÇAMENTO)

 


THE EXPLOITED
FUCK THE SYSTEM
Shinigami Records - Nacional

Com o furioso álbum “Fuck The System”, o The Exploited deu sequência a sua discografia, em 2003. Este oitavo trabalho do grupo pode ser encarado com uma fusão das sonoridades, dos dois anteriores, “The Massacre” (1990) e “Beat The Bastards” (1996), onde temos aquele Crossover Hardcore/Metal, porém aqui, com uma vibe mais Punk Rock.

Muito dessa atmosfera mais Punk, é visível pelo retorno à antiga forma de cantar de Wattie, simplesmente deixando de lado as tentativas anteriores de tentar um vocal mais trabalhado e aproximando-se mais do Thrash Metal, e simplesmente retornando ao seu “gritedo” tradicional, que o tornou uma das vozes mais clássicas do Punk.

A produção do álbum ficou à cargo de “Risky Russ” Russell e Simon Efemey, e está um nível acima das produções dos álbuns anteriores, pois mesmo em meio ao caos e a velocidade das músicas, é possível perceber todos os instrumentos claramente. A temática segue a mesma, críticas sociais, e sarrafada pra todo lado na política, políticos e todo esse galera que não vale nada... Chama a atenção a quantidade de ”fucks” nas letras, Wattie não estava pra brincadeira na hora de compor.

“Why Are You Doing This For Me?”, “Fuck The System”, “Noyze Annoys”, são grandes destaques no tracklist deste álbum, porém o álbum merece ser ouvido sem interrupções. A Shinigami Records está relançando este álbum no Brasil e o detalhe interessante é que como bônus temos as quatro faixas gravadas em 1987, época do álbum “Death Before Dishonour”.Vale a pena buscar esta nova edição!

José Henrique Godoy




segunda-feira, 29 de setembro de 2025

BELPHEGOR - CONJURING THE DEAD (2014/2025 - RELANÇAMENTO)

 


BELPHEGOR
CONJURING THE DEAD
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Três anos após o excelente “Blood Magick Necromance” os reis do Death Black metal apresentam o seu novo artefato de guerra intitulado “Conjuring the Dead”,e de certa forma após o lançamento do single “Gasmask Terror”, um mês antes do aguardado Full, já demonstrava que soaria mais agressivo em relação a seu último disco.

O ano era 2014, e os austríacos vão até a Florida contar com a produção do lendário Erik Rutan (Morbid Angel/ Hate Eternal), e sem dúvidas que o resultado final deixou uma cara mais Death Metal nas faixas como um todo, mas salvaguardando elementos da sonoridade que a banda construiu em duas décadas. O fato de Helmuth ter contraído febre tifóide na tour latino americana passada, segundo alguns críticos da época, contribuiu para um vocal afetado e mais discreto, o mantendo em uma determinada zona de segurança tecnicamente falando em questão de alcance, sem dúvidas é notável essa característica. Assim como se percebe a banda modificando certos arranjos outrora mais melódicos.

A já mencionada “Gasmask Terror” não poupa munições em brutalidade, riffs velozes e Blast Beats insanos relembrando por exemplo a clássica “Lucifer Incestus”, bem como trechos de “Deschristianize” do Vital Remains, ao menos tive essa impressão. Em seguida, “Conjuring the Dead” já apresenta elementos mais característicos, e já entra como status de clássica e grande destaque da empreitada, com seus climas variados e caóticos, acabou rendendo um lyric vídeo interessante, aos moldes de “The Exorcist” para a banda, dirigido por Walter Fanninger.

A próxima faixa “In Death” remete a um Thrash Death Metal que ameniza um pouco a velocidade, com doses regulares de peso, nada a comprometer. “Rex Tremendae Majestatis” traz de volta o clima mais soturno e é interessante.

A desgraça se aproxima novamente com “Black Winged Torment”, uma das mais agressivas invocando o velho espírito e destacando o serviço de batera de Martin Jovanovic. Após a instrumental “The Eye“, a excelente “Legions of Destruction” apresenta peso e arranjos inconfundíveis e conta com a participação mais que especial de Glen Benton (Deicide/ Vital Remains) e Attila Csihar (Mayhem/Tormentor) mantendo em alto nível a proposta.

“Flesh, Bones and Blood” outra faixa mais cadenciada não compromete, apesar de não ser o ápice, aquecendo o clima para “Lucifer, Take Her!”, retomando a velocidade e peso adequados, vocais insanos e dementes sobretudo com a contribuição de Alexandra “Dollface” Van Weitus, dando um clima mais sombrio e culminando em “Pactum in Aeternum” , o que parece ser uma faixa climática complementar a anterior e funcionando como um “Outro”.

Os veteranos Helmuth e Serpenth mais uma vez não se comprometem. Embora uma produção menos cristalina, o nível de brutalidade e competência é mantido, o tornando na minha opinião um grande álbum, com antigos elementos e características, sem maiores inovações. A arte da capa mais uma vez conta com o trabalho de Seth Siro Anton, que já havia contribuído em “ Pestapokalypse VI” e é membro do Septic Flesh, trazendo uma arte blasfema e sombria como de costume.

Mais um relançamento de alto nível via Shinigami Records, e obviamente é a oportunidade de enriquecer a estante adquirindo o mesmo, porque apesar das ressalvas, vale a pena.

Gustavo Jardim




REBEL ROCK RESEARCH - CINDERELLA

 



REBEL ROCK RESEARCH - CINDERELLA

Criado em 1982 pelo vocalista Tom Keifer e pelo baixista Eric Brittingham, o Cinderella é um exemplo notável de como uma carreira musical pode alcançar excelência com uma discografia curta e concisa. O grupo lançou apenas 4 álbuns de estúdio, cada um com sua particularidade, porém todos com a sua assinatura onde há uma fusão estilística que abrange elementos do glam metal, blues rock e country, fazendo jus ao ditado “menos é mais”. Um caso semelhante ao Twisted Sister, no que se refere a discografias breves e com poucos erros.

A estreia da banda, o "Night Songs" (1986), apresentou um hard rock oitentista bem trabalhado e pesado, marcado por riffs impactantes que beiram o heavy metal, além do visual totalmente entregue ao glam metal. Dois anos depois, "Long Cold Winter" (1988) evidenciou uma sonoridade um pouco mais sofisticada, incorporando influências do blues, conferindo à banda uma distinção em relação a outras do hard oitentista, sendo o favorito de muitos fãs. O "Heartbreak Station" (1990) aprofundou ainda mais esses elementos externos ao hard rock, destacando o country, sem jamais perder a essência de seu gênero principal. Por fim, o "Still Climbing" (1994) encerrou a discografia de estúdio de forma contundente, mantendo seu estilo em um período onde o grunge dominava o cenário.

Neste texto, irei expor a minha opinião acerca dos 4 discos da banda, comentando do pior (digo, o menos melhor) para o campeão. Vale lembrar que não há verdade absoluta quanto ao ranking, se trata de uma análise totalmente pessoal.

Thiago Rodrigues

4º LUGAR - STILL CLIMBING (1994)


Em meio aos desafios de continuar com seu estilo tradicional em uma década dominada pelo grunge, somados aos problemas vocais de Tom Keifer, o Cinderella lança o excelente e último álbum, Still Climbing. Como dito anteriormente, a banda preserva sua essência de hard rock com toques de blues e country. A sonoridade do disco é mais crua e introspectiva; embora a identidade sonora tenha sido mantida, percebe-se uma clara tentativa de alinhamento ao cenário do rock dos anos 1990. O trabalho também é marcado pela saída do baterista Fred Coury e pela entrada de Kenny Aronoff.

A manutenção da qualidade das composições é notória em faixas como "Bad Attitude Shuffle", que abre o disco com a marcante fusão de blues e hard rock. Em seguida, "All Comes Down" mantém o nível, com um belo riff e uma energia tipicamente oitentista. "Talk Is Cheap" apresenta um refrão memorável e um solo bem elaborado por Jeff LaBar. Essas três faixas evidenciam uma abertura impactante no álbum. "Blood from a Stone" é uma canção um pouco destoante em relação ao estilo característico do Cinderella. A faixa-título está entre os melhores trabalhos de toda a carreira da banda; com um início sombrio, revela uma nítida influência dos anos 1990. "Freewheelin'" é outro destaque, uma música significativamente mais enérgica. O disco se encerra com "Hot and Bothered", último registro gravado por Fred Coury, remetendo às origens do grupo.

Still Climbing é um trabalho de grande qualidade, especialmente considerando o contexto de sua gravação. Sua posição final no ranking deve-se apenas à excelência dos álbuns anteriores e não a qualquer demérito próprio.



3º LUGAR - LONG COLD WINTER (1988)


O grande desafio de ranquear, de acordo com a minha opinião, discografias perfeitas é tentar não se influenciar pela opinião popular. Foi particularmente desafiador escolher entre o 3º e o 2º lugares (o primeiro já é algo previamente estabelecido por mim), pois são dois discos que se encontram em patamar muito próximo para o meu apreço. É evidente que, para a maioria dos apreciadores da banda, Long Cold Winter é o favorito, mas ele ocupa essa posição apenas por detalhes. E esse detalhe se chama faixa-título. Admito que esta música, apesar de sua popularidade, qualidade e do sentimentalismo presente, não corresponde ao meu gosto pessoal. Isso, porém, em nada diminui sua qualidade; trata-se puramente de opinião.

O disco marcou uma transição significativa no estilo da banda, incorporando elementos de blues rock ao glam metal predominante na época, o que contribuiu para consolidar a identidade própria do grupo. Aqui temos Cozy Powell na bateria, um nome de peso dentro do metal e do rock oitentista, embora não creditado.

O trabalho se inicia com "Bad Seamstress Blues/Fallin' Apart at the Seams", uma canção que introduz elementos de country logo em sua abertura, seguindo pelo tradicional hard rock que consagrou a banda em seu disco anterior. Em seguida, dois dos trabalhos mais conhecidos do Cinderella, "Gypsy Road" e "Don't Know What You Got (Till It's Gone)', evidenciam o talento do grupo em criar aberturas de disco memoráveis. A primeira trata-se de um hard rock característico da década, enquanto a segunda é uma balada sentimental, no estilo de "Nobody’s Fool" (todavia, inferior na minha opinião).

"The Last Mile" destaca-se pelo belo refrão, e "Second Wind" é uma das canções mais pesadas do disco, beirando o heavy metal. "If You Don’t Like" é uma das melhores faixas da carreira da banda, possuindo uma introdução muito bem construída e impactante, além de um refrão excelente. "Coming Home" é a melhor balada do álbum e uma das mais belas da discografia da banda, abordando o retorno a alguém amado que percorreu seu caminho na vida, enfrentou desafios e experiências. O instrumental e os vocais no final da faixa conferem simultaneamente sensibilidade e empolgação.

"Fire and Ice" é outro hard & heavy da banda, com características semelhantes a "Second Wind". O disco é encerrado de maneira primorosa com a faixa auto astral "Take Me Back", um hard rock condizente com o cenário glam, evidenciado pela repetição de seu refrão.



2º LUGAR - HEARTBREAK STATION


Por questão de detalhes, o terceiro álbum da banda ficou na segunda posição do ranking. Com um visual mais sóbrio que os trabalhos anteriores, evidencia-se aqui uma evolução natural no som do grupo, em que as influências de country e blues se tornam mais evidente, incorporando inclusive outros instrumentos, como o saxofone, sem abandonar o peso característico do hard rock. É justamente essa fusão equilibrada de estilos, dosada com precisão, que eleva seu patamar na discografia da banda.

Isso pode ser percebido em faixas como "The More Things Change", uma excepcional abertura vibrante, na qual se nota a presença do country logo no riff inicial, mantendo o peso hard rock. "Sick for the Cure" segue essa linha, trazendo elementos de country perceptíveis na guitarra de fundo e em algumas passagens de piano. Trata-se de uma composição notável, com refrão marcante que transmite uma forte sensação de liberdade. "Make Your Own Way" é outro destaque que apresenta características semelhantes à faixa anterior. "Dead Man’s Road" remete aos trabalhos de country de Bon Jovi, como "Wanted Dead or Alive", soando mais pesada, arrastada e introspectiva. "Electric Love" evidencia o talento de Tom Keifer no blues rock, enquanto "Love Gone Bad" retoma o peso do hard rock clássico da banda, com um refrão alongado e memorável.

O álbum ainda conta com músicas acústicas bem elaboradas, entre elas a clássica balada homônima ao disco e o belíssimo country cru "One for Rock and Roll", que apresenta uma linda e sensível melodia . "Shelter Me" é marcada pela sua energia, destacando-se por sua riqueza sonora.



1º LUGAR - NIGHT SONGS


Para um grande fã do cenário glam dos anos 80, não há como outro álbum ocupar o primeiro lugar. A estreia da banda, em 1986, é marcada por um trabalho robusto de hard rock que, em certos momentos, flerta com o heavy metal, ainda distante do country/blues que mais tarde a consagraria. Com um visual carregado e totalmente condizente com a época, Night Songs capta com precisão a essência do glam metal amplamente difundido nos EUA naquela década, ao mesmo tempo em que emana autenticidade, evidenciando o estilo de composição de Tom Keifer. É justamente esse peso do hard rock que, nos álbuns seguintes, o líder da banda passaria a mesclar com outras influências.

O disco apresenta refrães e riffs vigorosos, sem faixas medianas para “encher linguiça”. Abre de forma impactante com a sombria faixa-título, marcada por um riff pesado, lento e obscuro. Uma das melhores canções de toda a carreira da banda. O contraste surge em seguida com "Shake Me", que, como o nome sugere, traz uma energia bem mais animada. "Nobody’s Fool" é provavelmente o grande clássico do grupo, uma balada intensa e introspectiva. "Nothin’ for Nothin’" e "Once Around the Ride" mantêm a linha do hard rock tradicional. "Hell on Wheels" flerta com o speed metal, exibindo um riff veloz e versos pesados.

"Somebody Save Me" é outro clássico, uma das melhores músicas da discografia, em que se destaca a excelência do riff, dos versos e do refrão. "In From The Outside" tem uma ótima linha de baixo e um bom solo em seu final. "Push Push" também merece menção, marcada por um riff contagiante, no estilo AC/DC, repetido ao longo de toda a faixa, inclusive no refrão e no solo. A obra se encerra com "Back Home Again", uma composição levemente mais cadenciada cujo grande destaque é o primoroso trabalho instrumental, especialmente no solo, possivelmente o melhor da banda.

Night Songs é um álbum pesado, bem elaborado e digno de nota máxima, apresentando o melhor início e desfecho dentre os quatro trabalhos do Cinderella, comprovando que Tom Keifer é um compositor de excelência dentro do gênero.










FM - BROTHERHOOD (2025)

 


FM
BROTHERHOOD
Shinigami Records/ Frontiers Music srl - Nacional

Hello brothers and sisters!! Felipe Izzard aqui vindo por meio desse fabuloso site para mais um review!!
Desde já agradecendo ao nosso digníssimo Sergiomar Menezes pela oportunidade de ouro e a honra de poder pintar aqui mais uma vez.

Rapaz, falar de FM é simplesmente uma responsabilidade tamanha, já que a mesma está no meu top 10 de bandas essenciais do AOR/Melodic Rock!

Tive o prazer de poder assistir um dos shows da "Old Habits Die Hard Tour" que pegou um pedacinho da américa do sul, rolando uma apresentação única em terras brasileiras no antigo espaço do Manifesto Bar lá no bairro Itaim Bibi em São Paulo. (Uma das maiores aventuras sair de BH em plena terça feira para ir pra SP, mas essa história fica para outra ocasião!)

Na época eles estavam com divulgação do ótimo álbum que leva o mesmo nome da turnê de 2024.

E pra 2025 eles simplesmente expõem ao mundo uma aulinha de como fazer um verdadeiro álbum de AOR mesclando a qualidade e sofisticação sonora com a roupagem de uma excelente mixagem atual, sucinta, cristalina em seu mais novo álbum BROTHERHOOD!

Curiosamente a “Do You Mean It”, que abre o disco, traz uma pegada mais “blues rock” com uma linha melódica que reflete bastante aquele som que o FM fez ali nos anos 90 em discos como Takin' It To The Streets e Aphrodisiac (a sonoridade dessa música, por exemplo me lembrou muito a praticada nesse último álbum mencionado). Particularmente achei uma excelente escolha como faixa de abertura. Ao meu ponto de vista ela trás uma sensação “aconchegante”, te fazendo se sentir envolvido com o som.

Quando “Living On The Run” começou, pela primeira vez que ouvi, eu JURO que ache por um breve momento que se tratava de um cover de alguma banda da Frontiers (Só não me pergunte o porquê! rsrsrs). Essa faixa mescla super bem a aura oitentista com um som mais atual. Refrãos super grudentos e linha melódica bem cativante!

"Coming For You" vem a seguir e o riff de teclado no inicio já me ganhou de cara! Senti uma influência que encosta numa pegada mais Westcoast (Será?). Os vocais de Steve Overland aqui está claramente externando o “Paul Rodgers” que há nele, e isso definitivamente não é uma crítica! Muito pelo contrário na verdade!

"Raised On The Wrong Side" eu poderia colocar facilmente entre uma das minhas favoritas do disco. Eu me impressiono sempre com o esmero que essa gloriosa banda se propõe a praticar. Não demora muito pro refrão chegar e, pra variar, já deixa bem claro que você terá algo ecoando pela sua mente por horas (talvez dias). Amo a “gordura” que o baixo juntamente com os riffs da guitarra faz. Falando nisso, Jim Kirkpatrick faz um trabalho ímpar em seus solos bem encaixados e inspirados!

A super amigável "Love Comes to All" é aquela música bem leve e mega “Radio Friendly”.
Se eu fosse um programador de rádios como “Alpha FM” ou “Antena 1” com certeza ela rolaria por lá algumas vezes!

Falando em músicas radiofônicas, eis que a balada "Just Walk Away" se inicia com seu clima intimista e reflexivo. Violãozinho com cordas de aço bem aconchegante. Ponte de fácil assimilação e refrãos bem doces com Steve Overland mostrando que, no auge de seus 65 anos, ainda faz um trabalho com muita excelência. Timbre super em dia e alcances surpreendentes!

A faixa “Don’t Call It Love” com toda sua animação, foi a escolhida para gravação de um clipe bem simples, mas bem cativante. Está mais do que claro que eles ainda dão muito conta do batente e amam muito o que fazem. Algo que foi muito bom de se notar até mesmo ao vivo (sério se tiverem oportunidade de verem ao vivo não percam!)
PS: Eu com minha mania de buscar referencias consegui enxergar uma coisa bem “Survivor” nessa faixa em específico.

“Time Waits for No-One” demonstra uma forte essência oitentista instrumental. Gosto muito das bases do teclado bem melódico do Jem Davis. Steve Overland com seu vocal inefável faz o que ele sabe de melhor. As guitarras bem encaixadinhas e o solo de Jim Kirkpatrick dão um brilho a mais.

Posso estar doido, mas tive a sensação que a "Because of You", que vem a seguir, tem uma “aura” que me lembra levemente a linha sonora que uma banda clássica dos anos 80 fez nos anos 90. Tô falando do Duran Duran no disco “The Wedding Album”. Tenho a sensação de que eles andaram ouvindo durante as buscas de referência para a composição especialmente dessa música! Mas, como dito, eu só posso estar doido mesmo! rsrs

"Chasing Freedom" segue a mesma proposta amigável que boa parte do álbum vem apresentando. Eu amo que todas as músicas têm muitas coisas em comum principalmente o fato de não soarem cansativas mesmo tendo grandes semelhanças sonoras entre si.

Assim como abriu, o disco fecha com mais uma música que lembra muito a sonoridade dos 2 discos mencionados na cabeça desse review. Só que enquanto a de abertura traz uma aura bluesy, “The Enemy Within” tem a pegada daquele hard rock melódico alternativo bem característico dos anos 90. Mas sem perder a identidade FM de se soar. Overland aqui faz o vocal e o backing. Ela tem um “Q” mais introspectivo, mesmo assim, uma grandiosa faixa e achei uma baita escolha pra encerrar o álbum

“Brotherhood” veio expressando a verdadeira importância de uma banda coesa, entrosada, unida! É um disco que faz jus ao título já que um dos maiores segredos para a produção e gravação de um grande disco está na fraternidade entre os membros da banda.

Como fã eu posso dizer que ao meu ver é um dos melhores trabalhos recentes da banda e entraria fácil, fácil na minha lista de melhores do ano.

Seria justo levar em conta todas as coisas ditas por um fã declarado da banda? Cara eu sou o mais suspeito para falar, então a minha maior recomendação é: Ouça e tire suas próprias conclusões!!

Entregando mais um review!
Felipe Izzard diretamente daqui mesmo e agora!
Até a próxima!!!

Felipe Izzard




sexta-feira, 26 de setembro de 2025

GIANT - STAND AND DELIVER (2025)

 


GIANT
STAND AND DELIVER
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O Giant é uma banda americana de Hard Rock/Aor/Melodic Rock, formada em 1987, em Nashville, Tenesse, e teve um sucesso bem moderado no início dos anos 1990, por conta da balada “"I'll See You in My Dreams", que consta no seu álbum de estreia, “Lost Of The Runaways” (1989). Após o segundo álbum, “Time To Burn” (1992), o Giant se desfez, muito por conta pelas mudanças na indústria fonográfica, que já estava farta do estilo do quarteto.

A Frontiers os trouxe de volta a vida em 2010, com o álbum “Promised Land”, porém com uma formação totalmente diferente, contando apenas com o baterista original, David Huff. E chegamos então a 2025, com o lançamento do seu sexto álbum, “Stand and Deliver”. E o resultado agrada em cheio fãs do Giant e do estilo.

“It´s Not Right” é uma ótima abertura, com um excelente solo melódico do guitarrista Jimmy Westerlund, o “cara novo” do Giant, e que abre caminho para uma ótima interpretação do vocalista Kent Hilli. Uma excelente faixa com o “DNA” do Giant. David Huff (bateria) e Mike Brignardello (baixo) são os membros fundadores que completam o time.

A segunda faixa, “A Night To Remember” segue a mesma linha, com grande refrão, sendo junto a primeira, os maiores destaques do álbum. “Hold The Night”, é uma boa faixa, mas deixa a sensação de “Já ouvi isso antes”, e esse sentimento se repete em algumas vezes durante a audição de “Stand And Deliver”. O Giant é conhecido por produzir belas baladas, e aqui temos “It Ain’t Over ‘Till It’s Over”, que não foge à fórmula da banda.

“Beggars Can't Be Choosers” é a faixa mais “diferentona” do trabalho, lembra (de longe) o Van Halen, aquelas faixas mais festeiras da época do David Lee Roth...  mas calma, reforçando: lembra, mas de longe. Outro destaque é a faixa que encerra o álbum, chamada “Pleasure Dome”, um excelente Hard Rock, com um clima meio Whitesnake.

Se você é mais crítico e meticuloso, provavelmente vai achar “Stand And Deliver” um álbum “mais do mesmo” e um tanto repetitivo, e errado não estará. Creio que faltou um pouco mais de variedade nos temas, e passado o entusiasmo inicial das duas primeiras faixas, talvez a audição se torne um pouco monótona. Mas caso você curta o estilo sem ligar muito e esteja apenas afim de curtir um bom álbum de Melodic Rock, não se acanhe, e coloque “Stand And Deliver” para ouvir em alto volume. Lançamento nacional Shinigami Records.

José Henrique Godoy




KATAKLYSM - SORCERY/THE MYSTICAL GATE OF REINCARNATION (1995/2025 - RELANÇAMENTO)

 


KATAKLYSM 
SORCERY/THE MYSTICAL GATE OF REINCARNATION 
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Em 1995, o Kataklysm lançou “Sorcery”, o disco que colocou de vez o death metal canadense no mapa. Três décadas depois, a Shinigami Records resgata esse momento histórico em uma edição especial que vai além do simples relançamento: traz também o EP “The Mystical Gate of Reincarnation” e três faixas bônus, somando 16 músicas que mostram o Kataklysm em sua forma mais crua, mas com uma veia criativa ímpar.

O legal desse pacote é que ele funciona como um verdadeiro retrato dos primórdios da banda. Dá pra sentir a fome, a fúria e aquela vontade de soar diferente de tudo. “Sorcery” é brutal, mas ao mesmo tempo cheio de ideias fora da curva. A guitarra de Jean-François Dagenais entrega riffs que alternam entre peso sufocante e melodias obscuras, enquanto Maurizio Iacono segura um baixo gordo e cheio de presença. Max Duhamel, por sua vez, praticamente inaugura aqui o conceito do Northern Hyperblast, com uma bateria que é puro massacre — e nunca previsível.

E aí tem Sylvain Houde. O cara soa como se estivesse possuído: guturais cavernosos, gritos alucinantes, berros quase de black metal. Não existe nada “polido” nos vocais, e talvez seja justamente isso que os torna tão únicos. Ele não só canta — ele despeja insanidade, transformando músicas como “Mould in a Breed”, “Elder God” e “Garden of Dreams” em experiências quase desconfortáveis de tão intensas.

Já o EP “The Mystical Gate of Reincarnation”, gravado em 1992, mostra o Kataklysm ainda mais cru, mas cheio de potencial. “Frozen in Time” e “Shrine of Life” já têm a marca registrada da banda — riffs intrincados, atmosferas densas —, enquanto “The Orb of Uncreation” é praticamente um show à parte de Houde, testando todos os limites da própria voz. É o tipo de registro que deixa claro como a banda foi evoluindo em pouco tempo.

As três faixas bônus — “Eternal, I Reach Infinity”, “Rays of Râ” e “L’Odyssée” — fecham o pacote ampliando ainda mais a visão de mundo que o Kataklysm tinha naquela época: extremo, caótico, mas sempre com uma pitada de experimentação.

No fim das contas, este relançamento é muito mais do que uma coletânea. É uma cápsula do tempo — um pedaço da história que nos leva direto aos anos em que o Kataklysm estava forjando sua identidade.

William Ribas




DIRKSCHNEIDER AND THE OLD GANG - BABYLON (2025)

 


DIRKSCHNEIDER AND THE OLD GANG 
BABYLON
Reigning Phoenix Music - Importado

Quando um projeto começa quase por acaso e acaba se tornando um marco, é porque havia algo maior esperando para acontecer. O caso do Dirkschneider And The Old Gang (DATOG) é exatamente esse: uma ação beneficente que se transformou em uma das reuniões mais interessantes do heavy metal nos últimos tempos. O peso da história está no lineup: Udo Dirkschneider, Peter Baltes, Stefan Kaufmann, Mathias “Don” Dieth, Sven Dirkschneider e Manuela “Ella” Bibert. Nomes que, sozinhos, já carregam décadas de relevância — juntos, elevaram o primeiro álbum completo para outro nível.

Babylon” chega cheio de propósito e sem medo de ousar. O que impressiona logo de início é a forma como o grupo lida com as vozes. Ao invés de virar um campo de batalha, o disco costura com inteligência os diferentes timbres de Udo, Baltes e Manuela, criando contrastes e complementos que tornam cada faixa uma pequena surpresa. As três vozes se encaixam como se fossem peças de um quebra-cabeça, onde a cada faixa o quadro vai sendo construído diante do ouvinte.

Musicalmente, o álbum é diverso, mas nunca solto. “It Takes Two To Tango” abre a sequência com energia elétrica, riffs certeiros e um refrão chiclete, pronto para grudar — e gruda! “Hellbreaker” é puro ataque, daqueles hinos que levantam os fãs, enquanto “Time To Listen” traz um clima acelerado, mostrando uma boa dose de adrenalina. Já “Strangers In Paradise” suaviza o ambiente, respira emoção e mostra que o grupo sabe ser intenso até na delicadeza, enquanto “The Law Of A Madman” chega com balanço marcante e um solo de arrepiar.

O disco ainda reserva momentos épicos, como “Beyond The End Of Time”, que ultrapassa os oito minutos e entrega uma jornada sonora que mistura diferentes modos operandi da banda — peso, melodia, técnica e drama em doses bem equilibradas, deixando o recado: não estamos presos a fórmula. Entre homenagens como “Metal Sons” (um hino que soa como uma carta de amor ao heavy metal) e faixas diretas e agressivas como “Dead Man’s Hand” e “Propaganda”, fica claro que “Babylon” foi pensado para dialogar tanto com os fãs mais antigos do Accept quanto com quem busca frescor no metal mais clássico.

O maior trunfo da obra está na naturalidade. Não parece um disco feito para “provar” algo, mas sim para celebrar a música, resultando em um trabalho forte e honesto. Deixando bem claro: “Babylon” não apenas mostra respeito às raízes do metal, mas também prova que basta colocá-lo no volume máximo para sentir a força de uma gangue que, mais do que “velha”, soa absolutamente incrível.

William Ribas




GLENN HUGHES - CHOSEN (2025)

 


GLENN HUGHES 
CHOSEN
Shinigami Records/Frontiers Music srl - Nacional

Falar que Glenn Hughes é uma lenda viva do Rock n' Roll, um dos maiores artistas do gênero, que participou de bandas como Deep Purple, Black Sabbath, Trapeze, The Dead Daisies, entre muitos outros mais, fora uma extensa e maravilhosa discografia solo, e um sem-número de turnês mundo afora, agregando milhares e milhares de fãs, é supérfluo, é chover no piso molhado. Mas eu falo da mesma forma!

Estamos em setembro de 2025, e o The Voice Of Rock nos entrega mais um trabalho magnífico, que escolheu batizar como “Chosen”. Acompanhado pelo seu colaborador de longa data, o guitarrista dinamarquês Soren Andersen, o tecladista Bob Fridzema e o baterista Ash Sheehan, Hughes apresenta um álbum com dez faixas inéditas, e mostra um trabalho cheio de paixão pelo Rock e pela Música como um todo.

“Chosen inicia com "Voices in My Head", um ótimo rock com uma pegada blues. Alguns toques funky aqui e ali tornam a composição uma abertura muito forte. “My Alibi“ é a segunda, e alterna momentos de calmaria com um andamento cheio de groove. Na primeira audição, precisei voltar a faixa e escutar novamente. Excelente. A faixa título é mais sombria, porém não menos rockeira, e nela Glenn demonstra toda a sua categoria e versatilidade também como baixista.

“Heal” tem um “quê“ mais pop e moderna, porém não deixa a peteca cair, enquanto “In The Golden” é uma faixa típica de Glenn Hughes, porém com um “jeitão meio “Rock Arena”. “The Lost Parade” é a faixa mais pesada do álbum, lembrando os trabalhos compostos na parceria Hughes/Iommi. Ótima como você deve estar pensando que ela é. “Hot Damn Thing” é puro Hard Rock, cheio de categoria, com um aquele típico refrão que ficará por dias na cabeça. “Black Cat Moan” traz aquela fusão Funk/Rock que Glenn consegue criar tão bem.

“Come and Go” é outro grande momento que ecoa alguma influência dos Beatles. É uma linda canção, uma bela balada, que demonstra a capacidade de Hughes de transmitir emoções por meio de diferentes expressões musicais. Infelizmente chegamos na última faixa, e que encerramento! “Into The Fade”, um Hard Rock moderno, com aquele pique “estradeiro”, e um clima fantástico, e pra cima! Quando acaba, você vai querer ouvir novamente. Não existe nenhuma dúvida que temos aqui um dos álbuns do ano. Se você é fã do senhor Glenn Hughes , você vai concordar comigo e o melhor: o álbum está sendo lançado no Brasil pela Shinigami Records.

José Henrique Godoy




THE EXPLOITED - THE MASSACRE (1990/2025 - RELANÇAMENTO)

 


THE EXPLOITED 
THE MASSACRE
Shinigami Records - Nacional

“Você traiu!!! Você Traiu o Movimento!!!!”. Essa frase, que até meme já virou, deve ter sido muito ouvida por Wattie Buchan, vocalista e líder do The Exploited, lá no ano de 1990, quando sua banda lançou o álbum ”The Massacre”. O motivo? A proximidade que o trabalho apresenta ao Thrash Metal/Metal em geral.

Desde o início com a faixa título, o que temos aqui é puro crossover, diferenciando bastante dos álbuns anteriores da clássica banda inglesa, muito mais integrados a estética/sonoridade punk. Mas para quem não liga para rótulos sonoros, o que importa é que “The Massacre” é um ótimo álbum, e está com certeza no Top 3 da discografia da banda.

Sendo o sexto lançamento do Exploited, “The Massacre” expandiu o nome da banda para outras “tribos”, sendo abraçados pela comunidade Metal. Os timbres dos instrumentos e as levadas rápidas, lembram mesmo que de longe, um Slayer de início de carreira, fase “Show No Mercy”. É o álbum de estreia do guitarrista Gogs, e coincidência ou não temos muito (e ótimos) solos de guitarra (isso deve ter deixado os punks “raíz” putos da cara).

O trabalho é homogêneo, sem destaques para alguma faixa em especial, pois são todas ótimas. Se a sonoridade teve bastante mudanças, a parte lírica/temática manteve-se intacta, com letras de protesto contra polícia, políticos e injustiças sociais. Um álbum pra ser curtido de ponta a ponta, e que está tendo o seu relançamento nacional, contando com 4 faixas bônus, pela Shinigami Records.

José Henrique Godoy




TESTAMENT - PARA BELLUM (2025)


 

TESTAMENT
PARA BELLUM
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Quase quarenta anos se passaram desde que o Testament surgiu na Bay Area. A essa altura, ninguém poderia esperar que a banda ainda tivesse algo a provar (e, obviamente, não precisa). Mas é justamente aí que está a grandeza: mesmo sem essa obrigação, eles seguem entregando álbuns que reafirmam sua relevância e energia. Para Bellum, o décimo quarto disco de estúdio, é a mais nova prova disso — um trabalho que não apenas honra a história do grupo, mas também mostra como o Testament ainda soa fresco e urgente.

O álbum funciona quase como um “best of” da discografia. As últimas turnês focadas em The Legacy e The New Order parecem ter inspirado os americanos. Há um detalhe que arrepia qualquer fã: o resgate de uma ponte perdida do primeiro álbum (isso logo de cara). Mais do que homenagem ao passado, esse momento soa como metáfora perfeita — o presente encontrando suas raízes para mostrar que o futuro se constrói sobre essa herança. É a banda lembrando de onde veio, mas também mostrando para onde ainda pode ir.

E é nesse olhar adiante que surgem algumas incursões de Black Metal. O Testament traduz esse estado de alerta permanente em músicas urgentes, afiadas e de impacto imediato. A dupla de abertura, “For the Love of Pain” (belíssimo cartão de visita de Chris Dovas já nos primeiros segundos) e “Infanticide A I”, é exemplo perfeito dessa mistura — e ambas são aniquiladoras de pescoços. O conceito que guia o álbum é direto e poderoso: Si vis pacem, para bellum — “Se quer paz, prepare-se para a guerra”. Essa atmosfera permeia as músicas: riffs como armas, refrões como gritos de resistência, melodias como trincheiras erguidas contra o caos do mundo moderno.

As letras seguem esse tom sombrio e direto, falando de tecnologia fora de controle, do apocalipse iminente e de medos que atravessam gerações. “Shadow People” traz um clima sufocante e denso, mas é na calmaria que surge a maior surpresa: “Meant to Be”, uma balada. Com belas melodias e cordas orquestradas, ela oferece um respiro cheio de emoção, culminando em um solo de Alex Skolnick de tirar lágrimas. O final pesado só reforça a força criativa dentro do álbum.

A brutalidade retorna em uma das melhores músicas já feitas pelo Testament: “High Noon”. A faixa evoca a fúria de The Gathering e os urros de Demonic. Falar da genialidade de Chuck Billy pode parecer chover no molhado, mas aqui ele está mais versátil do que nunca, alternando entre vocais limpos, guturais e sussurros sombrios — disparado o melhor vocalista de thrash metal (se você não concorda, saiba que tem todo o direito de estar errado, risos!).

A formação atual soa como uma máquina de guerra ajustada ao extremo. Chris Dovas injetou juventude e criatividade, enquanto Steve DiGiorgio dá corpo e profundidade ao som com seu baixo inconfundível. Alex Skolnick explora cada detalhe, desfilando virtuosidade, e Eric Peterson mantém a espinha dorsal brutal ativa ao lado do fiel amigo Chuck Billy — os generais dessa tropa, conduzindo com uma força que impressiona pela consistência.

As três faixas seguintes mostram um Testament um pouco menos agressivo, mas igualmente pesado. “Witch Hunt” passeia entre violência e um heavy metal mais clássico em sua metade, algo que também se encontra na sequência, “Nature of the Beast”, com riffs à la Judas Priest. Já “Room 117” remete a álbuns como Souls of Black e Ritual, um olhar atualizado para a sonoridade noventista.

Dois pontos extras merecem destaque: o trabalho de produção impecável de Juan Urteaga (gravação) e Jens Bogren (mixagem), que garantiram um som polido, pesado e claro, sem perder a crueza necessária. E a capa de Eliran Kantor, que traduz visualmente a essência do álbum — um anjo feito de mísseis, um halo-explosão, cultistas cegos em volta. Uma metáfora brutal e atual para os tempos de fé cega e autodestruição.

A dobradinha final traz a banda atacando sem piedade, tornando novamente, presente a violência do Thrash Metal. “Havana Syndrone” despeja riffs marcantes, e linhas de Skolnick cheia de melodias que certamente fará a alegria do público nos shows. O grand finale vem com a faixa-título — e não existiria final melhor. Inicialmente se fomenta nessa música uma atmosfera épica. Chuck urra o nome do álbum de maneira insana, como se sua vida dependesse desse refrão. Dovas encerra do jeito que começou — desfilando técnica e criatividade.

Os dedilhados de forma acústica encerra o trabalho trazendo uma serenidade, como um último suspiro após a guerra. E o resultado da audição é simples: Para Bellum não é apenas mais um disco de uma banda veterana — é um manifesto do nosso tempo.

Pesado, brutal e altamente viciante — um álbum marcante do começo ao fim, lembrando que mesmo na fúria, sempre existe espaço para o equilíbrio.

William Ribas




LYNYRD SKYNYRD - CELEBRATING 50 YEARS - LIVE AT THE RYMAN (2025)

 


LYNYRD SKYNYRD 
CELEBRATING 50 YEARS - LIVE AT THE RYMAN
Shinigami Records/Frontiers Music srl - Nacional

O Lynyrd Skynyrd é um monumento do Rock americano, sendo o maior nome do que se convencionou chamar “Southern Rock”. Por mais de cinco décadas a banda marcou gerações, teve uma trajetória gloriosa, porém também marcada por tragédias, a maior delas, o acidente aéreo ocorrido em 1977, que acabou vitimando o vocalista original, Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines, e sua irmã Cassie Gaines (backing vocals).

Em 1987, o Lynyrd Skynyrd voltou a ativa, com Johnny Van Zant, irmão mais novo de Ronnie, e a banda seguiu fazendo história. Como o nome do álbum que estamos falando torna óbvio, este novo trabalho ao vivo celebra cinquenta anos de carreira , gravado no Ryman Auditorium, em Nashville. Este registro se tornou ainda mais especial, por ser o último show do único membro original remanescente, o guitarrista Gary Rossington, que faleceu no ano seguinte, em 2023, em decorrência dos seus infindáveis problemas cardíacos.

Os clássicos óbvios estão todos aqui: “Workin’ for MCA”, “Sweet Home Alabama”, “Free Bird”, porém por se tratar de uma apresentação especial, temos aqui algumas faixas com convidados especiais como o cantor Marcus King em “Saturday Night Special”, Jelly Roll canta “Tuesday´s Gone”, e o outro “brother Van Zant”, Donnie Van Zant (vocalista do 38 Special) canta “Red White And Blue”. O vocalista do Shinedown, Brent Smith participa da belíssima “Simple Man”.

Celebrating 50 Years: Live At The Ryman”, além de uma celebração a carreira do Lynyrd Skynyrd, soa como uma homenagem aos integrantes que já se foram, Gary Rossington por último, aos fãs que apoiam a banda por cinco décadas, e também pode ser considerado um testamento deixado por esta banda que saiu da cidade de Jacksonville, Florida, para conquistar milhões de fãs mundo afora. Sua mistura de Hard Rock, Blues e Country Rock vai continuar sendo amada por muitas gerações ainda. Lançamento nacional Shinigami Records.

José Henrique Godoy




SYMPHONY X - ICONOCLAST (2011/2025 - RELANÇAMENTO)


 


SYMPHONY X
ICONOCLAST
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

O Symphony X sempre foi sinônimo de virtuosismo aliado ao peso, mas em Iconoclast a banda mergulha fundo em sua face mais sombria e agressiva. Originalmente lançado em 2011 e agora relançado no Brasil pela Shinigami Records, o oitavo trabalho de estúdio do grupo amplia o caminho iniciado em “Paradise Lost” e apresenta um conceito que dialoga diretamente com o nosso tempo: a ascensão das máquinas e a submissão da sociedade à tecnologia. Longe de ser apenas mais um disco de metal progressivo, o que temos são 12 músicas que carregam uma enorme carga dramática — a dor da “desumanização”.

A faixa-título abre o álbum como uma verdadeira muralha sonora, impondo de imediato a grandiosidade e a densidade do trabalho. Em seguida, explosões como “The End of Innocence”, “Bastards of the Machine”, “Prometheus (I Am Alive)” e “Dehumanized” mostram o Symphony X em fúria criativa, o caos organizado. Já em “When All Is Lost” temos uma face mais emocional, uma balada épica que traz o melhor do metal progressivo, lembrando os dias mais melódicos e criando um contraste essencial diante de tanta “raiva”.

Por fugir do óbvio, por deixar o passado no “passado”, Iconoclast recebeu críticas, mas, após todos esses anos, como alguém em sã consciência pode reclamar de músicas como “Light Up the Night” e “The Lords of Chaos”? Guiadas por guitarras afiadas, carregam um peso descomunal, dentro de um instrumental que te convida para “bater cabeça”. Ao final de "Reign in Madness", você entende por que este trabalho é um dos álbuns mais ousados e desafiadores da carreira do Symphony X, onde cada músico tem espaço para mostrar sua força. É pesado, técnico, atmosférico e atual, mesmo mais de uma década após seu lançamento original.

William Ribas




DARK ANGEL - EXTINCTION LEVEL EVENT (2025)

 


DARK ANGEL 
EXTINCTION LEVEL EVENT
Reversed Records - Importado

O Dark Angel é uma das principais bandas que ajudaram a moldar o Thrash Metal oitentista. Atrevo a dizer que influenciou e muito a primeira leva do Death Metal, pois o som do Dark Angel transpirava ao mesmo tempo, técnica e brutalidade. “We Have Arrived” (1984) e “Darkness Descends” (1986) são clássicos atemporais do estilo. Com toda essa importância na cena Thrash americana e mundial, é intrigante como a banda não conseguiu dar uma sequência constante na carreira, finalizando as atividades em 1992, com os integrantes seguindo em direções diferentes, retornando 10 anos depois, e esporadicamente se reunindo, até retornarem definitivamente em 2013, com turnês seguidas, para a felicidade dos fãs, inclusive tocando no Brasil no Bangers Open Air 2025! Mas faltava um novo álbum, e ele chegou : “Extinction Level Event” veio a nós agora em Setembro/2025.

34 anos após “Time Does Not Heal” (1991), estamos escutando um novo trabalho do Dark Angel. Infelizmente em 2023, tivemos a morte de Jim Durkin, membro original, e um dos responsáveis pela criação dos riffs avassaladores dos três primeiros trabalhos. No seu lugar, entrou a guitarrista Laura Christine, esposa do monstruoso batera Gene Hoglan. Completam a formação o guitarrista Eric Meyer (único integrante a participar de todos os álbuns da banda), Mike Gonzalez (baixista desde1986) e o vocalista Ron Rinehart.

Vamos ao álbum? Uma espera de 34 anos para o lançamento de um novo trabalho de uma banda como o Dark Angel pode se tornar prejudicial, seja pela expectativa, seja pela ansiedade dos fãs, seja pela perda de “timing” das composições... E este, creio seja o grande problema de “Extinction Level Event”. Não me entenda mal, o trabalho não é um álbum ruim, mas esperava bem mais. Tentarei explicar melhor: não há nada de errado em simplificar as músicas, mas, se você fizer isso, pelo menos deixe-as mais curtas para que nada pareça arrastado. Faixas como "Circular Firing Squad", "Apex Predator" e "Scarface The Room"" são exemplos do que falo.

Os riffs são decentes quando você os ouve pela primeira vez, porém as composições não tem a tradicional variação de riffs, e ocorre que por serem repetitivos, você acaba enjoando deles. Ficaram extremamente genéricos, e nada parecidos com o que Dark Angel costumou criar no passado. Outro detalhe: os vocais de Ron soam desgastados, pois na maior parte do tempo ele fica apenas gritando, e que por incrível que pareça, ficou sem nenhum tipo de agressividade ou atitude. Quando ele tenta cantar com mais melodia, a coisa piora ainda mais. Rob Shallcross faz um trabalho de produção muito bom, enquanto o destaque mais que positivo é a performance destruidora de Gene Hoglan, comprovando o que não é novidade: “Atomic Clock”, como é chamado, é um dos maiores bateristas em atividade, uma lenda viva dos tambores.

Enfim, “Extinction Level Event” ao meu ver é extremamente decepcionante, pela expectativa criada e pelo resultado apresentado. É o pior trabalho disparado do Dark Angel. Estou tentando lembrar algum outro “álbum de retorno” que me decepcionou tanto e não estou lembrando. Se você não se importa com mais nada e só quer riffs de Thrash Metal pesados ​​e mais pesados sem muito conteúdo, este álbum serve perfeitamente, mas mesmo assim, eu recomendo que você volte várias casinhas, e revisite a discografia clássica do Dark Angel.

José Henrique Godoy