sexta-feira, 26 de setembro de 2025

TESTAMENT - PARA BELLUM (2025)


 

TESTAMENT
PARA BELLUM
Shinigami Records/Nuclear Blast - Nacional

Quase quarenta anos se passaram desde que o Testament surgiu na Bay Area. A essa altura, ninguém poderia esperar que a banda ainda tivesse algo a provar (e, obviamente, não precisa). Mas é justamente aí que está a grandeza: mesmo sem essa obrigação, eles seguem entregando álbuns que reafirmam sua relevância e energia. Para Bellum, o décimo quarto disco de estúdio, é a mais nova prova disso — um trabalho que não apenas honra a história do grupo, mas também mostra como o Testament ainda soa fresco e urgente.

O álbum funciona quase como um “best of” da discografia. As últimas turnês focadas em The Legacy e The New Order parecem ter inspirado os americanos. Há um detalhe que arrepia qualquer fã: o resgate de uma ponte perdida do primeiro álbum (isso logo de cara). Mais do que homenagem ao passado, esse momento soa como metáfora perfeita — o presente encontrando suas raízes para mostrar que o futuro se constrói sobre essa herança. É a banda lembrando de onde veio, mas também mostrando para onde ainda pode ir.

E é nesse olhar adiante que surgem algumas incursões de Black Metal. O Testament traduz esse estado de alerta permanente em músicas urgentes, afiadas e de impacto imediato. A dupla de abertura, “For the Love of Pain” (belíssimo cartão de visita de Chris Dovas já nos primeiros segundos) e “Infanticide A I”, é exemplo perfeito dessa mistura — e ambas são aniquiladoras de pescoços. O conceito que guia o álbum é direto e poderoso: Si vis pacem, para bellum — “Se quer paz, prepare-se para a guerra”. Essa atmosfera permeia as músicas: riffs como armas, refrões como gritos de resistência, melodias como trincheiras erguidas contra o caos do mundo moderno.

As letras seguem esse tom sombrio e direto, falando de tecnologia fora de controle, do apocalipse iminente e de medos que atravessam gerações. “Shadow People” traz um clima sufocante e denso, mas é na calmaria que surge a maior surpresa: “Meant to Be”, uma balada. Com belas melodias e cordas orquestradas, ela oferece um respiro cheio de emoção, culminando em um solo de Alex Skolnick de tirar lágrimas. O final pesado só reforça a força criativa dentro do álbum.

A brutalidade retorna em uma das melhores músicas já feitas pelo Testament: “High Noon”. A faixa evoca a fúria de The Gathering e os urros de Demonic. Falar da genialidade de Chuck Billy pode parecer chover no molhado, mas aqui ele está mais versátil do que nunca, alternando entre vocais limpos, guturais e sussurros sombrios — disparado o melhor vocalista de thrash metal (se você não concorda, saiba que tem todo o direito de estar errado, risos!).

A formação atual soa como uma máquina de guerra ajustada ao extremo. Chris Dovas injetou juventude e criatividade, enquanto Steve DiGiorgio dá corpo e profundidade ao som com seu baixo inconfundível. Alex Skolnick explora cada detalhe, desfilando virtuosidade, e Eric Peterson mantém a espinha dorsal brutal ativa ao lado do fiel amigo Chuck Billy — os generais dessa tropa, conduzindo com uma força que impressiona pela consistência.

As três faixas seguintes mostram um Testament um pouco menos agressivo, mas igualmente pesado. “Witch Hunt” passeia entre violência e um heavy metal mais clássico em sua metade, algo que também se encontra na sequência, “Nature of the Beast”, com riffs à la Judas Priest. Já “Room 117” remete a álbuns como Souls of Black e Ritual, um olhar atualizado para a sonoridade noventista.

Dois pontos extras merecem destaque: o trabalho de produção impecável de Juan Urteaga (gravação) e Jens Bogren (mixagem), que garantiram um som polido, pesado e claro, sem perder a crueza necessária. E a capa de Eliran Kantor, que traduz visualmente a essência do álbum — um anjo feito de mísseis, um halo-explosão, cultistas cegos em volta. Uma metáfora brutal e atual para os tempos de fé cega e autodestruição.

A dobradinha final traz a banda atacando sem piedade, tornando novamente, presente a violência do Thrash Metal. “Havana Syndrone” despeja riffs marcantes, e linhas de Skolnick cheia de melodias que certamente fará a alegria do público nos shows. O grand finale vem com a faixa-título — e não existiria final melhor. Inicialmente se fomenta nessa música uma atmosfera épica. Chuck urra o nome do álbum de maneira insana, como se sua vida dependesse desse refrão. Dovas encerra do jeito que começou — desfilando técnica e criatividade.

Os dedilhados de forma acústica encerra o trabalho trazendo uma serenidade, como um último suspiro após a guerra. E o resultado da audição é simples: Para Bellum não é apenas mais um disco de uma banda veterana — é um manifesto do nosso tempo.

Pesado, brutal e altamente viciante — um álbum marcante do começo ao fim, lembrando que mesmo na fúria, sempre existe espaço para o equilíbrio.

William Ribas




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