REBEL ROCK RESEARCH - CINDERELLA
Criado em 1982 pelo vocalista Tom Keifer e pelo baixista Eric Brittingham, o Cinderella é um exemplo notável de como uma carreira musical pode alcançar excelência com uma discografia curta e concisa. O grupo lançou apenas 4 álbuns de estúdio, cada um com sua particularidade, porém todos com a sua assinatura onde há uma fusão estilística que abrange elementos do glam metal, blues rock e country, fazendo jus ao ditado “menos é mais”. Um caso semelhante ao Twisted Sister, no que se refere a discografias breves e com poucos erros.
A estreia da banda, o "Night Songs" (1986), apresentou um hard rock oitentista bem trabalhado e pesado, marcado por riffs impactantes que beiram o heavy metal, além do visual totalmente entregue ao glam metal. Dois anos depois, "Long Cold Winter" (1988) evidenciou uma sonoridade um pouco mais sofisticada, incorporando influências do blues, conferindo à banda uma distinção em relação a outras do hard oitentista, sendo o favorito de muitos fãs. O "Heartbreak Station" (1990) aprofundou ainda mais esses elementos externos ao hard rock, destacando o country, sem jamais perder a essência de seu gênero principal. Por fim, o "Still Climbing" (1994) encerrou a discografia de estúdio de forma contundente, mantendo seu estilo em um período onde o grunge dominava o cenário.
Neste texto, irei expor a minha opinião acerca dos 4 discos da banda, comentando do pior (digo, o menos melhor) para o campeão. Vale lembrar que não há verdade absoluta quanto ao ranking, se trata de uma análise totalmente pessoal.
Thiago Rodrigues
4º LUGAR - STILL CLIMBING (1994)
Em meio aos desafios de continuar com seu estilo tradicional em uma década dominada pelo grunge, somados aos problemas vocais de Tom Keifer, o Cinderella lança o excelente e último álbum, Still Climbing. Como dito anteriormente, a banda preserva sua essência de hard rock com toques de blues e country. A sonoridade do disco é mais crua e introspectiva; embora a identidade sonora tenha sido mantida, percebe-se uma clara tentativa de alinhamento ao cenário do rock dos anos 1990. O trabalho também é marcado pela saída do baterista Fred Coury e pela entrada de Kenny Aronoff.
A manutenção da qualidade das composições é notória em faixas como "Bad Attitude Shuffle", que abre o disco com a marcante fusão de blues e hard rock. Em seguida, "All Comes Down" mantém o nível, com um belo riff e uma energia tipicamente oitentista. "Talk Is Cheap" apresenta um refrão memorável e um solo bem elaborado por Jeff LaBar. Essas três faixas evidenciam uma abertura impactante no álbum. "Blood from a Stone" é uma canção um pouco destoante em relação ao estilo característico do Cinderella. A faixa-título está entre os melhores trabalhos de toda a carreira da banda; com um início sombrio, revela uma nítida influência dos anos 1990. "Freewheelin'" é outro destaque, uma música significativamente mais enérgica. O disco se encerra com "Hot and Bothered", último registro gravado por Fred Coury, remetendo às origens do grupo.
Still Climbing é um trabalho de grande qualidade, especialmente considerando o contexto de sua gravação. Sua posição final no ranking deve-se apenas à excelência dos álbuns anteriores e não a qualquer demérito próprio.
3º LUGAR - LONG COLD WINTER (1988)
O grande desafio de ranquear, de acordo com a minha opinião, discografias perfeitas é tentar não se influenciar pela opinião popular. Foi particularmente desafiador escolher entre o 3º e o 2º lugares (o primeiro já é algo previamente estabelecido por mim), pois são dois discos que se encontram em patamar muito próximo para o meu apreço. É evidente que, para a maioria dos apreciadores da banda, Long Cold Winter é o favorito, mas ele ocupa essa posição apenas por detalhes. E esse detalhe se chama faixa-título. Admito que esta música, apesar de sua popularidade, qualidade e do sentimentalismo presente, não corresponde ao meu gosto pessoal. Isso, porém, em nada diminui sua qualidade; trata-se puramente de opinião.
O disco marcou uma transição significativa no estilo da banda, incorporando elementos de blues rock ao glam metal predominante na época, o que contribuiu para consolidar a identidade própria do grupo. Aqui temos Cozy Powell na bateria, um nome de peso dentro do metal e do rock oitentista, embora não creditado.
O trabalho se inicia com "Bad Seamstress Blues/Fallin' Apart at the Seams", uma canção que introduz elementos de country logo em sua abertura, seguindo pelo tradicional hard rock que consagrou a banda em seu disco anterior. Em seguida, dois dos trabalhos mais conhecidos do Cinderella, "Gypsy Road" e "Don't Know What You Got (Till It's Gone)', evidenciam o talento do grupo em criar aberturas de disco memoráveis. A primeira trata-se de um hard rock característico da década, enquanto a segunda é uma balada sentimental, no estilo de "Nobody’s Fool" (todavia, inferior na minha opinião).
"The Last Mile" destaca-se pelo belo refrão, e "Second Wind" é uma das canções mais pesadas do disco, beirando o heavy metal. "If You Don’t Like" é uma das melhores faixas da carreira da banda, possuindo uma introdução muito bem construída e impactante, além de um refrão excelente. "Coming Home" é a melhor balada do álbum e uma das mais belas da discografia da banda, abordando o retorno a alguém amado que percorreu seu caminho na vida, enfrentou desafios e experiências. O instrumental e os vocais no final da faixa conferem simultaneamente sensibilidade e empolgação.
"Fire and Ice" é outro hard & heavy da banda, com características semelhantes a "Second Wind". O disco é encerrado de maneira primorosa com a faixa auto astral "Take Me Back", um hard rock condizente com o cenário glam, evidenciado pela repetição de seu refrão.
2º LUGAR - HEARTBREAK STATION
Por questão de detalhes, o terceiro álbum da banda ficou na segunda posição do ranking. Com um visual mais sóbrio que os trabalhos anteriores, evidencia-se aqui uma evolução natural no som do grupo, em que as influências de country e blues se tornam mais evidente, incorporando inclusive outros instrumentos, como o saxofone, sem abandonar o peso característico do hard rock. É justamente essa fusão equilibrada de estilos, dosada com precisão, que eleva seu patamar na discografia da banda.
Isso pode ser percebido em faixas como "The More Things Change", uma excepcional abertura vibrante, na qual se nota a presença do country logo no riff inicial, mantendo o peso hard rock. "Sick for the Cure" segue essa linha, trazendo elementos de country perceptíveis na guitarra de fundo e em algumas passagens de piano. Trata-se de uma composição notável, com refrão marcante que transmite uma forte sensação de liberdade. "Make Your Own Way" é outro destaque que apresenta características semelhantes à faixa anterior. "Dead Man’s Road" remete aos trabalhos de country de Bon Jovi, como "Wanted Dead or Alive", soando mais pesada, arrastada e introspectiva. "Electric Love" evidencia o talento de Tom Keifer no blues rock, enquanto "Love Gone Bad" retoma o peso do hard rock clássico da banda, com um refrão alongado e memorável.
O álbum ainda conta com músicas acústicas bem elaboradas, entre elas a clássica balada homônima ao disco e o belíssimo country cru "One for Rock and Roll", que apresenta uma linda e sensível melodia . "Shelter Me" é marcada pela sua energia, destacando-se por sua riqueza sonora.
1º LUGAR - NIGHT SONGS
Para um grande fã do cenário glam dos anos 80, não há como outro álbum ocupar o primeiro lugar. A estreia da banda, em 1986, é marcada por um trabalho robusto de hard rock que, em certos momentos, flerta com o heavy metal, ainda distante do country/blues que mais tarde a consagraria. Com um visual carregado e totalmente condizente com a época, Night Songs capta com precisão a essência do glam metal amplamente difundido nos EUA naquela década, ao mesmo tempo em que emana autenticidade, evidenciando o estilo de composição de Tom Keifer. É justamente esse peso do hard rock que, nos álbuns seguintes, o líder da banda passaria a mesclar com outras influências.
O disco apresenta refrães e riffs vigorosos, sem faixas medianas para “encher linguiça”. Abre de forma impactante com a sombria faixa-título, marcada por um riff pesado, lento e obscuro. Uma das melhores canções de toda a carreira da banda. O contraste surge em seguida com "Shake Me", que, como o nome sugere, traz uma energia bem mais animada. "Nobody’s Fool" é provavelmente o grande clássico do grupo, uma balada intensa e introspectiva. "Nothin’ for Nothin’" e "Once Around the Ride" mantêm a linha do hard rock tradicional. "Hell on Wheels" flerta com o speed metal, exibindo um riff veloz e versos pesados.
"Somebody Save Me" é outro clássico, uma das melhores músicas da discografia, em que se destaca a excelência do riff, dos versos e do refrão. "In From The Outside" tem uma ótima linha de baixo e um bom solo em seu final. "Push Push" também merece menção, marcada por um riff contagiante, no estilo AC/DC, repetido ao longo de toda a faixa, inclusive no refrão e no solo. A obra se encerra com "Back Home Again", uma composição levemente mais cadenciada cujo grande destaque é o primoroso trabalho instrumental, especialmente no solo, possivelmente o melhor da banda.
Night Songs é um álbum pesado, bem elaborado e digno de nota máxima, apresentando o melhor início e desfecho dentre os quatro trabalhos do Cinderella, comprovando que Tom Keifer é um compositor de excelência dentro do gênero.
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